Raios mágicos de sol adentram meu rio...
correnteza serena - vivacidade amena!
rompante antigo minguado na planície,
obstáculos vencidos devagarinho...
sem pressa de morrer no oceano.
Meu rio - nascido em terna montanha,
leito caudaloso – águas claras e risonhas...
boliçosas - cestrosas - profundas...
virou calmaria - dormente em banco de areia...
nem a magia do sol faz soerguer!
Ah! A chuva... meu assanho de verão!
Serpenteante namorador
das astutas vertentes...
das manhas das paredes rochosas,
qu'eu desnudava sem um dó...
Hoje, riem de mim. Olham-me com desdém.
Sou quase um nada disfarçado de rio -
chamam-me de igarapé...
transpassam-me de par em par...
Meu rio cansado nunca está só!
Açucenas brancas, amarelas nascem aqui...
capim rosa-chá deita sua franja em meu umbigo...
colibris vem se banhar todas as manhãs,
libélulas coloridas contam-me seus segredos..
o crepúsculo acaricia minhas lembranças!
Nódoas das folhas secas vão sem remorso...
vagalumes alumiam minhas noites insone...
o oceano está logo ali, depois do rochedo...
ouço-o, a chamar-me alegremente...
ensaio um murmúrio pra dispistar sua voz...
Vejo no horizonte o alvorecer
sinto o tremor do sol em meio seio -
acordando os grilos embrenhados na savana.
Tento levantar... Gritar pela chuva...
Chamar os lambaris das festas de outrora!
É... mais um dia que meu rio se levanta.
Não quero morrer sem chegar ao oceano!
Preciso vencer o vale - transpor a rocha...
Esquecer aqui o leito arenoso que me fascina
preciso lavar-me das minhas águas...
Quero a ingenuidade dos passarinhos
cantando sempre no meu despertar,
a sagacidade dos furões no entardecer,
o brilho dos raios do sol em meu olhar,
quand’oceano fizer de mim, su’estrela-do-mar!