D. Nancy estava muito preocupada: Quantos adolescentes viriam em sua casa? Não contava com isso: A filha fazia anos, naquele dia, e chamou quase todos que conhecia...
Ela então disse naquele jeitinho simplório de pessoa nascida e criada no subúrbio:
_ Mas olha menina, que por essa eu não esperava: Você convida todo esse povo, e não me diz nada?
_ Ah, mãe, deixa estar, meus amigos não vão querer nada além de pipoca! Vamos alugar filmes de terror na locadora, e aí senta todo mundo no chão mesmo... Pipoca e refrigerante, não precisa fazer mais do que isso!
_ E aniversário sem bolo não existe! Tenho agora que fazer correndo... Logo hoje, que o Carlison tá de piripiri, não pode me ajudar com as compras, lá no supermercado... As filas para o caixa, no fim de semana, ficam de virar de um canto pra outro... Haja tempo para esperar!
_ Ora mãe, o Carlison ajuda, mas não é tão insubstituível assim, se ele tá com dor de barriga, que fique em casa! Eu vou então te ajudar a trazer as coisas...
Deixa ver:
Copo descartável, refrigerante, milho de pipoca, e os ingredientes do bolo, guardanapo, velinhas de aniversário... Ah, e vou querer então, daquelas que ficam imitando fogos de artifício! TEM QUE TER BRIGADEIRO, NÉ MÃE? Isso não pode faltar, é o meu doce preferido! Então vai ter que comprar forminhas para o doce... Hum, acho que é só...
_ Ora menina! Para quem disse que os colegas só comeriam pipoca com refrigerante, você já aumentou muito a minha lista... Mas deixa, tudo bem, adolescente é assim mesmo...
_ Mãe, foi você quem disse, que sem bolo não tinha graça... Não reclama então!
_ Pois muito que bem, vamos lá enfrentar o supermercado...
Pegaram as sacolas e lá se foram...
No caminho, encontraram Rosineide, e a mocinha virou para a aniversariante dizendo:
_ Mas olha quem está por aqui... Não é hoje seu aniversário? Então meus parabéns!
_ É sim... Mas não vamos fazer nada lá em casa, o Carlison não está bem, a mamãe tá muito cansada, eu vou só ali no mercado com ela, comprar umas coisinhas para o almoço, então tô indo... Foi legal te ver Rosineide, aparece lá qualquer hora dessas...
_ Vou sim, apareço quando menos você esperar... Um beijo, tchau!
_ Tchau!
D. Nancy, que tinha ficado calada, então disse desaprovando a filha:
_ Menina, como é que você faz uma coisa dessas? Depois ela fica sabendo do povo todo, que você chamou lá pra casa, e vai ficar chateada porque não a convidou...
_ Que nada, mãe! A senhora não conhece essa garota... Ela é igual tatu, vive entocada: Não sai de casa para nada, é da casa pra escola, da escola pra casa... Como que ela ficaria sabendo se não tem vida social? Esquece mãe...
Mas o que Jéssica, a aniversariante, não sabia, é que tapar o sol com a peneira, não adianta...
Assim, quando Rosineide chegou em casa, comentou com a mãe, que sua colega Jéssica, não iria ter um bolinho, coitada!
A D. Mercedes ficou com pena, e resolver comprar um bolo confeitado, na padaria da esquina, e aparecer lá com a Rosineide, pra fazer uma surpresa!
Bolo comprado, lá se foram em direção à casa de Jéssica, levando ainda um refrigerante pet de 2 litros, geladinho...
Carlison estava na porta da vila, quando viu as duas chegando perto, e cumprimentou:
_ Oi, Rosineide, boa tarde D. Mercedes!
_ Boa tarde, Carlison! Sua irmã está em casa?
_ Sim, podem entrar, sempre tem lugar pra mais duas...
Elas não entenderam bem, o que ele quis dizer, mas foram em frente...
Quando apertaram a campainha, notaram um barulho enorme, vindo de dentro da casa... D. Nancy gritou que alguém atendesse a porta, porque estava ocupada. Jéssica, abriu e deparou com o sorriso de Rosineide e de sua mãe, entregando em suas mãos o bolo, gritando simultaneamente:
_ SURPRESA!
_ Affff, por essa eu não esperava!
_ Quisemos te fazer essa gentileza, para não "passar em branco" teu niver, Jéssica.
_ Mas, mas... É que uns colegas da escola, tiveram a mesma idéia, não reparem, vão entrando...
_ Nossa, a casa tá cheia, amiga!
_ É uma chance de você fazer mais amizades então, Rosineide... E D. Mercedes fica à vontade, minha mãe tá na cozinha, enrolando os brigadeiros. Vai lá um pouquinho, fazer companhia pra ela...
Sabe como é: Depois daquele pagode na laje, ninguém come brigadeiro, sem lembrar do gringo...
Vem, Rosineide, vou te apresentar umas pessoas.
Mas dentro de si, pensava:
"Que hora mais danada, para um tatu sair da toca!"
FÁTIMA ABREU