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Correspondência de guerra 02

 
Porto 3 de Fevereiro de 1917

Meu querido João

Espero que esta minha carta te vá encontrar são e de saúde, rezo todas os dias a Santa Rita para que nada te aconteça. Acendi uma vela à Santa no seu Altar na igreja do Carvalhido onde me recolho para rezar por ti todos os dias antes de ir para casa. Começaram os ensaios para a inauguração do conservatório do porto e tenho andado mais ocupada o que é bom para me distrair dos cuidados em que ando por tua causa.
O papá tem-me lido ao serão novas da guerra e ando em cuidados contigo. Dizia no jornal de ontem que chove muito lá em França para onde vais. Deves à noite tentar secar as peúgas para não te constipares.
O povo aqui anda muito revoltado com a ida do corpo expedicionário português para a guerra pelas restrições que vamos ter de suportar, ainda hoje saiu a lei de restrição de utilização do gás e da electricidade. Quem diria há poucos anos atrás que não conseguíamos já viver sem esta luzinha que nos alumia, da mesma forma que tu alumias a minha alma? Lá voltaremos nós que andar com as lamparinas de azeite de novo. Aqui ao lado na loja do Sr. Fernando foi uma correria a comprar lamparinas e carvão para os fogões.
Diz-se ainda à boca pequena que o Bernardino Machado não ficará muito tempo na presidência por este andar. Perfilam-se movimentações políticas pelo que consigo ouvir nas reuniões que o papá tem com os amigos no salão da cave.
Meu João, sempre que puderes escreve-me para eu saber de ti, ler as tuas lindas palavras é a alegria da minha existência agora que te foste de vez. Dantes ainda vinhas de licença, agora tenho que acalentar a esperança que virás são e salvo. Guardo ainda na lembrança o sabor do beijo que me deste às escondidas debaixo do carvalho e coro em pensar nas sensações que isso me provocou. Sabes que só acedi em to dar por partires por tão longo período. Mas embora envergonhada tenho que reconhecer que gostei e anseio pelo dia em que me tomarás de novo nos teus braços. Por favor cuida de ti.

Sempre tua Ana Maria

 
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João_Alberto
 
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