Deslizava sobre o Tejo uma fragata autónoma. Tão diversos movimentos lhe conferiam um posto, sempre aportando na noite. Esta traz sempre novos tons em tons de prata, sempre que se esconde por detrás do cais e se abre a novos tempos modernos. Serão sempre novos tempos estes, se lhe adicionarmos um passado abrilhantado, guardado nas memórias de outros mais afortunados; sanguinários, que buscaram novos horizontes em nome de um povo, que desfrutou até à última gota de sangue, sangue novo e carne fresca para retalhar.
Um homem parado no meio do cais, responde em tom baixo, através do seu bafo esmiuçado e dos seus lábios secos pelo ar ressequido da noite.
Nada nem ninguém passeava naquele lugar em horas nocturnas, tal a ausência de luz para clarear a torre de vigília. Apagou-se a luz do farol e do outro lado do rio, já Alfama corria as cortinas das suas janelas e o Restelo batia as portadas das suas mansões.
Era agora o momento do homem, se fazer á embarcação. Os medalhões de prata reluziam a cada movimento das águas e os mendigos sem saberem que ali se escondia o melhor dos tesouros, que os levariam a ver mil sóis na noite. O homem, sofria de claustrofobia e não viu que mais além, outro barco atracava no cais, e os seus passos foram só pela última vez, o som nas pedras gastas do cais.
Caiu á água e o lodo engoliu-o de uma vez só.
Um grupo organizado, assaltou na calada da noite a fragata, e esta, deu por terminada a sua.
missão.
O Casal Ventoso ainda se veste de negro, por uma noite que selou um pacto com o que as correntes do Tejo transportam até ao último suspiro molhado, do homem perdido no cais.
Maria Al-Mar
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