Quando te contemplo na foto desbotada
Pelo tempo... Teu calmo rosto esmaecido...
À mente me volta imagem desordenada
Dos momentos felizes, do teu ombro amigo.
Meu coração dói, se contorce em disparada,
Ao lembrar nossa vida em comum, pai querido.
Sinto, na saudade, teu carinhoso abraço,
Tua voz, em silêncio, sempre a me aconselhar...
Meus deslizes, quando ao pisar errado passo,
Corrigias, com afeto, sem castigar.
Teus filhos, quando vencidos pelo cansaço,
Voltavam pros teus braços: porto de ancorar!
Nos teus olhos, havia olhar sempre bondoso!
Deles fluía paz, total tranqüilidade...
Acautelados em teu amor tão zeloso,
Transcorria-nos a vida em serenidade.
Ensinava-nos acerca do insidioso,
Porém, mostrava tua justeza na igualdade.
Qualquer sorriso que em teus lábios flutuasse,
Era estimulo a procurarmos, no mundo,
Um canto nosso, que do sol nos abrigasse.
Sob a luz do teu incentivo íamos fundo!
Entre nós, distância não se fazia impasse,
Pois não "te ausentavas", sequer, por um segundo.
Foste perdão sem nenhum drama, sem enredos.
Um poço de amor! Grande lago de pureza
Onde guardávamos todos nossos segredos,
Onde escondíamos nossa velha incerteza...
O teu coração espantava nossos medos
Ao pulsar a tua força: nossa fortaleza.
Hoje, pra aliviar a dor da tua ausência,
Imortalizo, nos meus versos, a tua vida!
Por sermos teus filhos, frutos da tua essência,
Conosco permaneceste, embora a partida...
E um dia nos reveremos, noutra existência,
Quando tivermos cumprido aqui nossa lida...
Elen de Moraes
Alem da eternidade
Na foto:
meu pai, minha mãe, minha irmã
e eu ja encomendada.