Despi a fome deste mundo vasto,
Entreguei-a ao inferno com terror!
E vesti as crianças sem ter gasto
Falsa vontade, pois senti essa dor!
Espantei essas moscas que defecam
E que deixam doenças em seus corpos!
Sem comida onde os poços sempre secam,
Estas crianças têm andares tortos
Pelo vácuo que abunda na barriga
Inchada de uma fome que os obriga
A servir de alimento à morte lenta!
Só a podridão abunda neste meio
Provido de riqueza sem medeio!
Essa fome que não basta e rebenta!
In Sonetos
António Botelho