O POETA:
Ó cavaleiro que se aproxima!
De onde vens?!...O que trazes no alforje?!
Trazes por acaso a vindima,
Que tanto tu ceifaste pelo norte?!
Ó, macilento cavaleiro!
Apeia teu cavalo!...Por que ficas reservado?!
Aproxima-te, execrável companheiro!
Senta aqui a meu lado!
Diga-me!...O que nesses campos ceifaste!
Conta-me!...Quero saber!
O que por estes lugares encontraste?!
Acaso foi esta sombra, o sofrer?!
E ficas calado!...E não falas, meu amigo?!
És bem assim, temeroso com as palavras?!
Fala-me!...O que tens comigo?!
Vês?!...Tudo me é na vida é sem aldravas!
Não precisas ter receio!
Diz-me!...O que te diz meu peito ofegante?!
O que te diz meu rosto cheio
Da dor que me perpassa o semblante?!
E me olhas todo enfastiado...
E murmuras um sonido lacrimoso de pena?!
E o que me é o tempo passado?!
Se a vida nesse momento é tão pequena!
Vês?!...O meu olhar vai cabisbaixo!
Olha o que trago dentro da alma, o fadário!
A dor que me fere o peito, como o aço
Fere o mármore, nas mãos do estatuário!
Fale-me!...Por acaso és também moleiro?!
Sinto em ti, os grãos sovados nos moinhos!
Responde, ó infausto cavaleiro!
O que bem trituraste no caminho?!
E vão os moinhos, e tanto, cansados...
E vão girando as pás, na paz do momento!
E o que são esses pobres coitados?!
Senão escravos mortiços do mal tempo!
Como D. Quixote queria ter lutado!
Sim!...Lutado a teu lado, ó funéreo amigo!
Pelo menos, assim, não teria sonhado,
Encarar-te como se encara um inimigo!
A MORTE:
Pelejei por esse mundo tão bem!
Guerreei contra príncipes, reis, imperadores!
Carreguei tantas almas para o além,
E nunca lhes concedi nenhuns favores!
Então - se me tens por inimigo -, lute!
Como bem lutaram em Cartéia, os mouros!
Como lutaram esses cristãos ilustres,
Que ora descansam serenos com seus louros!
E estás como que, aparvalhado!
Vês!...Vou-me todo impetuoso nas batalhas!
Vou-me sem receios, tresloucado!
Minha foice corta tudo, e nunca falha!
Hammurabi criou austera lei!
Mas fui eu quem a aplicou com severidade!
Vês as cabeças desses reis?!
Muito eu as sopesei em mortandades!
Não temo a autoridade de Deus!
Sou eu - em tudo -, um audacioso cavaleiro!
O último alento da vida!...O adeus
Que muito há de tocar a fronte por inteiro!
Shelley recostou-se nessas sombras!
E adormeceu sossegado nos meus braços!
Dele, são esses campos, as alfombras!
Que tanto pisoteio com meus passos...
Vês?!...As Valquírias são minhas amantes!
E nos amamos pelos campos!...Nos vales!
E em regozijo, vamos todos, delirantes!
Sopesando os que morreram nos combates!
O sangue se esvai rubro, nas escarpas!
Tão azul!...E plebeu!...Vermelho timoneiro!
Sorvo em cálices, a dor dessas fragas!
Que tanto trago nos alforjes, todos cheios!
Montado!...Bucéfalo pisoteia com as patas!
Em passo a passo, o sevo pasto...
E as aves vão bicando as carnes putrefatas!
Que tanto lhes são nos campos, o repasto...
E nas falésias - uma triste sombra -, chora!
És tu, que padeces tanto nessa dor?!
Sei que as pessoas choram nessa hora!
E ter contigo neste instante eu vou!
O POETA:
Neste caso, deixemos de tanto palavrório!
“- O que bem queres?!... Se tudo tu bem sabes?!”
A MORTE:
O que quero e o que te digo, é peremptório:
“- Já é hora que tua vida neste mundo se acabe!”
(® tanatus - 17/06/2009)