a ilha da merda é um espaço onde vivo isolado dos outros para poder criar a minha arte. existem as gaivotas como companhia que cagam mais que eu. passam os dias a criar barulhos que mexem com os meus nervos e espantam a minha liberdade de criar uma cultura muito própria. é uma ilha de merda que desconhecia quando a escolhi. vivo do peixe que apanho e dos gritos da minha loucura, atormentada pelos ventos de um continente muito próximo, e de vez em quando, sou visitado por uma senhora que vem satisfazer as minhas necessidades primárias. mas o pior, mais que a merda que me rodeia, é que com este isolamento não consigo ser eu, não consigo encontrar a paz e não consigo criar a arte que sempre procurei conseguir.
já passaram alguns anos e o futuro é tão presente como o passado. será que já não sei viver em outro local qualquer? sem os gritos parvos das aves e sem a sua merda? sempre terei uma pequena esperança de ver nascer algum fruto deste meu pecado que faz de mim um prisioneiro iludido com a liberdade e um selvagem que se julga liberto dos olhares de uma sociedade avançada.
e até há dias que duvido do meu corpo, do meu estado e do espaço onde me deixo morrer lentamente - é nesse momento que acredito que sou parte de uma imaginação fértil de um qualquer mundo paralelo - mas depois acordo com o vento, com o sol ou com cheiro da merda que mina o meu caminho. assim nunca consiguirei ser um criador de uma arte que talvez nunca seja entendida... que ilha de merda é esta a minha.