Esbarrei por descuido
no jarro de porcelana chinesa
de minha mãe.
Fiquei olhando com espanto
os estilhaços no assoalho
de meu pai.
Recolhi pedaço por pedaço com cuidado
numa branca toalha de rendas
de minha avó.
Chorei em remorso por descuido
abraçado a uma escultura africana
de minha história.
Despejei os restos por insulto
numa florida jarra portuguesa
de minha família.
Verifiquei tudo a minha volta com espanto
para não derrubar as paredes amargas
de minha casa.
Sai pé antepé por cuidado
pelas portas de arame farpado
da casa de minha loucura.
* Série de Poemas manuscritos nos anos 70, período da ditadura militar no Brasil, por um jovem poeta Anônimo.