1
A sorte se dourando desde quando
Buscara sem tropeço algum sinal
Aonde poderia bem ou mal
Tramar outro caminho, o desenhando
Após a tempestade se formando
Enfrento a cada instante o vendaval
Sabendo desde já do meu final
Há tanto noutro enredo se moldando.
Erguendo o meu olhar, busco o horizonte
E nele cada brilho aonde aponte
Um sol imaginário e mais audaz.
Mas quando me percebo solitário
Meu mundo noutro rumo imaginário
Quem sabe outro traçado feito em paz?
2
O tempo desvendando o que já fui
E sei jamais teria outro momento
Enquanto bebo a sorte e me alimento
Do sonho aonde o nada inda reflui.
Vestindo a solidão, meu mundo pui
E o bêbado delírio exposto ao vento
Dizendo tão somente em sofrimento
Do quanto cada engano invade e flui.
Esbarro nos cenários mesmo aonde
O manto na verdade corresponde
Ao gesto tanto audaz quanto vulgar.
Depois de me perder em turbulências
Agora ao perceber tais inclemências
Encontro o mar e nele navegar...
3
Apenas sou quem sabe um convidado
Neste banquete feito em heresias
E nele tanta coisa; moldarias
Deixando o meu destino no passado.
E quando solitário enfim me enfado
E bebo as tuas tolas fantasias
Ousando nestas vãs alegorias
O risco noutro engano desenhando.
Vestindo as mesmas peças vejo o quadro
E nele com certeza não me enquadro
Bastando para tanto acreditar
Nos ermos caminhantes do meu sonho
E quando um porto além; busco e componho;
Que faço se eu sequei em mim meu mar?
4
A vida se perdendo entrando pela
Vala comum por onde cada sonho
Que tenho na verdade decomponho
Reinando sobre mim o quanto vê-la
Depois de procurar em toda estrela
O verso mais feliz; nada eu componho
Vestindo o meu traçado que enfadonho
Resulta nesta sorte sem contê-la.
Preparo uma armadilha a cada passo
E sei o quanto aquém eu me desfaço
Erguendo o meu olhar sem ter aonde
E quando se percebe um ledo brilho,
Apenas no vazio ora palmilho
E o nada após o nada me responde.
5
A vida sendo sempre esta editora
De riscos, risos, prantos, medo e tédio
Enquanto do passado sente o assédio
Procura qualquer forma que inda fora.
E sei da minha senda sonhadora
E neste caminhar busco o remédio,
Vasculho cada canto deste prédio
Minha alma noutra face sofredora.
Exposta ao temporal tão costumeiro,
Esgarça sem colheita um vão canteiro
E bebe deste amargo fel somente.
E quando se pensara nalgum grão,
Este árido caminho dita o chão
E nada; nem meu sonho se apresente...
6
No quanto a vida traz esta objetiva
Visão de um mundo claro ou mesmo vago,
Das tantas impressões eu não me alago
Morrendo sem qualquer luz, perspectiva
Ainda que deveras sobreviva
Ao temporal no qual bebendo afago
O risco de sonhar embora mago
Permite uma palavra mais ativa.
Resumos de outros dias onde a sorte
Talvez já nem conheça nem comporte
O tanto e nisto o pouco se resume.
O coração vagando em noite escura
Deveras sem juízo e em vão procura
Além de qualquer sonho, mero lume.
7
O mundo se prepara e sei que para
Lutar é necessário ter em mente
O quanto desta força se apresente
E nisto meu caminho se antepara.
Resumo meu martírio nesta amara
E dura sensação de vã torrente
E nada do que outrora quis semente
Espalha vida nova na seara.
Das sendas e dos prados de minha alma
Apenas o vazio não acalma
E traz a imensidade deste não.
Depois de tanta luta e persistência
O quanto do meu mundo em decadência
Traduz os poucos olhos que o verão.
8
Buscara tão somente realizar
O sonho mais feliz que um dia tive,
E quando a realidade sobrevive
Traçando noutra senda o seu lugar,
Cansado de talvez imaginar
O marco mais audaz e não contive
O passo aonde a sorte já se esquive
E a queda não se impeça de notar.
Esbarro nos meus erros e prossigo
Sabendo no final, do desabrigo
Ao agregar valores mais diversos,
E sei do passo inútil rumo ao nada
E nesta noite embora enluarada
Eflúvios que eu recebo são perversos.
9
O quanto deste sonho está presente
No passo mais atroz ou mesmo audaz,
E neste caminhar o pertinaz
Desenho noutra forma se apresente.
Vencer os meus temores, plenamente
E crer quando o delírio satisfaz
Marcando com o riso mais tenaz
O que deveras toca a minha mente.
Resulto deste engodo, mas sei bem
O quanto em poesia me convém
Trilhando cada passo rumo ao farto.
E quando num equânime desejo
Em ti o meu futuro ora antevejo
Sem medo nem pudor algum, eu parto.
10
Enquanto sobre ti eu me projeto
Ousando transformar em poesia
O quanto deste sonho se veria
E amor já não seria tão abjeto.
Espero cada passo e sem dejeto
Minha alma bebe à farta esta ironia
Sabendo do futuro onde teria
O risco que não vindo logo ejeto.
Escassos riscos tendo quem delira,
Sabendo a imperfeição da tosca mira
De um míope cantar em tons dispersos
Erguendo cada sonho ao infinito
Ainda num futuro; se acredito
Desvendo com ternura em poucos versos.
11
Por tantas vezes sei que aquém fiquei
Do quanto poderia acreditar
Depois de muito tempo relutar
Adentro esta esperança em nova grei
Hermético desenho eu desvendei
E mesmo quando pude imaginar
Expresso a solidão a me cercar
Tornando num instante amargo, a lei.
Esboço reações, mas no final
Erguendo o meu olhar encontro o Mau
E sorvo dos demônios que alimento;
Pensando ter somente alguma luz
Aonde o meu deliro em conduz
Encontro em tais searas; sofrimento.
12
Quando entusiasmado eu procurara
Apenas alegria e nada mais,
Depois de certos dias, vendavais
Tomando sem perguntas tal seara
O corte noutra face se escancara
E os erros tão comuns e sempre iguais
Em providenciais ritos venais
Tornando a minha vida mais amara.
Esbarro nos meus erros, sortilégio
E sei do quanto pude outrora em régio
Desenho desvendar alguma messe.
Mas quando os ermos; vejo à minha frente
Apenas o vazio já se sente
E a solidão decerto, o sonho tece.
13
Aonde imaginara uma proposta
Que tanto satisfaça quando mude
A vida num instante e em atitude
Deixando para trás o que desgosta
A face inusitada sendo exposta
Num ato que decerto desilude
Quem busca ainda viva a juventude
E tem a sua imagem decomposta.
Resumos de outros dias; vejo e tento
Fingindo algum sinal de alheamento
Vencer os discordantes dentro em mim.
Mas quando se aproxima este espetáculo.
A sorte me apertando em vil tentáculo
Escondo-me num ermo camarim...
14
Pudesse tão somente ao escolher
Momento onde pudesse ter no olhar
Além de céu e sol, ternura e mar
Um dia feito em glória e bem querer.
Viceja dentro em mim o amanhecer
E dele posso a paz já desenhar
Depois de tanto tempo a divagar
Sem ter defesa e entregue ao bel prazer.
Não pude e nem quero ter nas mãos
Aquém do quanto cevo duros grãos
Em artesãos delírios e os componho
Gerando a todo instante outro cenário
E nele cada passo é necessário
Vagando pela noite e imerso em sonho.
15
De todos os momentos, mais de cem,
Aonde a tempestade se propunha
Traçando com terror onde me opunha
E neste caminhar o nada vem,
A vida se moldando com desdém
A sorte mata cada testemunha
E o medo de sonhar aonde eu punha
O ritmo desenhado e nada tem,
Somente este detalhe em pedra e caos
O cais já não comporta minhas naus
Da frota desejada nada vejo.
Antanho tive a messe de sentir
Delírios que matassem meu porvir
Num ato tão bisonho quão sobejo.
16
Os dias que buscara entre os melhores
Da leda vida feita em abandono
Ao perceber no fim já não me abono
Enquanto estes terrores; comemores
Restando dentro da alma e se demores
O marco mais cruel, e nele eu clono
O anseio pelo qual perdera o sono,
Sem mesmo que esta estrada em paz; decores.
Arguta noite imersa em armadilhas
E quando num instante vem e pilhas
Meus medos noutro traço mais atroz.
O quanto pude até acreditar
E nada muda mesmo de lugar
Numa afluência espúria, leda foz.
17
A vida se apresenta em tolos contos
Novelas entremeiam realidades
E quando a cada passo mais degrades
Os olhos seguem ermos, mesmo tontos
Os dias que eu tentara; não mais prontos
Marcando com terror serenidades
Depois de certo tempo logo invades
Sem dar sequer alentos por descontos.
Resumo a minha sina em tal barganha
E o nada neste passo ainda entranha
Uma alma abandonada pelo tempo,
Depois de lutas restam meus entalhes
E neles cada passo; desencalhes
Gerando tão somente um contratempo.
18
O amor ultrapassando qualquer século
Traduz o sentimento mais audaz,
E nele cada passo satisfaz
Gerando como fosse algum espéculo.
Adentrando deveras corpo e na alma
Arcando com os sonhos, fantasias
E nele novos fatos tu verias
Aonde a sensação em paz acalma,
E resolutamente bebo enfim
O todo imaginário e me sacio
Erguendo cada olhar em desafio
Ainda que se aguarde; camarim,
Milênios e milênios; segue o passo
E nele enquanto teimo, eu me desfaço.
19
O mundo que me deste segue neste
Momento para além do que pudera,
Cerzindo em esperança a primavera
Além do quanto um dia concebeste
E sinto se talvez o que perdeste
Mostrara novo fato ou mesma outra era
E quando a vida aquém se degenera
Aos poucos mansamente revolveste.
Eu vejo a cada instante um novo sol,
E sei da maravilha em arrebol
Gestando dentro em mim tal helianto
Seguindo cada brilho a vida inteira
E neste caminhar quer ou não queira
Cenário deslumbrante eu me garanto.
20
O quanto poderia num momento
Traçar em novos rumos, mas sei bem
Do todo quando o pouco me detém
E um novo caminhar além invento.
Resulto deste verso em sofrimento
Enquanto da esperança sou refém,
Galgando ao paraíso nada vem
Somente o meu desejo em provimento.
Restauro cada passo rumo ao tanto
E quando em novo dia eu me levanto
Lavando o coração em liberdade.
Depois de certo tempo, sempre assim
Erguendo o meu olhar, enquanto vim
Sabendo do calor que agora invade.
21
A sorte prenuncia uma virada
Depois de tanto tempo em sofrimento
Um dia mais feliz ainda tento
Embora muitas vezes dando em nada,
A messe noutro rumo desenhada
E nisto vou seguindo contra o vento
Bebendo cada gole em tal tormento
Minha alma bem mais forte agora brada.
E sei que depois disto virá a lua
Deitando seu luar exposta e nua
Raiando sobre todos no horizonte,
E sinto transbordando esta argentina
Beleza que deveras determina
Um rumo cristalino que ao sonho aponte.
22
O quando do mundo ali eu vi
Depois de tantas quedas vida afora
E o brilho aonde o mundo em paz aflora
Traçando o quanto quero e sei em ti
Descanso o meu olhar e sinto ali
Beleza sem igual que nos decora,
Enquanto todo passo desde agora
Moldando o mais sublime onde o embebi.
Especular caminho traça a vida
E neste raro lume eu me entranhara
Sorvendo a messe em noite bela e clara
Além da imaginada e concebida
Tramando novo cais dentro de mim
E nele ancoradouro de onde eu vim...
23
Preparando desde logo
O que tanto mais eu quis
Se deveras sou feliz
O meu canto eu desafogo
E na paz onde me jogo
Traço os ritos de aprendiz
Deixo aquém a cicatriz
Quando eu ti amor afogo.
Nada posso nem queria
Transformar em agonia
Cada verso que me ilude
Sem saber do meu futuro
Novo canto eu asseguro
Com firmeza em atitude.
24
Tanto sonho até teria
Se eu pudesse acreditar
Neste raio em tom solar
Ao fartar-me na alegria,
Cada passo traz um dia
Onde tento imaginar
E quem sabe desenhar
Com sobeja alegoria.
Nada resta do que há tanto
Creio e mesmo em paz garanto
Sem saber do quanto invade
Todo passo rumo à sorte
Quando canto me conforte
Aplacando a tempestade.
25
Tanto sonho à minha frente
Tanta luz que ainda posso
Sendo apenas um destroço
Mesmo até impertinente
Se o que quero diz presente
Ou decerto ainda endosso
Contumaz caminho; aposso
Neste tanto quanto o tente
Venço o medo do abandono
Do meu sonho já me adono
Sem temor sequer algum
Dos meus medos mais mordazes
Outros cantos tu me trazes
Vou sorvendo em paz mais um.
26
Poderia num trabalho
Com ternura e alegria
Gerar quando poderia
Noutro campo se batalho,
Mas sabendo quanto eu falho
E deveras fantasia
A minha alma todo dia
Procurando algum atalho.
Resumindo o meu destino
Onde em paz eu determino
O que quero e mesmo busco.
Porém quando não alcanço
Nesta senda algum remanso
Sigo até num lusco fusco.
27
Quando a quis não foi bastante
Cada lágrima traçada
No final não resta nada
Nem o quanto se garante
E se tento doravante
Procurar em nova estrada
A verdade demonstrada
Noutra face, num instante.
Resoluto caminheiro
Pelos vãos quando me esgueiro
Encontrando algum alento;
Mas decerto desolado
Revolvendo o meu passado
Sem futuro sigo ao vento...
28
Quem me dera se pudera
Navegar contra as marés
E vencer minhas galés
Revivendo a primavera
Onde o tempo destempera
E não deixa ser quem és
Vou seguindo e de viés
Percebendo cada fera.
No final deste caminho
Mesmo até se sou mesquinho
Noutro rumo me aprofundo.
Coração sem mais juízo
Quantas vezes; impreciso
Ou deveras vagabundo.
29
Tantas vezes procurara
Pelo menos um descanso
Aonde agora nada alcanço
Nem sequer uma seara
Onde o sonho escancarara
E se tanto me esperanço
No final enquanto avanço
Novo bote se prepara.
Mas a vida é sempre assim
Tem começo e diz do fim
Da metade para frente,
E por isto vendo nisto
O caminho; aonde insisto
Mesmo quando estou descrente.
30
Sendo assim este cenário
Tantas vezes mais diverso
E se eu tento outro universo
Mesmo em sonho eu sou corsário,
Navegar é necessário
E deveras sigo imerso
Até quando me disperso
Neste canto imaginário,
Tantas vezes quis apenas
Estas horas que serenas
Coração em rebeldia.
Nada tendo além do fato
Onde busco e me retrato
Muito mais que eu poderia...
31
O quanto deste sonho o quis imenso
Gerando após a queda o enorme abismo
E quando em tantos pélagos eu cismo
Vagando aonde em riscos me compenso.
Espúria fantasia e neste tenso
Delírio; desmedido cataclismo
Qual fora dentro da alma um grande sismo
E neste desenhar um mar extenso
Marcado por diversas vis procelas
E nelas sem sentido algum revelas
Meus erros costumeiros e vulgares
Desdéns emaranhando passos quando
O tempo se transforma e assim nublando
Aonde tanto amor tu desejares.
32
Aonde desenhei em mim um mar
E neste delirar, busco o profundo
Desejo enquanto em gozos eu me inundo
Buscando noutro instante mergulhar,
Alçando o quanto tento procurar
Sabendo ser o sonho vagabundo
Guardando num momento todo o mundo
Bebendo sem destino a se traçar
E assim entre os delírios de um poeta
A vida noutra face se completa
Regida pelas ânsias deste amor.
Redimo cada passo dado em falso
Enquanto o Paraíso em ti eu alço
Num sonho iridescente, multicor.
33
Encontro o meu caminho ainda sobre
As ondas mais atrozes e prossigo
Vencendo a qualquer preço o desabrigo
Enquanto novo canto se desdobre
Num átimo mergulho e bebo o nobre
Desenho desde quando em ti persigo
O manto consagrado e sei, contigo
O tanto quanto posso e amor descobre.
Vacantes sensações, outrora em mim
Do encanto resguardado, um camarim
Do qual ao perpetrar novo espetáculo
Desenho sobre o palco esta emoção
E sei dos atos todos que virão
Tocando o pensamento qual tentáculo.
34
Meu mundo se repete e como as ondas
Voltando ao mesmo início desde quando
O tempo noutro instante transformando
Ainda que deveras não respondas,
Mas sei quanto também já correspondas
E neste desenhar arrebatando
Um passo em consonância demonstrando
Sem que deveras fujas nem te escondas.
Resumos destas vidas: entrelaces
E quanto mais além também tu grasses
Deveras num caminho deslumbrante
A vida se permite e me agigante
Deixando para trás no mesmo instante
O quanto outrora fora; em vãos impasses.
35
As cenas muitas vezes turbulentas
Num vórtice nefasto e tão sublime,
O amor a cada instante nos redime
E nele novos dias buscas, tentas.
Após as horas frágeis virulentas
Na torpe sensação de medo e crime
Somente novo amor, a dor suprime
E quando estás comigo me apascentas.
Não quero perceber outro cenário
Senão tanto desejo imaginário
Num único concerto em harmonia
Viceja dentro em mim tal alegria
Enquanto nosso amor cedo floria
Num campo tão sutil e necessário.
36
Por onde tocam nossos pensamentos
Viceja a primavera em multicores
E sei que sem querer sequer te opores
Bebemos destes raros, bons alentos.
Amar e perceber raros proventos
E neles presumir claros albores,
Seguindo tão somente aonde fores
Jamais tecendo em vão meus passos lentos.
Restauro neste instante o quanto pude
Viver etereamente a juventude
Depois de tanto tempo em tom grisalho.
Abrindo estes umbrais entra a esperança
Meu canto num segundo em paz se lança
E o sonho entre mil sonhos ora espalho.
37
Enquanto a cada instante vão libertos
Os olhos sobre a linha do horizonte
E a cada maravilha onde se aponte
Desejos entre tantos descobertos.
Outrora com terror vira desertos
E agora novo encanto ora desponte
Tramando num momento a rara fonte
Traçando estes caminhos ora abertos
Viceja em raros tons, num manso albor
Esta ânsia delicada a nos propor
Um dia incomparável entre tantos.
E os passos doravante mais seguros,
Tramando com ternura tais futuros
Vencendo os mais sofríveis desencantos.
38
Tocando o pensamento branda brisa
Imagem delicada e mansa aonde
O amor quando demais já corresponde
E neste caminhar mal nos avisa
Do quanto pode em paz e assim matiza
O tempo neste vão e corresponde
À resistente e nobre, rara fronde
Que a natureza em paz ora utiliza
Mantendo como base para um sonho
E nele cada canto onde proponho
A paz entre delírios de um anseio
E neste caminhar incomparável
O verso desenhado em tom afável
Traduz o meu desejo e ao que ora veio.
39
Escuma sobre a praia uma ola imensa
Transforma a paisagem antes quieta
E quanto mais audaz além repleta,
Maior a sensação e a recompensa
A cada novo instante mais convença
Da rara fantasia onde completa
O desenhar de um sonho, rara meta
E nela a cada instante esta alma pensa.
Vagando pelos mares e oceanos
Vencendo os turbilhões em desenganos
Aporto nos teus braços e me douro
Descubro no infinito, na amplidão
A mais sublime e nobre direção
Ousando ter em ti o ancoradouro...
40
Quebrando sobre a areia esta procela
Traduz ferocidade em tal beleza
Levado pela forte correnteza
Minha alma neste instante se revela
Rompendo a qualquer preço alguma cela
Refém da liberdade se faz presa
E neste desenhar rara surpresa
Traduz o porto aonde ora se atrela.
Vencida e vencedora num momento,
Transcende ao que deveras teimo e tento
Gerando a fortaleza aonde um dia
Apenas frágeis passos sobre a areia
E agora num lampejo se incendeia;
Apaixonadamente não sacia...
41
O pensamento voa e volta à terra
Depois de tantos anos, sem saudade
O olhar que ainda toca, e mesmo invade
Traduz outra verdade e se descerra.
Vagando sem destino, sonhando erra
E tenta desvendar o quanto agrade
Ou mesmo se negar à tempestade,
No zênite, porém o tempo cerra.
E o vândalo sonhar não mais desnuda
A dor outrora amarga e agora aguda
Traçando da lembrança este demônio.
Cerzira com olhar vão, tresloucado
Bebendo cada gota de um passado
Marcado por terror, num pandemônio.
42
Ainda desvendar meus ermos, venho
Tentando alhures sorte que não vejo
E quanto mais audaz o meu desejo,
O medo se tornando mais ferrenho.
Arcando com meu frágil desempenho
A vida traça um ar não mais sobejo
E aonde poderia um azulejo
O tempo fecha logo todo o cenho.
Resvalo nas estranhas corredeiras
E nelas também foges, quando esgueiras
Deixando para trás meros sinais.
E o canto aonde um dia quis a paz
Somente a virulência hoje me traz,
O brilho em meu olhar? Pois, nunca mais...
43
Aonde se pudesse ter um filho
E nele acreditar noutro futuro,
O porto mais audaz, porém seguro
Transforma-se decerto onde eu palmilho.
E sei dos meus anseios. Compartilho
O passo noutro errático e tão duro
Desenho feito aquém do que procuro,
Marcando com terror, ledo estribilho.
E resolutamente tento ainda
Vencer este terror; mas já se finda
O tempo em outonais quando eu a vejo.
E quase no final da própria vida
A sorte imaginada, dividida
Traduz bem mais que um mero e vão desejo.
44
O canto que se ouvia desde outrora
Falando dos meus erros contumazes,
E quando novo passo ainda fazes
Comprazes com ternura aonde ancora.
E assim tanta beleza se demora
E neste caminhar diversas fases
Vencidas pelos passos mais tenazes
Gerando a solução a qualquer hora.
Não posso me calar perante o fato
Do amor encantador onde eu resgato
Meus ermos e delírios, vagas luzes.
E agora em resplendores sustentáveis
Os dias muito tantas vezes tão mutáveis
Traduzem fortalezas que produzes.
45
O amor não se fazendo mera chama
Transcende à própria vida e se eterniza,
Enquanto num momento fora brisa
Agora com fulgor já se derrama,
E sinto esta ternura de quem ama
E sabe quando em luzes se matiza
Traçando outro caminho; a voz concisa
Ao mais superno espaço nos reclama.
Vencer os meus antigos dissabores
Seguindo cada passo e quando fores
Também irei contigo: eternidade.
Dessedentando a sorte mais audaz
O sonho noutro sonho logo traz
A força que arrebenta qualquer grade.
46
O quanto desta sanha ora assistida
Traduz felicidade ou mesmo messe.
Meu rumo noutro passo se entorpece
Gerando dentro em nós sobeja vida.
O corte noutra face presumida
E o risco que também o sonho tece
Presume além da vida e recomece
A cada passo audaz; mesma avenida
Traçada pelo gozo ensandecido
Tocando com firmeza esta libido
A força geratriz quase uterina
E tanto quero além deste momento
Vivendo a cada passo aonde tento
Saber ao quanto a vida determina.
47
O sonho e o pesadelo se alternando
Assim nós caminhamos e sei bem
O quanto deste nada nos contém
Aonde quis um dia bem mais brando.
Vencer a cada instante outro desmando
Mantendo a sensação de ser refém
Do amor quando demais e não mais tem
Qualquer juízo e segue sem comando.
Insaciavelmente nada posso
Senão ressuscitar cada destroço
Jogado pelo chão da nossa casa,
A vida noutra face se desnuda
Minha alma se aquietando, quase muda
Em movediças teias já se embasa.
48
Estando tantas vezes à feição
De quem já não me quer; mal me suporta,
Fechando com os pés a rara porta
Aberta com as chaves da afeição,
E agora novos dias mostrarão
O quanto na verdade ainda importa
E o sonho quando a vida vem e aborta
Traduz a cada instante a negação.
Jogado nalgum canto, nada faço,
Apenas do que eu fora, ledo traço
Uma esperança morta e nada mais.
Resumo de uma vida entre ilusões
E quando a realidade agora expões
Revejo sonhos frágeis e banais...
49
De todos os meus sonhos, a nascente
Transcende ao próprio mar e me permite
Viver além do fato e sem limite
Ao traduzir o quanto esta alma sente.
Sem nada que deveras apascente
O risco noutro caos não delimite
E nem sequer no engodo se acredite
Aonde uma esperança, amor freqüente.
Expresso com ternura ou mesmo horror
Mosaico e nele posso me compor
Em variada forma, este mutante.
E quando me imagino bem mais firme,
Sem nada na verdade que confirme
A queda se aproxima num instante.
50
O amor ao se entornar em tal jazigo
Levando em suas mãos esta esperança
Enquanto no vazio, o sonho lança
Condena o dia a dia e não consigo.
Vencido pelas ânsias, desobrigo
Meu canto onde o passo não avança
E morto sem sequer qualquer pujança
Cenário se repete; é tão antigo...
Amar e ser feliz. Ah! Quem me dera.
Assim ao renovar a primavera
Depois deste outonal caminho em medo.
Mas quando acordo e vejo solitário
O rumo aonde o sonho é necessário
Ficando mais ausente. Morto. Ledo...
51
A tarde incrivelmente mansa e fresca,
Percebo no horizonte esta formosa
Beleza de sol-pôr num tom de rosa
Invés da costumeira em tez dantesca.
A sorte tantas vezes caprichosa
Permite cena rara ou pitoresca
E às vezes se permite em gigantesca
Insânia a turbulência pavorosa.
Sentir que vosso aroma se aproxima
Compõe inesperado e manso clima
Transcende à realidade e leva além
Dos meus próprios anseios e permite
Bem mais do quanto houvera em vão limite
E uma esperança superna, também vem...
52
Ao fim deste horizonte a imensa serra
Impede esta visão tão ansiada
Do vale após montanha desenhada
E toda a fantasia ali se encerra.
Durante tanto tempo essa alma que erra
Acreditando além não haver nada
Imagem pela vida deturpada
Transcende ao quanto posso e se descerra.
Porém a vida traça outro caminho
E zênites diversos onde aninho
O pensamento em frágil esperança,
E mesmo além de toda esta muralha,
O olhar com tal ternura hoje se espalha
E o vale em mansidão, enfim alcança.
53
À sombra dos meus dias mais felizes
Procuro algum alento em temporais;
Porém a vida esgarça e nunca mais
Os céus, pois deixarão de serem grises.
E quando uma esperança; contradizes
Deixando muito além os meus cristais
Envolto nos tormentos usuais
Enfrento novamente medos, crises.
E assim nesta avalanche costumeira
A vida, mesmo quando a paz se queira
Nos gládios e nas liças mais insanas
Adentra o meu outono, bebe o inverno,
Porém constante em mim o mesmo inferno
E nele em ironia inda me danas.
54
Apenas procurara um dia manso
Em meios mais comuns, tempestuosos,
Os sonhos são deveras caprichosos
E neles o infinito; em mim alcanço.
É quando no horizonte e em paz me lanço
Tentando vencer dias tortuosos
E crendo noutros vários e formosos
Às vezes nesta luta em vão eu canso.
Já não mais alimento a mesma idéia
Reinando sobre mim a tez atéia
E dela ressurgindo a etérea face
Da espúria invalidez da vida em vão
E enquanto bebo o imenso turbilhão
É como se de Deus, eu me afastasse.
55
Aonde um dia pude caminhar
Além dos meus anseios e temores,
Seguindo cada passo aonde pores
Os teus olhares; volto ao velho mar.
Sentindo esta esperança a se negar
Os sonhos se esvaindo quais vapores
E nesta procissão de vis horrores
O pouco e quando resta nega o altar.
Alados pensamentos: liberdade
Enquanto a solidão ainda invade
E nada do que eu possa alcanço em vida.
A cada ausência vejo retratado
O mesmo olhar vazio do passado,
A morte; em solução, percebo urdida.
56
O meu passado esconde estes ribeiros
Com águas cristalinas; peixes. Sonho.
E agora a tela inteira que componho
Traduz os dias turvos, corriqueiros.
Os passos pelas ruas mais ligeiros
O dia se transforma em enfadonho
Caminho aonde o nada sempre ponho
À frente da beleza dos canteiros.
A vida não permite novos rumos,
As esperanças são quais meros fumos
E nada me detém, a pressa rege
Cenário noutras eras cristalino
Enquanto em vã fumaça eu determino
O dia a dia turvo e tosco. Herege.
57
Pudesse inda esconder tanta tristeza
Da solidão que a cada dia vejo
Roçando a minha pele e de um lampejo
Agora noutra face, correnteza.
Das tramas do vazio, mera presa
Vivendo muito aquém do quanto almejo,
Riscando o meu caminho em medo e pejo,
A vida se desnuda sem surpresa.
À mesa de jantar, o mesmo rito,
O quanto posso ou tento e necessito
Silenciado, mata uma esperança.
E novo dia traz a turva face
Por onde o meu destino avance e grasse
Sem ter nem perceber qualquer mudança.
58
A vida se desterra aonde um dia
Tentara acreditar noutro cenário.
O passo, muitas vezes solitário
Apenas a esperança já se adia.
Olhando para trás, leda utopia;
Eu sei quanto o sonhar é necessário,
Mas guardo os sonhos dentro deste armário
Aonde nada mais se percebia.
Somente a mesma face deformada
Nesta alma quando em lutas já se enfada
E tenta alguma luz e além navega.
Mas quando se percebe em claridade
O todo em vão transforma: iniqüidade.
Já tanto que não vê, agora é cega.
59
Marulhos dentro da alma repetindo
Os vórtices que enfrento e não consigo
Saber nem vislumbrar algum amigo
Ao menos com sinais me conduzindo.
O tempo se transforma e outrora lindo
Traduz somente o medo e se eu persigo
A paz há tanto enfrento o desabrigo
E sinto alma aos poucos se esvaindo.
Nos corrimões da sorte algum amparo,
Mas quando a cada passo me deparo
Com tantos sortilégios, vãos, degraus.
Aonde imaginar bons, os maus
Prenúncios de tempestas tombam naus
Salgando um sonho há tanto escuso e amaro.
60
A terra onde pisaste; estranhamente
Entregue aos mais profanos dissabores
Traduz os teus caminhos e se fores
Além do quanto pode ou mais pressente.
Futuro repetindo este presente
Negando a primavera, mortas flores
E quando imaginara multicores
Cenários o vazio enfim se sente.
Escusos dias mortas esperanças
E quanto mais tu lutas, mais te cansas
E vês apenas trevas, nada mais.
O céu que um dia creste em azulejo
A cada dia sinto, bebo e vejo
Exposto aos costumeiros vendavais.
61
A vida em avidez; palcos cenários
Diversos entre os atos, quadros, faces
E quando em bastidores sonhos grasses
Os personagens; egos temerários.
Ao esboçares outros, necessários
Ou mesmo desprezíveis tais enlaces
Refletem nos instantes e onde passes
São teus estes mosaicos tortos, vários.
E assim ao perfazer novos desenhos
Por vezes mais alegres ou ferrenhos,
A história pela história a contradiz,
Minha alma nas coxias, camarim
Não traça o que deveras vive em mim,
Confunde o personagem com a atriz.
62
A vida quando em tons diversos grava
As marcações e cenas, entre os cacos,
Expressa enquanto arranca vários nacos
Da sorte muitas vezes sendo escrava.
Num ato em inconstância gera a trava,
Os personagens frágeis, tolos, fracos
Imersos nos meus vícios; gins, tabacos
E o corte a cada não se aprofundava.
Esboço reações: nada adianta
O corpo se acostuma a vária manta
Minha alma este mosaico em mutação
Transcende à própria vida ou se escasseia,
Porém já não consegue estar alheia
Aos sonhos e tormentas que virão.
63
A imagem que hoje vi, recuperada
Do arquivo aonde guardo cada fase
Da vida enquanto o tempo se defase
E deixa após o tanto, o mesmo nada,
Reflete a velha peça mal traçada
E nela personagens mais mordazes,
Fracasso após fracasso, sem as bases
Carreira em desalentos; encerrada.
Porém ao ver de perto quem eu fora
Imagem distorcida e sonhadora
Em preto e branco; um tanto esvaecida
Transcende ao próprio tempo e inda persiste
No olhar longínquo, tênue e sempre triste
Representa e sem palco, a minha vida.
64
A sorte se repete nesta quarta
Após uma semana, um mês, um ano.
E a cada nova ausência, o desengano
Dos olhos não se afasta e nem se aparta.
Há quanto uma esperança já descarta
E desce dos meus sonhos logo o pano,
E neste tragicômico eu me dano
Marcada sobre a mesa cada carta.
Espúrios dias; vejo e não me oponho
Porquanto este cenário é tão bisonho
No fundo refletindo o dia a dia
De quem se fez audaz e mal vislumbra
Imerso totalmente na penumbra
Aonde um sol maior já renascia.
65
Preciso a todo instante atualizado
Vencer os meus tormentos ancestrais
O mundo se renova; e vejo mais:
Já não me caberia o meu passado.
Refaço cada traço e tento ao lado
Dos dias tão modernos e atuais
Viver os meus caminhos naturais
Deixando além o antigo e degradado.
Baladas, noites, festas, riscos, risos,
Infernos entranhando em Paraísos
Mosaico de ilusões, palavras novas.
O tempo se transforma, mas de perto
Ao ver mantendo o olhar atento e aberto
Alegorias velhas que renovas.
66
A sorte desenhando cada cena
Em atos tão diversos. Coerência?
O palco traduzindo esta existência
Aonde apenas ermo e vão, serena.
Minha alma a cada dia se apequena
E disto me apercebo. E ter ciência
Do quanto posso mesmo em inclemência
Ou crer na fantasia mais amena.
Um personagem torpe este mutante,
Que muda a cada quadro e doravante
Numa explosão vazia chega ao fim.
Olhando das coxias, bastidores,
Insólitas, confusas, multicores...
Melhor se me aquietasse em camarim...
67
Repito estes capítulos em dias
Diversos, mas idênticos no fundo
E quando no cenário eu me aprofundo
Seria bem melhor ver das coxias.
Assim enquanto em vão teimas, porfias
Do nada insustentável já me inundo
E quando percebendo num segundo
Imagens se repetem: ironias...
Abaixam-se deveras as cortinas,
Mas mesmo assim ainda determinas
Qual fosse insuperável este obstáculo
Sem diferenciar o personagem
Reflete dentro em mim tal paisagem
Enredo sem final, torpe espetáculo!
68
Quem dera se pudesse um artesão
Traçar em barro, mármore ou madeira
A imagem mais tranquila e derradeira
E dela com firmeza e precisão
Num ato de total transformação
Tramando o que deveras mais se queira
Numa beleza eterna ou passageira,
Mas viva e até palpável. Porém, não.
Ousando do teclado algum cinzel
Invés deste alabastro; uso o papel
Nesta diversidade da palavra.
Do quanto imaginara ser artista
Em verbos, frases, letras, pois se avista
O que alma ensandecida teima e lavra.
69
A vida se repete em desenganos,
Mas esperança alenta quem porfia
E mesmo que demore qualquer dia
Semas, meses, vidas, horas, anos
Apenas imutáveis são meus planos
E neste desenhar, farta ironia
Transcende ao quanto pude e não teria
Senão após a luta, velhos danos.
Esgarço-me decerto na procura
E quando alguma luz inda assegura
É fátua realidade em tom fugaz.
A vida, ilusionária por si só
Ao fim de tudo leva ao mesmo pó
Cada ilusão que o tempo ilude e traz.
70
A queda produzindo esta fratura
Jamais consolidada pela vida,
A sorte desenhada e desmentida
Apenas do vazio me assegura.
Seara imaginária, leda e escura
Não deixa que se veja uma saída
E a porta; há tanto tempo, empedernida
Impede qualquer messe em vã procura.
Condena-se ao torpor e nada faço,
Seguindo paciente e num compasso
Monótono; aguardo o fim da peça.
Sem medo, sem tormentas, sem surpresa.
Levado pela imensa correnteza
Inerme desenhar já se professa.
71
Nos shoppings nos teatros e cinemas
A vida ultrapassando os seus anseios,
E as noite embaladas, devaneios
Nas libertárias faces tu me algemas
Eternos são decerto os meus dilemas
E não encontro além dos sonhos, meios
Apresentando passos sempre alheios
Refaço e não resolvo estes problemas.
Fugaz, a vida em tons de mocidade
Num átimo mergulha em grises faces
E mesmo que talvez novéis tu grasses.
O tempo incontrolável nos degrade.
Refaço dentro em mim tabacaria
Imagem renovada a cada dia.
72
A mesma estupidez já se reforça
Nos atos repetidos pela raça
Que há tanto sobre a Terra quer a Graça
E crê-se muito além de qualquer morsa.
A vida com seus erros quando se orça
Presume a realidade em tosca traça
Enquanto o tempo avança e; ledo passa
Deixando o grácil passo de uma corsa.
Esboça a fera insana e racional,
Por isto mesmo e até; a mais venal
De tantas criaturas. Torpe e espúria.
A cada geração, pois se repete
Do jato mais veloz até o ginete
Constante se afigura a farta incúria.
73
Quisera pelo menos segurança
Ou mesmo alguma luz neste horizonte.
Aonde o nada toma e não desponte
Senão a mesma treva que ora alcança.
O passo, noutro instante já se cansa
E; seca, dentro em mim a velha fonte
Impede que se crie alguma ponte
Destarte nada segue em paz e avança.
Repito os meus erros ancestrais
Voltando aos tempos duros e venais,
Cruzada que inicio a todo instante.
Se um dia quis edênico; egoísta
Desenho desolado agora assista
Ao meu futuro espúrio e degradante.
74
Os passos pela noite quando incautos
Entranham por vielas, ruas, trevas.
E nestes desenhares tu me levas
Prenunciando ao fim; raptos e assaltos
Enfrento noutra esquina sobressaltos
Bem mais do quanto eu pude; ainda cevas
Diversas ilusões; porém em levas
Tormentas invadindo estes ressaltos.
E o cadafalso em tons bem mais modernos
Traduz da mesma forma os tais infernos
Gerados pela estupidez humana
Renova-se a mortalha e a mesma face
Retrata o quanto somos. Nisto trace
A face mais atroz, tosca e profana.
75
Sob as marquises dormem tantos párias
Defronte às magistrais joalherias
E assim se repetindo vários dias
Imagens contrastantes, temerárias.
Talvez regendo as vidas, procelárias
Oráculos diversos tu dirias
Envoltos nas banais astrologias
Ou mesmo algumas ditas necessárias
Resgates de outras tantas do passado.
Mas vejo neste fato constatado
A própria natureza atroz e nata
De um ser que só por ser já se deforma
E toma a rapineira e turva forma
E nada; infelizmente inda o resgata.
76
A face que julgara ser local
Ou mesmo momentânea em tom diverso,
Agora quanto mais em mim eu verso
Percebo não ser nada pontual.
E neste vão desenho atemporal
Navega em insolência este universo
Per si e sem saída, mais perverso
Satânica figura original.
A imagem desolada de um mendigo
Enquanto outro cenário; além persigo
Não deixa qualquer dúvida e me vejo
Também da mesma forma um ser inerme,
E quando atuo sinto em mim o verme
Que crê; mesmo vazio, ser sobejo.
77
O passo quando em sonhos contratou
Alguma luz ao fim do velho ocaso
Enquanto noutro instante até aprazo
Mortalha dentro em mim se desenhou.
E sei do quanto posso e mesmo vou
Vencer a solidão. Mas já me atraso
E entregue às ilusões de algum acaso
Bem pouco do que eu sonho inda restou.
Alhures vejo a cena aonde eu quis
Ao menos dirimir a cicatriz
Há tanto; desenhada em minha pele.
E quando busco paz, tranqüilidade,
A tormenta inerente toma e invade
E ao fim do meu caminho enfim compele.
78
O quanto necessito de guarita
Após as velhas torpes turbulências
E tendo de tais fatos as ciências
Das quais uma razão já necessita.
Seara imaginável, mas finita
Aonde se percebem ingerências
Das tétricas loucuras e inclemências
Tornando quase inútil tal pepita.
Quando avassaladora a vida entranha
E deixa para trás sonhada sanha,
Mergulho nos meus ermos, mas desvendo
Realidade tosca e nada além
Do quanto sem defesas me contém
Desenho caricato e até horrendo.
79
Minha alma se percebe ora brindada
Após os costumeiros vendavais
E tenta imaginar novos cristais
Aonde, no final, não resta nada.
A sorte se mostrara desenhada
Em ritos tantas vezes magistrais,
Mas vejo quão são frágeis meus vitrais
A face há tanto tempo mutilada.
Não posso acreditar nalguma luz
Se ao vago cada passo reconduz
Quem tanto acreditara em redenção.
Deidades descartáveis, milagreiras
E mesmo quando além ainda queiras,
Rapinas com banquetes; brindarão.
80
Enquanto além dos sonhos não atuas
E bebes as searas sem tocá-las
As ânsias onde nunca me avassalas
Derramam faces duras, ledas, nuas.
Respostas que eu conheço? Apenas duas;
E nestas turbulências vejo as salas
Enquanto tão somente imaginá-las
Falsário paraíso ora cultuas.
Não crer ou mesmo até se resguardar
Da vida é como fosse o navegar
Sem mares, calmarias e procelas,
No ancoradouro vejo em lenço branco
Olhares tão sofridos; alavanco
Meu rumo; aonde apenas mal revelas.
81
O quanto vejo inútil teu orgulho
E sei quando se mostra a nu quem és
A sociedade traça estas galés
Gerando do brilhante escasso entulho.
Negar do imenso mar o seu marulho,
Tentando ver a vida de viés
Cortando as asas segues com teus pés
Aonde noutro instante eu já mergulho.
A vida não se poupa e quem o faz
Não sendo sequer franca nem audaz
Permite no final o alheamento
Percebo em teu olhar o medo expresso
E quando algum desejo a ti confesso
Palavra sem guarida, solta ao vento...
82
O quanto da esperança agora desce
E morre em tal inútil e temerosa
Faceta aonde a vida por si glosa
E aos poucos nos vazios se esvaece.
Negar a dor também mata a benesse
O espinho justifica a bela rosa
E quando se pudesse majestosa
À torpe sensatez a alma obedece.
Não temo o tempo e nem outro cenário
Da vida qual pudesse algum corsário
Sem medos nem pudores, sigo além.
Mas quando vejo em ti tanto temor,
Inércia aonde havia um grande amor,
Percebo este vazio que a detém.
83
Vagasse o pensamento pelos céus
Sem ter qualquer suave ancoradouro,
E quando prenuncia algum tesouro
Espessos e diversos, turvos véus.
Ateio em esperança fogaréus
E neste desenhar logo me douro
Reverto o meu caminho ao nascedouro
E singro mesmo em dias mais incréus.
Resumos de outros tempos; pois carrego
A sorte prenuncia num nó cego
Emaranhados tantos; vida afora.
Mas quando se negando ao próprio vento
Ao fim apenas o ermo em passo lento
E a própria sensatez a ti, devora.
84
O manto desenhado sobre ti
Presume alguma luz neste horizonte,
Mas quando bem mais forte ela se aponte
Ao fim de tudo apenas percebi
O medo persistindo lá e aqui
Negando a maravilha desta ponte.
Secando o sonho após a rara fonte
Aonde um mundo imenso eu percebi.
A vida se prepara em tais surpresas
E quando se percebem sobre as mesas
As cartas de um futuro embaralhadas
Das intempéries, sonhos, pesadelos
Momentos tão diversos. Mas ao vê-los
Os olhos renegando as alvoradas.
85
Apenas o que ainda o sonho vê
Não mais traduziria algum desejo,
E quanto maior canto enfim almejo
O sortilégio teima e em nada crê.
A vida se transforma e sem por que
Reflete outro caminho feito em pejo,
E quando em suicídio eu me dardejo
Negando o que deveras a alma lê.
Assim ao não ter mais qualquer coragem,
Aonde há tanto quis uma ancoragem
O barco se perdendo noutro cais.
O tempo me apascenta? Nada disto.
Amar é conceber se ainda existo
Embora os ventos sejam desiguais.
86
Trazendo na memória vários nomes
E cenas muitas vezes repetidas
Ou noutras mais diversas, refletidas
Enquanto aos poucos foges, longe somes...
E quando novamente tu me tomes
Nos braços e refaça nossas vidas
Das velhas armadilhas bem urdidas
Aos novos caminhares; não assomes.
Mutáveis pensamentos, sendo assim
Princípio se desfaz em ledo fim
E o quanto desta imagem se perdeu
Já não permite mais outra viagem,
Assim até na mesma clara imagem,
Tu não és mais quem é, nem tampouco eu.
87
Mais fortes e decerto poderosos
Sentidos dominando uma razão
Tramando novos tempos que virão
Deixando para trás os caprichosos,
Anseios entre tantos majestosos
A vida numa eterna procissão
Renega cada passo e noutro então
Desenha dias fartos, melindrosos.
Dicotomia eu vejo a cada instante
E o quanto neste agora se garante
Deveras amanhã de nada vale.
Mutante ser apenas; já retrato
As corredeiras várias de um regato
Relevo se moldando em monte e vale.
88
Aonde quis talvez refugiar
Os sonhos mais atrozes e felizes
No quanto ao mesmo instante me desdizes
Em fases tão diversas qual luar.
Eu tento até quem sabe acreditar
Após as tempestades destas crises
Nos vários tons diversos de matizes
Iridescente mundo a se traçar.
Mas tudo se transforma e também eu,
Olhar em tolo espelho se esqueceu
Da imagem vislumbrada há um minuto.
E quando até pensara em coerência
A vida sem saber qualquer clemência
Invade e ao mesmo tempo eu me permuto.
89
Pudesse traduzir numa canção
Os ermos de minha alma em vários tons,
Momentos num instante claros, bons
Ao mesmo tempo negam floração.
O sim anunciando a negação
Diversos os matizes dos neons
São desarmônicos deveras os meus sons
E os dias, novos dias moldarão.
Quem dera se eu soubesse quem sou eu
O norte em tantos rumos se perdeu
E o quanto inda resiste do passado
Talvez como um refúgio ou mesmo um cais
Permite novos sonhos magistrais,
Até que esteja tudo terminado.
90
Ouvindo alguém batendo nesta porta
Há tanto já fechada pelo medo,
Enquanto um novo sonho eu me concedo,
A própria sanidade logo aborta.
O quanto do presente já reporta
Ao caminhar decrépito e tão ledo
Traçando um variável, tosco enredo
A vida se renova sobre a morta.
Mas quando se percebe algum alento,
Eu sei e já concebo ser o vento
Trazendo o meu passado. Novamente...
O caos que tu deixaste, na verdade
É tudo o quanto assola quando invade
Profunda tatuagem não se ausente...
91
A noite mais sombria toma a cena
E vejo apenas medo e nada mais,
Aonde poderia em divinais
Desenhos nem o sonho me serena.
A sorte a cada instante se apequena
A ausência de quem quis em desiguais
Caminhos presumindo outros venais
Somático delírio ora condena
E o cântico que outrora acalentara
Num átimo adentrando esta seara
Transcende ao quanto sinto e quando invade
Invés de apascentar a alma mordaz,
Somente neste instante ainda traz
A vida sensação de vã saudade...
92
Enquanto quis a brisa, num tufão
A vida se transforma inconseqüente
E quando neste vórtice apresente
Mudando num instante a direção
Traduz os dias tensos que virão
E neles outros tantos; inclemente
Olhar se transformando plenamente
Negando o quanto eu quis: atracação.
Resumos de outros erros num só fato,
E quando alguma imagem eu resgato
Não é já mais a mesma que antes vira.
A cena refletida noutro instante
Apenas do vazio me garante,
O quanto desejei? Tola mentira...
93
Ouvindo apenas leda ventania
Invés da voz de quem tanto imagino
Mudando as diretrizes do destino
A sorte além da vida o tempo adia.
E quanto mais exposto eu me veria
Maior o meu delírio. Em desatino
Mergulho no passado e determino
O quanto na verdade não teria.
Somente este caminho em senda espúria
Restando invés de canto, uma lamúria
Na velha ladainha desfilada
Carpindo uma esperança inútil tento
Vencer a imensa força deste vento,
Porém minha queda ensimesmada.
94
Ladrando como um cão; vislumbro a lua
E tento neste canto algum resgate
De um sonho onde deveras me arrebate
A morte noutra face, bem mais crua.
E quando além do sonho perpetua
E nada mais decerto inda retrate
A vida num terrível, tolo embate
Noctâmbulo fantoche desce à rua.
Cerzindo em bares, louco pária eu sigo
Vacantes esperanças, meu abrigo
Encontro sob estrelas e ao relento.
Matilhas de tormentas; a alma carrega
E a cada nova esquina outra bodega
Adentro e alguma luz em vão eu tento...
95
Já não mais importa mais nem nome ou crença
Arrasto-me entre trevas e mergulho
Sabendo que talvez do ledo entulho
Alguma nova luz inda o convença
Depois de tanta queda em desavença
Numa alma entorpecida ora vasculho
E além do costumeiro pedregulho
Apenas a mortalha me compensa.
O sórdido canalha vivo em mim,
Escondo a cada instante, mas enfim
Apresentando a face inconfundível
Dos esgotos e fétidos bueiros
Aonde fiz em paz os meus canteiros
Florada em podridão? Imperecível...
96
A dor já não me importa, é companheira
De tantos dissabores vida afora.
E quando uma esperança tola aflora
Ao mesmo tempo aquém decerto esgueira.
Ousando na mortalha qual bandeira
A porta se fechando desde agora
O canto em frenesi não me apavora
Sabendo ser a sorte traiçoeira.
Esgares costumeiros onde a vida
Desnuda a sua imagem construída
Em meio aos mais sofridos, vis cenários.
Os sonhos quando os vejo além do fato
Apenas num momento em vão constato
Os mesmo ermos torpes, solitários...
97
Buscasse algum abrigo neste inverno
E nada mais teria senão isto
E quando à derrocada enfim, assisto
As ânsias mais audazes; não interno.
Esgoto o meu caminho em torpe inferno
E a cada nova queda mais desisto
Traçando dentro da alma este Mefisto
Que aos poucos, em defesa própria externo.
Aonde me fiz terno e sonhador,
Apenas recolhendo o dissabor
Jamais imaginei outro caminho.
E tendo em horizontes mais sombrios
Os olhos concatenam desvarios
E sigo o meu delírio mais mesquinho...
98
Caquética figura em fome e tédio
Aspiro alguma messe, mas sei bem
Que o nada após o nada sempre vem
Embora este esperança gere o assédio.
Esgoto o meu caminho a cada instante
E bebo desta amarga realidade
Inebriante luz enquanto invade
Apenas do vazio me garante.
Quem sabe noutra vida outra seara
O mundo se desenhe em nova forma,
Mas quando a fantasia se deforma
E a face desdenhosa ora escancara
O quanto ainda trago e enfim desvendo
Não passa na verdade de um remendo...
99
As flóreas persistências da ilusão
Eclodem borboletas de crisálidas,
E quando em noites frias, vãs e esquálidas
Sonega-se esperança em provisão
Eu sinto que outros tempos mostrarão
Além destas imagens meras, pálidas
Talvez algumas cenas bem mais cálidas
Traçando em mim ao menos um verão.
E trago a cada passo outro momento
Diverso do que tanto em dor alento
Gerando em tons suaves; novo trilho
E quanto mais audaz o sonho eu vejo
Um temerário encanto benfazejo
Ensimesmando a vida e em paz palmilho...
100
Sonhar é necessário, sei-o bem.
Mas quando a vida traça em discordância
Um rumo aonde eu quis suave estância
E nada após decerto ainda vem.
Deserto o meu caminho e sem desdém
Apenas sorvo a mansa militância
Gerada a cada passo noutra instância,
Mas não serei somente algum refém.
Meu passo é libertário mesmo quando
O mundo noutro esgar; vejo-o nublando
E aproximando além outra procela
Porquanto sou tenaz e em vão persisto
Da liça que é diuturna não me disto
Minha alma outro corcel além já sela…
MARCOS LOURES FILHO