Não sei como exatamente
Mas terá o meu semblante,
Eu que sou todos os mundos
Com cada um de seus instantes.
Vou separá-lo do resto
E isolá-lo entre meus braços;
Quero adotar os seus gestos
Antes que seja o que será.
Já posso vê-lo à janela
De uma casa que ainda não há.
Tateio-o, toco-o com os dedos,
Dou-lhe forma sem querer,
Dou-o a mim, tiro-o de mim,
Pois tenho pressa de o ver!
Observo-o tanto, retardo-o
Por melhor o conceber!
Às vezes, informe, saltas,
Te afastas e entras na noite
Ou, crescido, tu me escalas
E te tornas um gigante.
Eu que a todo olhar me finto
Quero-te ao longe visível,
Eu que sou silêncio infindo
Te ensinarei a palavra,
Eu que não posso pousar
Quero-te firme sobre os pés,
Eu que estou em toda parte
Quero-te num só lugar,
Eu que estou em minha lenda
Sozinho como um cordeiro
Perdido na mata horrenda,
Eu que não como nem bebo
Quero-te à mesa assentado
Com tua esposa ao teu lado,
Eu que sou supremo sempre
E desconheço o cansaço,
Eu que de mim nada faço,
Pois que não posso terminar –
Quero que sejas perecível,
Serás mortal, meu menino,
E eu te embalarei no berço
Da terra, onde árvores cresçam.
Jules Supervielle (1884 – 1960) foi um famoso poeta na França e escritor nascido no Uruguai.