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Marie III - Continuação

 
Tags:  gotico    suicídio    auto-mutilação  
 
Marie III - Continuação
 
Parte 1 - http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=144552

Parte 2 - http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=144778


“Enquanto sangrava profusamente, pensava “Não sei se quero morrer, mas parece que não tenho outra escolha. Aceito-o.”…
Então, o pai entrou no seu quarto…”



Não disse nada, apenas olhou para ela, marcou o 112 no seu telemóvel, e ficou com ela, sempre calado, até a ambulância chegar. Não a acompanhou na ambulância, nem sequer foi ao hospital vê-la. Quem a levara a casa fora uma enfermeira, muito simpática, que tinha gostado dela…
No hospital, Marie tinha-se sentido minimamente bem. Melhor do que em casa. E enquanto lá esteve, não se cortou. Falou com uma psicóloga, o que a ajudou bastante. Começou mesmo a sentir alguma coisa, mas uma semana depois de ter voltado para casa, a dormência regressou, e com, a ela, a procura das lâminas.
O pai, mesmo depois de a ter salvado, era apenas um homem com quem vivia, que não lhe era nada.
Marie voltou à escola, e a rotina de sempre continuou. Escola, casa, auto-mutilação, estudo, auto-mutilação, abandono, auto-mutilação…
E assim, numa rotina mórbida e repetitiva, passaram-se seis meses. No primeiro dia do sétimo mês, 16 de Setembro de 2009, para surpresa de Marie, o pai voltou a entrar no seu quarto, na altura exacta em que ela tinha pousado a lâmina. Pierre, mais uma vez, não desconfiou de nada, nem mesmo quando viu um fio de sangue escorrer pelo braço da filha.
Pela primeira vez em muito tempo, demasiado para Marie se lembrar quanto, o pai falou com ela:

“Marie, a tua mãe não morreu, suicidou-se. Duas horas depois de te teres despedido dela, ela tomou uma dose letal de comprimidos. Teve uma depressão nervosa. ”.

E saiu do quarto, de cabeça baixa, sem sequer olhar para a filha.

E assim, sem floreados, sem carinho, um beijo, um abraço sequer, Marie ficou a saber que a mãe tinha escolhido morrer. E foi aí que na sua mente, “percebeu” que morrer podia ser uma escolha. Não uma espera, que podia parecer interminável.

Um ano passou, mas Marie nunca mais tirou a ideia do suicídio da sua mente assintomática. Viver, era uma dor quase insuportável para ela. Continuava a automutilar-se. Às vezes, pensava que a auto-mutilação, a sua amiga Marianne era a única razão pela qual ainda não se tinha suicidado. Dava-lhe um pouco mais de alívio.
Certo dia, na escola, uma professora reparou numa mancha de sangue na camisola branca que Marie tinha vestido. Desconfiou que algo se passasse e encaminhou-a para a psicóloga da escola. Marie falou com a psicóloga, mas negou tudo. Acreditaram nela, pela menina que julgavam conhecer, ignoraram todos os sinais… Porquê?
Podiam ter ajudado realmente Marie, e talvez o suicídio lhe saísse da cabeça… Mas não o fizeram. Não os podemos culpar realmente… Se soubessem a angústia que Marie sentia, tinham feito, de certeza, alguma coisa. Mas não sabiam.
Chegara o dia 21 de Fevereiro, o dia do 15º aniversário de Marie…
O pai não se lembrou, ninguém se lembrou, à excepção da enfermeira que tinha gostado dela. Enviou-lhe uma caneta de tinta permanente pelo correio. Marie abriu a caixa em que vinha, e observou a caneta, maravilhada. Gostou imenso, afinal, aquele fora o único presente que recebera. Decidiu guardá-la para algo especial, e já tinha esse preciso momento, guardado na mente…
No dia seguinte, 22 de Fevereiro, uma manhã chuvosa e fria, Danielle estreou a caneta de tinta permanente.

Na sua carta de suicídio…

[FIM




A poesia é a alma, a alma, somos nós, por conseguinte, nós somos poesia...

Imagem: Google Imagens
 
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Inspiração_Estelar
 
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Enviado por Tópico
SerafimdosSantos
Publicado: 14/08/2010 21:49  Atualizado: 14/08/2010 21:49
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 Re: Marie III - Continuação
Dividido em tres partes, uma historia que nos prende, cenas que se encontram como peças encaixando-se uma a outra. Um texto muito bem elaborado. Parabens.
Do amigo Serafim!