Cada um tem seus guardados. Se não são pequenas pétalas ressequidas, são ingressos envelhecidos, se não são palpáveis, são no mínimo memoráveis. É, cada um com seu baú de achados e perdidos. Cada qual com suas perdas e frustrações. Cada um, um cofre de chaves extraviadas. Palavras caladas,desejos engolidos.Quereres encolhidos. Quem não se lacrou de si um dia, e quis perder-se no caminho, para não mais saber voltar? Cada um é cada um. Caixas secretas. Caixas pretas afundadas num abissal interior. É. Cada um com sua escusa dor ou sua lembrança de amor, que alija da vida o torpor. É... Quem nunca teve um avesso escondido, uma ponta dobrada, um rabisco rasgado e queimado que nunca consumiu no pensamento? Quem, se vivo foi não teve secreto segredo, não rogou silêncio eterno, nem fez juras sem medo? Cada um, um armário sem fundo, uma caravela no mundo, uma ilha a se salvaguardar. Cada um com suas miudezas, seus encontrados, com seus mimos arquivados, suas relíquias, vitrines blindadas. Quem nunca engavetou uma letra, armazenou um inconfesso desejo, no saguão do coração?No porão da alma, escaninhos da solidão?
Quem?
Eu... Trago no meu curtido sentir, um pequeno embrulho de desfeitos, uma mão de justa alegria, e no chapéu surrado um saco velho e amassado, onde guardo a emoção. Em forma de linhas tortas, em cores secas e mortas, embotado querer vão. Cartas velhas, mal escritas, não entregues, incompletas, repletas de desilusão. Antiquadas frases, versos mudos, poemas ocos sem nexo, apenas alguns desvarios, Amores poucos, vazios. DESBOTADAS são...
Cartas rasgadas, Amores eternos, Borrados pela solidão.
DESBOTADOS amores, Flores secas, sem olores, Pedaços de papéis, embrulhos de pão, Lenços sujos, Vencidos batons, beijos que outrora foram bons...
Retratos amarelos, Faces desconexas Imagens abatidas, Tempo devasso, Eu, pó, poeira, DESBOTADO e vazio coração.