Sonetos : 

SONETOS FEITOS EM 08/08/2010

 
1

Neste espaço sideral
Entre fúrias e tormentas
Quantas vezes inda tentas
E deveras bem ou mal
Adivinha-se o final
E se tanto me acalentas
Na verdade desalentas
Lento frui o vago astral.
Resplendores onde um dia
Tarde tépida e sombria
Anuncia a tempestade
Na ansiedade de compor
Onde quer ou mesmo for
Outro passo não a agrade.


2

Cavernosas sendas; creio
Serem éteres do sonho
Onde tudo o quanto oponho
Traduzindo em tom alheio
Com certeza me incendeio
E presumo outro enfadonho
Caminhar se me ponho
Não encontro meio e veio.
Esperando alguma luz
E severa noite eu pus
Entre tantos erros meus,
E singrar sem direção
É morrer embarcação
Sem o leme e nestes breus.

3


Tenros tempos de criança
Cadavérica figura
Onde agora se assegura
E o passado não alcança
Procurando a temperança
Numa noite torpe e escura
Ao vazio a voz mistura
E o fim ao mar se lança
Velejar contra a maré
E talvez ser e como é
Discordante a cada ausência
Nada faço ou falo ou tento
Quando a morte em desalento
Impera sobre a inocência.


4


Mumifico o sonho quando
Esbarrando em tais escórias
Procurando por vitórias
Nalgum ermo penetrando
O meu canto se negando
Sonegando algumas glórias
E se trago merencórias
Horas outras; tento e abrando.
Sacrifícios entre engodos
E penetro nestes lodos
Mofos da alma itinerante,
Cinzeladas picardias
Onde nada mais sabias
E talvez nada adiante.

5


Numa gravidade imensa
Outra eu tinto em carmesim,
E buscando sempre assim
O que ainda recompensa
Quem decerto sempre pensa
Entre as penas traça o fim,
Presumindo o que há em mim
Nada mais sequer convença.
Esgueirando pela porta
Vejo a sorte agora morta
Espraiada sobre o chão
Neste vândalo começo
Enviando o que do avesso
Não teria solução.


6

Vento um artesão das folhas
Envereda seus caminhos
Muitas vezes mais daninhos
Entre tantos que inda escolhas
No final nada recolhas
Tão somente vãos espinhos
E se queres passarinhos,
Vendavais; decerto colhas.
Seduzido em verso teu
O meu canto se perdeu
E não tem mais nada além
Do vazio em que se lança
Onde busco uma aliança
Desdenhosa face vem.


7

Tristes temas entre tantos
São deveras companheiros
Dos meus dias derradeiros
Entre dores, desencantos,
E decerto mensageiros
Tramam risos, bebem prantos
E no fundo meus espantos
São adubos de canteiros
Onde gesta esta infinita
Tepidez que necessita
Desta incúria feita em vida,
Aprisiono em dura cela
O que tange e se revela
Bem além do quanto urdida.

8

A beleza, deusa rara
Onde tanto se presume
Mais do que mero perfume
Deidade se escancara,
Mas no fundo outra seara
Esta vida em vão resume
Neste tempo aonde esfume
Qualquer glória imensa e cara;
Vendo assim a foto antiga
De quem tanto desabriga
Hoje entendo este abandono,
Quem um dia se apodera
Mesmo após a primavera
Do infinito quer ser dono.


9

Incompletos passos traço
Onde um dia me fiz tanto
E se busco ou não garanto
Perco assim o ledo espaço,
E decerto este cansaço
Traduzindo algum quebranto
Gera além do próprio canto
Um caminho atroz e lasso.
Presunção de quem se dera
E não vira esta pantera
Na tocaia a cada instante,
Num errático delírio
Bebo as sendas do martírio
Quando o passo se adiante.

10

Dos horrores mais atrozes
Vidas tantas que perdi,
E se em tanto mereci
Submetido aos vãos algozes
Com olhares que ferozes
Transcendendo em frenesi
Outro tempo eu conheci,
Mas agora nem as vozes.
Esplendores? Nada disto
O que agora ainda assisto
Derrocada em ato insano,
E se tento reações
No caminho onde as dispões
Novamente enfim me dano.


11

Quando em mim esta alma enrugo
Eu bebendo do passado
Mesmo estando extasiado
De mim mesmo sou verdugo
Ensimesmo e assim alugo
Outro tempo desenhado
Bem diverso do nublado
Onde tanto sou refugo.
Num refúgio aonde eu possa
Superar a velha fossa
E beber eternidade,
No final eu me aconselho,
Porém vejo neste espelho
Esta vã senilidade.


12


Quando em tom misterioso
O desejo se fez tanto
O que ainda não garanto
Não permite outro danoso.
Revestido em pedregoso
Delirar, o desencanto
Reformula enfim meu canto
E o contorna caprichoso,
Num delírio em verso apenas
No que tanto me condenas
Expressões diversas usas,
E as passadas ao futuro
Na verdade eu asseguro
Serão sempre mais confusas.

13

Lavrador buscando além
De uma frase simplesmente
O que tanto esta alma mente
Na verdade nunca vem
Ao trazer o teu desdém
Entendendo-o plenamente
Num resumo já freqüente
O restante nada tem.
Expirando um ar sombrio
Quando tanto desafio
E o cenário se deforma
Um patético poeta
Quando em vida se repleta
Assumindo nova forma.


14


Esquelético porvir
Do meu sonho em provimento
Quando erguendo um pavimento
Não permite mais subir
E o que busco inda sentir
Não somente é desalento
Até mesmo me alimento
Do que tanto a repartir.
Esquemático delírio
Traz nas mãos o velho círio
Numa busca milagrosa,
Mas a vida em romaria
Tanto faz quanto faria
O jardim matando a rosa.

15

Escavando esta seara
Adentrando em rasa cova
O meu canto se comprova
Muito além do que esperara,
Traduzir a sorte quara
Os delírios noutra alcova
Da emoção imensa sova
Na desova se prepara
Numa vã mortalidade
Atravesso a meia idade
E penetro em ar senil,
Vendo a fátua luz da tarde
O meu passo não retarde
O que resta já se viu.

16

Lúgubre decerto eu sou,
Mas realidade dita
Noutra face mais aflita
Esta tanto que restou,
Meu caminho se gestou
Lapidando outra pepita
E onde quer nada acredita
Quem deveras provocou.
Queda após a queda após...
E o tormento mais feroz
Repetindo em ladainha
Compartilho o mesmo verso
E se nele eu me disperso
Pouca coisa inda continha.

17

Esforçando o passo quando
O meu tempo já se esgota
Preparando a mesma rota
Noutra rota se formando,
E decerto eu sou infando
Muito além de qualquer cota
Se esta vida me amarrota
Noutra tanta enveredando.
Vasculhar o que me importa
E fechar a aberta porta
Deste estúpido temor
De viver ansiosamente
O que a vida já desmente
E sonega em novo amor.

18


Descarnado após a queda
Nada resta do que um dia
Alma louca fantasia
E decerto em vão se enreda
Ao pagar, mesma moeda
Pouca coisa restaria
De quem vive esta utopia
E no nada; apenas seda.
Penitente aonde eu pude
Noutra face sou mais rude,
E não deixo nada em branco
Quantas vezes for preciso
O meu ar; sempre matizo
Quando a mim sou bem mais franco.

19

Ao sair do pensamento
A palavra sem a forma
Noutra farta se transforma
Na razão do frágil vento,
E seguindo mais atento
Percebendo o quão deforma
O meu rumo na reforma
Deste etéreo sentimento
Num atroz caminho vaga
E se bebe a fúria maga
De quem tanto quis começo,
Ao mostrar a minha cara
O meu antro se prepara
Revirado assim do avesso.

20


Emblemático destino
Amortalho enquanto luto
Se por vezes sou astuto
O vazio eu determino,
E bebendo em desatino
O caminho onde reluto
Na passada traço o luto
E deveras me alucino.
O meu verso que assim busco
Tendo o tom bem mais velhusco
Do que pude imaginar
Cerzi apenas o passado
E transgride o desejado
Deixa aquém qualquer lugar.


21

Restando muito pouco dentro em mim
Daquele que se dera plenamente
Ainda quando a vida se apresente
Saindo deste etéreo camarim,
E vejo o que desenho e até o fim
Tocado pela angústia e tão somente
Tentando noutro chão esta semente
Na desmedida forma de um jardim.
No quanto busco a minha liberdade
E neste tom a vida agora invade
Deixando para trás qualquer algema
Tomando a direção; rosa dos ventos
E nela se presumem sentimentos
Enquanto o firme olha já nada tema.


22

Na noite encantadora feita em brumas
Espúrias criaturas quais zumbis
E nelas outras tantas quantas quis
Vagando enquanto além tu já te esfumas
E quando em direção diversa rumas
Teimando e provocando a cicatriz
O olhar que imaginara agora gris
Entoa com terror e não te aprumas;
Ferrenhas noites vagas entre tantas
E nelas nada mais queres, garantas
Senão este demônio onde cevaste
A vida em sortilégios e abandono
E quando do teu rumo ora me adono
Retiro o quanto pôde ser uma haste.


23


O céu entre sombrias, vis matilhas
Espraia entre meus olhos nuvens fartas
E nelas os teus passos; já descartas
Bebendo as mais temidas armadilhas
E quando no horizonte espúrio tu palmilhas
Expondo sobre a mesa as velhas cartas
Ainda quando muito não compartas
E traces o temor onde te humilhas.
Sedento cão em busca de algum sonho
Perpetuando o vão eu decomponho
Meu passo entre as quiméricas loucuras,
E sendo companheiro ou mesmo quase
Ainda que a verdade o tempo atrase
Das ânsias mais sofríveis me asseguras.


24

Alcovas entre fúnebres venais
E neles tantas vezes me julgares
Gestando dentro em ti tais lupanares
Vertendo em vãs sangrias rituais,
Os ermos de minha alma em ledo cais
E nele se fizessem teus altares
No quanto queres mesmo e; provocares
Das jugulares bebo em tons fatais.
Hercúlea fantasia uma obsessão
E nela cada acerto, outra exceção
Denota muito bem quem fomos ontem,
E o quanto do futuro se dissolve
Enquanto a vida além tanto revolve
E deste desencanto os sóis dissolvem.

25

Transtorno-me em demônio quando a vejo
E sinto esta sangria e me alimento
Do quanto se presume em vão tormento
Deixando-a muito aquém deste desejo,
E quando o vento fosse benfazejo
Apaziguando em nós os tais tormentos
Os dias são somente os excrementos
De um tenebroso mar onde pelejo.
O olhar se penetrando mais selvagem
Traduz a tez voraz desta miragem
Arcaica, porém viva e renascida
Após a morte insana que provei,
Agora ao retornar à velha grei
Sorvendo o que te resta ainda em vida.

26


A noite aonde anseio uma mudança
Gestando uma emoção diversa, quando
O tempo se anuncia e já nublando
Ao êxtase divino ora me lança
Matando o quanto resta em esperança
O riso mais sardônico e nefando
Em outro tão igual se transmudando
E neste desenhar nada se alcança
Senão esta mortalha e ora reveste
O coração atroz, dorido e agreste
Marcado pelas lanças de uma meta
Trucidada a cada negação
E aonde os meus delírios levarão
A vida nesta morte se repleta.


27


Noctívago fantoche se anuncia
E dentro de minha alma perambula
No olhar quando esfaimado espúria gula
Transborda nesta foz, atroz, sombria
Marcando e amortalhando a poesia
E nela novo tempo já se ondula
Terrivelmente o tempo coagula
E gera após queda outra sangria.
Vertentes paralelas, vida e morte
E neste emaranhado eu me conforte
Apenas na mortalha que ora teces
E tendo em tais tormentos sortilégios
Momentos magistrais audazes, régios
Parindo a cada instante; áureas benesses.


28

Devoras com angústia e sofrimento
Selvagens ilusões e nelas vejo
A pútrida emoção nalgum desejo
Porquanto outro caminho; ainda tento
E sei que o libertário pensamento
Traçando na masmorra um raro ensejo
E nela com ternura eu me verdejo
Depois de tanto espúrio sentimento;
Tenacidades marcam o meu verso
E quanto mais audaz, frio e perverso
Maior esta deidade que satânica
Adentra uma alma turva em tom sombrio
Enquanto deste tanto desafio
A morte não se faz de forma orgânica.

29

Abrumam-se os desvios onde eu pude
Traçar a discordante maravilha
E nela quando a sorte já polvilha
Espalha sobre tudo olhar mais rude
E vejo assim diversa esta atitude
E quando em profusão meu passo trilha
Seguindo cada estorvo da matilha
Aonde atropelei a juventude.
Corcéis ao galoparem infinito
Transladam o que tanto necessito
Esboços de medonhas faces onde
O nada se transforma em plena luz
E o corte que profanas reproduz
A podre sensação que o corresponde.

30


Despertam dentro em mim as demoníacas
Entranhas mais atrozes e vorazes
E assim o descaminho ora perfazes
E traças com as vozes vãs, maníacas
As horas mais venais, afrodisíacas
Permitem gozos fartos e fugazes
Medonha escória; em luto agora trazes
Em convulsões espúrias e cardíacas
Legando ao que virá o mesmo impasse
E dele novo rumo não se trace
Senão esta terrível inclemência
A morte noutra face se apresenta
E bebo desta tez dura e sangrenta
Numa expressão de pura virulência.


31

Esta tristeza etérea, mas palpável
Denota o meu caminho nevoento
E quando alguma luz; inútil, tento
Destino se demonstra inexorável
E bebo demoníaco e intragável
Na gélida expressão de um sentimento
Aonde; se não há, decerto invento
Um ar sem mais proveito, insuportável;
Esfumo entre os espectros que carrego
Eflúvios costumeiros do meu ego
Vestindo algumas lúbricas promessas,
E quando me fez lúdico e banal
O canto se perdera e sem degrau
No quanto almejas ter; tu já tropeças.

32


Um mar tempestuoso ensimesmado
Navego desde quando a minha ausência
Gerada pela incúria em inclemência
Reinara plenamente no passado
Num éter muitas vezes desenhado
Na fátua sensação de impertinência
Não quero doutro fato uma ingerência
Mudando o que deveras foi traçado.
Eu sei o quanto espúrio sou; portanto
Aos ermos de minha alma eu me adianto
E bebo em tons opacos nuvens fartas,
Dos meus demônios cuido e muito bem
Sabendo o quanto a angústia me contém
E nela meus delírios dão as cartas.

33

Vindima produzindo este vinagre
E dele me espalhando sobre o chão
Esgoto os dias turvos que virão
Atrozes quando a dor deveras sagre
E gere a cada passo outro milagre
Da morte na total renovação
E um ser exposto à vaga mutação
Somente na mortalha se consagre,
E beba esta acidez porquanto a vida
Expressa a solidão e quando acida
Jamais se permitindo outro nuance,
Depois de tantas noites, brumas, ledo,
O caos reinando aonde à dor; concedo
Além do quanto mesmo o sonho alcance.

34

A vida sendo esboço do que um dia
Pensara em tom suave e agora a vejo
Desnuda num realce de um lampejo
Aonde nada mais, pois se veria.
Esgoto o meu delírio em fantasia
E bebo deste tétrico desejo
Na fétida ilusão aonde almejo
O risco após a queda em agonia.
Eu sei que no final tento um sorriso
E vago entre o mais certo e este impreciso
Delírio onde sacio a minha sede
E o quanto no passado a juventude
Traçara outro desenho, apenas pude
Deixá-lo qual um vão nesta parede.

35

Uma dor entremeando quedas, medos
E nestes desenhares meus delírios
Bebendo a cada ausência estes martírios
E neles os anseios, frágeis dedos
Percorrem o passado em desenredos
Tramando o meu futuro em alvos lírios
E após a procissão dos sonhos, círios
Em romaria dizem dos degredos.
No féretro dos tolos ideais
As noites entre espessas nuvens, tais
Momentos envolvendo a minha história,
E quando alguma luz se vê aonde
A vida em tom escuso corresponde,
Apenas tênue e frágil. Merencória...


36


Uma alegria ao menos talvez traga
Momento onde o alento se faz claro,
Mas quando em tom sutil eu me escancaro
A voz não mais conhece nova plaga.
E bebo desta espúria dor que alaga
E desta profusão não me separo
Vagando em turva tez e me preparo
À morte tão sutil, deveras vaga.
Esgarço com palavras o meu mundo
E nele em cada dia eu me aprofundo
Fartando-me da morte em tom nefasto,
E quando vejo a luz de uma esperança
Enquanto a claridade ainda avança,
Defeso e exposto ao nada eu já me afasto.


37


Deixando de buscar alguma messe
Na sorte desenhada em treva e bruma
Nas névoas costumeiras, a alma esfuma
A este cenário tétrico obedece,
E reina sobre o fim aonde tece
A fátua sensação por onde ruma
Fugindo à leve dança de uma pluma
E o quanto poderia, enfim esquece.
Esgoto onde rasteja o pensamento
As fúrias entremeiam medos, nuvens
E quando muito além ainda vens
O corpo noutro fardo eu alimento
Esbaldo-me no escombro que me resta
Depois da vida amara, vil, funesta
Retrato o meu caminho em excremento.

38

Cale a tua voz macia e siga
O rumo tão ditoso que quiseste,
Deixando-me em cenário mais agreste
Nesta insânia comum e tão antiga
E quanto mais em dores eu prossiga
Loucura sem igual já me reveste
E transitando apenas entre a peste
O farto desenhar mais rude abriga.
No herético desenho, Satanás
Em trevas e delírios já me traz
O alento necessário para a vida,
E neste meu crepúsculo precoce
Apenas o vazio ainda acosse
Quem sabe da esperança em vão perdida.


39


Uma alma arrebatada pelo nada
Transido caminheiro em voz temível
Não sabe de outro intento e perecível
No passo mais atroz, a alma lavada,
Esgarço quando tento e vejo alçada
A morte a cada instante e mesmo incrível
Desenho se moldara a cada nível
Trazendo a tempestade anunciada
Há tanto nos meus dias mais felizes
Imersos em delírios, hoje em crises
Refletem os esgares de um destino,
E caricatamente eu vejo a sorte
Sem nada nem a sombra que a suporte
Enquanto nos meus ermos, me fascino.

40

Ainda quando a vida pode entrar
Nas frestas permitidas, juvenis,
Os dias onde tanto amor se quis
Apenas noutra cena a se moldar,
A fúria sem destino e sem lugar
O corpo se estraçalha e do matiz
Mais tétrico desenha o quanto fiz
E marca com as trevas o luar.
Edênico delírio morto em mim
Expresso os meus anseios e no fim
Componho apenas ledo patrimônio
Gerado pela messe mais audaz
E nela o canto escuso satisfaz
O meu encantador, raro demônio.



41

Entre as floradas sigo em sombras quando
Amores se perdendo vida afora
E apenas este estio se demora
Embora o tempo esteja além nublando
Minha alma em lacrimejo derramando
O nada onde o tempo desarvora
E gera o canto amargo e me apavora
Apenas estiagem vã tomando.
Durante alguns momentos eu pensara
Na primavera etérea da seara
Aonde cultivara esta esperança.
Agora que este outono se apresenta
Visão apresentada em tez sangrenta
Deste sol-pôr que agora, aqui alcança.

42


Revolta e solta ao vento; vais liberta
E neste caminhar eu te acompanho,
E sei do quanto o amor se faz tamanho
Enquanto esta ilusão em vão desperta.
A vida em solidão; eu sei, alerta,
Porém o coração que desde antanho
Penetra este vazio aonde entranho
O que restara em mim e me deserta.
As sensações diversas: medo e sonho
Ao mesmo tempo busco e já me oponho
E sei das discordâncias tempo/espaço.
Mas mesmo assim ao vê-la em tal cenário
O amor por vezes tolo e temerário
Em dolorida senda, ainda grasso.

43

Nesta alva tarde em busca da promessa
De quem se fez um dia sonhador,
Vagando pelas ânsias de um amor,
O mundo noutra cena ora tropeça
E quando esta viagem recomeça
Trazendo o seu poder transformador
Eu vejo e teço além algum andor,
Porém a solidão já se confessa.
Estando tão distante, mas tão perto
De quem por vezes tento e se desperto
Algum olhar em tons suaves; alço
Além deste horizonte em claridade
E uma esperança audaz agora invade,
Mas quando me aproximo, o tempo é falso.

44

Na pálida expressão deste luar
Reinando sobre um céu inestimável,
O sonho este corcel quase indomável
Além deste horizonte irá buscar
Quem tanto eu desejei; um dia, amar,
Mas sei deste caminho intransitável
E o quanto mais quisera em alcançável
Delírio se perdera sem tocar.
A lua se encobrindo em névoas dita
A sorte desejada, mas finita
Num átimo perdida em meio ao nada,
E à velha solidão, a companheira
Que sei ser a primeira e a derradeira
Minha alma adentra em dor a madrugada.

45

Vermelhos lábios; beijo imaginário
E o quanto pude até acreditar
No amor que ao menos quando a divagar
Foi meu, durante um tempo curto e vário;
Esboço de outro sonho; é necessário
Por vezes dos meus medos, libertar
A voz e procurando algum lugar
Aonde aporte um sonho solidário.
Rascunhos desenhados dentro da alma,
Apenas esta cena ora me acalma
E traz nova esperança, mas sei bem
Que após o amanhecer a vida volta
Aos tons mais dolorosos da revolta
E nada nem ninguém; decerto vem.


46

Ardentes os desejos de um poeta
E neste corpo nu e sensual
O amor se faz constante em ritual
E nele a poesia se completa,
Vestindo esta ilusão nesta audaz meta
O tempo muitas vezes desigual
Permite novo encanto e triunfal
Sorriso se apresenta em voz concreta.
Porém o quanto fora além do porto
Agora ao percebê-lo sinto-o morto
E nada mais traduz alguma luz,
Esboço de uma sorte mais diversa
E a vida ao seu princípio agora versa
E apenas frágil estrela além reluz.

47

Carícias entre riscos, risos, sonho
O quanto pude mesmo conhecer
Do amor quando se fez em tal prazer
Diverso deste medo onde me ponho,
Resulto de um momento mais bisonho
E sinto o meu caminho a se perder,
E neste navegar pudera ver
Outro cenário em paz, mas não componho.
Restauro apenas medos e somente
O amor quando se mostra e assim se tente
Vencer os mais comuns dos meus tormentos
Depois de tantas noites solitárias
As horas se revoltam, mas corsárias,
As ilusões aumentam sofrimentos.

48

No carmesim de um sonho em lábios quentes
As noites vagam lúbricas; anseios
Desenham nos meus olhos belos seios
E toques sensuais, mais envolventes
E neste delirar tu te apresentes
Deixando para trás os teus receios
E os dias que amortalham; pois alheios
Invadem em delírios inclementes.
Mas quando me aproximo e nada existe,
O velho caminheiro não permite
Além deste vazio, o meu limite
E o olhar extasiado, agora triste
Traduz o quanto fui e nada havia
Somente a solidão, dura e sombria.


49

Um dia entre carícias, sonho e gozo
Delírios sem igual, anseio e festa,
Ao tanto que inda pode o amor se empresta
Permite um novo dia majestoso.
E quando a vida em tom mais caprichoso
Adentra sem perguntas qualquer fresta
O tanto de um delírio que assim gesta
Invade outro cenário, fabuloso.
Mas pedregosa a vida não se entrega
E segue caminhando quase cega
Tropeça nos degraus desta esperança
E a queda se anuncia em tom atroz
Depois do imaginário, eis este algoz
Um anseio aonde a sorte ao nada lança.

50

Amargas noites; vejo desde quando
Abandonaste a casa e assim levaste
O quanto poderia haver em haste
E nisto o meu cenário desabando,
Esqueço este verão e já nevando
Nesta alma condenada ao vil desgaste
Do amor que tantas vezes me negaste
Apenas o vazio se formando.
Respaldos onde tento e até anseio
Saber ou perceber novo momento
E nele me entranhar sem mais defesa;
Porém o quanto resta em devaneio
Não traz a quem procura o quanto tento
Deixando-me da sorte amarga, presa.


51

Os prantos em tortura eu reconheço;
Sevícias de um amor inconseqüente
E ainda quando o sonho eu alimente
Apenas ilusão, mero adereço.
E tanto imaginar quando o começo
Dizia de outro sonho, mas ausente
Das mãos alguma sorte apenas tente
Voltar ao quanto pude e ora me esqueço;
Tecendo em desvario o meu anseio
E quando a solidão de volta veio
Tomando cada espaço do meu eu,
Restara tão somente este vazio
E neste caminhar ora desfio
Desejo quando a sorte se perdeu...

52

Nesta sensualidade à flor da pele
A tez amorenada de um desejo
E nela a cada instante o gozo vejo
De um tempo abençoado que revele
O tanto quanto além o amor compele
Seara aonde em paz eu me verdejo
E bebo o solitário e vil negrejo
Reflexo do vazio onde se atrele
Amante da ilusão? Já não comporto
Cenário aonde o tempo em dor aborto
Gerando tão somente a tez atroz
De quem se perdeu quando imaginara
A vida novamente bela e clara,
Porém a mesma ausência logo após.

53

Amante das estrelas, o poeta
Que um dia se fizera enamorado,
Bebendo cada sonho anunciado
Nas ânsias desta vida mais completa,
E nada do que outrora fora meta
Permite algum anseio saciado
E o rumo no vazio ao ser traçado
Deste mesmo cenário se repleta.
Angustiadamente sigo em frente
Vagando pelas ruas, inda tente
Algum momento aonde me ancorar,
Apenas a verdade se anuncia
Trazendo um nevoeiro a cada dia,
Oculta dentro em mim qualquer luar.


54

Tristonhos olhos buscam qualquer mimo
Do encantador caminho em luz intensa
E quando da esperança se convença
Apenas outro sonho onde a redimo,
Tramando a qualquer preço o que inda estimo
Embora a própria dor em vaga crença
Negando ao fim da tarde a recompensa
Por sonhos desiguais meu verso eu primo.
Escassa luz adentra qualquer fresta
E quando esta sombria tez empresta
À vida a palidez desta inconstância,
Crisálida abortada, aprisionada
Aonde se quisera libertada
A imaginária luz em discrepância.

55

Aonde o pensamento ora repousa
Descansa o coração aventureiro
E neste desenhar o meu tinteiro
Já não macula mais a clara lousa
Esgoto o meu delírio no vazio
E sei do quanto posso, mas não vens
E além dos desafios, os desdéns
Transformam o suave em turvo rio.
Ascendo num instante à fantasia
Gerada pela voz de uma inocente
Vontade quando o nada se apresente
E neste mesmo nada já recria
Cenário transbordante em dor e medo
E às tramas deste sonho eu me concedo.

56

Na palidez do olhar em busca de
Um dia aonde pude transformar
O nada noutro imenso e bom lugar,
Mas quando na verdade nada vê
Somente este caminho sem por que
Regendo dentro em mim um frio altar.
Pudesse novamente imaginar
O quanto o coração deveras crê.
E sei dos dissabores tão vulgares
Aonde teu vazio propagares
Vencendo os meus desejos mais felizes,
E quando a luz invade mansamente
Ao mesmo tempo chegas e inclemente
Este cenário em paz; logo o desdizes.

57

Sentindo em tênues tons o doce aroma
De uma esperança aonde quis bem mais
Que meros desenhares tão iguais
E nesta sensação minha alma doma,
E quando imaginário e leve coma
Em gozos e delírios sensuais
Derramas entre as pedras e não mais
Percebo o quanto outrora fora soma,
Desnudando minha alma nada veio
E o olhar quando se mostra mais alheio
Presume este falsário pensamento
Aonde noutro instante quis além
E sei que na verdade não contém
Sequer este desejo onde me alento.

58


Num prado, bosque além deste desejo
Buscando algum buquê em flóreos tons
As noites entremeiam-se em neons
E além do quanto tento e mais almejo
O coração de um pobre sertanejo
Guardando imaginários sonhos bons
Esvai-se nos grisalhos destes tons
Aonde o meu caminho ora porejo.
Arquétipos já não mais se completam
E os versos entre tantos sonhos vetam
Palavras que pudessem me alentar,
E os raros dias mansos são promessas
E neles cada passo tu tropeças
E mudas meu desejo de lugar.

59

Um delicado corpo em tons suaves
Deitado sobre a cama, um raro sonho
E nele novo encanto eu me proponho
E deste coração emergem aves
Vagando por delírios, onde graves
O dia que entre tantos, mais risonho
Permite o novo encanto e não me oponho
Apenas vislumbrando anseios, naves.
E quando me percebo mais aquém
Do tanto quanto amor já não provém
De luzes o caminho aonde um dia
A sorte noutra face desenhada
Transcende ao mesmo tempo a madrugada,
Porém a solidão atroz porfia.

60

Perfumes de verbenas e de rosas
Adentram a janela do meu quarto
E quando a solidão; não mais reparto
As noites entre dores, pedregosas
As horas são deveras caprichosas
E neste caminhar expresso o farto
Delírio aonde apenas; tento e parto
Tentando outras searas majestosas
E sei desta improvável solução
Esboço de algum sonho de verão,
Mas quando em outonal caminho eu vejo
O meu olhar se perde em tom sombrio
E quando penetrando, o desvario
Desenha nos meus céus outro negrejo.


61

Entre os albores vejo o teu olhar
E bebo cada toque mais audaz,
Mas quando a bruma espessa volta e traz
Ausência em solidão, nada a mostrar,
Somente esta inclemência onde aportar
O canto mais feliz já não se faz
Entorpecido, embora até tenaz
No contumaz vazio, o meu lugar.
Viceja a primavera em cores várias,
As horas se repetem solitárias
E outono dentro da alma se invernando,
O tempo claro expressa a realidade,
Mas dentro em mima apenas já degrade
Gerando outro momento mais infando.

62

A boca sensual carnuda e bela
Na brônzea maravilha em veraneio
O quanto deste encanto enfim rodeio
E nesta fantasia uma alma sela
Delírios sem igual, abrindo a vela
O coração navega sem receio
E quanto mais audaz o devaneio,
Maior a solidão, atroz a cela.
Esgoto a minha vida em tênue sonho
E sei do quanto posso e me proponho,
Mas como fosse assim mera vingança
A espúria realidade torna em bruma
O quanto do imaginário ora se esfuma
E o meu caminho ao léu a vida lança.


63


Teu rosto gera o sonho aonde eu pude
Vencer a timidez e a solidão,
E nesta tez suave se verão
Revivos os luzeiros: juventude,
Mas quando o sol perdendo a magnitude
Expressa novamente a hibernação
Resumo o meu delírio neste vão
Ainda que algum sonho venha e ilude.
Cerzindo do meu passo outro diverso,
Pudera acreditar neste universo
Gerado pelo anseio, mas somente
O frio tomando a alma me repleta
E aonde quis o amor, superna meta
A sombra novamente se apresente...

64

As pétalas da rosa que cevaste
Em mim num flóreo sonho mais feliz,
Ao mesmo tempo enquanto inverno diz
Deste vital tormento em tal contraste,
Resumo o meu delírio, mero traste
E o quanto ainda trago em cicatriz
A força da ilusão, má geratriz
Fragilidade expressa qualquer haste.
Resulto desta insânia ao caminhar
Por entre estes florais, os teus canteiros
E os sonhos que julgara verdadeiros
Apenas noutro tom a se formar,
Das pétalas de rosas multicores,
Grisalhos dias moldam medos, dores.

65

As lágrimas nevando dentro em mim
Na gélida expressão de invernal senda
Sem nada que o meu sonho em vão atenda
Guardando uma esperança em camarim,
A cena se aproxima do seu fim
E o trágico momento agora estenda
As garras e deveras não entenda
Senão este vazio e dele eu vim.
Ascendo em pensamento o mais sobejo,
Mas quando a realidade nua eu vejo
Pressinto este cenário; vis tragédias.
Os meus corcéis vagando num tropel
Alcançam num instante o imenso céu,
Mas como se perdi há tanto as rédeas?


66

Ao vê-la em palidez desnuda eu sinto
Esquálida figura da emoção
Esboça nos meus olhos reação
E o quanto quis agora vejo extinto.
E quantas vezes; tento, finjo e minto
Traçando noutro rumo a direção
E sei dos desvarios que virão
E o fim tão tortuoso ora pressinto.
Escassos dias dizem do abandono
E quando do vazio em mim me adono
Adorno o pensamento com engodos,
E volto ao meu caminho em charqueada
Dos tantos desejados, resta o nada,
E piso em movediços, torpes lodos.

67


Um astro entre os diversos, o mais belo,
Amor não mais sacia o quanto anseio
E nesta solidão, enfim rodeio
O quanto deste encanto ora revelo,
E ao vê-la transparente em teu castelo
Sentindo a maciez de cada seio,
O toque desejado e sem receio
Desenha outro cenário onde me atrelo.
E atrevo-me a sonhar, embora eu saiba
Do pouco nesta vida que me caiba
Resolvo acreditar em nova luz,
Semeio esta esperança em solo agreste
E quando a realidade o nada ateste
Apenas um aborto reproduz.


68

Num infernal caminho o meu desejo
Aprende com as quedas ou até
Esboça outro delírio e tenta em fé
O caminhar deveras mais sobejo
E quando no final apenas vejo
O risco atordoando o quanto se é
Vacância dentro em mim gera a galé
E o risco de sonhar, mero lampejo.
Esboço reações e tento um gozo
Aonde poderia majestoso
Desenho de uma vida mais feliz,
Sementes de esperança na aridez
Enquanto o dia a dia já desfez
E o tanto imaginado nunca quis.

69

O corte do punhal adentrando a alma
Espúria solidão domando o sonho
E quando alguma luz enfim componho
Nem mesmo esta ilusão sobeja acalma,
E quando se conhece e traz o trauma
De um tempo mais atroz, mesmo medonho
Aonde na verdade recomponho
O mundo já sonega qualquer calma,
Esplendorosa tarde do passado
Agora em tom sombrio traz, nublado
O anseio de um poeta em voz cansada,
Depois de tantas lutas vida afora
Somente a solidão teima e vigora
Gerando após o nada, o nada, o nada...


70


A face mais sinistra da verdade
Espúria noite em mim e nada trago
Sequer o meu caminho em manso afago
Enquanto a podridão da vida invade,
E tento ultrapassar a firme grade
E nesta solidão em luz me alago,
Vivendo este momento turvo e mago
E nele ao menos sonho ainda agrade
Vestindo esta emoção diversa quando
A tempestade ainda desabando
Trazendo alguma luz neste horizonte
Contraste onde deveras já se aponte
O quanto possa haver e mesmo tente
Cenário entre brumoso e iridescente.

71

Amorfa criatura em mutação
Por vezes me transformo em quase humano
Em outras pouco a pouco se me dano
Enfrento as tempestades que virão
E sei da minha eterna imprecisão
No quanto a cada passo mais insano
Mergulho no passado soberano
E causo dentro em mim, revolução
Arquétipos de quem outrora fora
Nesta ânsia tão venal e sonhadora
Ao caracterizar o quanto sou
Diverso de mim mesmo e enquanto nisto
Deveras sem saída ainda insisto
Bebendo cada gota que restou.


72

Ansiosamente vivo em preces quando
O tempo se transforma e impede o passo
Aonde na verdade o que inda faço
Noutro momento sinto-o desabando.
O medo noutro enfado. Neste bando
De cores ocres sinto o descompasso
Toando a cada verso quando traço
Meu mundo carregando-o em contrabando.
Esforço-me até a acreditar
Num tempo sem juízo e sem lugar
Apenas por contê-lo e nada mais,
Mas quando a consciência ainda impera
Gerando a mais temida e dura fera
Enquanto busca apenas os cristais.


73

Ardências entre os erros que cometo
Durante esta passagem pela Terra
E quando alguma luz longe descerra
Eu tento imaginar outro soneto.
Ousando noutra face eu me arremeto
E me alimento até do que desterra
Após a tempestade em liça e guerra
Trazendo qualquer brilho neste gueto.
Esgoto as minhas lavras quando tento
Vencer o mais diverso e vão tormento
Gestado pela angústia do não ser.
Ouvindo desde então em solilóquio
Ainda que outro instante vão, provoque-o
Desenho com desdém e ao bel prazer.


74

Neste oceano imenso onde pudera
Incendiar com bravas ondas, vida
Expressa desde então a despedida
Marcando com terror a primavera.
A sorte noutro fato destempera
E bebe da saudade sendo urdida
Nos grandes vãos teares de uma lida
E deste caminhar já nada espera.
Vacância entre domínios mais diversos
Imerso na cadência de alguns versos
Resumos de uma pálida emoção,
Vestindo a solidez da fantasia
Aonde o meu caminho se sacia
Nos tépidos desejos de um verão.

75

Enquanto ao padecer em dor e medo
De tantas ilusões sigo cansado
Vagando em sortilégios, vejo o enfado
Aonde sem temores eu procedo.
E sinto o quanto pude desde cedo
Durante o meu caminho apresentado
Nas tramas entre anseios e pecado
Tecendo com ternura um desenredo.
Esbarro nos meus ermos e vasculho
Cada pedaço feito em pedregulho
Jogado nalgum canto de minha alma.
Porquanto ser feliz ainda eu tente
Depois do céu confuso e prepotente
Tramando alguma messe que me acalma.


76


Num vórtice diário enfim porfio
E tento acreditar na paz além
Do quanto na verdade sei que vem
Traçando cada margem deste rio.
A vida sendo eterno desafio
Envolta nos domínios do desdém
Esboça novos tons onde não tem
Sequer o que pudesse ser sombrio.
E sinto já vencidas as tormentas
Quando em delírios calmos me apresentas
Diverso passo envolto em mansa luz.
Mas sei também da eterna discrepância
É quando se percebe noutra estância
O quanto de mim mesmo a reproduz.


77

Aonde entremeando crença e treva
Vagando entre os infernos, céus e ocasos
Os dias em seus mantos, ermos prazos
Durante a solidão aonde neva.
Escasso caminhar já toma e leva
A sorte noutros rumos e descasos,
Desarvorando a rota adentro os rasos
Desenhos onde a vida nada ceva.
Esparso caminhante do não ser
Esbarro nos meus âmagos e crer
Na sólida expressão e assim confirmes
Os erros costumeiros não impedem
Aonde os desejares se concedem
Desde que os solos sejam sempre firmes.

78


Entre esperanças, medos, quedas; sigo
E venço os meus diários dissabores
Sem mesmo até; diversa, tu te opores
Traçando dentro em mim algum abrigo,
E quantas vezes; teimo e até prossigo
Alçando quem me dera raras flores
E sei dos meus canteiros multicores
Na cúpida expressão onde os persigo.
Estéticas diversas; traz a vida
Atrás deixando a marca em despedida
Do impessoal desenho aonde um dia
Pudesse imaginar dispersos tons
Matizes muitas vezes tão mutáveis
E neles outros tantos desejáveis
Traçando estes delírios, raros, bons.

79

Sublimes atos; tento e quando os vejo
Trazendo dicotômica expressão
Na movediça luz se mostrarão
Os delicados rumos deste ensejo.
E quando o meu caminho é malfazejo
E dele se percebe a geração
De esgares entre teimas não verão
Sequer, os meus olhares, o desejo.
Esgoto qualquer canto aonde pude
Tentar revigorar em plenitude
O quanto renovável fosse; a vida.
Nesta avidez o incauto navegante
Ao próprio desdenhar já se adiante
E mostre a sua face. Desprovida.

80

Jamais me satisfaço e tento um rumo
Diverso a cada instante e recomeço,
E quando noutro tempo eu me endereço
Ao mesmo delirar se oponho escumo.
Nesta imprecisa voz, ausente prumo
Mostrando a cada instante outro adereço
Do todo que inda resta reconheço
E bebo o sortilégio; amaro sumo.
Escassas noites trazem a bonança
E quando a madrugada em luz avança
Prenunciando um dia mais tranqüilo,
Na revoltosa e vã dicotomia
Mudando o que decerto se anuncia
E entre as brumosas sendas eu desfilo.


81

Momentos de grandeza aonde um dia
Pensara ter somente uma ilusão
E sei que novos tempos poderão
Mudar o quanto tento e não podia.
A sorte a cada instante o sonho adia
E gera no final tola emoção
De todo este vazio uma expressão
E nela cada messe se irradia.
Após as derrocadas de um caminho
Entre delírios tolos, um daninho
Desejo agora gera em nova senda
A pérola que em lodo se formara
E transitando a vida em jóia rara
Transporta a solução e em paz se estenda.

82

Num êxtase sublime e até bendito
Esboço outro desenho aonde há tanto
Apenas garatuja; inda garanto
E neste novo tom hoje acredito
Trazendo o quanto eu quero e necessito
Marcando com ternura um belo canto
E deste raro empenho, claro encanto
Acalma um coração antes aflito.
Espalho a minha voz aos quatro ventos
E tento novamente em pensamentos
Alçar a plenitude desenhada
Nas tramas mais sinceras deste anseio
Vagando sem destino em devaneio
Depois de tanto tempo envolto em nada.


83


A natureza envolta em divergentes
Desenhos muitas vezes dicotômicos
Traduz além dos medos, os hedônicos
Anseios onde tantos novos; tentes.
E quantas vezes são mais inclementes
Os riscos e decerto desarmônicos
Por vezes quase mesmo até agônicos
Enquanto novas tramas tu pressentes.
E nesta variável fúria e paz
Entoas o que a vida em avidez
No quanto tantas vezes se desfez
Ou face mais diversa agora traz
Gestando o quanto aborta no final,
Mas sei desta inconstância em vago astral.

84

As almas se tocando além da vida
Num infinito espaço aonde um dia
Pudesse transformar em harmonia
A cena de juízo desprovida,
É quando se resume a precavida
História noutra tanta em que se via
A gestação de imensa fantasia
Jamais em plenitude resolvida.
Esboço de um eterno sentimento
E nele a cada instante a fuga eu tento,
Mas quando a gula traz esta obsessão
De ter e ser bem mais do que pudera
Renasce dentro em mim a primavera
Embora os meus grisalhos; dizem: não!

85


Mistérios entre tantos que adivinho
Servindo de alimária quando eu quis
Decerto num instante ser feliz
Embora me desenhe mais mesquinho,
Cerzidas esperanças num espinho
Esgarço o meu caminho e por um triz
Do róseo anunciado apenas gris
Tomando em desalento este ar daninho.
Deveras o cenário se percebe
Diverso e sendo assim; dispersa a sebe
O ritual se afasta e modifica
A sorte desenhada noutro tom
Exprime a imprecisão e sem ou com
Meu canto a cada sol se mortifica.

86

Na frágil caminhada pela vida
Esparsos e diversos tons em sóis
Aonde noutro instante tu destróis
A fonte tantas vezes mal urdida,
E quando se imagina a despedida
Transitas com delírios nos lençóis
E trazes novamente os teus faróis
Às tramas do desejo ora rendida.
Mas logo após o gozo saciado
O tempo se esboçando já nublado
Revoas para além nesta inconstante
Imagem onde o sonho ora disperso
E quando ao teu anseio ainda verso
Sonego ou reafirmo noutro instante.

87

A esfera luminosa em prata eu vejo
Tomando em claridade este horizonte
E neste delirar o olhar aponte
O contumaz anseio mais sobejo,
E bebo deste todo aonde almejo
Além de meramente grácil ponte
Um raro desenhar onde desponte
Após argêntea noite, este azulejo.
Esmeraldinos tons de uma esperança
Na multifacetária vida agora
Desenha um cais seguro e nele ancora
A sorte quando o tempo além avança
E rege com ternura o que pudesse
Traçar neste cenário esta benesse.

88

Sanções diversas; dita a voz sombria
Envolta em névoas tantas, mais espessas
E quando a minha vida; reconheças
Na falsa sensação quando emergia
O caos se aproximando reinaria
E neste desenhar sempre às avessas
Transitam as adagas e não esqueças
Do encanto e dissabor em romaria.
Capazes sonhos trazem discordâncias
E das dicotomias tais estâncias
Geradas pelas tenras ilusões,
Explodem em momentos mais diversos
Nos gêiseres desta alma sinto imersos
Cenários onde enfim, os decompões.


89

Na gênese do amor a luz envolta
Em clara sintonia com luzeiros
Aonde se apresentam verdadeiros
Desenhos deste encanto sempre à solta.
Da malta desenhada, nova face
E nela se apresenta outro cenário
No amor que tantas vezes necessário
Caminho mais diverso agora trace.
Numa eclosão dispersa e multicor
Vacâncias dentro da alma, ledo espaço
Aonde esta emoção deveras traço
Mudando a cada instante o seu sabor,
São vastas as searas e os anseios
Ainda quando mesmo em devaneios.


90

Soluços entre lenços, tanto adeus
Gerado pelas inconstantes luzes
Aonde num instante reproduzes
Os dias que pensara outrora teus.
E os ermos entre luzes frágeis, breus
Expressam o caminho em flores e urzes
E assim neste cenário me conduzes
Nos passos entre crédulos e ateus.
Ateia o fogaréu e já me alaga
Das fráguas o vazio de uma vaga
Expressa o tom vigente deste caso,
E quantas vezes; sito este momento
Entremeando paz e desalento
E desta intensidade ora me aprazo.

91

A minha alma percorrendo
Neste instante este infinito
Caminhar por onde; aflito,
Muitas vezes fui horrendo
A minha alma este remendo
Bebe quanto eu acredito
E decerto necessito
Noutro tanto se tecendo
E se às vezes me contenho
No vazio de um empenho
Em terrível sortilégio
Acenando em siderais
Desenhares onde estais
É decerto um sonho régio.

92

Entre tantos dias; langue
Percorrendo cada espaço
Onde em versos me desfaço
E sorvendo morro exangue
Neste lodo, charco e mangue
Reconheço cada traço
E se embebo o quanto escasso
Desenhar em sonho e sangue
Enveredo muito além
Do caminho onde contém
Versos tristes no abandono
De quem tanto quis a sorte
E deveras já se corte,
E meu canto eu desabono.


93


Destas asas onde apenas
Conheci a liberdade
Cada passo se degrade
Entre duras, ledas cenas
E se ainda me condenas
Numa etérea falsidade
Bebo o quanto ainda invade
Os meus olhos são falenas
Na procura desta luz
Onde amor que mais seduz
Espelhasse outro futuro,
Mas sidéreo som se emana
Numa messe até profana
Esvaece-se no escuro...

94


Qual sirena; entoas cantos
Que transcendem ao sublime
E se tanto desoprime
Noutro instante cerzi mantos
Mais diversos e os quebrantos
Onde a sorte se redime,
No final já tanto estime
Quem perfuma com encantos,
Num herético cenário
Outro fardo necessário
Para quem se quer além
E o mesquinho ora se espraia
Dominando a imensa praia
Gestações que amor contém.


95

Apenar quem tanto quis
E jamais pode saber
Dos desmandos do querer
Força etérea e geratriz
De um momento claro ou gris
Neste tanto entorpecer
E se o posso inda conter
Galgue um sonho mais feliz,
Esboçar outro senão
Onde os dias moldarão
Quanto pude discernir
Deste verso aonde o tanto
Molde o sonho e já garanto
Das benesses, o porvir.

96


Luzes fartas onde um dia
Pequenino sonhador
Ao gerar em mim o amor
Nova sorte se tecia
O caminho em tez sombria
Tantas vezes dissabor
Meramente a se compor
Nas searas da heresia
Entre os astros cores várias,
Mesmo as ditas procelárias
Invadindo o quanto pude
Discernir neste abandono
O caminho que ora abono
Com sofrível atitude.

97

Tenuemente a vida traça
Expressões diversas quando
O meu mundo desenhando
O que tanto fora escassa
Solidão por vezes passa
E se molda este ar nefando
E decerto estou nevando
Neste outono feito em traça,
Caminhante em dor e tédio
Onde a sorte diz do assédio
Desta lúbrica emoção
Visto em mim os olhos frágeis
Entre tantos sonhos ágeis
Outros tantos nascerão.


98

Aonde poderia ter a chave
Que um dia permitisse nova messe
E o vento neste espaço ainda tece
Um sonho e nele a vida não agrave

O manto desvendado dita esta ave
E nele este abandono já se esquece
De quem ao caminhar sempre padece
Do medo como fosse queda e entrave.

Vestindo a fantasia geratriz
De um vórtice onde tento desenhar
Talvez outro delírio aonde amar

Pudesse ser bem mais do quanto eu fiz
Entre os supérfluos ritos do abandono
Enquanto em voz suave enfim me abono.


99

Aonde com tristeza esta agonia
Gerasse entre os astrais sidéreo fato
E neste caminhar tanto desato
Enquanto noutra face o soerguia
Vetusto caminho poderia
Tramar este cenário onde resgato
Além do desenhar onde maltrato
O canto em tênue voz mesmo sombria
Ecléticos demônios que alimento
Com tépidas loucuras, desalento
E desta voz deveras inconstante
Apenas o somático delírio
Tramando a cada passo outro martírio
E nele a própria ausência se agigante.

100

Dos féretros desta alma incandescente
Ultrizes emoções regendo o passo
E neste desenhar turvo eu desfaço
O quanto noutro sonho se apresente

E sei o quanto eu posso e consciente
Do medo e do terror gero o compasso
Diverso do caminho aonde traço
Encanto variado e prepotente;

Esgarço com a tênue realidade
Somenos ilusões entre outras tantas
E quanto mais a vida desagrade

Festivos desenhares tu encantas
E morto aonde pude à saciedade
Sorver onde decerto o não garantas.
MARCOS LOURES FILHO
 
Autor
MARCOSLOURES
 
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