Sonetos : 

SONETOS FEITOS EM 06/08/2010

 
1
Poder acreditar no ser humano
Um verme com um cérebro venal,
E ter no meu olhar outro final
Aonde superasse o desengano,
Do quanto tento ser e já me dano
Ou mesmo outro momento ainda igual
A caricata face do animal
Que um dia se imagina soberano.
Poder adivinhar alguma luz
Se em plena treva gera e reproduz
A mesma imagem turva e degradante,
Ainda de uma idéia em vã deidade
A turba em total iniqüidade,
Pretende ser deveras semelhante.
2
A sórdida figura em desencanto
Voraz e em tempestades mais atroz
Refaz a velha fera viva em nós
E a cada novo dia mais me espanto
E quando inda queria noutro manto
Vestir e mesmo atar; quem sabe, nós
Espelho também vago e turvo algoz
E neste caminhar nada garanto.
Apenas na tocaia me espreitando
Um dia tão venal porquanto infando
Reflete esta existência temerária,
Retalhos em frangalhos, mero crime
E ainda crê que um ser maior redime
A corja noutra vida imaginária.
3
Aonde se espalhasse alguma luz
Esta horda, horrenda súcia se aproveita
E quando se percebe satisfeita
Outra canalha gera e assim conduz
À podre fantasia em dor e pus
Somente desta forma se deleita
E quando sob a terra enfim se deita
Reveste de vergonha a frágil cruz.
Não tento desmembrar-me desta imunda
E tétrica figura vagabunda
Vestida de um reinado que, imoral
Pretende que deveras siga após
A morte e se tornando mais atroz
Ainda se pretende um imortal.
4
Da fome e da miséria esta rapina
Perfaz o seu caminho e quer bem mais,
Em dias tão vulgares e banais
O passo rumo ao lodo determina,
E quando num espelho se examina
Pensando em seus reflexos imorais
Atrocidade em dias tão normais
A cada novo sonho, outra chacina.
E vendo esta assassina criatura
Aonde no vazio se assegura
E gera outro vazio e não sacia,
A morte que talvez a redimisse
Demonstra tão igual, mera tolice
E nisto se alimenta a hipocrisia.
5
A violência estúpida reinando
Acima da esperança e da justiça
Ainda noutro tempo se cobiça
O pútrido canalha mais nefando
E vejo esta figura desde quando
A fúria desenhada mais mortiça
Criando a base espúria e movediça
Por todo este planeta se espalhando.
Aonde quis a paz e a lealdade
Olhar desta horda suja ora degrade
Traçando no vazio o seu futuro,
A fome por poder e por dinheiro
Matando a cada dia outro Cordeiro
Gerando outro holocausto turvo, escuro.
6
Falar de amor aonde eu vejo a fome?
Difícil, na verdade é impossível
Não vou ficar calado vendo o incrível
Cenário aonde a vida se consome,
E quando nada mais deveras dome
O ser mais desolado e sei temível
No olhar tão turbulento e corruptível
Uma esperança morre e aos poucos some.
Castigos? Não se vendo, por enquanto,
Apenas a muralha em dor e pranto
Enquanto outra metade se enriquece,
Assim a luz que um dia ainda engana
Traduz a imagem pútrida e profana
Depois se redimindo numa prece?
7
Já não suporto mais a hipocrisia
Nem mesmo esta falseta aonde a vida
Expressa a torpe sorte presumida
Aonde qualquer sonho existiria,
E vendo assim o podre dia a dia,
A messe sem destino ou destruída,
Queimando em tom sombrio a torpe lida
E nisto alguma luz não mais veria.
Esquecem da promessa de justiça
E fazem na miséria torpe liça
Gerando a cada instante um novo e igual
E neste turbilhão em ritual
A podre face exposta da canalha
A todo este planeta em vão se espalha.
8
Qual fora uma moderna e turva peste
A fome desvairada por poder
Gerada pela angústia de um prazer
Aonde tão somente o vão se empreste,
Ainda que em verdade mais agreste
O sonho se pudesse em luz se ter,
Vasculho a cada instante e posso ver
Apenas o que em nada se reveste,
Olhando neste espelho busco a paz
E o que vejo decerto um Satanás
Vestido com a pele de cordeiro,
E bebo desta angústia doravante
Enquanto novo sonho se garante
Na busca insaciável por dinheiro.
9
Acordo e quando vejo ainda existe
O mesmo amanhecer nublado aonde
Uma esperança vã não corresponde
Ao dedo da canalha sempre em riste,
E se meu coração quer e persiste
Apenas o vazio me responde
E nada do que tento ora se esconde
No quanto do meu ser inda resiste,
Explicitando assim o meu futuro
Decerto algum caminho mais escuro
E nele tão somente outra manhã
Idêntica a que tanto ora conheço
Não muda nem sequer este adereço
Gestado por figura tão malsã.
10
Há quanto se podia ver no olhar
De quem comanda a corja sobre a Terra
E a cada novo instante noutra guerra
A fome não consegue saciar.
Numa explosão tenaz, dura e vulgar
Aonde sua face se descerra
A torpe criatura não encerra
E volta ao mesmo fúnebre lugar.
Explode a cada passo noutro tanto
E gera tão somente o desencanto
Ao enlutar inteira a raça humana,
A tétrica rapina se acostuma
E quando percebendo resta alguma
Entre esta corja inteira que se dana.
11
Por vezes quis a fuga quando havia
A tempestade imensa dentro em mim,
E vendo este retrato amargo ao fim,
Tentara presumir a fantasia
E nela até quem sabe um novo dia
Ou mesmo algo melhor, por isso enfim
Abandonando aos poucos o chupim
Embarco vez em quando em utopia
E tento algum sorriso mesmo quando
Percebo a humanidade se tornando
A cada novo tempo mais banal,
Ensimesmando invés de alçar meu brado,
Imaginando um mundo renovado,
Porém quando o reparo. É tudo igual...
12
O amor que nos pudesse redimir
Jogado pelos cantos sem proveito,
No quanto cada sonho eu quero e aceito
Tentando alguma luz no meu porvir,
Imaginando o tempo que há de vir
Enquanto em ilusões enfim me deito
Ao menos nos meus sonhos, satisfeito
Não tendo o que talvez nem mais pedir.
Mas sei da nossa luta interminável
Acreditar num mundo mais arável
E deixar qualquer luz para meus filhos,
Embora a criatura seja vil,
Utópico delírio onde se viu
O inepto desenhar de frágeis trilhos.
13
Não mais acreditara no possível
Renascimento após a morte em ronda
Ainda que à verdade corresponda
O sonho deve ser sempre plausível,
Cantar e imaginar e; mesmo incrível,
Que esta alma no final já não se esconda
E não se deixe atrás de qualquer onda,
Mantendo-se mais lúcida e flexível.
E tendo este frescor primaveril
De um tempo aonde o novo se reveste
Ousando num momento mesmo agreste
Gerando outro caminho mais gentil,
Pudesse ser assim, talvez um dia,
Minha alma mesmo em fim renovaria
14
Já não mais comportando a decepção
Somente e pelo menos vendo a luz,
E nela nova face reproduz
Quem sabe em mais liberta geração.
Os filhos do passado já virão
O quanto a liberdade em paz seduz,
Retirando o cordeiro desta cruz,
Deixando no passado esta Paixão.
E crendo em renováveis caminhadas
Em noites muitas vezes estreladas,
Mas mesmo nas brumosas tendo a fé
De um dia bem melhor do que este agora
Aonde a fera atroz tudo devora
Gerando esta farsante e vil galé.
15
Não quero ser amargo tão somente
O amor sendo possível, pelo menos
Transcende aos dias rudes e os venenos
Transformem-se na luz, doce semente.
O quanto deste sonho se apresente
E torne os meus caminhos mais amenos,
Olhando com cuidado estes pequenos
Nos quais vejo bem mais do que o presente.
Uma esperança é sempre necessária
Por mais que a realidade é temerária
Na solidariedade um facho além,
Que possa nos guiar em plena treva
E o coração liberto sempre leva
Ao caminheiro o quanto o amor contém.
16
Gerar sem utopias, o otimismo
Tarefa mesmo dura ou improvável
Num solo quase nunca mais arável
À beira de um temido cataclismo,
E quando na verdade ainda cismo
Tentando enfim tocar no imaginável
Desejo um dia novo e renovável
Deixando para trás a queda e o abismo.
Seria muito bom me libertar
E poder ter à frente céu e mar
Num horizonte em paz para os que vêm,
Embora seja uma árdua caminhada
Ao perfazer assim suave estrada
Diversa da que eu vejo em vão desdém.
17
É preciso sonhar, disto eu bem sei,
Por mais que seja insana a humanidade,
Romper o amanhecer em liberdade
Ousando acreditar na nova grei,
E assim com meus temores romperei
Vencendo cada angústia que degrade
Deixando no passado algema e grade
Num tempo que decerto imaginei,
Aonde a liberdade reine nobre
E o manto mais escuso que a recobre
Puído pelas ânsias da razão
Não seja mais sequer um empecilho
E quando este caminho em luz eu trilho
Momentos mais tranqüilos se verão.
18
Afasto o meu cantar desta lamúria
Inútil se não traz um senso prático,
E não mais ficarei um tolo espástico
Olhando sem sentido tal penúria,
O quanto do meu canto se faz fúria
E teima neste tom quase temático,
Prevendo um tempo atroz e meso drástico
Gerado pela angústia, pela incúria.
Suavizar neste outonal caminho
E crer talvez num dia onde o mesquinho
Não reproduza em tanta intensidade
No olhar suavizado pela idade
A rosa sobrepondo-se ao espinho
Quem sabe uma ternura, ao fim, me invade?
19
Liberto pensamento das correntes
Espúrias destas vagas leis humanas
E quando a cada dia desenganas
A dor sem mais remédio tanto aumentes,
Meus olhos não serão tão inocentes
Buscando novas formas soberanas,
Mas tento ver sutis, menos profanas
As horas mais cruéis e impertinentes
Quem sabe noutro tempo possa até
Acreditar na pura e mansa fé
Sem ser tão denegrida por igrejas,
E ver o meu caminho sem algemas,
E mesmo quando enfrento tais dilemas
Que as horas sejam lúcidas, sobejas.
20
Meu verso muitas vezes radical,
Trazendo o furioso tom aonde
Apenas o vazio me responde
E nada do que eu fale trague o sal
Destemperada sorte em tom venal,
O mundo na verdade corresponde
Ao quanto de delírios não esconde
Qual fosse algum cenário magistral.
Mas posso e devo mesmo acreditar
Quem sabe noutro tempo este lugar
Presuma o nascimento de uma história
Diversa desta agora em tom sombrio,
É mais do que deveras desafio
O se vitalizar de tal escória.
21
Tantas vezes eu buscara
Mesmo em trevas luminária
E sabia a necessária
Luz sobeja nobre e rara,
Quando a noite se fez clara
Esperança em solidária
Caminhada imaginária
Novo sol, pois escancara,
Mesmo sendo mero sonho
Onde o canto em paz eu ponho
Procurando a liberdade,
Neste instante um vento leve
Até quando em volta neve
Traz vital tranqüilidade.
22
Emergindo de uma vida
Entre tantos medos, creio
Num momento sem receio
Finalmente uma saída,
Sendo aos poucos, pois urdida
Num delírio quase anseio,
Onde a luz; tento e rodeio
Noutra face presumida.
Expressando em mansa voz
O que fora mais atroz
Renovando o canto em mim,
Dos engodos e mentiras,
Num olvido, quando atiras
Refloresce algum jardim.
23
O meu sonho suaviza
Na medida em que envelheço,
E bem sei, não envileço
Presumindo a mansa brisa,
O meu canto se matiza
Muito além de um adereço
Permitindo um recomeço
Onde a voz se faz precisa.
Após quedas entre tantas
E se quando tu levantas
Pensas nesta nova luz,
O cenário apodrecido
Noutro encanto resumido
Ao liberto te conduz.
24
Venço com a mansidão
As tormentas que carrego,
Mesmo às vezes quase cego
Vejo além uma amplidão
E pressinto que virão
Novos tempos e navego
Na esperança onde me entrego
Num amor feito em perdão,
E liberto das algemas,
Na verdade, nada temas,
Pois somente ela liberta,
E o caminho mais suave,
Até quando a vida entrave
Trazendo a palavra certa.
25
Onde muitas vezes vi
O reflexo de outros dias
Entre medos e agonias
Encontrando agora aqui
O que tanto pressenti
E deveras não verias,
Mas se tens as fantasias
Todo o mundo cabe em ti.
Versejar e crer na sorte
E deveras nos conforte
Num alento mesmo quando
O cenário se entorpece
Muito além de qualquer prece
Farto amor nos transformando.
26
Da sabedoria humana
Muita coisa poderia
Transformar em novo o dia
Onde a sorte já se dana,
A palavra soberana
De quem tanto sonharia,
Transcendendo uma utopia
Superando a voz profana,
Este amor quando nos une
Permitindo um passo imune
Aos dissídios mais atrozes
Libertário este andarilho
Coração, quando palmilho
Bebo amor em overdoses.
27
Quando pude acreditar
Noutra face mais gentil,
O que tanto já se viu
Presumindo outro lugar
Expressando a divagar
A festança tão sutil,
E se o mundo se faz vil
Noutro rumo trafegar?
Já não posso mais conter
Tanta dor e desprazer
E procuro uma esperança
Última talvez, na vida,
Mas se a vejo sendo urdida
O meu passo ainda avança.
28
É sempre preciso crer
Mesmo quando nada existe
E se o canto se faz triste
Busca além algum poder
E vislumbra deste ser
Mesmo atroz que inda persiste
Um caminho onde se aviste
Algum novo amanhecer.
Esperar? Não, meu amigo,
O melhor está contigo
Quando existe a liberdade,
Dos desejos mais banais,
À procura de outro cais
Onde a tenra tarde invade.
29
Nas folhagens deste outono
Neste vento quase frio,
Outro passo desafio
E dos sonhos eu me abono,
Mesmo quando imerso em sono
Num passado escrito ao fio
Da navalha em desvario
Na esperança enfim me adono
E presumo; um inocente,
Um cenário onde se tente
Pelo menos ver a paz,
Liberdade a mola mestra
Quando a vida é mais canhestra
Uma luz ao fim se faz.
30
Não mais me flagelarei
Vendo além esta figura,
Qual atroz caricatura
Dominando regra e lei,
Se nos sonhos mergulhei,
Vejo a sorte e me ternura
O caminho em tal doçura
Que deveras desejei,
Mesmo em tanta pedra e espinho,
Num desenho tão mesquinho,
Inda vejo uma esperança,
Iludido? Sei que sim,
Mas persisto até o fim
Quando o sonho além se lança.
31
Se ensimesmo este desenho
Onde a vida se apresenta,
Muitas vezes da tormenta
Calmaria eu não desdenho
E se tanto tenho empenho
De lutar enquanto tenta
Outra sorte me apascenta
Mesmo quando atroz, ferrenho,
Eu navego em oceanos
Entre medos desenganos
Seus terrores e procelas,
Mas o sonho não mais cessa
E se tenho tanta pressa
É que nele te revelas.
32
Caminhando contra a fúria
Destes dias tão banais,
Procurando um mero cais,
Onde vejo tanta injúria,
Não me perco em vã lamúria
Nem desejos tão banais
Entre medos desiguais
Tanta dor se eu trago; cure-a.
Dessedento esta vontade
Nela o tempo se degrade
E presuma novo dia,
Venço os medos e procuro
Mesmo em céu tão turvo e escuro
O que me iluminaria.
33
Versos; faço como quem
Numa espreita tenta a sorte
Onde quer que ainda aporte
O passado sempre vem,
Do futuro, mesmo aquém
Delimito qualquer norte
E se a vida traz suporte
Nada mesmo me detém.
Mas sei bem do quanto quero
E num tempo tão severo
Inda aguardo a remissão.
Um lunático? Talvez,
Quando nisto tudo crês
Mansos tempos se virão.
34
No outono de minha vida
Depois destes vendavais
Na procura de algo mais
Que traduza uma saída,
A verdade construída
Entre dias desiguais
Em tormentas e fatais
Ilusões sem ver saída.
Neste imenso labirinto
Vez por outra ainda sinto
O temor que em dor invade,
Mas encontro uma resposta
Quando a sorte a vejo exposta
Sob o sol da liberdade.
35
Nos anseios: sofrimento
Tantos erros cometidos,
Os caminhos presumidos
Quando em paz os apresento
Entregando ao forte vento
Os meus ermos e sentidos,
Deixo aquém nos vãos olvidos
O meu velho sentimento,
Atormentado canto
Onde o nada enfim garanto
Tão somente a iniqüidade,
Mas ao ver neste horizonte
Nova luz que ainda aponte
No raiar da liberdade.
36
Já não posso mais se a vida
Foi roubando cada verso
E no fundo sigo imerso
Na seara em vão perdida,
A palavra presumida
Num sentindo mais diverso
Onde tento e desconverso
Noutra senda construída,
Das rapinas costumeiras
Quer ainda ou mais não queiras
O cenário se desola,
Mas se atento busco a fonte
Nela o mundo em paz apronte
Da esperança a firme mola.
37
Esgarçando o quanto quis
Num momento mais dorido,
O meu canto presumido
Traz um dia mais feliz,
E se tanto bem me fiz
Ao libertar o sentido
Noutro tempo; eu não duvido
Superando a cicatriz,
Vela aberta e vento forte
Num cenário que comporte
Outro dia mais tranqüilo,
Vasculhando o quanto resta
A esperança adentra a fresta
E em seus trilhos eu desfilo.
38
Jorra em fonte cristalina
O meu sonho mesmo até
Quando perco a minha fé
E ao vazio determina
O meu passo não domina
O delírio. Sigo em pé
E talvez por ser quem é
A esperança me fascina.
Tantas vezes noutros dias
Entre medos me trarias
Olhos tristes e vazios,
Ao sentir na liberdade
O que o sonho trace e brade
Venço a dor e os desvarios.
39
Muitas vezes vira o fim
Numa tétrica loucura
E se tanto se perdura
O caminho vivo em mim,
Desejando de onde vim
O que em paz a alma procura
Mesmo imersa em amargura
Traz a mansidão enfim.
Resoluto caminhante
Num delírio deslumbrante
Quero crer felicidade,
Mas sei bem do seu trajeto
E por isso gero o feto
Desta etérea liberdade.
40
Tantas vezes percebi
Nos detalhes mais sutis
Muito além do que já fiz
Ou tentara desde aqui,
Cada sonho onde sorvi
Ou buscara ser feliz,
Tolamente este aprendiz
Nos meus erros me perdi.
Quero crer no libertário
Caminhar mais solidário
Entre as pedras costumeiras,
Inda mesmo quando vês
A total insensatez
E da cena tu te esgueiras.
41
Quando o tempo se anuncia
Em brumosas faces, vejo
Muito aquém do que inda almejo
O final de mais um dia,
Esperança se faria
Neste sonho mais andejo
E se tanto não prevejo
No final uma alegria,
O me sonho teima enquanto
Noutro rumo vão me espanto
E percebo este ilusório
Canto em plena liberdade
E o que ainda tente e brade
Traça um rumo merencório.
42
Aprender com cada queda
E tentar um novo dia
Onde nada mais seria
Senão erro que se enreda,
O delírio tanto seda
Quanto traz nova agonia
Nisto tudo eu merecia
O reverso da moeda,
Mas o peito não sossega
Mesmo quando uma alma cega
Esperando alguma luz,
O meu verso não se cala
Nem a voz se faz vassala
Onde em liberdade a pus.
43
Eu sei que tu jamais retornarás,
Mas mesmo assim alento o velho sonho
E quantas vezes; teimo e me proponho
Tentando pelo menos ver a paz,
Do quanto poderia e fui capaz
O risco se apresenta e mais tristonho
O verso aonde o mundo que componho
Jamais ao sonhador, pois satisfaz,
E sei das discordâncias de quem tenta
Vencer em paz diversa e vã tormenta
Singrando este oceano das paixões,
Embora no horizonte veja a luz
Ao quanto a cada instante decompus
O mundo aonde o nada ainda expões.
44
O medo se aproxima, traz seu cheiro
Remonta aos ledos de um passado
Aonde percorrera desolado
Tentando cultivar mero canteiro,
E as flores; noutro engodo costumeiro
Num ermo tantas vezes desenhado
Traduz o meu cantar e inebriado
Esqueço que já fora jardineiro.
Depois de certo tempo nada resta
E vejo alguma messe em frágil fresta
E resolutamente busco ainda
Um dia mais suave e nada tendo,
Apenas me apoiando num remendo
Que ao longe, no horizonte se deslinda.
45
197
Na porta dos palácios me permito
Imaginar cenário mais gentil,
Mas quando a fome espalha e resumiu
O tom mais doloroso e quase aflito,
Aos poucos outro canto; em mim reflito
E sorvo este cenário amargo e vil,
E quando se pensara mais sutil
O sonho quando às vezes necessito.
Reparo cada marca mais profunda
E sinto a solidão enquanto afunda
Na lama o pensamento de justiça,
No quanto acreditei em novo dia
E ver em cada tempo outra heresia
De nada adiantou o sonho e a liça.
46
Viver esta esperança sem juízo
Depois de tantos erros cometidos,
Tocando com furor os meus sentidos
Acumulando apenas prejuízo
Aonde imaginara algum sorriso
Os dias com certeza, combalidos
E os medos novamente pressentidos
No errático delírio eu me matizo.
No vicejar da mansa primavera
Beleza sem igual ainda espera
Quem tanto acreditou no seu futuro,
Mas quando outono chega e vê a face
E nela o desolado mundo trace
Apenas um cenário tosco e escuro.
47
Eu sei que terminou o nosso caso
E desta forma a vida continua,
Eterna companheira, a velha lua
Já sabe do sol-pôr em ledo ocaso,
Mas mesmo assim do sonho ainda aprazo
E sito o meu delírio aonde atua
A sorte desejosa e volto à rua
Num tempo mais tranqüilo, mero acaso.
Disfarço cada engano deste jeito
E quando solitário enfim me deito
Olhando para o céu bebendo estrelas
E tento num instante até diverso
Vagando sem sentido no universo
Apenas num momento em paz, contê-las.
48
Não pude receber o teu recado
E nem queria mesmo até ouvi-lo,
A vida num momento mais tranqüilo
Enquanto junto a ti tanto me enfado,
Arisco pensamento num traçado
Suave poderia e já desfilo,
Raiando a cada instante em novo estilo
O tempo se aproxima do meu lado.
Restauro os meus anseios quando creio
Num dia em plenitude e estando cheio
Da luz que ora se emana em manso olhar.
Distante dos teus passos, liberdade
Rompendo esta ilusória e tola grade,
Eu posso finalmente em paz, voar.
49
O jeito foi fingir que não te quero
Embora este caminho; desilude
Preserva o que inda resta em plenitude
Vencendo um temporal atroz, severo.
E quando em novo dia me tempero
Ainda que se tente e tudo mude
Se resolutamente esta atitude
Permite um desenhar bem mais sincero,
Esgoto os meus cenários nesta fonte
E quando novamente além aponte
Um sol imaginário eu possa ver
Depois da tempestade esta bonança
E mesmo se ao vazio a vida lança
Melhor que não ter o amanhecer.
50
Meu pranto percorrendo todo o rosto
Já não reconhecendo a face escusa
De quem a cada passo se entrecruza
Deixando este cenário em dor exposto,
O quanto se aproxima em contragosto
O mundo aonde a voz se faz confusa
Errático cometa; nega a musa
Num gélido e sofrido vago agosto;
Não mais suportaria a decepção,
Mas quando a realidade dita o não
Expresso em calmaria assustadora,
Quem tanto no passado ainda fora
Imagem de um momento feito em luz
Já não será na vida, imensa cruz.
51
Vasculho cada ponto de partida,
E tento descobrir uma chegada
Aonde noutro tempo; desenhada
A messe me traria nova vida,
E quando se percebe a resumida
História muitas vezes sonegada,
Depois de certo tempo resta o nada,
A imagem totalmente destruída.
Refaço-me porquanto mimetizo
O tempo sem saber se inda é preciso
Ou mesmo discordante em sua essência,
E quando se percebe a lucidez
Ao menos no futuro ainda vês
Um ar quase talvez de paz, clemência.
52
Encontro solução; mas não vigora
A força; aonde um dia eu pude ver
O tempo num suave amanhecer
Sem medo sem terror e sem demora.
Um dia após a queda me apavora,
Mas nele posso até reconhecer
O tanto que inda resta por viver
Ou mesmo outro caminho já se aflora,
Restauro a minha força e com certeza
Sabendo desta imensa fortaleza
Gestada a cada instante pelas dores,
A furiosa face em tempestade
Por mais que no começo me degrade
Promete com clareza outros albores.
53
Enluto um coração tão sem coragem
Nas tramas tão cruéis de um grande amor,
E seja da maneira como for
O dia prometendo uma ancoragem,
Expressa então a lúdica paisagem
E nela nova fonte a recompor
Gerando em seu poder transformador
O quanto necessito em estalagem.
Resumo em novos versos o meu sonho
E quando ao mais sublime amor; proponho
Deixando para trás as fantasias
Amadureço em mim a forte idéia
De ter em minhas mãos não mais a déia
Que tantas vezes, tola, tu trazias.
54
A mão que acaricia também bate
E marca tatuando o quanto insiste
E mostra a solidão aonde existe
A mera sensação de vago abate,
O quanto do meu mundo se arrebate
E leve com certeza o sonho em riste,
Ainda quando fora atroz e triste
A sorte traz em si novo arremate.
Se desgraçadamente um dia a quis,
O sonho, como um ledo chamariz
Transcende à realidade e nega o olhar
E reparando bem, nada valia
Sequer a pequenez em fantasia
Pudesse em tal cenário te espelhar.
55
Nos bailes que freqüentas e não danço
Percebo a solidão em carne viva,
Do quanto esta esperança já se priva
O dia não seria tão mais manso,
Mas quando no futuro ora me lanço
E a sorte noutra luz em paz me criva
Já não apenas sonhe e sobreviva
Traçando para mim doce remanso.
Esparso os meus demônios e os afasto,
O olhar outrora duro e até nefasto
Em pacificadora tez se vê
E a vida que não fora tão tranquila,
Somente por poder; enfim, ouvi-la
Já passa a ter decerto algum por que.
56
Os olhos espremidos de tristeza
Já não comportariam esperança,
Mas quando no futuro o sonho avança
Melhor deixar levar em correnteza.
O quanto desta vida diz surpresa
E o tanto que deveras sempre cansa
A luta em desespero e a fina lança
Da qual o sentimento se faz presa.
Restando dentro em mim outro momento
E nele com ternura me alimento
Bebendo desta luz que um dia vem,
Depois da solidão tão necessária
Tocado por imensa luminária
Encontrarei decerto um novo alguém.
57
Deste-me solidão, não a mereço
Cansado de tentar ao menos isto
Um novo caminhar e nele insisto
Trazendo mais que simples adereço,
E quando se precede este tropeço
No aviso de um final aonde assisto
A morte mais banal, mas não desisto
E ao novo caminhar; pois me endereço.
Servindo como fosse experiência
O amor quando se tem dele ciência
Presume liberdade e não algema,
Mas quando em tom venal se faz o clima
Matando o que seria enfim estima,
A vida superando este dilema.
58
Tropeço cada passo, sem perdão
E bebo desta sorte aonde um dia
Apenas outra face mostraria
O quanto busco em calma provisão,
Cansado de lutar e sempre em vão,
Depois de certo tempo a melodia
Em novo tom decerto me traria
Invés de sinfonia, esta canção
Aonde se aproxima do infinito
E quanto mais audaz se faz o grito
A fúria se vencendo em temperança,
Assim após tormentas, vejo o cais
E nele se apresenta muito mais
Tranquila o que inda fosse esta esperança.
59
Avanço teus castelos, fantasia,
E sei do cavaleiro que inda esperas,
Mas vejo tão distantes primaveras
Aonde cada sonho se erigia
Vencer esta loucura eu poderia
Deixando para trás as frias feras
E quando noutro rumo destemperas,
Não mais partilho a dor, nem agonia
Apenas liberdade dita a regra
E nisto o meu caminho agora integra
Totalidade feita em rara luz,
Deveras muitas vezes eu sofri,
Mas quando vejo o lume imenso aqui,
Ao sonho cada passo me conduz.
60
Amores que não pude constatar
Nem mesmo em tais promessas onde tanto
Pudesse e na verdade não garanto
Sequer o menor raio de um luar
Perdido sem deveras suportar
O duro e mais temido desencanto
E quando novo tempo eu adianto
Tentando tão somente caminhar
Por entre os espinheiros, pedras e ermos
A vida modifica velhos termos
E traça a redenção onde pudesse
Traçar outro desejo e nele a paz
Aonde cada passo satisfaz
Num rito feito além de mera prece.
61
Sonho que nos alimenta e inebria,
Vontade de estar contigo de verdade,
Sentir a pele, ouvir insanidades,
Fazer todas as bobagens,
Cobrir-te de carinhos,
De doces palavras,
Entranhar-te meu perfume,
Junto e misturado viajarmos
Num gozo extasiante e demorado;
Regina
Sentir tua presença e te sorver
Com calma e com vagar em noite insana,
Torrente se tornando soberana
Inunda-nos decerto em tal prazer
Bebendo cada gota e perceber
Nesta ânsia tanto sacra quão profana
Numa explosão sem par o mundo explana
Num átimo o mergulho eu posso ver
E sinto transbordando num rocio
O gozo que recebo e propicio
Na louca maravilha de nós dois,
E após romper em nós esta alvorada
Loucura tão querida e deseja
Repete-se e repete-se... Depois.
62
Meu olhar mergulhado no seu
Suscita a memória da minha pele
Desejos realizados
Marcada_mente
De prazer e delírios de paixão...
REGINA COSTA
As peles se entranhando num só tom
Matizes unos tocam os anseios
E sinto na beleza de teus seios
Um toque delicado, raro e bom,
O amor ao transgredir regra qualquer
Já se permite além do quanto pude,
E vivo a cada instante a plenitude
Menina, moça deusa, uma mulher.
Embalos entre colchas e lençóis
E nesta maravilha tu constróis
Anelos que jamais separarão,
E quando na nudez de um corpo belo
Erijo com vontade o meu castelo,
Matizes tão suaves de um tesão.
63
Balanças tuas mãos num até breve,
E sinto se aflorando uma saudade
Que aos poucos, sem respostas já me invade
Por onde a correnteza/amor me leve,
O sonho se transforma e já se atreve
Bebendo com fartura à saciedade,
Mas quando se percebe e; na verdade
Apenas o vazio aonde neve
Traduz o quanto quis e nunca pude,
O risco se transforma em atitude,
E após a tempestade nada vejo,
Somente esta distante fantasia
E nela novo tempo não teria
Sequer a menor sombra do que almejo.
64
Capítulos refeitos desta história
Aonde o grande sonho dera em nada,
Adentro a noite outrora desejada
E a vejo muito aquém, e merencória
A lua que desnuda e traz a glória
E nela nova sorte desenhada,
Vagando pela intensa e rara estrada
O amor se distancia da memória.
E tanto pude até mesmo prever
A imagem mais sobeja de um prazer
E todo este cenário se abandona,
Os ermos de uma dura solidão
Hermético caminho dita ao não,
E todo o meu passado vem à tona.
65
Digeres cada beijo que te dei,
E traças do passado outro momento
E nele ainda tão somente ainda tento
Desvendar meu caminho nesta grei,
Apenas derramando o quanto eu sei
Reinando sobre nós o alheamento
E neste desenhar tanto incremento
A furiosa face e me mostrei.
Alhures vejo a lua sem destino
E quando ainda sonho, determino
Estrada bem diversa da que outrora
Pudesse traduzir qualquer promessa,
E o mundo noutra face recomeça
Enquanto a poesia nos devora.
66
Exprimes sem piedade os seus sorrisos
Irônicos e mostras tua face
Aonde quer que o canto ainda grasse
Os dias não serão mais tão precisos,
As sortes moldam erros e; concisos
Os passos para além do quanto trace
Gestando esta loucura que já desgrace
Gerando à vida enormes prejuízos.
Desfilas com soberba em altivez
E quando mal percebes; tu não vês
A mesquinhez exposta nos teus passos
Meus dias entre tantos que eu pudera
Já não suportam mais a tola espera
E os tempos se mostraram vagos; lassos.
67
Farpas esparramadas pelo chão
Escombros do que fora um sentimento
E quando ao menos busco estar atento
Os cortes e as feridas se farão,
E nesta mais dispersa direção
Ainda alguma paz, procuro e invento,
E sei do meu cruel pressentimento
Tramando a cada sonho um novo não.
Esboço outra atitude, mas não creio
No canto em tom diverso, em devaneio
Gestando dentro em nós a hipocrisia
No vértice dos sonhos te percebo,
E quando desta dor ainda bebo,
Concebo o que jamais receberia.
68
Guardaste minhas dores num recanto
Jogado num armário, atroz olvido
E quando um novo tempo é presumido
Apenas no final, o desencanto
E quantas vezes; tolo, inda garanto
Um passo além do quanto é permitido
A quem ao mergulhar sem mais sentido
Envolve-se em terror, temor e pranto.
Num pendular momento a vida traça
Figura tão diversa e da desgraça
Persigo alguma messe, mas não vem.
E tento novamente outro caminho,
Porém ao me sentir tolo e mesquinho,
Do fim mais desejado sigo aquém.
69
Hoje descobri quanto me negavas
Do mais sutil momento aonde um dia
Pudesse imaginar e até teria
Além destes vulcões; intensas lavas,
E quando as sortes ditas; são escravas
Olhando para além da fantasia
Percebo o teu sorriso de ironia
E sei que nada mais tu escutavas.
Servindo tão somente de alimária
A sorte muitas vezes temerária
Pressente a queda e dita este tropeço,
Eu sei que a solidão se faz cruel,
Mas quando caminhando em tosco léu
Cenário mais imundo, eu desconheço.
70
Idolatrei teus passos. Infeliz
Momento aonde quis ter esta sorte
E quando mais a vida se comporte
Do jeito e da maneira que se quis,
O passo mais audaz, quiçá feliz
Traduz o quanto a vida nos transporte
Levando para além de qualquer norte
Onipotência em força geratriz.
Respaldos encontrando aonde um dia
O sonho noutro tanto se imergia
Festivamente sigo rumo a ti,
E mesmo quando a tarde é tão brumosa
A noite em plena festa se antegoza
Chegando ao quanto a Deus, sempre pedi.
71
Joguei as esperanças neste lixo
Aonde tu mostraste o quanto vales,
Depois de conhecer montanhas, vales
O olhar cruel e tosco, um mero bicho
E quando procurara um ninho, um nicho
Ainda que deveras tanto fales
A vida se traçando em fartos males
Enquanto se buscara algum capricho
E sinto ser alheias ao querer
De quem somente um dia quis saber
Em qual caminho houvera de seguir,
Expressas solidão a cada olhar
E nisto tantas vezes quis vagar
Sem ter sequer noção do que há de vir.
72
Lograste tantas falas quando eu pude
Apenas procurar algum alento
Jogado contra a fúria deste vento
O quanto se mostrara e já desnude
Uma alma na verdade obesa e rude
Traçando o mais venal de um sentimento
E quando alguma luz, ao longe eu tento
Vislumbro a dura treva em plenitude,
Mesquinha enquanto mesmo viperina
Aonde o teu caminho determina
Não vejo mais sequer a menor chance
De alguma serventia enquanto traças
Em ermos tão distantes, ledas praças
E nelas nem a voz em paz alcance.
73
Mentiste sobre cada novo fato,
E assim ao te mostrares plenamente
Apenas o vazio se apresente
Aonde o velho sonho eu não resgato
E quando se transforma em mais ingrato
Caminho dominando passo e mente
O todo se anuncia e qual demente
Outro delírio em ti; bebo e retrato,
Vencer os meus tormentos e tentar
Depois de certo tempo outro lugar
Imerso em luz tranquila e plena paz,
Remendos do passado traduzindo
Algum lugar aonde o quis infindo
E o sonho se desdenha mais voraz.
74
Na mão direita levas a certeza
De um tempo aonde eu possa acreditar
Na paz que com certeza há de tomar
Com toda maravilha a correnteza.
A vida transcorrendo sem surpresa
Dourando cada sonho num luar
Disperso em maravilhas a tomar
O quanto pude crer em tal clareza.
Depois de poucos dias nada resta
Sequer a menor luz e a mera fresta
Agigantando em corte esta tortura
Transcende à própria vida e sem disfarce
Ainda que deveras busque e esgarce
Ao fim de cada verso me amargura.
75
Ostentas teu sorriso de vingança
Trazendo com furor o dia em trevas
E quando noutro canto tu me levas
Traçando a mera luz de uma esperança
E nada após a queda já se alcança
Sequer as horas claras. Ao fim nevas
E quanto mais além dispersas cevas
Tramando a cada dor, destemperança.
Resumo o meu delírio em voz audaz
E sei quando o caminho se desfaz
Tragando cada dia em tom escuso,
E sinto esta mortalha se tecendo
Gerando a cada passo outro remendo
E no final o medo eu entrecruzo.
76
Percebo que não queres o meu braço
E nada posso além da minha queda
Resisto enquanto o tempo já se enreda
Tramando em solidão diverso traço,
E o medo de sonhar porquanto o espaço
Pagando com terror, mesma moeda
A vida na incerteza agora veda
Caminho aonde um dia me fiz lasso
E sei do quanto posso a cada instante
Ainda numa vida degradante
Eu tento algum momento em calma e paz
Mas sinto que me perco deste rumo
Errático cometa ora me assumo
Enquanto a vida eu sei, nada me traz.
77
Quebraste; em desencanto, cada sonho
E neste delirar aonde um dia
Pudesse transformar em alegria
Apenas um caminho mais bisonho,
E quando novo tempo eu me proponho
E nisto a sorte mesmo poderia
Vencer o que se faz com ironia
Eu tenho outro momento até risonho.
Vasculho cada parte de minha alma
E nada do que encontro ainda acalma
Quem tanto quis apenas ser feliz,
Herético desenho se desvenda
E quantas vezes; vejo mera lenda
Amor quando a verdade o contradiz.
78
Resgato meu amor? Nem mais o quero,
Apenas prosseguir a minha vida
E quando nova luz se faz urdida,
Eu tento outro caminho menos fero
E sei do desamor duro e severo
Aonde numa messe presumida
A sorte não se vê mais decidida
No quanto deste encanto degenero,
Bastando para mim tranqüilidade,
Ainda que meu peito teime e brade
A consciência nega algum futuro
E sei do quanto posso ou mesmo pude
Porquanto já perdida a juventude
A paz no meu outono, eu asseguro.
79
Saudade foi herança deste encanto
Já morto e sem sequer saber por que
Das flores, nem talvez algum buquê
No fim desta colheita inda garanto,
O medo de seguir, velho quebranto
Apenas o vazio inda se vê
E nada do que um dia onde não crê
Uma alma em tenebroso e rude manto.
Vestindo esta ilusão, e apenas isto,
Alheio ao que vier, ora desisto
E sigo em paz o rumo e apenas vi
Depois da tempestade várias nuvens
Mostrando com certeza ao quanto vens
Reflexo do grisalho vivo em ti.
80
Tarântula devora o pobre macho
E assim a natureza se repete
No olhar aonde amor ora promete
E nada se percebe aonde eu acho
Nem mesmo qualquer luz ou mero facho
Apenas esta dor que me acomete
Gerando numa adaga ou canivete
Ardor aonde em treva eu sobretaxo.
Mergulho num vazio e sinto após
A queda outro momento mais atroz
Gerando nova dor aonde um dia
Pudesse acreditar em paz e vejo
O dia tortuoso e num lampejo
Apenas o não ser nos tomaria.
81
Tanto tempo se percebe
Noutro tanto mais diverso
E se um dia eu fui disperso
Hoje adentro em velha sebe
O caminho que concebe
Na expressão de cada verso
Gera em si novo universo
Fantasia ali se embebe,
Vago à noite na procura
Por quem tanto me amargura,
Mas ternuras; também tem
E nesta dicotomia
Nova luz ora irradia
Deixa atrás qualquer desdém.
82
Nada posso contra a sorte
Nem lutar neste abandono,
E deveras se me adono
De algum sonho que conforte
Na verdade já reporte
Ao caminho aonde eu clono
Outra luz e semi-tono
Quando a vida não suporte.
Resumindo a minha vida
Em começo e despedia,
Sempre assim, já não me engano,
No final de cada caso
Vejo apenas este ocaso
Acumulo mais um dano.
83
Já não pude acreditar
Neste olhar mais traiçoeiro
De quem tanto vai ligeiro
Rumo ao turvo e escuso mar
Se eu navego ou naufragar
O meu canto é mensageiro
Do que outrora fora inteiro
Hoje nada em seu lugar.
Amar como? Nada resta
Nem sequer a menor festa,
Abandono assim o barco
Com meus erros, eu sempre arco,
Mas de um sentimento parco
Não se vê sequer a fresta.
84
Novamente vou sozinho
Sem ter porto ou ancoragem
E seguindo esta viagem
Solo duro e mais daninho,
Percorrendo o vão caminho
Sempre ao lado da paisagem
Onde traço esta miragem
Num insano tom mesquinho,
Resumindo o meu delírio
Sedução dita o martírio
E não resta nem sequer
A lembrança mais feliz
Desdizendo o que se quis,
Nada além; se inda vier.
85
Ouço a voz de quem um dia
Já se fora para além,
E o vazio me contém
Onde tanto poderia,
E se é sonho ou fantasia
O delírio deste alguém
Prosseguindo sempre aquém
Transbordando em agonia,
Eu mergulho no passado
Resgatando este recado
De quem foi e não mais volta,
Mas deveras segue viva
E por certo jamais priva
Meu sonhar de sua escolta.
86
Num momento mais audaz
O meu canto sem temores
Onde quer e mesmo fores
O teu sonho já me traz,
Mensageiro mais audaz
Entre tantos dissabores
Ao colher em ti as flores
O mundo satisfaz
E um canteiro, o roseiral
Num instante triunfal
Delirante traz o aroma
De quem tanto amor cevara
E tomando esta seara
Meu caminho em paz já doma.
87
Dissonâncias; ouço quando
Tento ainda estar mais perto
E se tanto ainda alerto
Coração em contrabando
Deste tempo se formando
Bem diverso do deserto
E o cenário onde desperto
Num momento me inundando.
Sendo assim a vida trama
Muito mais que mera chama,
Fogaréu em brilho raro,
E este encanto dito amor
Com carinho e aonde for
Quero tanto e te declaro.
88
Nada mais se pode ver
No horizonte em bruma e medo
Onde o canto; em paz concedo
Percebendo este prazer,
Tanta luz posso colher
E se traço novo enredo
Deixo além qualquer segredo
E percebo o bem querer,
Neste encanto sem igual,
O meu mundo, menos mal,
Traduzindo calmaria,
E se quero outra fornalha
Onde o incêndio já se espalha
Nosso amor se entornaria.
89
Restaurando a minha sorte
Onde nada mais receio
E se canto em devaneio
Procurando um manso norte,
Meu caminho se comporte
Como tanto um dia veio
Num sorriso nunca alheio
Do desejo que conforte.
Bebo em goles magistrais
E deveras quero mais
Deste amor em aguardente,
Inebrio-me deveras
E renasço em primaveras
Cada passo que apresente.
90
Ao sentir tua presença
Depois deste duro inverno,
No caminho aonde interno
O cenário me convença
Que esta vida já compensa
Apesar do torpe inferno
Tendo após; um dia terno
Sem a névoa espessa e densa.
Resultando disto tudo
Este encanto onde me iludo
E aprofundo a minha voz,
Do delírio desejado
Bebo assim cada recado
E concebo o mundo em nós.
91
Mais um pouco e poderia
Encontrar felicidade
Mesmo quando desagrade
Ou decerto nega o dia
Gera nova fantasia
E se tudo em paz invade
Bebo assim a tempestade
E a transformo em calmaria,
O meu verso segue em ti
O que agora eu descobri
Ser maior do que pensara,
Ao sentir tanta esperança
O meu passo a ti avança
E penetra esta seara.
92
Ouço a voz de quem pensara
Que já fora e não voltava
Entretanto a fúria e a lava
Novamente em vida amara,
O meu passo se escancara
Mesmo em onda enorme e brava
Outro dia se entranhava
Quando a queda desampara,
Caminheiro sem destino
Onde posso determino
Qualquer dia mais diverso
E se tive a melhor sorte
Outro amor já me suporte
Ilumina aonde eu verso.
93
Resgatando os dias meus
Entre tantos que julguei
Em diversa e dura lei
Semeada num adeus.
Resumira em turvos breus
O que em paz imaginei,
E se um dia mergulhei
Atingira os apogeus.
Hoje nada mais se vendo
Tão somente o mesmo horrendo
Espetáculo final.
Ato atroz aonde eu vejo
Desenhado o meu desejo,
Como fosse última nau.
94
Aprendendo com a vida
Ladeira abaixo anuncia
O terror de um duro dia
Sem saber sequer saída,
A verdade destruída
Não presume esta utopia
Nem tampouco poderia
Onde a sorte nos agrida
A palavra faz sentido
Quando amor é presumido
Muito além de uma promessa
E deveras desta forma
Cada passo nos informa
Ao que tanto se endereça.
95
Mais um gole de café
E outro verso eu tento agora
Onde o tempo desarvora
E já perco rumo e fé
Não presumo e sei que a pé
O desenho se demora
E o meu canto se apavora
Não se vendo nem sopé
Desta imensa cordilheira
E se um dia ainda queira
Desvendar alguma luz
É preciso caminhar
E deveras alcançar
Muito além do que o conduz.
96
Já não posso mais falar
De quem tantas vezes quis,
E se trago a cicatriz
Sonegando a luz solar,
O que pude imaginar
Traça além do quanto eu fiz,
Uma espúria meretriz
Alma morta em lupanar,
Revestindo o meu caminho
Onde tanto mais daninho
Percebera qualquer passo,
Onde às vezes dessedento
O desejo em vão tormento
Ocupando todo o espaço.
97
Neste astral imenso eu vejo
Retratado o teu olhar
E pudesse caminhar
Muito além do passo andejo
E se tanto inda desejo
Neste mundo navegar
Procurando algum lugar
Onde em farto gozo almejo.
O meu canto se anuncia
E vagando noite e dia
Alça além deste infinito,
Sideral beleza aonde
A viagem corresponde
Ao que agora eu necessito.
98
Navegando pelos mares
Onde a voz se fez presente
O caminho que apresente
Traça em mim os teus altares,
E se agora tu notares
O desejo onde alimente
O cenário num repente
Trama aonde navegares.
Restitui o paraíso
E tomando o meu juízo
Nada deixa para além,
E semeias a bonança
E deveras sempre alcança
O que tanto me convém.
99
Na narcísica beleza
De quem pensa ser maior
O caminho eu sei de cor
E traçando sobre a mesa
Preparando, a Natureza
Entre sol, medo e suor
Outro rumo bem pior
Sem sequer ter sutileza,
Presa agora do nefasto
Do teu rumo se me afasto
Eu preservo em paz o meu.
Caminhar em liberdade
Quando a sorte já degrade
O que pensas: apogeu,
100
Apenas poderia acreditar
No quanto quis a vida e nada veio,
Olhando para os lados, de permeio
Percebo a insolência a se mostrar
E quantas vezes; tendo outro lugar,
O teu olhar disperso e quase alheio
Traduz o que pudesse sem receio
Um dia noutro tanto se enfronhar.
Vasculho cada parte onde deixaste
E vejo tão somente este contraste
Gerado pelo ser noutra vontade,
Calando a minha voz, eu te percebo
E sinto esta emoção feito um placebo
Que ao próprio desalento se degrade.
MARCOS LOURES FILHO
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
Data
Leituras
650
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.