001
O quanto deste sonho é tão benquisto
Por quem se fez escravo da emoção
E sei que novos cantos se farão
Por isso tantas vezes eu insisto
Falando deste encanto aonde avisto
O rumo desta vida, a direção
E nela se permita a atracação
Caminho que contigo ora conquisto,
Vencer as intempéries e seguir
Sem medo nem sequer de algo por vir
A dor vai se esvaindo a todo instante
Alimentando o amor, esta promessa
Da vida que deveras recomeça
E mostre novo esteio doravante.
002
Aonde um sentimento flutuasse
Vagando pelo mar imenso e claro
Num verso mais tranqüilo ora declaro
A vida sem temor, angústia e impasse,
E quanto mais o tempo assim se passe
O dia mais suave num tom raro,
Momento tão sobejo onde escancaro
O tempo de sonhar aonde eu grasse.
E resolutamente nada temo,
No quanto deste encanto busco um remo
E sigo contra a fúria das marés
Sabendo desde sempre por quem és
O tanto que eu pudesse e nada vinha
Agora esta razão se faz só minha.
003
Um astro raro invade assim meu quarto
Tomando em claridade todo o vão
E quando se pensara escuridão
Um brilho sem igual, ora comparto,
E vejo esta ternura quando eu parto
Em sonhos noutro encanto e mostrarão;
Meus passos, o destino desde então
Num sentimento imenso e não me aparto.
Prossigo pareado com o sonho
E quando novo templo; ali componho
Mergulho sem defesa no infinito,
Sabendo desde já que finalmente
Aos olhos de quem ama se apresente
O todo que decerto eu necessito.
004
Numa explosão de rara sutileza
Eu vejo o meu caminho se entranhando
No teu e neste fato e desde quando
A vida se transforma, sou a presa.
Vencido onde julgara fortaleza
Já noutro delirar o tempo alçando
Um mundo mais suave e quiçá brando
Seguindo com ternura esta nobreza.
Clarões anunciando a imensa messe
E todo o meu passado já se esquece
Vestindo esta sobeja alegoria
Do amor que se mostrando mais audaz
Somente uma alegria imensa traz
Aonde; no passado, nada havia.
005
Estando este caminho sempre aberto
A quem se faz amiga e companheira
Enquanto a poesia ainda queira
Cenário tão sublime não deserto
E quando me percebo e já me alerto
Do todo onde esta paz é mensageira
O amor eleva além sua bandeira
E traz o mais distante pra bem perto.
Neste horizonte feito em mansas luzes
Aonde com ternura me conduzes
Enfrento qualquer dor e sigo em frente,
Ainda que esta vida seja amarga
A voz quando te vê, sonho não larga
Entranha com o amor quando te sente.
006
Numa evaporação de sonhos vejo
Sinais de outros momentos mais felizes
E quando neste instante os contradizes
Roubando da esperança algum lampejo
Distante do que busco e tanto almejo,
Reavivando assim as cicatrizes
Provenientes mesmo de outras crises
Geradas pela angústia de um desejo
Por vezes saciado em outras não
E assim somando os ermos que verão
Meus olhos discernindo no horizonte
Raríssima beleza em tom sutil,
E quando tanta luz amor reviu
Um mesmo grande amor ali se aponte.
007
Lembranças de outros dias, do passado
Aonde poderia ter nas mãos
Além destes momentos duros, vãos
Instante de desejo anunciado,
Sabendo quanto é vida, se eu me enfado
Deixando para trás em tantos nãos
Vagando por terríveis, frios chãos,
O corte se apresenta e é meu legado.
E sendo assim a sorte pode até
Traçar outro caminho e sei quem é
Que tanto desejara este final,
Depois de vários anos de bonança
A fúria em desalento nos alcança
E trama este cenário em tom venal.
008
Amores revividos? Não mereço
Viver, pois novamente o que passamos,
Tentar após a poda destes ramos
Criar mesmo cenário ou adereço?
O tanto desejado ora obedeço
E sei do quanto em paz nós desenhamos
E assim se outro futuro; já traçamos,
Amor ora não quer este endereço,
E vença ou perca creio no futuro,
E quando novo dia eu asseguro
Não quero repetir velhos enganos,
Depois de tantos erros, tantos anos
O céu se refazendo agora escuro
Em tormentosos dias vãos, profanos.
009
Encontrar meus demônios onde eu quis
Viver num novo tempo e pude até
Talvez por inconstância desta fé
Tentar aprofundar em cicatriz,
O amor quando do amor se faz matriz
Reproduzindo a sorte por quem é
Transcorre dentro em si pé após pé
Buscando finalmente ser feliz.
Depois destes erráticos momentos
E neles expressões em desalentos
Não quero tão somente um lenitivo
Mesmo se for mais tênue esta esperança
Meu verso num momento busca e avança
Enfim de fartas luzes eu me crivo.
010
Quimeras percebidas num retrato
Sutil da nossa vida em dor e mágoa
Matando num momento qualquer frágua
Secando em aridez este regato,
E quando alguma luz teimo e resgato
A sorte noutro rio já deságua
Deixando o meu olhar tomado d’água
Negando ao mais faminto um mero prato.
Restaurações de engodos do passado
Já não seriam mais que velhos fados
Ousando renascer após a morte
Do sentimento um dia mais atroz
Trazendo no final, a mesma voz
Negando ao passageiro um claro norte.
011
A flor trazendo espinhos entre aromas
Expressa a realidade tão cruel
Do amor quando se busca puro mel
E perde no final; antigas somas,
E quando nos teus braços tu me tomas
Vagando desde o inferno até o céu
O manto se anuncia e gera um véu
No qual com muita astúcia tu me domas.
Resisto o quanto posso, mas sei bem
O quanto deste encanto amor já tem
Também se transformando em pesadelo,
Da meta gloriosa; um mero traço
Do nada cada passo que refaço
Talvez fosse melhor sequer revê-los.
012
Não quero me ferir, mas também não
Preciso machucar quem tanto eu quis,
O sonho de outro sonho, um chamariz
Sonega novos tempos que o verão
E sei dos meus anseios desde então
Vagando sem sequer claro matiz,
O coração eterno chafariz
Gerando a cada instante ebulição.
Percorro os descaminhos mais freqüentes
Aonde muitas vezes tu te ausentes
E mesmo incendiando em mansa luz,
Por vezes desfazendo um velho nó,
Percorro o meu destino e sei que só
O passo no vazio se conduz.
13
Amor jamais deveras se permite
Além do que pudesse acreditar,
E quando busco ali qualquer lugar
O sonho se transforma sem limite,
Embora a cada dia necessite
De ter onde pudesse descansar
Depois de tantos rumos; trafegar
Ou mesmo noutro encanto eu acredite.
Resumos de meu canto em voz diversa
E assim a melodia se dispersa
Galgando os siderais espaços, mas
O todo se traçando em vago leito
Depois de tanta queda eu não aceito
Amor que não se faça em plena paz.
14
Fazer deste carinho uma bandeira
E crer noutro destino senão este,
O quanto da alegria prometeste
Bem mais do que deveras talvez queira
A vida noutra via, costumeira
E assim o pesadelo; não rompeste
E quando em novos dias irrompeste
Trouxeste turva luz, a derradeira.
E sobre as sombras tento outro cenário
Sabendo quanto o sonho é necessário,
Mas dele não consigo este provento,
Decerto alguma sorte eu pude após
O tanto que se fora mais atroz
O amor quando em mortalha o reinvento.
15
Sentir quanto te quero e poder ter
Nos olhos a certeza mais sutil
Do quanto tanto sonho resumiu
Traçando tão somente o amanhecer,
Mas como são tão árduos, do prazer,
Caminhos que inda tracem ar gentil
E neste delirar o que se viu
Pudesse dentro em mim, anoitecer,
Tecendo com palavras o que eu quero,
Sabendo do futuro mais severo
Assegurando a vida num alento
Ainda quando ancore muito aquém
Gerando a fantasia que convém
Enquanto esta ilusão; tento e alimento.
16
Não quero mais as velhas vãs batalhas
Aonde nós perdemos; direção
Os tempos com certeza mostrarão
Inúteis os delírios que ora espalhas
E quantas vezes teimas e atrapalhas
O dia onde anuncia algum verão
E muda num instante e neste vão
As horas são terríveis, ledas, falhas.
Espero alguma luz aonde nada
Traduz a mesma sorte desejada,
Porém outro desenho se vislumbra
Aonde quis a lua bela e cheia
Somente o que decerto nos rodeia
Recende ao quanto fomos em penumbra.
17
Amor quase platônico? Não quero,
Ausência se fazendo uma constante
E aonde quer que o passo se adiante
O risco de sofrer eu sei severo,
E tanto quanto posso após o mero
Delírio quando a voz fosse adiante
Não tento o mesmo trilho e doravante
Apenas outra senda em paz espero.
Reparo cada passo rumo ao vago
E deste desenhar o quanto trago
Presume esta fumaça e nada mais,
E quando quis um dia majestoso
A vida se transforma e caprichoso
Ao longe se anunciam temporais.
18
Não quero estar sozinho e mesmo assim
Prefiro a solidão à falsidade,
E quando este cenário se degrade
Traçando o desalento dentro em mim,
Mergulho noutro mar e busco enfim
O quanto inda puder, tranqüilidade
E desta forma crer felicidade
Tramando outra visão num novo fim.
E sei do mais atroz caminho e neste
Delírio aonde em dores me reveste
O pesadelo em tétrica emoção,
Depois de tantos dias de verão,
O inverno se aproxima e posso ver
Apenas o desenho em desprazer.
19
Ainda se celebra amor enquanto
A vida se permite noutra face
E quando o paraíso em glória trace
O dia mais tranqüilo até garanto,
E sei do desamor e nele, tanto
Percebo a vida em duro e vago impasse,
Ainda que ilusão tudo desgrace
É nela que inda resta algum encanto.
Estranhos dias dizem o abandono,
É quando a cada traço desabono
Futuro desdenhado desde quando
O tempo de sonhar não prenuncia
Beleza que eu buscava noutro dia
E a chuva dentro em mim já desabando.
20
Jamais maltrataria quem eu quis,
Porém já não suporto este maltrato
E neste caminhar novo eu resgato
O olhar que um dia fora mais feliz
A sorte na verdade contradiz
E traça noutro rumo algum regato
Regendo sobre nós mero contrato
Num ato torturante e mesmo gris.
Não posso e não cabia nova senda,
Mas quando a realidade se desvenda
Prenunciando a luz que inda virá
Eu quero e me percebo aonde um dia
O sol que sobre nós já brilharia
Renasça e trague a messe desde já.
021
Menina, deusa, mulher...
Diante de ti me dispo:
Roupa, armadura e preconceito;
Em nosso mundo mágico
Transito em todos os espaços
Livre_mente...
Sinto-me querida, acolhida,
Degustada, amada!
Permito-me tudo contigo!
REGINA COSTA
Deliciosamente entranho em ti
De corpo e alma seguindo noite afora
O anseio de te ter já me devora
Neste delírio intenso eu me perdi
E quando novos rumos; percebi
Suave maravilha eu vejo agora
E ali a cada curva se demora
Numa ânsia sem igual, também sorvi
Do etéreo desenhar em formas nuas,
Num átimo mergulho e tu flutuas
Alçamos apogeus, abismos, céus
E no êxtase supremo num espasmo,
Esta explosão fantástica de um orgasmo
Do Paraíso expõe supernos véus.
22
Só por essa noite deixarei de ser breu... Deixarei de ser silencio... Deixarei de ser lua para ser sol... Deixarei entrar todas as cores... Serei rosa... Serei violeta... Azul bebê... Azul cor de anil... Só por essa noite serei "tua" menina sapeca... Vem! Vamos fazer uma festa cheia de aquarela no ar!!! Canta e encanta-me!... Serei”tua” sereia... “Tua" Yara de todas as águas... No átimo desse instante deixarei de destilar meu veneno... Irei a tua boca beijar... O meu corpo e a minha alma te entregar... Só por esta deixarei meu inferno para habitar o teu paraíso!
SERPENTE ANGEL
Das brumas entre luas, os matizes
Misturam-se em delícias sobre-humanas
E as noites divinais, loucas, profanas,
Explodem em delírios mais felizes,
É quando com prazer também me dizes
Das dores e prazeres onde ufanas
Jorrando horas supremas quase insanas
Sem medos, sem juízo e sem deslizes
Alçamos o infinito num instante
E neste delirar já se garante
Satânica deidade feita em glória
Altares entre orgásticas visões
Em múltiplos anseios, mutações
A noite segue intensa e merencória.
23
Já nada poderia quando a sorte
Mudando a direção dos ventos, vi
Seguindo cada passo chego a ti
Destino que alucina e desconforte
Desvelo se anuncia e toma o norte
Prenunciando o quanto resumi
Em dores e delícias e sorvi
Além do que podia ou mais comporte,
Vagando insanamente entre infinitos
Em átimos sublimes e malditos
Numa ansiosa luta contra mim,
Espasmos e imersões em devaneios
E adentro o doce inferno e sigo os veios
Bebendo-o do princípio até o fim.
24
Neste éter dispersando a minha voz
Que audaciosamente um dia a quis
Singrando além do porto e quando o fiz
Atara com firmeza, frouxos nós,
E sei do quanto pude e logo após
A noite desenhando gozo e bis,
Seguindo este cenário claro e gris
Traçando neste anseio rumo e foz.
Assim ao perceber a magnitude
Do ocaso que deveras nos ilude
Gerando um raro e belo albor aonde
O tempo em desvairada face vejo
E nele doravante, noutro ensejo,
Ao máximo delírio corresponde.
25
Em simbiose; orgástica loucura
Gerada pelos ritos mais suaves
E quando este caminho não entraves
Encontro o que deveras se procura
Nesta ânsia delicada a minha cura
Alçando o paraíso em turvas aves
Ousando demoníacas as naves
Que possam permitir doce amargura
Num êxtase complexo e multicor
As tramas mais nefastas de um amor
Erguido sobre bases movediças
Do etéreo ao mais palpável num segundo
E quanto mais me elevo, eu me aprofundo
E dos opacos tons também te viças.
26
Orquídeas e bromélias, meu jardim
Numa diversa forma, cor e brilho
E quando ao vê-lo assim me maravilho
Traduz o que roubaste hoje de mim,
Eu sei o quanto início diz do fim
E tanto até bem mais isto palmilho
Sabendo já de cor o velho trilho
Marcado pela angústia e medo, enfim.
Mas pude imaginar ser mais diverso
Este divina mar aonde verso
Entrando sem defesas e é por isto
Que quando te senti em despedida
Levavas também mesmo a minha vida,
E ao fim dos meus jardins agora assisto.
27
Deste arvoredo aonde um dia eu vira
As formas mais sutis, rara beleza
E neste verdejar em sutileza
Também se prenuncia outra mentira,
Assim da mesma forma dá, retira
E não suporto mais ser tua presa,
Levado por terrível correnteza
Minha alma noutro espaço se prefira.
Mas sei quanto é difícil me esquecer
Desta alameda imensa onde o prazer
Viceja a cada instante, mas também
Transcende à própria vida e num instante
A queda deste arbol já se garante
E apenas falsas ramas; lá contém.
28
Sinérgica vontade em harmonia
Permite a consonante percepção
De dias mais sublimes que virão
Além do quanto esta alma fantasia
E assim ao perceber o quanto havia
Domando cada passo em direção
Deixando para trás a decepção
Enquanto um novo tempo surgiria,
Esboços prenunciam paraísos
E sigo os meus caminhos mais precisos
Em atos e palavras, docemente.
Percebo ser possível ter a paz
Que tanto desejei saber e traz
Uníssono delírio em corpo e mente.
29
A vida quando alcança o seu outono
Traduz a mansidão e a força ainda
E assim este caminho se deslinda
Com todo o privilégio em raro abono,
Na primavera o medo, o risco, o anseio
A necessária e louca proteção
Que encontra num outono em precisão
Marcante desenhar e nele veio,
Destarte em tons complexos e sutis
Na congruente estrada nossos dias,
Marcados por estranhas sintonias
Além do que pensara ou mesmo quis,
Porém da primavera eis o verão,
Do outono os invernais dias verão.
30
Uma esperança traz no mesmo olhar
A fúria de um anseio e a imprecisão
Traçando com diversa entonação
O quanto poderia e em qual lugar,
Aspiro muitas vezes ao luar
E sei do meu caminho em turbilhão
Vagando pelo espaço de um senão
Deixando para trás vago sonhar,
Necessitando sempre deste fato
Aonde o meu delírio enfim resgato
Retrato outros iguais perante a vida
Depois de tantos anos já perdidos
Outros momentos sendo pressentidos
No passo aonde o todo se decida.
031
De um laço primitivo onde se via
Atando corpos nus, delírio e febre
Raposa se imiscui e traz na lebre
O risco aonde bebe a fantasia
Ainda quando este elo, a vida quebre
Num êxtase supremo da alegria
O tanto quanto pode se irradia
Gerando este palácio de um casebre.
Restauro em pouco tempo o meu caminho
E sinto que deveras fui mesquinho
E aninho-me ao que possa ser diverso,
O amor quando se mostra puro e insano
Já não provoca a queda nem o dano,
Trafega sem limites no universo.
32
Ao quanto inda me cabe e isso eu constato
Num ato mais tranqüilo ou mesmo até
Traçando outro caminho e por quem é
O mundo quando em paz teimo e resgato,
Esqueço a mansidão deste regato
E sigo o meu destino risco e fé,
E sei do quanto pude sem galé
Vencendo a dor cruel, não me maltrato,
Esboço reações e sigo em frente
Ainda que diverso se apresente
Cenário aonde eu possa crer e ter
Além das tantas dores, turbulências
Os dias entre várias penitências,
Ao fundo em tom suave algum prazer.
33
No quanto inda pudesse; racional
Tentei equilibrar embora saiba
Fiel que neste caso já não caiba
E deixa o meu caminho desigual,
Expresso o coração aonde a libra
Esgota seu poder, raro equilíbrio
E mesmo que deveras; inda vibre-o
O sonho com o tempo se equilibra.
Depois de tantas dores e promessas
De dias mais suaves que não vi
O tanto quanto pude ver em ti
Deveras noutra história recomeças
Ousando o mesmo passo aonde um dia
Meu mundo sem a luz se perderia.
34
Buscando uma aliada aonde o nada
Desenha sua face mais concreta
O tanto que pudera e se completa
Numa ânsia já decerto extasiada.
Depois de certa luta, a madrugada
Expondo a lua nua me repleta
E quando me sentira qual poeta
A sorte noutra via, vi traçada.
Havia dentro em mim a fúria imensa
Da busca por talvez a recompensa
De um átimo qualquer em brilho e gozo,
Perfilo meus delírios neste quarto
E quando algum prazer tenho e reparto,
O tempo se transforma. Majestoso.
35
A solidão queimando viva agora
Transcende ao que pudesse imaginar
Impede qualquer sonho de tomar
Seara aonde a dor teima e apavora,
O quanto poderia e já demora
Raiando noutra senda este luar,
Vagando a noite imensa a te buscar
E quando te encontrasse, perdendo hora.
Assisto à derrocada, mas persisto
E quanta vez eu temo e sigo nisto
Galgando muito além do quanto eu posso,
O mundo em consonância dita as normas
E num segundo em luzes te transformas
Caminho deslumbrante teu e nosso.
36
Um passo que se dê na direção
Do sol quando vier em alvorada
Depois de tanto tempo desolada
A história se transforma em negação
Resumo o meu caminho e sei que não
Terei após a curva anunciada
Senão a mesma senda feita em nada,
Marcando cada passo, imprecisão.
Voláteis sentimentos, dor e medo
E quando muito além eu me concedo
Presumo outra esperança mais tranquila
Esta alma delicada e mesmo rude
Traçando muito além já desilude
Enquanto noutro espaço em vão desfila.
37
Bem mais do que deveras alguém que
A vida poderia me mostrar
Num ato tão diverso e desenhar
Além do que decerto já se vê
O quanto neste encanto a alma crê
E trama a cada instante céu e mar
E neste louco anseio trafegar
Gerando do jardim raro buquê.
O vinho que entorpece e inebria
A madrugada atroz dorida e fria
O tempo em mutações agora eu vejo
E sinto esta sublime fantasia
Traçando a sem igual dicotomia
Aonde alguma luz, mero lampejo.
38
O quanto se traduz em alegria
Os tempos que virão ou mesmo pude
Durante a minha calma juventude
Traçar com mais vigor, mesmo harmonia,
E vejo a maravilha onde se cria
As vias de outra senda e tanto ilude
Desenho que se mostra claro e rude
E nele se presume outra heresia.
Negar o meu anseio e crer num risco
E neste desejar o quanto arrisco
Tramita dentro em mim e me devora,
Depois da claridade a escuridão
As tempestades todas mostrarão
O quanto deste amor jamais tem hora.
39
Vivermos em conjunto, dor/prazer
Sentindo os vários cantos onde eu possa
Trazer além do medo angústia e fossa
Este apogeu que busco merecer
E tendo esta beleza de poder
Traçar o que em verdade já se endossa
Vagando pela noite onde se esboça
Um claro e mais suave amanhecer,
Depois de tantos dias solitários
Os sonhos são deveras necessários
E deles me alimento até quem sabe
Um dia mais tranqüilo ou mesmo tenso
O mundo que mostrara ser imenso
Somente num segundo já desabe.
40
Avanços entre quedas: eis a vida
E nela se percebe o quanto custa
O medo aonde a sorte nunca é justa
Traçando a mesma cor em despedida,
Gerenciando o mundo se decida
E mude a direção aonde ajusta
O passo com ternura e me robusta
Traslado após a queda na decida.
Esbarro nos meus ermos vez em quando,
E nisto novo tempo se formando
Na mutação eterna em poesia,
Gerar do nada o nada e mesmo assim
Moldar do meu início o meio e o fim,
Enquanto a vida nada me traria.
41
Eu quero estar ao teu lado
Do começo ao ledo fim
E por isso mesmo vim
Neste canto anunciado
Transmitir este recado
Que nascera dentro em mim
Com a fúria de que enfim
Vi meu rumo transformado.
Esquecendo a dor de outrora
O meu passo não demora
E descobre esta seara
Na fantástica beleza
Onde amor me fez a presa
E a delícia se escancara.
42
Tu jamais terás alguém
Que te queira tanto enquanto
Outra vida em desencanto
Muitas vezes sei e vem,
E se vejo ali além
Do que cobre o leve manto
O desejo num quebranto
Transformado e não convém
Ser assim diversamente
Do que sinto num repente
Noutro instante muda tudo
E deveras desta forma
Neste ser que se deforma,
Com certeza eu não me iludo.
43
Quando o verso vem à tona
Não consigo segurá-lo
Vou seguindo neste embalo
E a saudade me abandona,
Vicejando a alma adona
Do que pude e agora falo
Na verdade se me calo
O passado me detona,
Vou seguindo desta forma
Um ser que já se transforma
Noutro ser ao mesmo instante
Em que a amada poesia
De outra face se vestia
E eclodindo me agigante.
44
Sou crisálida e por isto
Cada vez que tento um passo
Noutro tom eu me desfaço
E deveras não assisto
E se teimo ou já desisto
Noutro rumo, meu espaço
Muitas vezes o cansaço
Num poema em paz despisto,
Sendo assim um ser mutável
Outro solo sendo arável
Mesmo quando em aridez,
Mergulhando no vazio
Vou procuro e desafio
O que em vida não se fez.
45
As pessoas onde habito
Muitas vezes conflitantes
São deveras por instantes
Tudo o que já necessito
E se tanto sigo aflito
Ou mudando em radiantes
Ilusões determinantes
Desta queda do infinito
Resultados inconstantes,
Versos dias lentos passos
Riscos ventos medos lassos
E pressinto novamente
O passado aonde um dia
Sem destino vestiria
O caminho que ora mente.
46
Nada mais do quanto pude
Ou se tive ou mesmo não
O meu rumo e precisão
Tantas vezes se amiúde
Vibro em tanta magnitude
E mergulho num porão
Sendo os dias que virão
O caminho onde se ilude,
Vestimentas mais diversas
Nos meus versos vejo imersas
E dispersas mal as vê
Desta forma incoerente
Outro tanto se pressente
Sem ninguém saber o que.
47
Levo a vida de tal forma
Que jamais pudesse ver
Outro rumo a se perder
Onde existe qualquer norma,
A minha alma não conforma
E transcende ao meu querer
Do passado passo a ser
O que o tempo já deforma,
Mas grisalhos são comuns
E deveras tendo alguns
Eu percebo o meu outono,
Resumindo assim meu tempo
Venço em paz o contratempo
Do futuro ora me adono.
48
Minha vida em seu contorno
Presumindo curva e reta
Paralela me completa
Onde o tempo ainda adorno
E se tento e neste forno
Nasce uma alma de poeta
Incerteza dita a meta
Num caminho audaz ou morno.
Restaurando o passo aonde
O meu canto corresponde
Ao que tanto desejei,
Variáveis presumidas
Traduzindo as cem mil vidas
Que decerto eu buscarei.
49
Na verdade o quanto esfumo
Traduzindo em letras, frases
Nem se trama aonde trazes
Nem deveras toma o sumo,
O meu canto já sem rumo
Procurando novas bases
Tão mutáveis minhas fases
Nem os erros eu assumo,
Mergulhar num paraíso
Num abismo em cataclismo
Onde muitas vezes cismo
Noutro passo mais conciso,
De repente sou diverso
Do que canto e tento e verso.
50
A poética incerteza
Um ditame sem igual
Onde pude bem ou mal
Ser deveras fera e presa
Estendendo sobre a mesa
Num banquete ritual
Sou decerto um comensal
Onde insiste a correnteza
Se eu prossigo ou fico além
O momento me provém
Do cenário aonde eu sinto
Esta onipotente glória
De ter lua em merencória
Caminhada em luz e instinto.
51
Versejar aonde um dia
Quis a messe mais sublime
E decerto se redime
O que tange à poesia
Na verdade não teria
Nem o fato aonde estime
O caminho onde se prime
Mesmo pela fantasia,
Este edênico vigor
Traduzido em dor e amor
Numa confraria imensa,
Desta forma vou liberto
Quando mesmo eu me deserto
Vejo em verso a recompensa.
52
Nada entendo do passado
Já não quero mais presente
O futuro se apresente
E deixando lado a lado
O caminho desejado
Com o que deveras tente
Sendo o tempo este inclemente
Tantas vezes remendado,
Esbarrando nos meus erros
Coletando os tais desterros
Entre acenos tão complexos
Se meus versos são assim
Traduzir e quando eu vim
São deveras meus reflexos.
53
Aprendendo em sortilégio
Caminhando em pedregulho
Quando agora aqui mergulho
Sinto o raro privilégio
De um delírio audaz e régio
Nele traço meu orgulho
E trazendo este marulho
Num instante quase egrégio.
Exalando algum aroma
No final minha alma toma
E penetra pelos dedos
Desnudando no teclado
Este ser mal desenhado
Que desnuda seus enredos.
54
Expressões de raiva e tédio
Onde pude ser feliz,
Se deveras já não quis
Não mais vejo outro remédio
Na saudade digo assédio
E o desejo em cicatriz
Perpetua o que não fiz.
Ou desaba inteiro o prédio,
Revigoro quando caio
E se tanto abril ou maio
Neste outono, minha vida
Preparando após o inverno
O caminho quando hiberno
Ou encontro outra saída.
55
Já não pude nem conter
O que agora nasce em mim
Sendo flor, pedra ou jardim,
Mas me dá muito prazer,
A vontade de nascer
Exalando o quanto enfim
Poderia ser assim
Tão diverso do meu ser.
Expressões em tantas luzes
E deveras reconduzes
Os meus passos vez em quando,
Mas errático caminho
Noutro rumo já me aninho,
Desta forma me moldando.
56
Nada mais quero da vida
Senão isto o que consigo
E se tanto teimo e brigo
Noutra face desmedida
Outra história sendo urdida,
No caminho algum perigo
Ou decerto o desabrigo,
Poesia? Uma saída.
Venço os meus demônios quando
A palavra transbordando
Invadindo assim a tela,
E o que sou ou mesmo pude
Na verdade manso e rude
Nem um pouco se revela.
57
Já não trago qualquer fonte
Nem pudera ser assim
Traduzir o que há em mim
É negar meu horizonte,
E se tanto ainda aponte
Outro rumo vejo enfim
A mortalha dita o fim
No luar amor desponte,
Traduzindo em nuvem sol
A visão deste arrebol
E decerto sendo cética
Minha vida não se faz
Noutro passo em mansa paz,
Na revolta em voz poética.
58
Expressões mais variadas
E se às vezes conflitantes
No final nada garantes
Ou traduzes noutros nadas
As figuras desenhadas
Desejadas por instantes
Nestas luas radiantes
Ou transcendem alvoradas,
Sendo assim meu recomeço
Já não sabe este endereço
Onde existo por talvez
Crer no quanto sou disperso
E se ali ainda verso
Outra face agora vês.
59
Nada traz quem perde o senso
E vagando plenitudes
Onde tanto tu te iludes
O caminho eu não convenço
Bebo mais do que inda penso
E na certa não transmudes
O que tangem juventudes
Mortas desde último censo,
Variando deste jeito
O delírio aonde aceito
O meu canto em discordância
Gera assim a turbulência
E transforma esta inocência
Noutra luz em militância.
60
Agilmente busco a sorte
E deveras já tropeço
Quando tento e recomeço
Nem um laço me suporte,
Vejo assim sem mais o norte
Onde tudo que confesso
Produzindo o quanto peço
Ou impeço novo corte.
A retalhação de fato
Traduzindo onde resgato
Após queda o meu destino,
E se tanto sou assim
A metade morta em mim
Tem um tom esmeraldino.
61
Marca a vida após a queda
O silêncio aonde eu vejo
Desenhado outro desejo
Nisto tudo a sorte enreda
E produz nova moeda
Traduzindo um murmurejo
Deste sonho em azulejo
E deveras tanto seda.
Resumindo a minha sina
Procurando o que fascina
Encontrando algum pedaço
Já perdido deste todo
Imergindo em medo e lodo
Outro rumo agora eu traço.
62
Sabe bem como se faz
Quem deseja novo dia
E traduz melancolia
Noutra face feita em paz,
Mas do quanto sou tenaz
E produzo a fantasia
Onde nada mais teria
Nem sequer claro ou mordaz,
Demarcando cada cerca
Antes mesmo que eu me perca
Encontrando esta vereda
E se nela me desenho
O meu mundo em tal empenho
Noutro esgar não se conceda.
63
Levo a vida de tal forma
Que inda possa até sonhar
E se tanto mergulhar
Noutro lago a alma conforma
Na verdade nada informa
Quem procura céu e mar
E sem ter nada a traçar
Já não tem dos sonhos norma,
Vicejar em primavera
Ou morrer em duro inverno
O caminho aonde externo
O que a vida destempera
Ao gerar novo momento
Outro fato agora eu tento.
64
Reparando agora bem
O que nada pude outrora
No caminho me apavora
E traduz o quanto tem
Alma sórdida e ninguém
Onde o sonho desancora
Permitindo sem demora
O que sei; já nem mais vem.
Seduzido pelo verso
Vou no quanto me disperso
E procuro alguma sorte
Percebendo após a chuva
Este enxame de saúva
Quando o tempo me comporte.
65
Lábios quentes, beijo ardente
De quem tanto, esta morena,
Na verdade me serena
E traduz outro envolvente
No final o quanto sente
Sendo a vida sempre plena
Quase nunca mais acena
Mesmo sendo imprevidente,
Resumindo a minha estada
Neste pouco ou quase nada
Desenhado com terror,
Vasculhando esta gaveta
Ao final já me arremeta
O delírio aonde o pôr.
66
Quando insone eu percebi
Os olhares mais atentos
Entregando aos pensamentos
Medo, sorte ou frenesi
Encontrei e estava ali
Meio exposta entre tais ventos
Quem domara os sentimentos
E decerto eu já perdi,
Navegando em madrugada
Bebo a sorte desfraldada
Por quem tanto não me quis,
No final resumo o fato
No delírio onde eu resgato
Mesmo sendo em cicatriz.
67
Aprendendo a jogar quando
O terror tomara a cena
E se a sorte não serena
O delírio me guiando
Vou aos poucos deformando
Onde não se vê amena
A verdade que envenena
Gera novo fato infando.
Revestindo o meu anseio
Perpetuo o quanto veio
E jamais pudera ver
Desfilando em ócio e tédio
Já não tendo outro remédio
Busco em vão qualquer prazer.
68
Caminhos se convergindo
Num só cais, mesmo estuário
Quando o sonho é necessário
O percebo agora findo
E se tanto ainda brindo
O meu rumo este corsário
Outro canto temerário
No final teimo e deslindo.
Ressaltando a queda em falso
Preparando o cadafalso
Esgueirando por neons,
Pirilampos estelares
Onde tanto desejares
Dias calmos, mansos, bons.
69
Sendo essencialmente assim
Resumindo esta vontade
No caminho aonde agrade
O delírio feito enfim
Decifrando este estopim
Explodindo a realidade
Bebo à farta esta saudade
Que inda trago viva em mim,
A mortalha se tecendo
Onde o tempo fora horrendo
Geratriz de um novo enfado
A certeza se permite
Sem saber qualquer limite
Dando assim o seu recado.
70
Esboçar um novo dia
Onde amorfo fora outrora
Este canto já se arvora
E procura a fantasia
Sendo além do quanto havia
Ou deveras desancora
Quando a sorte me apavora
A pressinto e sei sombria,
Versejando pouco a pouco
No final já me treslouco
E anuncio a despedida
De quem tanto quis o brilho
Noutro rumo em paz palmilho
Quando vejo assim a vida.
71
Já nada mais consigo enquanto eu tento
Vencer os meus terrores mais constantes
E quantas vezes vejo ou me garantes
Mantendo o meu olhar decerto atento
E solto esta palavra ao pleno vento
Tentando combater os meus gigantes
Embora em tais moinhos não te espantes,
Liberto trago sempre o pensamento
E sei quanto é custoso para mim,
Esconde-me neste ermo camarim
Presumo alguma voz suave quando
O tempo noutro tanto se transforma
E o verso sem ter regra, lei ou norma,
Aos poucos vai também se transmudando.
72
Dos bastidores vejo este espetáculo,
A vida e de soslaio tento um bote
E quantas vezes; teimo e isto denote
Além da profusão de algum tentáculo,
O sonho sendo agora um sustentáculo
De quem a cada instante inda devote
Amor aonde nada mais se note
Prenuncia do non sense deste oráculo
Que eu alimento em mim num ser minúsculo
E quando se entornando no crepúsculo
Minha alma em alamedas e esperanças
Expressa essa emoção de tentar ser
O quanto se demore a perceber,
Pois nestes vários seres, as mudanças.
73
Agônico, o meu verso tenta ainda
Vencer os sortilégios costumeiros
E arcando com o tempo em verdadeiros
Delírios onde a sorte vã me brinda
Com toda a solidão, já quase infinda
Matando na aridez destes canteiros
Os olhos dos espúrios, derradeiros,
Caminhos com os quais a alma deslinda.
Soturnos passos; ouço dentro em mim,
E tento me entranhar e noutro fim
Noturno caminheiro da esperança
Apenas entremeio versos, medos
E sei dos meus demônios, mesmo ledos
E a eles o meu canto agora avança.
74
Não posso e nem pretendo acreditar
Numa sincera luz que não mais vi,
E tanto me perdera em frenesi
Morrendo sempre aos poucos, devagar.
Pudesse ainda além anunciar
O todo que decerto em vão sorvi,
Mas sei quanto a mortalha vive aqui
E desta tempestade a se aflorar.
As tétricas palavras da verdade
Enquanto num pavor imenso brade
A minha consciência enfim desnuda
E sinto a minha voz perdendo o nexo
Desta alma tão bisonha algum reflexo
Dessa dor lancinante, funda. Aguda...
75
Perdendo esta noção de ser ou não,
Vasculho o que inda possa ter e sinto
O furioso golpe deste instinto
Matando tolamente uma razão,
E sei do quanto posso em direção
Oposta ao caminhar que em sonhos tinto
E quando me apresento assim me pinto
E sei quantos tormentos se verão.
Esboço de uma lúdica beleza
Aonde se faz lúbrica surpresa
A presa dita vida atocaiando
O risco de sonhar e mesmo crer
Na maravilha feita a se perder
No tempo sempre espúrio, e até nefando.
76
À terra onde nasci retorno agora
E vejo estas mudanças que adentrei
Ao perceber diversa a mesma grei
E nela esta memória se demora.
O perceber senil se revigora,
Mas viço este menino onde busquei
A força para o verso e me tornei
Depois do quanto a vida me apavora.
Esgares diferentes, versos frágeis
E os pés correndo além, se foram ágeis
Esboçam inda velhas reações
E vendo cada canto onde se esconde
O tempo e nem sei mais sequer onde
Pudesse acumular tantos senões.
77
À chama deste raio deslumbrante
Encontro o teu retrato aonde um dia
Pudesse penetrar com sincronia
E o nada noutro passo se garante,
Restauro o que julgara mais brilhante
E bebo com ternura a poesia
Somente quando o tempo me diria
Do verso mais suave doravante.
Esgarces de uma vida entre fúrias
E vejo os desvarios nas lamúrias
Por onde me expressara e tão somente.
Mas quando vejo o brilho deste olhar,
Percebo que inda posso navegar
Embora seja frágil e até descrente.
78
À feição da vida me entregando
Sem medos nem talvez a melhor sorte,
E quando mais o tempo me conforte
Outro senão se torna e desde quando.
Respaldos; procurara e mesmo em bando
Navalhas em palavras geram corte
E deste se adivinha a própria morte
Num áspero delírio me inundando.
Ludibriar o tempo? Quem me dera.
Eu sei o quanto posso e ainda espera
Fortuna em passo turvo deste pária
Presumo nova queda a cada passo,
E quando o meu retrato eu teimo e faço;
Visão que se apresenta é temerária.
79
Junto estou ao nascer da lua enquanto
O tempo se nublando traça além
Realidade turva e ali se vêm
As variantes torpes do quebranto
E quando me aproximo e me adianto
Olhando de soslaio e com desdém,
No fundo tanto medo me convém
E sei me preservando de outro pranto.
Nesta álgida loucura dita vida
O quanto se percebe da saída
Num erro costumeiro e tão banal,
Dicotomias várias deste ser
A todo instante o vejo se perder
E esboço tolamente outro degrau.
80
No túmulo dos sonhos, meu passado,
Vacância toma a vida plenamente
E quanto mais o tempo se apresente
Vazio presumindo o meu legado,
O risco de; quem sabe, no tornado
Entrar e me perder solenemente
Enquanto imaginara mais potente
O canto noutro tom, emaciado.
Farrapos dentro da alma deste a quem
A vida na verdade não convém
E deixa cada teia mal formada
Nas tramas onde; errático eu caminho
E neste emaranhado ora me aninho
Ao traduzir somente o etéreo e o nada.
81
Crepuscular delírio em tez brumosa
Arcando com os sonhos que inda levo
E embora tão diverso; busco e cevo
A noite que pudesse caprichosa
Ao mesmo tempo enquanto esta alma goza
Do mais superno encanto se me atrevo
A acreditar num dia onde o longevo
Caminho se transforme e o tempo o glosa
Esbarro dentro até da realidade
E bebo cada tom enquanto invade
O pensamento as cores mais sutis
E sinto a divergência de um matiz
Aonde procurei felicidade
E o céu que eu alimento expressa gris.
82
Exalo alguma luz ou nada até,
Mas sigo ou mesmo tento alguma prece
E quando esta vontade noutra tece
Espúrio caminhar em torpe fé,
Aonde imaginara e sei quem é
Que o tempo ao próprio tempo já se esquece
Regendo este senão quer e oferece
Desejo feito em dor, medo e galé.
Vestindo a sorte imensa de poder
Depois de tanto enfim sobreviver
Cerzindo outro caminho em verso vário,
Ainda guardo além do que conheço
O ser onde se fez tal adereço
Guardado a sete chaves num armário.
83
O meu caminho se faz
Dia a dia, tempo após
Queda em nova imensa foz
E deveras deixo atrás
O desejo em guerra e paz
Outro tanto rege em nós
O que vejo e calo a voz
Onde o pouco satisfaz.
Nem telúrico ou poético
Muito menos sendo herético
Eu permito uma saída
Ao que pode até tecer
Com as rendas do prazer,
Mas se até já Deus duvida?
84
Vai silente a companheira
Entre as luas pratas céus
E diversos fogaréus
Espalhando em ribanceira
Quer deveras ou não queira
Visto os meus turvos véus
E meus dias são incréus
Desfilando em vã ladeira,
Regimentos? Obedeço,
Muito aquém deste adereço
Feito em luz, felicidade
Este arisco pensamento
Na verdade desalento
Quando o sol adentra e invade.
85
Espalhando aos quatro ventos
Navegando os sete mares
Entre estrelas e luares
Entre luzes, sofrimentos;
Os meus olhos vão atentos
Onde tentas procurares
Mergulhando em torpes ares
Caminhando pensamentos,
Singro os céus e bebo abismo
E se tento ainda e cismo
Nos beirais tão mais diversos,
Aprofundo o tom profano
E deveras se eu me dano,
Também danem-se meus versos.
86
Expressões que me disseste
Onde quis tranqüilo senso
E perdendo me convenço
Do meu canto mais agreste,
E se beijo o que reveste
Ilusão e nisto eu penso
Do delírio quando intenso
Nada mais tu me trouxeste,
Largo os sonhos na viola
E se tanto a vida esfola
Após queda em tal barranco
No meu cântico confuso
Entremeio e até abuso
De não ser sincero e franco.
87
Lucidez? Não quero mais,
Já me basta o dia a dia
E se esta alma fantasia
Deixo à solta os vendavais,
Bebo tento e se demais
Entre tantos me inebria
O sabor da alegoria
Vários sonhos, rituais.
Versejando aonde posso
Num momento sou destroço
Noutro inteiro além do tanto
Que pudesse se inda houvesse
No final qualquer benesse
Onde espero o desencanto.
88
Não me basto, sou assim
E por ser ou não mutante
Cada passo se adiante
Ou retorne de onde eu vim,
Resguardado em camarim
Sendo ali a todo instante
O que penso e doravante
Traduzira em estopim,
Extirpando a poesia
Tudo em mim já morreria
Sem sentido e sem razão
Quando sei do meu destino
E se tanto me alucino
Vida mesmo diz que não.
89
Aprender a navegar
Sem saber sequer do leme
O que tanto não se teme
Impedindo céu e mar,
Vasculhando devagar
Sem ter nada aonde algeme
O delírio não se extreme
Nem permita o desenhar
De outra sorte que não esta
Mesmo quando o tempo gesta
Ao parir dita o contrário
Presumindo entôo meu verso
Onde mesmo me disperso
Muito além do necessário.
90
Aprazível senda eu vejo
Muito além do quanto pude
Por ser mesmo franco e rude
Outro rumo em novo ensejo
Ao tramar o meu verdejo
Mudo sempre de atitude
E por ser tão amiúde
Não presumo benfazejo.
Esperar o que bem sei
Na verdade não terei
Nem sequer mereceria,
Sendo alheio ao canto enquanto
Descaído eu me levanto
Bebo à solta a fantasia.
91
Já não pude discernir
Dos luzeiros; o que possa
Ao guiar em plena fossa
Traduzir outro porvir,
Bebo até fartar, cair
Da palavra onde se endossa
O delírio e se destroça
Um cenário a dividir.
Tempo escorre entre os meus dedos
E se busco além dos ledos
Nada encontro e volto assim
Ao princípio em discordância
Do que morro intolerância:
Satânico querubim.
92
Vasta solidão; enfrento
E percebo o quanto expresso
Num momento mesmo avesso
Ao que possa contra o vento,
Esbarrar no sentimento
Eu deveras te confesso
Que presume um retrocesso
Onde quis este incremento.
Olho bem e nada vejo
E percebo o cada ensejo
Mesma cena repetida
No replay da minha vida
Resumindo em falsas luzes,
Nela tudo; reproduzes.
93
Acrescento o tempo aonde
O meu canto se fez vão
No final a solução
À verdade corresponde
Já perdi da vida o bonde
E também não mais virão
No futuro em construção
A minha alma não responde.
Vou pros quintos dos infernos
E procuro dias ternos
Sem lanterna ou quem a guia
Expressando o quanto rude
A saudade não me ilude,
Lacrimeja dia a dia.
94
Na contemporaneidade
Dos intensos internautas
Velhos versos matam pautas
E traduzem a inverdade.
Nada colho e mesmo brade
Que jamais sentirão faltas
Do que tanto não ressaltas
Na certeza onde degrade
Versejar em forma rústica
Melhorar assim a acústica
Nada traz de diferente,
O cenário se repete
Serpentinas e confete?
Outra face se apresente...
95
Esmerando com meu sonho
Um artigo lapidar,
A vontade de luar
Se em verdade nada ponho,
O que risco é tão bisonho
Neste arisco caminhar
Entre pedras a vagar
Onde o passo eu decomponho.
Sou apenas o que resta
Desta via mais funesta
Expressando a impaciência
De quem tanto quis e; nada,
Vasculhando inteira a estrada
Do seu fim, tenho ciência.
96
Prazos dados para a vida
E senões onde buscava
A certeza em que se lava
Outra sorte distraída,
A palavra sendo urdida
Na verdade é minha escrava,
Ou em mim retira a trava
E transcende à despedida.
Resumindo o quanto quero
Deste mundo mais severo,
Quando enfim sempre gargalho,
O meu passo se faz tétrico,
Mas por vezes quase elétrico
Novel sol beijando o orvalho.
97
Entre pontos e asteriscos
Resumindo em numerais
Os meus dias funerais
Não agüentam mais ariscos,
E se bebo destes riscos
Entre falsos rituais
Quero às vezes e bem mais
Do que trazes em petiscos,
Escutando a voz do vento
Vou abrindo o pensamento
Ao que tanto inda virá,
Mas me vejo tão velhusco,
Ouso até enquanto busco
Mergulhar aqui ou lá.
98
Neste arquétipo de vida
Entre brumas e sorrisos
Vou somando os prejuízos
E não vejo outra saída,
Labiríntica avenida
Entre passos imprecisos
Vou perdendo logo os sisos
Terminando esta partida.
Um apátrida poeta
Numa tétrica palavra
Vai tentando enquanto lavra
A colheita mais completa,
No final não resta nada
Numa terra mal arada.
99
Os cigarros e as bebidas
Alamedas entre fúrias
E se bebo das lamúrias
Encontrando as presumidas
Esperanças repartidas
Não permitem mais injúrias
E se as tento nas incúrias
Embrenhara as sete vidas.
Nada havia e nada além
Do que tanto me convém
Deve ter qualquer razão
Sendo assim desde o começo
No final sempre mereço
Os tormentos que virão.
100
Aprendendo a dizer sim
Quando a vida diz que não
Entoar outra canção
Renovando dentro em mim,
Ascendendo ao estopim
E matando outro verão
Nesta imensa cerração
Pela qual agora eu vim,
Nada mais ora constato
E se teimo em qualquer ato
Não desato o meu futuro,
Mas, quiçá seja diverso
Do presente agora imerso
Neste encanto turvo e escuro.
MARCOS LOURES FILHO