Sonetos : 

SONETOS FEITOS EM 11/08/2010

 
1
Abismos de minha alma; aprofundo
E tento discernir quem mesmo sou.
O quanto de este ser se desnudou
Ou segue sem paragem, vagabundo,
Dos ermos mais audazes eu me inundo
Bebendo fartamente e nisto eu vou
Ao discernir somente enfim restou
Um pária; muitas vezes torpe e imundo.
Esgares da Natura, um excremento
E apenas a mortalha eu alimento
No furioso aspecto mais cruel,
Destarte um fantoche se desvenda
E quando se imagina mais horrenda
A espúria criatura em pus e fel.
2
As horas solitárias; turbulentas
Expressam o que resta deste a quem
A vida sonegando não mais vem
Enquanto um novo tempo me apresentas.
Persisto da verdade muito aquém
E sorvo deste espectro e sei tão bem
As horas que adentrara; mais sangrentas.
Ocasionando a queda costumeira
Estraçalhando brotos da roseira
Impeço dentro em mim a floração,
E sorvo deste que se fez etéreo
Num antro quase espúrio, vão, sidéreo
Negando a minha própria mutação.
3
Ao pensamento em várias faces levo
O coração atroz ou inclemente
Ainda quando a sorte se pressente
O velho sentimento frio e sevo
Onde poderia e não me atrevo
Tentar outro caminho, pertinente,
A vida se transcende e se apresente
Enquanto ensimesmado eu teimo e nevo.
Vencer os meus tormentos e seguir
Sem mesmo presumir o que há da vir
Apenas por viver e nada além,
Entre tormentas tantas; vida afora
A fúria que decerto ora se ancora
Traduz os dias torpes que inda vêm.
4
Liberto o coração; revoltas águas
E nelas enfileiro os meus anseios
Adentro mar afora e sigo os veios
Por onde noutra face já deságuas
E sinto ainda vivas velhas mágoas
Embora fragilmente em devaneios
Encontre ou busque apenas novos meios
Enquanto se exterminam sonhos. Fráguas.
Esgoto-me na luta quase insana
E o passo sem defesas me profana
E gera novo caos em turbulência,
Do todo esvaecido a cada dia
Explode dentro em mim a poesia
Traçando toda essência da existência.
5
Expiro as esperanças entre os lodos
E tento apenas restos, nada mais
Enquanto me entranhasse em lamaçais
Meus dias se perdendo ledos, todos,
E quando de outra forma poderia
A vida transformada em claridade
Apenas o vazio me degrade
Tomando com vigor a poesia
E o cárcere ao qual eu me condeno
Não deixa qualquer dúvida. Afinal
A morte se presume em virtual
Caminho para aonde sigo pleno
E escondo-me dos dias desta forma
No ser que a cada instante se deforma.
6.
As ondas gigantescas que ora enfrento
Num tétrico confronto vida e morte
O quanto do meu mundo não suporte
O passo aonde a força traz provento
E exposto ao mais feroz e duro vento
Sem nada que deveras me conforte,
Perdendo há tanto tempo o mesmo norte
Do qual outro caminho agora invento.
Resulto desta incoerência atroz
E nada refaria a antiga foz
De um manso ribeirão não caudaloso,
Aonde o meu olhar sem horizonte
Sem mesmo algum cenário onde se aponte
A cada dia é fero e belicoso.
7
Qual onda que explodindo em firmes rocas
Meu mundo se escumando nada traz
Senão a mesma face atroz e audaz
E nela novas fúrias tu provocas,
Mas quando ao mesmo vão sei que deslocas
O passo se tornando mais tenaz
Resulto num retrato tão mordaz
Tentando algum refúgio em mansas locas.
Mas nada se aproxima do real
E o rito repetido, sempre igual
Presume o quanto resta de mim quando
O tempo revoltoso diz borrasca
E a morte traz à vida esta nevasca
Aterrorizador ar mais nefando.
8
Aonde poderia ser o império
Dos ermos de minha alma, solidão,
Ermida também traz em negação
O quanto resta em mim já sem critério
A vida se entranhando em vão mistério
E os dias tão somente mostrarão
Herético caminho em solução
Na fria e vã dureza do minério.
Austeros cantos, antros mais vulgares
E neles tantas vezes procurares
Sinais de qualquer vida onde não há;
Esgoto os meus caminhos, o eremita
Que ainda noutros tempos acredita
E um dia até quem sabe os tocará.
9
Em desmedido mar, o pensamento
Expondo a sua face mais audaz
Procura outro caminho e já não faz
Do sonho pelo menos um alento
E quando a solidão em mim invento
Resulto deste tempo contumaz
E nele sem sinal algum de paz,
Bebendo a cada ausência este tormento.
Negar a mera messe de quem vence
E sabe do viver, ledo non sense
Realces de momentos mais atrozes,
Espúrias garatujas, súcia imunda
Searas de minha alma que aprofunda
Os passos tão sofridos e ferozes.
10
Humilha-me o vazio em que carrego
O tempo em turbulência e atrocidade,
Vasculho cada canto da cidade
Em passo tão audaz, porquanto cego.
E quando me percebo e assim navego
Entranho contra a fúria em tempestade
E a morte tão somente o que me invade
Qual fora a redenção, nela eu me apego.
Fagulhas da existência são fugazes
E quantas vezes; leda, tu me trazes
Somente a negação como resposta
E o vento em minha face mais feroz
Impede o caminhar e além de nós
A sorte se apresenta decomposta.
11
Em solilóquio luto contra a fúria
De quem se fez atroz e não percebe
A dura imprecisão da mesma sebe
Aonde se espalhara em vaga incúria,
Gerando tão somente a mesma injúria
Nesta ruptura intensa mal concebe
O quando de benesse enfim recebe
Lamenta a cada passo uma penúria,
E sei do quanto pude, mas agora
O tempo noutro cais teimando ancora
E mostra em nascedouro outro caminho,
Milhagens que esta vida acumulara
Não valem para quem faz da seara
Apenas um cenário mais mesquinho.
12
Apresentando agora o que inda resta
Dos sonhos de um fantoche morto em vida,
Aonde se pensara presumida
O fim gera o ditame desta festa,
Palavras muitas vezes; indigesta
E dela a própria essência agora acida
E o vândalo sonhar diz da partida,
Meu charco deste fato vivo atesta.
Esgoto os meus caminhos e não mais
Encontrarei somente lamaçais
Porquanto imaginara gemas raras,
E o cálice decerto apodrecido
Traduz o vinho há tanto esvaecido
Que em brinde à minha ausência enfim
preparas.
13
O risco prenuncia o gozo após?
Quem dera se pudesse ser assim,
Apenas tão distante do festim
Perdendo sem limites minha voz,
Arisco, o caminheiro; vago algoz
Expressa a solidão que existe em mim
E trama novamente o mesmo fim
Num rito tão sofrível quão feroz.
A realidade trama novos fatos
Que são dos mais antigos os retratos
Que digitalizaste, mas sou franco
A imagem do passado se reflete
Embora muito além deste ginete
A vida continua em preto e branco.
14
Humilhações diárias a quem tenta
Saber do quanto pode e não veria
Sequer o renascer de um ledo dia
Exposto à realidade virulenta,
A morte a cada passo se apresenta
E nela novamente outra sangria
Até que no final não restaria
Seque a face escusa e poeirenta
De quem se fez audaz, mas sabe bem
Do pouco ou quase nada e inda vem
Sorvendo seus demônios com prazer.
O olhar enaltecido pelas glórias
Invade noites frágeis merencórias
E passa neste espelho ora a se ver.
15
A luta não cessando mesmo quando
A paz se anunciara no horizonte
E neste desenhar já desaponte
Quem teve seu caminho se moldando
Nas ânsias mais atrozes de um nefando
Delírio aonde o nada trama a ponte
E gera a inconseqüência de uma fonte
Aos poucos noutra face se estiando.
E o marco discernido entre os comuns
Expressa os dias tortos quando alguns
Esbarram no vazio que inda trago,
Escassas noites trazem mero abono
E os sonhos noutro canto eu abandono
Enquanto a morte em mim busca um afago.
16
Delírios costumeiros de um insano,
A vida recendendo ao velho caos
E nisto procurando toscas naus
Invado sem pensar este oceano,
E quando num naufrágio enfim me dano
Bebendo destes medos, riscos, maus,
Esbarro nos meus últimos degraus
E sei que após a queda não há pano.
História repetida não engane
E o mesmo caminhar ditado em pane
Esboça a realidade a cada etapa;
Por mais que se vislumbre outro cenário
O ser tão melindroso e temerário
Das angústias eternas não escapa.
17
Há tanto que se vê sem diferenças
As velhas tentativas libertárias
E quando as armas são mais temerárias,
Ainda seguem vivas as descrenças
E geram novos erros, desavenças
A cada espelho vejo as adversárias
Imagens degradantes, necessárias
Enquanto em nova vida, mero, pensas.
Assim caminha etérea a raça humana
Na fuga de si mesma se profana
E morta a cada esgar de uma esperança
Independentemente do que venha
Ainda em fráguas feitas quase à lenha
Ao mesmo desvario hoje se lança.
18
Não posso resvalar nalgum futuro
Se tudo refletindo a mesma imagem
E nesta incoerente e vil viagem
Apenas o vazio eu asseguro,
Porquanto novo rumo enfim procuro
Idêntica em mim mesmo esta paisagem
E quando olhar vasculha uma miragem
Meu ermo continua turvo e escuro,
Por mais que fuja até deste terrível
Retrato mal traçado e maltrapilho
Num ato mais atroz sempre me pinho
E tento imaginar um novo nível
Da mesma fase eterna, vida em Terra
Angústia tão igual ainda encerra.
19
Buscando qualquer fuga que entorpece
Nas variantes todas da existência
Regendo a cada passo uma inclemência
Ousando no vazio crer em prece,
Ao quanto deste ser a vida esquece
E morre até por não saber da essência
E nem sequer percebe a consciência
Quando ao mesmo nada se oferece.
A voz mais libertária já se cala,
A alma persistindo qual vassala
Dos gozos, dos anseios de um desejo
Escravizando eterna e duramente
O quanto do futuro se apresente
Neste retrovisor agora eu vejo.
20
Jamais acreditei na salvação
Após esta existência incoerente,
E o quanto da esperança se apresente
Transforma a vida me turva negação,
Ocasos dentro da alma se verão
Por mais que novo dia a raça tente
O manto se mostrando este inclemente
Do esgoto surge a mesma geração;
Num renovável antro de miséria
O sortilégio imundo da matéria
Esboça a realidade e nada mais;
Velhusco e até velhaco ser sem nexo
Apenas de si mesmo um vão reflexo.
21
Os gozos mais audazes muita vez
Traduzem ilusões e tão somente
No quanto a própria vida se desmente
Levando ao mais terrível que ora vês
Ao mesmo tempo sorve a lucidez
Negando neste solo uma semente
E quando novo rito ainda invente
Diverge desde quando ele se fez.
A sorte não renova a mesma face
E nela novo tempo não mostrasse
Senão velhos retratos do passado,
Edênica procura aonde hedônica
Na mesma escória imunda quase agônica
Desenho de outra igual já sendo herdado.
22
Não tento ser diverso e pessimista
Somente esta peneira não protege
Do sol tão inclemente vago herege
Enquanto o meu olhar a tudo assista,
A morte se traduz numa conquista?
Assim religião deveras rege
E quem se faz além se desprotege
Da fúria desejosa e tão benquista.
O renovar da vida é necessário
E sei que na verdade este adversário
Um aliado apenas do futuro,
O fato de morrer gerando o novo
Cadáver se traveste e como um ovo
É dele que o eterno eu asseguro.
23
Das tantas mutações do pensamento
A angústia rege o passo de quem pensa
E quando a vida mesmo é recompensa
Não tendo outro caminho ainda invento,
Bebendo com fartura este provento
E nisto quando em paz já se convença
Desta necessidade mesmo imensa
Do reformar da história em excremento.
Orgulho-me do adubo que serei
Grassando nova face sob a grei
Que um dia cultivara e me servira,
Não necessito prêmios para tal
Nem quero ser deveras imortal,
A própria vida traço como mira.
24
Jocosa face vejo de este ser
Que tenta renovar-se a cada dia,
Mal vê quando se perde em fantasia
Enquanto sua essência eu posso ver
Já sinto a cada passo o desfazer
Trazendo muito além de uma agonia
O quanto deste todo poderia
À própria persistência esvaecer.
Não tendo outro caminho senão este
O tanto que deveras prometeste
Não traz qualquer alento, mas ilude
Idílios tão diversos, mas iguais
Do nascedouro aos nossos funerais
Diversas reações; mesma atitude.
25
Jazigos entre flores: recomeço
Assim se faz a nossa turva história
A morte após a morte na memória
Esquece na verdade este endereço
E quando imaginara um adereço
Resumo do que possa tal vanglória
Apática noção de uma vitória
Aos poucos com o tempo eu me esvaeço.
Vagando tão somente por uns dias
Aonde se desnuda o que terias
Bem menos do cenário onde criaste
A face duradoura do vazio,
Presume a eternidade de um estio
Retrato inconfundível deste traste.
26
Aprendo com as quedas, mas sei bem
Que nada acontecendo por acaso,
A vida quando muito já me atraso
Apenas o vazio inda contém,
Depois de certo tempo sou ninguém
E nisto, a cada instante deste ocaso,
No fundo com certeza ora me aprazo
Sabendo do não ser que logo vem,
Tomando a minha face e meu destino,
E neste desfiar eu me fascino
Por ser esta efeméride e não mais.
Os dias são diversos, mas iguais
E quando bebo em paz esta rotina
Ao fim o dia a dia determina.
27
Jazendo dentro em mim vários demônios
Coabitando em paz com querubins
E destas tantas faces os festins
Dominam cada dia em pandemônios,
Assim sendo os meus raros patrimônios
E neles os princípios dizem fins
Porquanto são diversos, mas afins
Alimentados sempre por hormônios.
E quando insofismável face vejo
Do quanto impera em mim qualquer desejo
Eu dou a preferência a quem me traz
O gozo num momento ou mesmo alento,
E disto mesmo sem discernimento
A minha vida em dor ou riso, faz.
28
Cadenciando o passo rumo à morte
Não tendo outra saída, busco ainda
O quanto no final não se deslinda
E nada do que tento me conforte,
Por crer e jamais ser tão duro e forte
A minha história aos poucos já se finda
E quando neste aspecto o sonho brinda
Ao menos para o nada dá suporte.
Esgarces tão comuns e necessários
Enquanto os dias morrem temerários
Renascem novos sóis mesmo se ausento.
E assim da eternidade de alguma alma
Apenas o vazio não acalma,
Mas sei que meu futuro é mero vento.
29
Não vejo mais a sombra do que um dia
Pudesse até reger o meu caminho.
Porquanto seja vago e assim daninho
Alento encontro em paz na poesia,
Mas logo o tempo aos poucos tomaria
E neste já não ser se ora me aninho
Do quanto fora há tempos mais mesquinho
Restando qualquer tom desta agonia.
E bebo em goles fartos quanto resta
Do pouco que se fora em riso e festa
Deixando sempre aberta a mera porta,
E quando uma esperança vem e aporta
A face da verdade esta indigesta
Nem mesmo a redenção enfim comporta.
30
Não tento mais sentir ventos suaves
Eu sei que as tempestades são venais,
Mas bebo destes fartos vendavais
E neles cada dia mais entraves
Os passos com certeza são mais graves
E nada do que dizes são cristais
Os riscos se costumam usuais
E deles esperanças meras naves.
Esgoto a minha vida em pouco tempo,
Erguendo sem sentir o contratempo
Vencendo os meus pavores, mas nem tanto,
Por vezes me iludindo encontro a paz,
Mas logo à realidade o mundo traz
E ao ver-me verme espúrio, já me espanto
31
As hordas em total ebulição
Rondando o pensamento de quem busca
Vencer esta emoção torpe e velhusca
Achando ao fim dos erros, solução.
Mas sei que tantas vezes se darão
Incoerentemente em força brusca
Aonde a sensação de medo ofusca
Ditando em duras frases, mesmo não.
Esgoto meus caminhos, nada levo
Senão tal furioso mundo sevo
Ardente em turbulência, dor e medo
No vórtice dos sonhos, pesadelos
E nuvens a tocá-los e envolvê-los
Enquanto me abandono, ausente, ledo...
32
Das écoglas arcádicas ao futuro
Passando pelas trovas e repentes
Os olhos entre céus iridescentes
Procuram esperança em tom seguro.
E quando mais assisto e ali perduro
Vivendo tais magias sei que tentes
Palavras mais audazes e envolventes
Ao dirimir um mundo amargo e duro;
Assim ao encontrar tais desafios
É como se descesse em calmos rios
Numa eclosão sobeja, raro mar
E volto aos meus antigos madrigais
E olhando para os lados, nunca mais,
Apenas o vazio a me rondar.
33
Pudesse entre os espaços navegar
Usando para tal o imaginário
E assim um sideral, louco corsário
Vencesse qualquer medo a me tocar.
E nesta insânia imensa procurar
O amor que imaginara necessário
E agora se perdendo em senso vário
Deveras se polvilha, constelar.
Astrônomo invadindo este infinito
O quanto deste sonho eu necessito
Até para poder, pois prosseguir
Nas vias e avenidas da cidade
Imensa e concorrida claridade,
Porém grisalhos tons ditam porvir.
34
Ouvindo os campanários onde um dia
Anunciando as vindas e partidas
E nelas expressando as despedias
Ou mesmo algum momento de alegria,
As orações e os cantos; poderia
Traçar entre os meus ermos, mortas vidas
E quando mal percebes e duvidas
A sorte noutra face não veria.
Esgoto os meus alentos entre os versos
E sei destes sentidos mais diversos
Imerso no meu mundo em torpe tom,
Mas vive dentro da alma este chamado
E a cada turbilhão anunciado
Ecoa dentro em mim o mesmo som.
35
Palavras carregadas pelo vento
Em hinos, festas, risos e quermesses
Enquanto dos teus dias novos teces
Condeno o meu caminho ao vão lamento.
Por vezes noutro rumo teimo e tento,
Mas logo os meus destinos; tanto esqueces
Marcando em tons funéreos minhas preces
Condeno-me afinal ao sofrimento.
Vagando por entranhas mais profundas
Esbarro nas searas onde inundas
Com teus sorrisos francos, juvenis.
E deste novo tom encontro a paz,
Embora neste instante; pouco traz
Enquanto uma esperança aquém; desfiz.
36
Na cólera que um dia alimentaste
Um ar turvo e nefasto de abandono
E a cada novo instante desabono
Bebendo o quanto deste em vão contraste,
Meu corpo se condena e num desgaste
Terrível; do vazio eu já me adono
E quando imaginara livre, um mono
Renasce enquanto ao nada me legaste.
Expresso em ares tétricos meu canto
E quando do passado eu me levanto
Encontro os mesmos erros, costumeiros
Na noite sem estrelas ou luar,
Apenas turbulência a se formar,
As ilusões tão frágeis, meus luzeiros.
37
Ao ver esta feição que em divindade
Tomara este horizonte num momento,
Já não consigo mais; discernimento
E o gozo incomparável toma e invade.
Pudesse a cada instante, liberdade
E neste desenhar porquanto o invento
Imagens turbulentas, forte vento
E além do meu olhar, a tempestade.
Vagando por espaços mais sutis
O quanto imaginara e nada fiz
Senão este delírio aonde eu pude
Deixar sem mais perguntas, minha vida
Há tanto noutra face vã, perdida,
Marcando com terror a juventude.
38
O quanto do passado ainda via
Nas ânsias mais vorazes e sabendo
Do sonho como fosse atroz e horrendo
Marcado pelos tons da rebeldia.
Aonde se escondera a fantasia?
Aos poucos resta em mim um vão remendo
E quando o meu olhar; além, estendo
Não vejo mais sinais de um novo dia.
Erguendo-me do nada; ao nada resto
E sinto doloroso cada gesto
Tocando a minha pele em cicatriz,
Depois de tantos anos, coerência
Já não teria mais, leda ingerência
Do mundo que esquecer; tentei e quis.
39
A vida sem ter nada nem talvez
Algum instante feito em vã promessa
Do tanto que se encerre e recomeça
Pedaços do meu mundo aquém já vês;
No olhar esta expressão em altivez
E o medo de seguir, pois se confessa
Enquanto o caminhar ledo tropeça
Tropéis das ilusões, tudo desfez.
E assisto à derrocada em tal cenário
De um tempo mais suave, imaginário
Há tanto apodrecido e sem valia
E quando acreditara numa paz,
Traçado em fúria feito, mais mordaz
A cada encruzilhada renascia.
40
Ainda que distante, além, sonhasse
Pudera acreditar noutro momento,
E quando imaginando a messe eu tento
Vencer amargamente algum impasse,
Desenho em turvas sendas, vida trace
E molde nos meus dias, provimento,
Raiando dentro em mim, algum alento
Mostrando da esperança nova face.
Esgarço-me deveras quando mira
Palavra feita em tétrica mentira
Enaltecendo engodos contumazes
Ao ver tal heresia a cada instante
Porquanto cada passo se adiante
Etéreos sentimentos, tu me trazes.
41
A vida se transforma desde quando
O tempo muda a face do horizonte
Assim que um novo sol além se aponte
O sonho; também sinto renovando.
E quantas vezes fora até infando
Sem nada nem destino cais ou fonte
Mergulho num estranho e vão desmonte
Vagando quais rapinas. Ledo bando.
Atordoadamente a dita empunha
A fúria e deste caos sou testemunha
No quanto me entranhara em senda escura.
Depois de tanta luta, nada resta
Somente a face escusa e até funesta
Da vida que deveras não perdura.
42
Olhando de soslaio, mal a vi
Lacaio da esperança há tantos anos
Imerso nos momentos mais profanos
Traçando este vazio vivo aqui.
E o quanto poderia e me perdi
Imerso no cerzir de rotos panos
Remendos entre farpas, meus enganos
E neles me tecendo, chego a ti.
Escusa criatura em tez sombria
Do quanto pude até, jamais seria
Senão mera paisagem turva e vaga.
Minha alma do não ser tão costumeiro
Na falta de um caminho, sem luzeiro
Apenas deste pútrido se alaga.
43
O tempo necessita prumo, mas
A vida não permite muita vez
Senão a mesma face que ora vês
Num traço talvez duro, até mordaz.
O quanto deste sonho já desfaz
Imagem tão diversa e em nada crês
Somente nesta espúria insensatez
Que a sorte após a queda sempre traz.
Mergulho nos meus ermos e me vejo
Aquém de qualquer brilho, algum lampejo
Do quanto poderia e jamais vira.
Meus antros entre fúrias e temores,
Porquanto noutro rumo tu te fores
Cerzindo em aridez torpe mentira.
44
O mundo se buscando aonde o que
Domina são figuras discrepantes
E quando deste nada te levantes
Apenas o vazio em ti se vê.
Imaginário sonho, ninguém crê
E nada do que dizes e garantes
Trará no meu caminho por instantes
Quando na palma nada mais se lê
Assim do meu futuro incerto eu tenho
Apenas um remendo mais ferrenho
E nele nova face tão horrenda
Regurgitando a sorte em turva tez
Do quanto ou do jamais a vida fez
A solidão que além, bem mais se estenda.
45
A vida se pensara assim, mas aos
Momentos tão atrozes me lançando
Traçado que se faz duro e nefando
Condena o caminheiro ao ledo caos.
Os dias entranhando ritos maus
Envoltos noutro encanto, desde quando
O canto se esvazia em contrabando
Negando uma ancoragem, ledas naus.
Assisto ao tal naufrágio coletivo
E desta sensação não sobrevivo
Inundo-me e em sargaços, algas, águas
Mergulho numa insânia inconcebível
E o quanto imaginara mais possível
Deveras sobre mim também deságuas.
46
Aonde poderia haver tal raio
De lua decorando o quarto inteiro,
Apenas vejo à sombra o verdadeiro
Caminho aonde o passo quieto e traio.
A sensação atroz, duro desmaio
O amor jamais seria o companheiro
De quem por entre pedras, já me esgueiro
E aquém de qualquer messe nunca saio.
Esparso para alhures a esperança
E o vento em tempestades ora lança
Meu caminhar espúrio sem destino.
E quando imaginara alguma sorte,
Sem nada que deveras me conforte
Aos poucos cada engodo eu determino.
47
A vida necessita de um luar
Tocando as minhas sendas; mansamente
E quando esta alegria se pressente
Não vejo sequer luz a me rondar,
Vestindo o sortilégio de lutar
Sabendo quanto sou inconseqüente
Ou mesmo noutro engodo pertinente
Apenas mudo as cenas de lugar.
Expresso com meus versos o que sinto
E vejo o pensamento agora extinto
Marcado em cicatrizes, tatuagens,
Aonde angústia fez o seu traçado
Andando bem distante ou lado a lado,
Meus sonhos são apenas vis miragens.
48
A sorte noutra senda iluminada
Tramita sobre os sóis que tu me deste
E quando imaginando em ar celeste
A vida noutra vida sendo alçada,
Vislumbro deste etéreo uma calçada
Aonde a solidão entra e reveste
Gerando novo templo aonde agreste
Fortuna noutra face; desenhada.
Esgoto os meus anseios e no fundo
A cada instante vejo e me aprofundo
Agigantando o passo muito além
E vejo em meus remendos, solução,
Sabendo que outros dias deverão
Traçar o quanto ainda me convém.
49
A vida se passando além, pois entre
E veja o quanto resta de um momento
Aonde reviver; ainda tento
Embora a cada passo eu desconcentre.
Uma expressão retorna ao velho ventre
E dele busco até discernimento
Ou mesmo nos fastios este alento
Por onde uma esperança em paz se adentre.
Rascunhos de outros tempos; vejo e sigo
Vencendo a cada espaço outro perigo
Num árduo caminhar, porquanto fora
Minha alma tão venal quanto infeliz,
E quando a realidade a contradiz,
Persiste tão espúria e sonhadora.
50
O céu se pirilampa em mil estrelas
E traz à noite imensa inesquecível
Beleza num cenário quase incrível
E posso com meus dedos, pois, contê-las
E quanto mais brilhantes posso vê-las
O mundo se transborda e num sensível
Delírio eu me transtorno e o combustível
Dos sonhos traz a sorte onde embebê-las;
Depois de tanto tempo em desalento
Singrar este oceano enfim eu tento
Rasgando com meu verso o que inda vem,
Embora a vida trace além de brilho
Momentos dolorosos que eu palmilho
De uma esperança às claras, muito aquém.
51
Enquanto solitária tu tremulas
E vejo em cada olhar a mesma cena
De quem sem mais defesas se envenena
E imerge no terror de medos, gulas,
E mesmo quando em vida, dissimulas
As horas mais sofridas; não serena
A realidade amarga dura e plena
Traçando outras imagens torpes, chulas.
Vestígios de uma vida ainda espúria
Revestindo-se nos ermos de uma incúria
Rasgando com o olhar este horizonte
E nele se percebe muito bem
Apenas o vazio que contém
O nada quando em brumas já se aponte.
52
Meu canto além do espaço ora subia
Galgando este infinito em tal constância
Buscando num etéreo sua estância
E neste delirar em fantasia
A sorte desvendada a cada dia
Trazendo ao meu olhar uma elegância
Que traça com a vida a discordância
Aonde o nada mais inda podia.
Esgares de uma sórdida presença
Do quanto a dor deveras recompensa
Quem luta e não consegue mais a paz.
Acende a mansa frágua e me desfaz
E neste caminhar porquanto audaz
Minha alma noutra face ora não pensa.
53
De todas estas sortes sei que uma
Mortalha eu não escapo e nem persigo
Além do meu vazio algum abrigo
Enquanto a realidade aquém se ruma.
Vestindo o meu olhar aonde esfuma
A sorte noutro tanto e se prossigo
Presumo no final outro perigo,
E assim uma alma tosca se acostuma.
Nos ermos pertinentes a quem tenta
Vencer a mesma história virulenta
Gerada pelo medo de um futuro,
Após a queda eu tento levantar-me,
Porém sem mais alarde nem alarme
Aquém de quem deveras eu procuro.
54
A sorte muitas vezes infinita
Em transes tão diversos se adivinha
E quando na verdade não é minha
E de outra consciência necessita
Ao lapidar em paz rara pepita,
Cultiva dentro em si sobeja vinha
E nada do que o tempo me provinha
Traçara a face clara e mais bendita;
Resumo o meu caminho em pedra e sei
O quanto caminhar em leda grei
Permite tão somente algum esgarce
Sem nada que talvez ainda possa
Traçar nova esperança após a fossa,
Aonde a realidade eu não disfarce.
55
O céu maravilhoso e cintilante
Tomando este horizonte da esperança,
E quando além do sonho a vida avança
Num ato tão sobejo me levante.
Mas quando se percebe a degradante
Imagem tão escusa onde se lança
A sorte sem pensar numa mudança
Nuance de um vazio a cada instante.
Resumo a minha sorte desta forma
E ao tétrico delírio se deforma
Horrendamente exposto ao nada ser
Durante muitos anos, mera crença
Minha alma perpetrando o que compensa
Gerando ao fim de tudo algum prazer.
56
A cada passo vejo nova escada
E tento este degrau que leve além
Sabendo, no final apenas tem
O velho e conhecido etéreo, nada.
Resumo a minha vida na escalada
Dos sonhos e prossigo muito aquém
Do verdadeiro instante onde convém
A sorte noutra face desenhada.
Escapam dos meus dedos esperanças
E quanto mais além eu sinto, alcanças
As velhas alamedas esquecidas
Traduzem o que posso acreditar
Do quanto vira próximo um luar
Argêntea fantasia em meras vidas.
57
De tudo o que pensara restando eu
Após a tempestade costumeira,
Ainda noutra face; a vida esgueira
E trace o quanto em mim já se perdeu.
Durante alguns momentos o apogeu,
Depois a queda insofismável na ladeira
E a face mais escusa e verdadeira
Que o mundo num instante concebeu.
Medonho ser escuso e nada mais,
Apenas entre súcias vejo iguais
E sei o quanto valho e não sonego,
O manto apodrecido num nó cego
E tento enquanto mal busco e navego
Imerso entre diversos temporais.
58
O meu caminho enquanto mal o olhava
Não deixava sequer pensar no quanto
A vida noutra face se eu me espanto
Derrama sobre mim a imensa lava.
E quando mais atroz feroz e brava
A sorte se moldando neste manto
Presume o que deveras mal garanto
Enquanto outro cenário em paz, buscava,
Arguta companheira de quem busca
Vencer as ilusões; a alma velhusca
Esbarra nos seus ermos e não tem
Senão em solilóquio a voz cansada
De quem buscara além da mera estrada
E encontra após a curva este desdém.
59
O canto mais audaz, contumaz em
Trazer para quem sofre algum alento
Depois de certo engodo, o pensamento
No fundo pouca coisa inda contém.
Restauro o meu martírio, sacro bem
E quando alguma paz no fundo invento,
Apenas do total alheamento
Arisco navegante ainda vem.
Estéticas diversas, mesma face
Espúria aonde a vida sempre grasse
Marcando com tenacidade o passo
E nesta sensação de ser ou não
Somente dias tétricos virão
Enquanto dos meus erros me desfaço.
60
A sorte traduzindo assim em cada
Momento aonde eu possa vislumbrar
A imensa claridade do luar
Que adentra novamente esta sacada.
A vida muitas vezes desolada
A face desditosa a se mostrar
Num ermo tão diverso a amortalhar
Quem tenta e não consegue quase nada.
Escassos dias trazem a alegria
E nela tantas vezes poderia
Beber bem mais que gotas tão somente.
Arguta caminheira dos astrais
Ao vê-la desejando sempre mais
No gozo incomparável que a alimente.
61
A vida se elevando num degrau
Que possa permitir o patamar,
Depois num turbilhão ao mergulhar
Percebo o quanto a queda me faz mal.
Alçando o meu caminho noutro grau
De luz onde pudesse ter no olhar
A imensidade plena e flutuar
Bebendo da esperança cais e nau.
Esqueço vez em quando das promessas
E quando noutro rumo me endereças
Vagando pelos ermos do oceano
Em pélagos imensos, abissais,
Enfrento os meus delírios usuais
E sei o quanto nisto enfim me dano.
62
Olhando tão somente para baixo
Não vejo qualquer forma senão esta,
A vida quando tanto me detesta
E nela novamente não me encaixo
Resumo o meu caminho e já me abaixo
Bebendo cada gota que me resta
E quando imaginara riso e festa
De escombros, a emoção está debaixo.
Esgoto-me na luta sem sentido
E o quando dita agora o canto ouvido
Nos ermos de um alento mais sutil.
Razões para viver? Inda as procuro
E quando vejo à sombra algum futuro,
Cenário noutro ponto se reviu.
63
Aonde se pudesse ser em ouro
Cenário construído em ilusões
Na dura realidade tu me expões
Diverso e mais sofrido ancoradouro.
Enquanto no vazio não me douro
Esboço sem sentido as reações
E nelas vejo frias emoções
Quais fossem; no final, algum tesouro.
Espalho o meu caminho entre as centelhas
Aonde na verdade não espelhas
Sequer um leve traço do que eu sou.
E o quanto quis outrora e nada vinha,
Apenas a saudade sendo minha
Desnuda o quanto agora me restou.
64
E quantas vezes; quis e muito mais
Deixando para trás a juventude
E neste fato espúrio desilude
Quebrando no final; frágeis cristais.
Os dias quando os vi atemporais
No fundo a sorte dita esta atitude
E sem que nada enfim perceba e mude
Esqueço quando havia qualquer cais.
Espelho dentro da alma o sortilégio
De um mundo feito em raro privilégio
Marcando-me com fúria em carne viva.
Aprendo com a queda, não discuto
O olhar quando demais audaz e astuto
Permite que esperança sobreviva.
65
Num límpido caminho procurava
A messe aonde um dia eu pude crer
Na fabulosa luz do amanhecer
Após a tempestade rara e brava.
E quando o céu em ânsias já se lava
Permite noutra face se tecer
Um brilho incomparável e faz ver
Fragilidade imensa desta trava.
Escassos medos regem o meu passo,
E quando um novo rumo enfim eu traço
Espaços ocupando em galhardia.
Mas vendo os dissabores mais constantes
E neles meus caminhos t’adiantes
Marcando com a tez dura e sombria.
66
A sorte que deveras se vestia
Em múltiplas facetas e cenários
No quanto os sonhos forem necessários
Trazendo o que pudesse em alegria,
Ao ver a mansa luz da fantasia
Ouvindo o belo canto dos canários
Os olhos onde foram temerários
A vida noutro cais aportaria.
Mas vejo que decerto nada existe
Senão a mesma dura escassa e triste
Realidade atroz onde desnudo
O campo se tornando mais sombrio,
Meu sonho a cada instante eu desafio,
Porém no mesmo fato, o desiludo.
67
Apenas ao te ver restando mudo
Sem ter qualquer sorriso ou reação,
Os tempos novamente tecerão
O risco de viver e não me iludo.
Do tanto que pudesse, não transmudo
O passo rumo à torpe perdição
E vejo no final outra lição
Num talho mais ferrenho e até agudo.
Espalho a minha voz pela seara
E a sorte noutra luz não se escancara
Regendo o meu caminho com seus erros.
Cometa muitas vezes inconstante
O mundo no vazio me garante
Apenas costumeiros; vãos desterros.
68
O passo que pudesse ser sereno
Não passa de um tormento quando o vejo
Diverso do caminho de um desejo
Aonde a cada engodo me apequeno.
Resumos deste céu que outrora ameno
Agora se mostrasse mais sobejo,
E quando busco além um azulejo
Ao nada, novamente eu me condeno.
Resulto deste vago a caminhar
Nas ânsias dolorosas de um luar
Sem brilho, em seu distante perigeu.
E o canto imaginário onde um dia
Talvez com sol imenso, moldaria,
Há tanto, sem sentido, se perdeu.
69
Ouvindo esta canção qual fosse um anjo
Que entoa com ternura muito além
Do quanto se percebe ou mesmo tem
A vida em inconstante desarranjo,
E quando algum caminho ainda arranjo
O tempo se mostrando com desdém
Resume da esperança muito aquém
E entre os vazios tons já nada esbanjo.
Retaliações diversas de uma vida
Há tanto noutra face resumida
Marcada a ferro e fogo a cada instante
E o passo que pensara mais audaz
Numa seara torpe se desfaz
E nada se desnude ou adiante.
70
Ouvindo ao longe o som de uma doce harpa
Guarânias do passado em meus ouvidos,
E agora no presente a dura escarpa
E os pés há tanto tempo já feridos,
E sinto penetrante cada farpa
Marcando dias néscios, preteridos.
Esboço dentro em mim um novo passo
E tento disfarçar o sofrimento
Enquanto me mostrasse mais escasso
Bebendo do total alheamento
O quanto ainda resta já desfaço
Desta palavra vaga eu me alimento.
E assisto à derrocada da esperança
Embora o som suave, esta alma alcança.
71
A sorte que pensara ser dourada
Noutro momento mostra a vã nudez
De quem por tanto tempo em não se fez
E traça do vazio a leda estrada
A vida não trouxera a anunciada
Vontade de lutar em altivez
Mergulho neste mar, a estupidez
Trazendo do final o mesmo nada.
Resumos de outras vidas? Pode ser.
O quanto se perdendo deste ser
Esgota qualquer messe, outra fortuna
E o marco mais atroz feito em remendo
Enquanto cada esgoto meu desvendo
O passo neste nada coaduna.
72
O canto dentro em mim já ressoante
Transcende aos meus desejos e sei bem
Do quanto na verdade o canto tem
Marcando o meu caminho doravante.
Ainda que decerto eu já me espante
O risco se transforma no desdém
E o manto dissolvendo, apenas vem
O risco a cada instante alucinante.
Mergulho nos ocasos de minha alma
Ultrizes cenas; morte aplaca, acalma
Na força geratriz da eternidade.
E os ermos entre fatos e cenários
Meus dias sempre em termos temerários
Apenas cena atroz, após invade.
73
O quanto destas súplicas que fazes
Permite qualquer luz aonde um dia
Apenas o vazio gestaria
A sorte noutros ermos, mais mordazes.
E quando se percebem vãos tenazes
O canto aonde o mundo moldaria
O pranto desabando em agonia
E a vida se transcende, duras fases.
Nas expressões diversas, vida e morte
Apenas a mortalha me comporte
Deixando uma esperança solta ao vento.
Depois de tanto tempo solitário
O corte se apresenta necessário
E um novo caminhar; em vão, eu tento...
74
A vida na verdade não feria
Quem tanto desejara pelo menos
Momentos mais suaves e serenos
E nada além do caos e da agonia.
Esqueço o quanto em paz lapidaria
Os olhos em diversos vãos venenos,
Os dias entre sombras são pequenos
Apenas a verdade eu não traria.
Enfrento os meus demônios e até tento
Seguir o quanto posso e ali me alento
Depois de tantos erros vis, venais.
Esboço algum momento em paz somente
Ainda noutro canto o sonho invente
Quem sabe qualquer porto, novo cais...
75
O quando deste encanto diz e tu
Cansada de uma lida em exaustão
Mostrando a mais diversa direção
Deixando o meu caminho exposto e a nu,
Alhures procurei e nada havia
Senão a mesma face desolada
E nesta vaga e dura, leda estrada
A morte numa face mais sombria.
Erguendo com as mãos o que me resta
E vendo tão somente a vil mortalha
Meu canto inutilmente inda batalha
A vida; eu sei deveras indigesta.
Esparsos olhos dizem do abandono
E apenas do não ser ora me adono.
76
O coração sobejo destas mães
E os olhos num passado mais distante
E agora o quanto posso e se garante
Apenas em matilhas, turvos cães.
Aprendo com a queda e nada mais
Que a mera persistência no vazio
E quando noutro instante eu desafio
Enfrento dentro em mim os vendavais
Esgarço o meu caminho nesta busca
E sei quanto eu resumo em nada e tento
Vencer o quanto posso em desalento
E a própria realidade toma e ofusca.
Cenário degradante aonde um dia
Eu tanto quis e sei; não poderia...
77
Palavra tantas vezes já sagrada
Nas ânsias e nos ermos de quem sonha,
O medo de uma noite mais medonha
Ou mesmo num momento feito em nada
Resumo a todo passo a velha estrada
E ainda que decerto algo eu proponha
No fundo a vida molda esta bisonha
Realidade; há tanto, desolada.
Vencido pelos baques costumeiros
Ausente dos meus olhos os luzeiros
Seguindo neste trôpego caminho.
Durante muito tempo procurava
Imerso em tanto lodo, charco e lava
Um rumo que não fosse tão daninho.
78
O quanto que procuro e sei também
Do nada após o farto imaginado,
O risco de viver já desenhado
Enquanto o meu passado me contém.
Resumo o caminhar neste desdém
E bebo enquanto ali decerto enfado
Restando dentro em mim ledo passado
E nele o quanto ainda vivo tem.
Esbarro nos meus erros e os pressinto
No quanto imaginara agora extinto,
Mas nada do que possa se transforma,
E o mundo num sedento e mais profano
Caminho feito em dor, e se me dano
Percebo costumeira e dura norma.
79
As noites entre tantas, mais formosas
E nelas a vontade de ficar,
Depois de tanto tempo relutar
Canteiro se entranhando, raras rosas.
E quando se mostrassem caprichosas
Vontade de deveras me entregar
E neste raro e belo cultivar
Colheitas mais sutis, maravilhosas.
Aspectos tão diversos deste encanto
E quando bebo à farta e me garanto
Expresso num alento o quanto eu quis
Depois de tantos erros, desenganos,
Momentos entre medos, velhos danos
Eu posso finalmente ser feliz.
80
Os dias não passaram de ilusões
E neles os meus erros são fatais,
E quando imaginara vejo mais
Realidades turvas tu me expões
E tento até romper velhos grilhões,
Enfrentar o que possa em vendavais
E crer noutros momentos divinais
Ou pelo menos ter as soluções.
Reveses costumeiros vida afora,
Esta ânsia de buscar ser me devora
E tento em novos tons saber do sonho;
E quando me desnudo em frente espelho
No nada e do nada me aconselho,
Apenas outro ser; tento e componho.
81
Ao saber de tantos sonhos
Onde a vida pode outrora
Resumir cada demora
Em momentos mais tristonhos
Embarcando em enfadonhos
Delirares; desancora
Cada nau e vai embora
Nestes rumos tão bisonhos.
Verso eu tento aonde um dia
Nada mais se mostraria
Num cenário caprichoso.
E o meu passo em retrocesso,
Quando tento e recomeço
Traduzindo medo e gozo.
82
Quando os dias foram meus
E os sorrisos mais alegres
Onde quer e nisto integres
Os caminhos sem adeus
Emergindo do passado
Nova face eu vejo ainda
E se tanto se deslinda
O que outrora foi traçado
Vejo e sorvo num momento
Toda sorte que pudera
Ao vencer em mim a fera
Outro passo enfim alento.
Resumindo o quanto ilude
Vejo morta a juventude...
83
No caminho aonde e por
Outros fatos; desenhara
A beleza da seara
Noutro instante a se compor.
Dentro em mim neste sol-pôr
A certeza não aclara
Nem dá conta do que ampara
Gera apenas dissabor.
Vou ao léu e me permito
Caminhar neste infinito
Onde em avidez a vida
Transbordara num momento
E se tanto ainda tento
Cada passo se duvida.
84
Quando falo o nome dela
Estrelares brilhos; vejo
E tocada neste ensejo
Pelo encanto, a vida sela.
Deixo além corrente e cela
Vago as ânsias de um desejo
E o que fora algum lampejo
Tempestade se revela.
Bebo assim a claridade
Que de fato quando invade
Enluara o coração
E se tento outro provento
Na verdade nada invento
Deixo à solta esta emoção.
85
O meu mundo eu sei e; como!
Nada mais me caberia
Senão este dia a dia
Que deveras teimo e tomo.
Quando muito não me domo
E percebo esta ironia
De quem tanto bem queria
E no fim mais nada eu somo.
Verbalizo o sentimento
E se tanto ainda tento
Outro fato após a queda,
O meu brado se esvaíra
Pelas tramas da mentira
Onde o nosso amor se enreda.
86
Tanta sorte em ledo bando
Procurei e não achava,
Esta vida feita em trava
Noutro fato desabando
O meu passo se arvorando
E o caminho ainda entrava
Quem deveras não se lava
Neste mar soberbo e infando.
Esbarrando no não ter
Imagino o bem querer
Sem saber de direção.
Sem um norte não me aprumo
E se nada marca o rumo
Outros dias não verão...
87
Envolvido pelas sombras
Destes passos noite afora,
O silêncio que apavora
Quando aquém também assombras
Mergulhando em tez brumosa
A verdade não se cala,
E a saudade toma a sala
A presença se antegoza.
No final, a curva e o vento
Noutra chuva pude até
Perguntando por quem é
Beber onde dessedento
Meu amor em privilégio,
Mas no fundo: um sortilégio...
88
Noites ermas vaporosas
Entre cenas mais atrozes
E buscando entre os algozes,
Vejo imensas raras rosas
Entre tantas majestosas
Passos rápidos; velozes
E os meus dias mais ferozes
Noutras eras caprichosas.
Basta então este momento
E deveras me alimento
Deste sonho iridescente;
O final já se aproxima,
Mas mantendo o mesmo clima,
Solidão não mais se sente...
89
Quando falo ser só meu
Cada verso que te fiz
Eu pensando num feliz
Sentimento, hoje morreu.
Vasculhando se perdeu
Entre a queda e a cicatriz
E o meu pranto contradiz
O que o coração sorveu.
Serventias? Não mais têm
Quem deveras do desdém
Trama a sorte dia a dia.
O meu canto se anuncia
Bem aquém da fantasia,
Da esperança um vão refém...
90
Quando falo deste amor
Imagino novo cais
E se tanto em temporais
Encontrei o meu sol-pôr
Não devia então supor
Senão turvos vendavais
E cansados, outros tais
Entre medo e vão rancor.
Louvações; não mais permito
E se tento este infinito
Minha voz não sabe aonde
A seara decomposta
Esta vida sem proposta
Só vazio me responde...
91
Quando além eu te buscava
Entre as sendas mais felizes
Tantas vezes contradizes
Alma turva, pois escrava
E se tanto me encontrava
Entre medos e deslizes
Enfrentando várias crises
Bebo enfim a dura lava.
Resoluto caminheiro
Tendo apenas por luzeiro
Este olhar num horizonte
Onde tudo se desnuda
Esta sorte atroz e muda
Noutro rumo não aponte.
92
Desabando desde quando
O meu tempo determina
O caminho que fascina
Noutro tanto se moldando,
Na verdade transformando
O cenário onde ilumina
Bebo à farta desta mina
Noutra senda me entornando
Afluente da esperança
O meu passo sempre avança
Rumo ao quanto quis outrora
E a verdade sendo dita
Toda a cena mais bendita
Todo passo; em paz decora.
93
Dos momentos onde eu vi
O cenário multicor
Ao tentar um novo amor
Eu pensei, querida, em ti.
Mas deveras te perdi
Nos caminhos e ao propor
Outro dia, sem rancor
Meu engano estava ali.
Vestimentas do passado
Neste novo passo dado
Ressurgindo num remendo.
E o que possa degradante
Segue em nós e me adiante
Este inferno que estou vendo.
94
O caminho levando alto
Desejar em tom diverso
Se eu pretendo em cada verso
Superar o sobressalto
Na verdade se me assalto
Num delírio mais perverso
Quando em ti eu me disperso
Encontrando outro ressalto.
Esbarrando nos enganos
Sinto ainda vivos danos
E não tenho solução.
Esgueirando em rua escura
A minha alma te procura,
Mas meus dias não verão.
95
Quando à noite tu surgias
Entre estrelas radiantes
Os meus olhos por instantes
Imaginam novos dias
E imergindo em fantasias
Na verdade me garantes
Outros rumos fascinantes
Onde nada mais terias.
Esboçando um passo além
O que tanto inda contém
Não me traz felicidade.
A saudade dita a norma
E meu peito se transforma
Mal teu nome toca e invade.
96
A verdade traz a calma
A quem tanto quis saber
Das veredas do prazer
E deveras tendo um trauma
Adentrando fundo; esta alma
Num detalhe eu posso ver
Desnudando todo o ser
E sequer o sonho acalma.
Perecíveis fantasias
Tu decerto em trarias
E no fim, a solidão.
Mas se vejo alguma messe
Outro passo ali se tece,
Porém sei ser tudo em vão.
97
A mulher doce e mais bela
Que pudera ter comigo
Tantas vezes eu persigo
E num sonho se revela.
A saudade sempre atrela
O caminho onde o perigo
Transcendendo ao que ora digo
Superando a velha cela
Esgueirando pela sala
O terror agora cala
E rompendo alguma algema
Quem se fez em claridade
Vendo a luz da liberdade,
Na verdade, nada tema!
98
Procurando a cada olhar
Quem pudesse trazer luz
Entre medos se eu me opus
Já não pude caminhar.
Bem distante do luar
Onde o passo não produz
Nem deveras já seduz
Quem pretende em paz amar.
Resultando deste engodo
O cenário feito em lodo
Charqueando o coração
Outro tempo não desvenda
Transformando a velha senda
Dita a nossa direção.
99
Paraíso assim celeste
Já não vira nem em sonho
Quando o tempo eu te proponho
Num caminho aonde deste
O desejo mais agreste,
Mas um riso onde eu ponho
Tal cenário que componho
Tanta paz ao fim ateste.
Resumindo a vida nisto
Se deveras eu persisto
Não desisto, pois em ti
Encontrei felicidade
E este sonho quando invade
Traz o quanto mereci.
100
A cortina se abaixando
Nesta cena, no final
Drama tolo teatral
Num momento em contrabando
Outro tanto se formando
Na platéia um ritual
Entre os ermos bem e mal
Pouca coisa em paz gerando.
Agradando a quem pudera
Crer na morta primavera
O meu mundo se transforma
E bebendo deste engano;
Quando passo em vão me dano
Em bisonha e tosca forma.
MARCOS LOURES FILHO
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
Data
Leituras
898
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
2 pontos
2
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
GeMuniz
Publicado: 11/08/2010 14:18  Atualizado: 11/08/2010 14:18
Membro de honra
Usuário desde: 10/08/2010
Localidade: Brasil
Mensagens: 7283
 Re: SONETOS FEITOS EM 11/08/2010
Li alguns sonetos e gostei muito. Volto para ler-te mais.

Abç
Gê Muniz