Os primeiros raios de luz de uma manhã sombria, fria e chuvosa o acordaram indisposto, precisando desfrutar um pouco mais do calor da cama, obrigou-se a levantar, tomar o rumo da cozinha, esquentar água para um café, encher o prato de plástico de ração para seu cachorro, o procurou na área de serviço em sua cama e lá não estava...chamou seu nome sem resposta...repetiu e nada .Pensou na possibilidade de ter adentrado a casa e estar enrodilhado ao lado da cama da filha procurou e nada, repetiu mais alto o nome do cão...uma dolorosa ansiedade o fez procurá-lo pelos cantos do jardim, até encontrá-lo como um cachorro de brinquedo, focinho sobre as patinhas estendidas, os pelos secos os olhos amendoados semicerrados com um aspecto de boneco de papelão, virado para o portão na inútil tentativa de guardar a casa.A cidade amanhecia acelerada, o barulho dos ônibus, dos carros da vida...a manhã úmida encharcaram os olhos do homem, agora sem seu companheiro.Buscou uma pá cavou um buraco no jardim próximo ao seu quarto, como se quisesse lhe fazer uma última companhia.Entregou o corpinho de papelão ao fundo escuro da terra, deixando para um adeus final a cabeça do cãosinho, de perfil, o pequeno brilho profundo dos seu olho semicerrado.Agarrou-se a beira da janela para que seu peito não explodisse com os soluços, com os olhos ardidos olhou para a cidade amanhecida, e de sua garganta embargada saiu um tremulo baixo e timido...
Porque ?
Carlos Said