não tirem o vento às gaivotas - sampaio rego sou eu
não fui capaz de lhe dizer que era hora de também ela partir. habituei-me a esta ferida que é dor – estou a pensar um destes dias juntar a uma mesa de café todos as feridas da minha terra – quero sentir com os olhos que as feridas são todas iguais. todas capazes de me fazer gritar por igualdade – este muro que se ergue entre as mãos e o papel mata-me. esquarteja-me a esperança – não sei como resisto a morrer tantas vezes. estou a ficar cansado de me asfixiar e até os dedos me parecem gastos de procurar a vida – este som que bate aqui dentro enche-me os olhos de ruídos. crava-me estes buracos que vêem no peito. e as lágrimas de sal. são amigas agora de uma agonia que não sabe chorar – rebenta-me. impludo – um deste dias arranco o coração. talvez a culpa seja deste monstro enorme que não me deixa sossegar. sempre a mexer – bate. bate. bate. este barulho que ouço sempre que olho para a mão que escreve. bate. como se todo o corpo fosse dele – tenho que morrer depressa. não posso deixar que este bater me diga que um dia vai parar – serão as mãos as primeiras a matar a dor – talvez assim ele possa calar em sossego – será a mão que escreve a dizer – é agora