Sonetos : 

SONETOS FEITOS EM 03/08/2010

 
001
Imerso na pobreza da esperança
De quem tentara a sorte e nunca a vira
Tocado pela angústia da mentira
Que ao fogo todo amor, decerto lança,
Enquanto a voz se embarga e na vingança
A sorte noutra face já se atira
E o tanto que talvez inda prefira
Revendo em meu caminho esta mudança;
Apenas um estúpido poeta
Que tanto procurara e se completa
Na insânia e tão somente, nada mais,
Aprendo com a dor e dela faço
Tomando todo o tempo, todo espaço,
E longe dos meus olhos tu me trais.
002
Entrego-me à loucura em sedução
E tento discernir alguma luz
Aonde na verdade sempre pus
Sem ter qualquer limite o coração
Numa avidez incrível não virão
Sequer os que decerto então me opus
E nada do passado em contraluz
Reflete o que seria direção.
E sorvo desta infausta hipocrisia
Meu sonho noutra voz já não teria
A retumbante história em tons iguais,
O quanto desejei e nada veio,
Apenas sigo em passo torpe e alheio
Sonhando com momentos divinais...
003
Penetra na janela, nos vitrais
O sol que tanto quis e não sabia
Dourando imensamente traz ao dia
Rendilhas entre brilhos e cristais,
O vento traz teu nome e da janela
O quanto se percebe em mera ausência
O amor se transformando em penitência
Aonde a solidão já se revela,
Desnudo esta vontade imorredoura
E tanto quanto posso tento; em vão,
Apenas novamente o mesmo não
E a sorte noutro cais o sol não doura,
Somente nestas rendas sobre a cama
Imagem tremulando te reclama.
004
Embora seja cego busco luzes
Aonde com certeza nada havia,
Somente a mesma face mais sombria
E nela sem saber nada produzes,
Aumentam as daninhas, medos, urzes
E a sorte se afastando dia a dia,
Ao longe uma suave melodia
E aqui angústia e neve, ledas cruzes.
Resumo o meu caminho no vazio
E sei do eterno tempo em rude estio,
Marcando a minha vida em cardo e espinho,
Quem tanto desejara ser feliz
E agora quando a vida contradiz,
Persiste em sua senda, e vai sozinho.
005
Da minha pequenez procuro além,
Imensa cordilheira imaginando,
E sei do meu delírio desde quando
Procuro e na verdade nada vem,
Somente a solidão e sem ninguém
O tanto quanto pude desabando
E o medo novamente transtornando
Depois de tanto tempo, nada tem
Das lágrimas salgando a minha vida
A sorte no vazio consumida,
E o tanto que te quero. Mas não vens.
Olhando para trás logo presumo
O quanto deste amor sem ter insumo
Traduz os teus sorrisos e desdéns.
006
As horas consumidas entre sonhos
E delas não se vendo alguma messe,
O quanto do meu mundo já se esquece
Em meio aos dissabores mais tristonhos,
Os dias se repetem e por isto
Não vejo solução aonde um dia
Pensara em tão somente poesia
E nesta solidão, porquanto insisto
Mergulho neste abismo, em tal cratera
E nela se percebe o ledo fim
O todo que persiste ainda em mim
Aos poucos noutra face degenera
Raiando em tempestades vejo a tarde
Sem nada nem ninguém que inda a resguarde.
007
Um bardo procurando em lira o sonho,
E nada se encontrando vida afora,
A morte noutra face eu sei se aflora
E neste caminhar me decomponho,
O quanto do meu mundo é tão medonho
E o manto noutro tempo me devora,
O amor que se fez tanto e vai embora
O risco a cada passo mais bisonho.
Espúrio caminheiro do passado,
Apenas um alento encontro quando
O tempo noutra face se mostrando
O corte a cada instante demonstrado,
E o fardo se traçando em ritual,
A sórdida loucura, a pá de cal.
008
Falando tão baixinho, ninguém ouve
A sorte em discordância gera o fim
E acende dos meus sonhos o estopim,
De tudo o que sonhei nada mais houve,
E quando o meu delírio se espalhara
Vencendo os meus antigos vãos temores,
Seguindo teu caminho sem te opores
Quem sabe a redenção noutra seara?
Nos prados e nos campos duro estio,
A morte não refuga e leda, avança,
Aonde poderia uma esperança
Apenas o cenário mais sombrio.
Tentáculos tocando a minha pele,
Somente ao meu final, vida compele.
009
Adormecido sonho de quem tanto
Buscara pelo menos lenitivo,
E quando da esperança enfim me privo,
Meu mundo se transforma em desencanto,
E o quanto poderia e não garanto,
Apenas tão somente sobrevivo
Dos sonhos do passado, este cativo
Usando da lembrança, turvo manto,
Escondo-me deveras e não vejo
Senão a mera sombra de um desejo
Redimo meus errôneos passos quando,
O dia se anuncia amortalhado
E o corte se aproxima sem enfado,
E a morte num sorriso me levando.
010
Arranco dentro o mim o que pudera
Traçar uma emoção mesmo fugaz.
O quanto do vazio já se traz
E marca com terror a dura espera
O manto noutra face degenera
E apenas meu caminho em tom mordaz,
Resume a minha vida tão voraz
Exposta sem defesa à vã quimera,
Restando muito pouco do que um dia
Ousara e mesmo até já poderia
Viver sem ter no olhar o desalento,
E quando tento apenas remissões
Os dias entre medos tu compões
E bebo sempre à farta o sofrimento.
011
Ardente lucidez rouba a verdade
Enveredando os ermos da ilusão
E os dias mais sobejos mostrarão
O quanto da emoção já nos invade
Respiro um ar suave em liberdade
E tento no teu corpo a atracação,
Vagando sem destino desde então,
Do teu olhar roubando a claridade.
E sendo desta forma, mais fiel
Adentro o Paraíso e qual corcel
Galopo imensidões que vejo em ti,
Do quanto necessito ser feliz
Vivendo todo o sonho onde me fiz
A Déia mais sublime, eu conheci.
012
Inerte porto em mim; logo eu desvendo
E sinto a tua mansa lucidez
Do amor quando demais tanto se fez
Deixando para trás o tempo horrendo,
E quando no teu corpo me perdendo
Encontro a mais sublime insensatez
E bebo cada gole em sua vez
Num ato mavioso me envolvendo.
Realces destes tantos dias claros
E neles os amores são tão raros,
Diamantino gozo se apresenta
Na sede saciada em perfeição,
Vivendo e transbordando em emoção,
Minha alma na tua alma se alimenta.
013
Depois de vir somente em raio imenso
Tomando este cenário e no horizonte
Beleza incomparável já se aponte
Enquanto neste encanto bebo e penso,
O amor quando se faz e sei do intenso
Caminho onde se gera a doce fonte,
Permite cada sol que ora desponte,
E nele com certeza recompenso
Os dias do passado mais sombrios,
Marcados pelos medos, por estios
Eclodem neste amor primaveril,
A senda se florindo em multicor
Gerando a cada passo o grande amor
Igual? Eu tanto sei; nunca se viu!
014
Sim quero poder viver em ti
Cada momento audaz e fabuloso,
E sendo o meu caminho caprichoso
Ao te encontrar deveras me perdi,
E sinto que meu mundo estando aqui
Presume este delírio majestoso,
E bebo em fartos goles, cada gozo
A dor quando existira, eu me esqueci.
Respaldos encontrando em todo verso
E sigo neste encanto sempre imerso
Raiando com intensa claridade,
Vertendo em mim verões em luzes fartas,
Bem antes meu amor que vás e partas
O teu luzeiro imenso vem e invade.
015
Esparso entre os diversos elementos,
O amor em fúria sorve a tempestade
Incendiando tudo já me invade
E traz a maravilha aos quatro ventos,
Na flâmula infinita meus proventos
Inundação diversa, ansiedade
E a terra testemunha esta vontade
E nela meus sobejos alimentos,
Erguendo o meu olhar eu vejo além
O quanto do infinito já contém
O encanto sem igual amor eterno,
E singro os oceanos sem temores,
Vibrando em meu jardim as raras flores
No quanto deste aroma agora interno.
016
Embalsamando a vida em teu aroma
Tu trazes para mim a primavera,
Depois de tantos anos, longa espera
Minha alma insaciável já se doma,
O todo se transforma e nesta soma
O quanto mais se quer maior se gera.
E bebo em maravilha o que tempera
Rompendo do passado esta redoma.
Vibrando em consonância com teu sonho,
Além da própria vida eu te proponho
Eternizar em nós tal sentimento,
E nele me envolvendo sem temor,
Raiando neste céu em multicor,
Nas ânsias deste amor, eu já me alento.
017
Sonhar e acreditar no além da vida
E ter esta certeza junto a nós
Dos rios que se tocam nesta foz,
Há tanto desde sempre sendo urdida,
Vencer as intempéries e, querida
Por mais que a vida seja dura e atroz
Mais fortes com certeza vejo os nós
E neles nossa história presumida.
Restando deste encanto a eternidade,
E nela quanto mais alto se brade
A voz se torna mansa e até macia
O amor quando se mostra em perfeição,
Não tendo neste mundo outro senão,
À própria morte enfim já desafia.
018
Adejando este sonho no infinito
Ganhando a eternidade de um momento,
E quanto mais se tem tal sentimento
Mais dele com certeza eu necessito,
O sonho se moldando e neste grito
Adentra e já domina o pensamento
E quando uma saída, inútil, tento
Retorno ao nosso amor, claro e bonito.
Minha alma na tua alma já vislumbra
O fim do que se fora em vã penumbra
E deslumbradamente eu bebo a sorte,
Enquanto nos teus braços, sinto o amparo
O amor em todo verso eu te declaro
Gerando aos descaminhos um suporte.
019
Numa oração superna e divinal,
O amor adentra em nós e nos redime,
O quanto é mais suave e tão sublime
Um sentimento puro e sem igual,
Reinando sobre todo o sideral
Espaço, sem limites tanto estime
A benção que o temor ora suprime
E gera um novo tempo magistral.
Melífero delírio em cada toque,
Nudez outra emoção já nos provoque
E reina sobre todos os sentidos,
Amar e se entregar, pois sem limites,
E quando neste sonho te permites
Meus dias nos teus dias reunidos.
020
Qual vela desbravando este oceano
Imersa nas procelas, sigo em ti,
E tanto quanto posso consegui
Vivendo sem saber de desengano,
Caminho tão sagrado quão profano,
Delírio aonde farto eu me embebi,
Raiando um sol imenso desde aqui,
Desejo se transborda quase insano.
Respaldos em caminhos mais diversos,
E bebo em ti os raros universos
E neste delirar eu me entranhara
Vibrando em harmonia, mutuamente
O quanto deste encanto se apresente
Tomando num delírio esta seara.
021
A mesma solidão que me acompanha
E não me deixa mais sequer em paz,
O quanto deste amor queria audaz,
Mas sinto tão distante este montanha,
Esconde o meu passado a amarga sanha
E nada neste intento satisfaz
Quem sabe noutra vida, ou tanto faz,
O campo se abandona e não mais ganha,
Acordo e a solidão batendo à porta
Apenas esta face agora morta
De quem se fez amada e não seria
No todo ou no vazio a vida expressa
O manto determina e vou sem pressa
Envolto nesta tênue nuvem fria.
022
O sonho num momento mais feliz
Gerando esta esperança onde; sedento
Adentro uma ilusão, meu peito ao vento,
Porém realidade o contradiz,
Carrego viva em mim a cicatriz
E nela este vital alheamento
Sorvendo do cruel pressentimento
A morte numa espreita já me quis.
Cenário entorpecente e mesmo assim,
Ditame resultando neste fim
Inglório e tão somente tosco e ingrato,
No nada me apresento e me consumo,
O mundo sem saber de norte ou rumo
Expressa a face aonde eu me retrato.
023
Aroma feminino invade a casa
E toma; já de assalto quarto e sala
Delírio que um perfume agora exala
E neste caminhar meu peito abrasa,
O tanto que pudera e a vida apraza
Traçando esta emoção enquanto cala
A dor desta alma gélida e vassala
E outro cenário a vida agora embasa.
Resumos de passados doloridos,
Ao perceber tocando os meus sentidos
Este ansioso olor que ora me encanta,
A vida traça então novo destino,
E quanto mais me entrego e me fascino,
Minha alma em esplendores se agiganta.
024
Os versos bem mais rudes que a verdade,
O sonho não se faz aonde um dia
O canto noutro tom ecoaria
E a morte a cada ausência forte brade,
E sinto a solidão que adentra e invade
E nela tão somente esta heresia,
Bebesse de outra sorte e então teria
Meu rumo em vital felicidade,
Mas sinto em solidão; ermos diversos
E assim nesta crueza dos meus versos
Retrato tão somente o que desvendo,
Especular imagem distorcida,
Traçando em cada ruga a minha vida
Num quadro sem igual, infando e horrendo.
025
Teus beijos traduzindo o que há de bom
Na vida de um eterno navegante
E quando esta loucura se garante
Transcende ao que pudesse em raro tom,
Amar é na verdade quase um dom,
E sei que tanto a quero e doravante
Meu sonho te tocando a cada instante
Ecoa no meu peito, incrível som
De arcanjos, querubins, seres astrais
Desejo se entornando e quero mais,
Sedento deste amor em farto sonho
E quando mais ardente em emoção
Tomando um rumo certo; a embarcação
No norte que em teus braços ora ponho.
026
À sombra deste encanto que sem par
Vislumbro nos teus olhos e me entrego,
Assim ao perceber do rumo cego
Um belo e novo rumo a caminhar,
E pude neste instante te encontrar
Depois de tanto tempo, e não te nego
O amor quando demais dominando o ego
Não deixa nem sequer enfim, pensar.
Alheio às mais cruéis vicissitudes
Ainda que deveras tu transmudes
O passo noutro encanto, eu serei teu.
Tu tens a radiante maravilha
Aonde o meu delírio hoje palmilha
Caminho aonde o sonho se escondeu.
027
Adentro os vendavais buscando quem
Durante a minha vida fora mais
Que simplesmente um porto, ou mesmo um
cais
E toda esta beleza em si contém,
Do amor apenas sou ledo refém
E sei que mesmo imerso em temporais
Eu quero e te desejo em magistrais
Delírios onde o todo nos convém,
Seguindo pareados; vida afora
O quanto te ilumina e me decora
O brilho insofismável da paixão,
Resumo em versos tolos esta vida,
E encontro em ti a sorte presumida
Bem mais que alguma chuva de verão.
028
O mundo do teu lado, um Paraíso
Edênico delírio em multicor
Assim ao me entregar ao pleno amor,
Das tuas próprias cores me matizo,
E sei do quanto perco o meu juízo
E bebo mesmo ausente o teu calor,
Seguindo cada passo aonde for,
Pois disto para a vida hoje eu preciso.
Estar junto contigo e ter certeza
Do quanto é muito forte a correnteza,
Jamais eu negaria o quanto a quero,
E sinto este momento em mais sublime
Caminho aonde a dor já se redime
Num passo mais sobejo e tão sincero.
029
Vagando pelas eras mais distantes,
Encontro-me deveras ao teu lado,
O quanto nós vivemos no passado
Permite este futuro em radiantes
Desejos lapidando os diamantes,
Assim como se fosse algum legado
De tanto que eu sonhei; mesmo acordado
Ao menos serás minha por instantes,
Depois de tantas dores, desventuras,
E nestes meus delírios, se hoje curas
Não sabes quanto é bom poder estar
Ao lado de quem tanto desejara
A fonte mais sublime enquanto rara
E nela sem temores, mergulhar.
030
Minha alma te persegue, mas não notas
E quantas vezes; busco ouvir a voz
Adentro este caminho e tento em nós
Vencer as minhas mágoas e derrotas
Enquanto vais alheia, abro as compotas
E o rio sem limites, ganha a foz,
Num mar imenso o sinto mais veloz
Ultrapassando assim todas as cotas.
Pudesse ter comigo num momento
Quem tanto desejara e agora tento
Ao menos um segundo de atenção,
Amando e não sabendo se tu queres,
A déia mais sublime entre as mulheres,
Reinando sobre os dias que virão.
031
Não importa
pra onde vás,
o meu coração
sempre será teu ...
(Olhos de Boneca)
É teu o meu amor, bem sabes disto
E mesmo quando a vida me levar
Aonde e se houver algum lugar
Neste querer imenso a ti, persisto.
E sei quando o luar ao longe; avisto
Reflete em cada raio, o teu olhar
Sublime natureza a nos rondar,
Traçando amor ao qual jamais resisto,
E sendo tão somente assim, o amor
Perfeita sintonia a se compor
Num único caminho, claro e terno,
Vagando neste instante onde o fascínio
Expande dentro em mim o seu domínio
Bem mais do que infinito, além: eterno!
32
Ao rebramar em mim esta lembrança
De tempos quando eu fora mais feliz,
Meu canto neste instante apenas quis
Tentar tocar o sonho onde se lança,
E volto a desenhar em temperança
Traçando muito além do quanto fiz
Tomando tenramente este matiz
E dele bebo a vida em confiança.
Regendo cada passo aonde eu tente
Sabendo quanto a quero plenamente
Recordações revivem drama e luz,
E quanto mais envolto neste tanto
A vida trama além do mero encanto
E a própria eternidade se produz.
33
Galopa o pensamento qual corcel
E invade muito além do imenso espaço
Assim a cada instante um novo eu traço
Ultrapassando além do imenso céu,
Mergulho no oceano e; outrora incréu
Um novo Paraíso em nós eu faço,
Edênico caminho onde trespasso
Estrelas seguem atrás, louco tropel.
Numa expressão de luz e eternidade
Enlanguescente déia em brilho farto.
E quando dos teus olhos não me aparto
Bebendo desta incrível claridade,
Percebo ser feliz e num segundo
Nos ermos do infinito me aprofundo.
34
Galgando muito mais do que eu pensara
Alçando a magnitude em teus braços,
Os dias tormentosos, duros, lassos
A sorte neste encanto já se ampara,
E quando se imagina em tez tão rara
Superna fantasia dita os traços
E ganho muito além tantos espaços
E um novo sol ao longe se escancara,
Razões para viver e até sonhar,
Depois de tanto tempo pude achar
Algum alento aonde nada havia,
E sinto o renascer de uma ilusão
Tramando nos momentos que virão
A farta imensidão de um novo dia.
035
Um sentimento audaz, louco e revel
Jamais se contentando busca além
Do quanto poderia ou mesmo tem,
Levando o pensamento sempre ao léu,
Enquanto tento ao menos meu papel,
A vida se aproxima e com desdém
Fazendo do meu canto seu refém
Espalha o desencanto em tom cruel.
Estrelas salpicadas dentro da alma,
Momentos que o passado me trouxera
E agora tão somente resta a espera
E nada na verdade ainda acalma
O insano coração de quem anseia
A lua eternamente bela e cheia.
036
Minha alma segue estreita em dor e trevas
E tenta pelo menos respirar,
Houvesse com brandura algum lugar
Diverso deste enquanto queimas, nevas.
Os dias não permitem novas cevas
E vejo este desdém a desenhar
A face em ousadia e sem notar
Tormentas que alimentas são longevas.
Aromas delicados de florais
E o tempo me responde que jamais
Eu poderei tocar a primavera.
Não deixo de sonhar, louco poeta
E quando sem destino se completa
A sorte desenhando outra quimera.
037
Jamais seria alguém, tenho a certeza,
E o quanto nada sou já me permite
Caminhos muito além de algum limite
Vencendo ou mais tentando, a correnteza,
Enquanto da esperança eu fora presa
O corte na raiz, pois delimite
O tanto quanto pude e não se evite
Marcando com ternura esta rudeza,
Vestir o quanto ser se ainda um dia
Pudesse e nada disso me traria
A sólida impressão de algum futuro,
Mas sei que desde então ao nada ser
Eu tento desta forma soerguer
E nada conseguindo, eu me torturo.
038
Entre os gigantescos imortais,
A pequenez domina o meu caminho,
E quando do vazio me avizinho
Percebo quão são frágeis os cristais,
Procuro desta sorte alguns sinais
Distante do absoluto eu me avizinho
Apenas do rasteiro e do mesquinho,
E neles bebo à farta e quero mais.
Não vivo por pensar em excelência
E agradecendo ao Pai, sou excrescência,
Mas diligente eu traço o meu não ser.
Perguntas sem respostas? Quase todas,
Heróis em pés de barro? Não te engodas
São deles as “verdades” e o poder!
039
Elejo dentro em mim o que inda presta,
Resulto deste nada e já me farto
Sozinho eu me defendo no meu quarto
E sei da realidade mais funesta,
Abrindo o coração, permito a fresta
Embora na verdade negue a festa
E quando diz bom dia, logo parto,
O pouco que não tenho, isto eu reparto
É desta forma em vão que a vida gesta.
Brindando com as minhas aguardentes
Espero com certeza que inda tentes
Saber da imensidão e; na amplidão
A lua, o sol, a bruma, a chuva e o frio,
Motivos pelos quais eu me inebrio
Porquanto por não ter, eu sou cristão.
040
Sou louco, ou pelo menos finjo bem.
Não quero mais favores nem promessa
A vida noutra vida recomeça?
Procuro e se em verdade ainda tem
No quanto ou quando sou mero e ninguém,
O passo com firmeza se endereça
E logo sem saber se tenho pressa
Confesso o quanto quero e nada vem.
Tomando os meus pileques, poesia,
Eu quase me imagino diferente,
Banguela, diabético ainda tente
Vencer o pesadelo e ver um dia
Além do que já vira ou mesmo sonho.
Espelho? Para que? Eu sou medonho...
041
Nada mais
importa agora,
nosso Amor acabou ...
Pra sempre ...
(Olhos de Boneca)
Fazer um epitáfio eu poderia
Falando deste caso que se finda,
Mas quando a realidade dita ainda
Num sonho a delicada poesia,
Bebendo deste tanto eu não queria
Nem mesmo outro momento onde deslinda
A face mais sublime, rara e linda
De quem hoje não diz sequer bom dia.
Catando os meus pedaços, num remendo
Retalhos e farrapos, tão somente
Ainda que pareça um indigente
Das tramas de um amor eu não entendo,
Resumo no que sonho e levo assim,
A vida a tropeçar começo ao fim.
42
Uma estrela dourada toma o céu
E rondo com meus sonhos cada rastro
Enquanto nos teus braços eu me alastro
Vagando pelo espaço, sonho e mel,
Concentro o pensamento e sigo ao léu
Do tanto que pudera, sem um lastro
Vasculho cada instante e do alabastro
Ousando com meu verso qual cinzel,
Apreciando assim a formosura
Aonde a poesia em paz perdura,
Numa órbita insensata vou bem mais
Que um dia imaginara ou poderia
Da noite se traçando imenso dia
Tropel de raros astros, siderais.
43
A tua claridade nada ofusca
E reina sobre os sonhos de quem ama,
Maior do que em verdade a intensa chama
Domando a sensação deveras brusca
De quem se tanto quer e busca além
Gestando dentro em si farta ilusão
Os dias no futuro tramarão
Bem mais do que decerto o amor contém,
Adentro junto a ti num só segundo
Diversos universos em conjunto
E quando passo a passo eu tento e junto
Cabendo dentro em nós além do mundo,
Atento a cada instante onde consigo
Viver bem mais que amor, sempre contigo.
44
Um radiante e raro, cristalino
Desenho em flóreas tramas, somos isto.
No quanto por te ter somente existo
O amor dentro incomparável não domino
E volto num segundo e sou menino
E quando estou em ti e não desisto,
Presumo a maravilha aonde avisto
Traçando em consonância este destino.
Apresentando em ti eternamente
O todo que deveras se apresente
Gestando enfim o alento que procuro,
Depois de tantos anos, solidão,
Meus olhos com certeza hoje terão
Bem mais do que se mostre atroz e escuro.
45
O sol que te acompanha passo a passo
Expressa o quanto quero e já presumo
Do amor quando se bebe todo o sumo
Diverso caminhar anseio e traço,
E quando se percebe toma o espaço
E gera com certeza um calmo rumo,
E toda a sensação que agora assumo
Transcende ao meu caminho amargo e lasso.
De tanto que pudera acreditar
Vagando sem destino a procurar
Um novo amanhecer, estou contigo.
Vestindo esta emoção rara e sublime
No quanto o meu anseio determine
Bem mais do que eu desejo e até consigo.
46
Levando para frente o quanto eu quis
Durante alguns instantes, ou até
A própria persistência gera a fé
E sei quanto a sorte é dura e ultriz.
Carrego do passado este infeliz
A marca mais sangrenta e sei quem é
Tomando a minha vida do sopé
Destrói qualquer delírio onde me fiz.
Gestando esta ilusão, nela alimento
O sonho mesmo quando mais sedento
Do corpo delicado de quem ama,
A vida não se traça num instante
E todo o desenhar já se garante
Determinando em si a nossa trama.
47
Se eu jamais me cansaria
De buscar quem mais pudesse
Tendo a vida onde se tece
A razão de um novo dia,
Tanto bem eu mais queria
E teria mesmo em prece
O calor que se oferece
Quando o sol claro irradia,
Merecendo ou não, tentando
Outro dia mesmo quando
Este sonho reina em nós,
Amar sendo tão diverso
Do que tento, busco e verso
Traduzindo a vida em foz.
48
Na verdade o sonhador
Quando tenta nova trama,
Diz da fúria, bebe a chama
E não sente medo ou dor,
O meu canto, um lavrador
Tantas vezes busca a rama
E se agora já se inflama
Nos teus braços, meu calor,
Indigente sou, e o pária
Tendo a lua em luminária
Nada teme segue assim,
Da nefasta realidade
Quando afasta, a claridade
Determina tudo em mim.
49
Se poeta ainda tento
Na verdade não sou mais,
Ouso imerso em dias tais
Do passado, o meu provento.
Reluzindo à luz do intento
Tramo os dias em cristais,
Novos sonhos tu tragais
Ou bebeste em incremento.
Resumindo o verso em gozo
Num caminho caprichoso
Curvas vejo aonde um dia
Quis bem mais do quanto tenho
E se tento e sou ferrenho,
Mergulhar em poesia.
50
Boa sorte! Tu disseste
E bem sei que não a tenho,
Mas se tanto busco o empenho
O meu canto urgindo agreste,
Sou deveras o que deste
E traduzo de onde venho
Quando muito não contenho
Nem o pouco se me geste.
Resultando nisto eu vejo
Meu olhar no teu desejo
E desenho outros iguais,
Traiçoeira a vida trama
A verdade em cada rama
Frondes frágeis quais cristais.
51
Ao cruzar assim teus braços
Quando vês miséria e fome
A tua alma se consome
E não deixa nem mais traços
O vazio dos espaços
Onde tudo traz e dome
Coração jamais se dome
Nem em sonhos tolos, lassos,
Resumindo a voz em paz
E no amor quando se audaz
Liberdade trama além,
E no Pai em perfeição
Muitos dias se verão
Quanto mais amor se tem.
52
Entre os brilhos estrelares
Tantas vezes navegamos,
E sem termos donos, amos
Noutro espaço, teus altares,
Mas sem nunca proclamares,
Quando ainda nos domamos,
E decerto assim reinamos
Sobre os tolos que encontrares.
Seduzidos por poder
E gananciosamente
Novo tempo se apresente
Quando em volta apodrecer,
A crisálida traduz
Um amor imerso em LUZ.
53
A alegria rege o sonho
De quem ama e se faz tanto,
Mas na queda se eu me espanto
Com terror, sigo tristonho
No vazio não me enfronho
Já cansei de desencanto
No passado eu me adianto
Sem futuro eu recomponho,
Mas brindemos à saudade,
É mortalha que me invade
Com frescor raro e atual,
Porém bebo o envelhecido
Inebrio-me e duvido
Que inda encontre um novo igual
54
Como fossem grãos de areia
Nesta imensidão, somente
Os caminhos que apresente
Tanta luz a vida anseia,
Nos encantos da sereia
Ou à chama da aguardente
Sou decerto impertinente
Quando a voz já não clareia,
Bem pudera ser diverso,
Mas se tanto sigo inverso
Ao que posso ou mesmo tento
Libertário caminhante
Onde o nada se garante
Levo ali meu pensamento.
55
Esperando algum sossego
Onde gero a tempestade,
Incerteza desagrade
E não tenho mais apego
Ao que tanto se morcego
Bebo o sangue em liberdade
E a torpeza não degrade
Quando de surpresa pego.
Altamente incoerente
Quando atento já se tente
Outro tanto aonde nada,
Na partilha o que me resta
Não se vendo qualquer festa
Vale mais do quanto é dada.
56
Quando outrora fora assim
Igualzinho ao que hoje sinto
Como fosse mero instinto
Insistindo até o fim,
Bebo a boca carmesim
E deveras já pressinto
Ressurgindo o que era extinto
Noutra face até ruim,
Mas se tenho contra a fúria
O prazer em tal penúria
Que se traz somente pena
Cada olhar noutro horizonte
Quando muito não aponte
Pelo menos me serena.
57
Dormitando ou até quase
Faço em mim um sonho ou tento
E procuro contra o vento
Quando muito já se atrase
Procurando alguma base
E se a tenho em desalento,
Caminhando desatento
Encontrando nova fase.
Sendo audaciosamente
Quando audaciosa, mente
Esta vida sem medida,
Levo em sorte sobre a mesa
Carta dizem da incerteza,
Mas quem sabe não duvida.
58
Quando sinto; noite vindo
Posto a tarde num poema,
E a saudade se me algema
O caminho agora findo,
Traduzira por infindo,
Mas bem sei ser um problema
Quando amor ditoso tema
Na incerteza me traindo.
Ouço a voz de quem pudera
Mato o gozo desta fera
Saciando a sua fome,
E se bebo com fartura
Já me entrego e me tortura
Este amor que me consome.
59
Quando nada importaria
A quem pouco sabe a porta
Na verdade tudo aborta
E não deixa novo dia,
O meu canto não podia
A saudade não importa
E se tenho e se comporta
De outra forma, hipocrisia,
Crises dizem crescimento
E felizes dias tento
Junto a quem aquém me quis,
Vou seguindo a minha sina
Quando o passo determina,
Neste quadro escrito a giz.
60
Dia após a posse e o poço
Meu caminho nada faz,
Ou se eu fosse mais audaz
Causaria este alvoroço,
Mas pulando no pescoço
Vampiresco e até mordaz,
Outro passo não se traz
Quando um dia fora moço.
Restaurando o meu domínio
Entregando-me ao fascínio
Sensual desta morena,
O final ora pressinto,
Vou vencido pelo instinto,
Doce canto da sirena...
61
Aonde o coração faz arruaça
A vida não tem jeito, perde o rumo,
E quanto mais eu quero e me acostumo
À minha solidão e o tempo passa,
Olhando para os lados, a fumaça
Avisa quando em sonho eu já me esfumo,
E bebo deste tanto e deste sumo
Brindando à própria vida em rara taça.
Depois, acordo e vejo a mesma cena
Uma emoção diversa me condena,
E o gesto ritual vida repete
Aonde se pensara num confete
Apenas a tristeza da saudade
De um velho carnaval, teimoso, invade.
62
Não deixo me levar por tal caminho,
Mas quando eu mal percebo e novamente
A mesma face escusa do demente
Audacioso amor tomando o ninho,
Eu sei que na verdade eu sou mesquinho,
A vida neste outono não mais mente,
E quando ainda um sonho em vão freqüente
Das tramas da loucura eu me avizinho.
Bastando para tanto acreditar
Num raio mais sobejo do luar
E ver nele teus olhos. Nada disto.
Jogado nalgum canto desta sala,
Minha alma num instante já se cala,
Mas velho coração, jamais desisto.
63
Vieste ao fim da tarde em minha vida,
Não sei se ainda posso ver a lua,
Quem sabe, na verdade a alma flutua
Procura de outra forma uma saída,
E nada se percebe aonde a lida
Expressa a fantasia, mas cultua
Beleza incomparável; como a tua,
E o farto desejar domina a mente.
Apenas um momento? No envolvente
Delírio deste velho navegante
O canto mais suave se permite,
E quando a tarde dita algum limite,
Eu volto ao sol nascente num instante.
64
Arcar com meus enganos tão daninhos
E ver além do quanto ainda pude,
Mergulho numa senda mesmo rude
E bebo degustando os raros vinhos,
Acordo e na impressão de novos ninhos
Eu sei o quanto a vida nos ilude,
Mas tento renovar a juventude
Embora meus cabelos já branquinhos.
Desculpe por te amar, isto eu te peço,
E quando novo verso eu recomeço
Teu nome extrapolando à realidade,
O quanto sou assim mutante ser,
Vivendo novamente um bem querer
Talvez mostre sutil senilidade...
65
Amanhecendo em mim nova esperança
Depois de certo tempo em solidão,
Os novos caminhares desde então
Traçando esta ilusão que me balança,
Voltar a ser deveras a criança
Medrosa e me esconder de algum papão
Enquanto a realidade me diz não
O coração ao todo logo avança.
Abrindo a persiana deste quarto
Além deste infinito eu sonho e parto
Vagando entre as estrelas, um gigante.
Porém maior o sonho onde se seda
Deveras é também maior a queda
E nela ledo fim, pois se garante.
66
Sentir o quanto pude e não saber
Se ainda persistira alguma chance
A vida se repete em tal nuance
E trama novamente o bem querer,
O quanto disto tudo me faz crer
Aonde o caminho em vão se lance,
O todo com certeza não se alcance
Nem mesmo com clareza o posso ver.
Certezas; nesta vida? Nada disso.
Apenas um caminho mais diverso
E nele se meu canto em vão disperso,
Eu sei o quanto o amor é movediço,
Partilhas são complexas, nesta altura
Um sonho sem juízo não tem cura.
67
De um pacificador agora eu trago
O olhar mais atrevido e a cada dia
O tanto quanto posso ou julgaria
Traduz em novo tombo, ou velho estrago,
A moça onde deveras eu me alago
Reinando sem saber a poesia
Domando cada verso poderia
Ao menos no velhinho, algum afago.
Mas logo me percebo e quando o espelho
Ditando esta verdade eu me aconselho
E volto à realidade e bebo tédios,
Também o que fazer se o que me resta
Aquém de qualquer dança, riso ou festa
A caixa lotadinha de remédios...
68
Espalho o meu delírio aos quatro ventos,
Questão de internação, eu te garanto
A cada novo passo o desencanto
Trazendo a realidade em vãos proventos.
Audazes para mim tais sentimentos,
E quando os vejo sinto e já me espanto,
Depois de ter morrido, novo pranto
Tramando com terror os sofrimentos.
Velhusco, arcaico e ledo caminhante
Presume e na verdade se adiante
E beba deste inverno tão precoce,
Ainda que outro dia além eu vejo,
A juventude dita o meu desejo,
Porém senilidade já me acosse.
69
Um tanto quanto fero o gosto quando
Falando bem baixinho, dito o nome
Do amor tanto tardio que consome
E novamente vejo me inflamando,
O bêbado num tanto se tornando
O corte traduzindo e nunca some,
O prazo determina que eu me dome,
Tornado sem juízo se entornando,
Vulcânica explosão ao fim da tarde?
Decerto nada disto mais se aguarde
Apenas o que resta e não se fala
A quem se fez audaz a vida inteira,
Agora no final tem por bandeira,
Somente esta firmeza, na bengala.
70
Um dia, destes dias que talvez
Eu leve para além da própria vida
A cena há tanto tempo presumida
Em nova fantasia se refez,
O sonho de um poeta, insensatez
Transcende ao que deveras se duvida
E tenta noutro intento uma saída
Ainda que jocosa face vês;
Repare neste olhar apalermado
E veja o quanto traz do seu passado
O torpe caminheiro em tom mais gris,
Depois de tantas lutas com a sorte,
Brigando a cada dia contra a morte,
Um novo amor ainda o peito quis?
71
Eu gosto de você. Pois que se dane
Juízo ou qualquer forma de censura
Eu sei quando deveras me tortura
O amor este danado, ainda em pane.
Por mais que a realidade tudo empane
Encontro em seu abraço esta ternura
E milagrosamente espero a cura,
Ainda que decerto enfim me engane.
Amar é como crer na própria vida,
Embora se perceba a dolorida
Imagem refletida num espelho
E quando me entornando novamente
O sol em nova face se apresente
Perante a tal Cupido, eu me ajoelho.
72
Um gole a mais e a vida já se entorna
Num cálice ou na face mais sombria
De quem há tanto tempo mais queria
E bebe quando ao sonho ele retorna,
O coração danado me transtorna
E joga a gente sempre numa fria,
O término da noite em claro dia
Depois da tarde escura, e mesmo morna.
Agora ao fim da festa é que me vejo
Nas mãos bem mais vorazes de um desejo,
Enquanto a realidade não mais causa
Sequer medo a quem tenta ser feliz,
Porém a consciência já me diz,
É coisa bem comum nesta andropausa.
73
Eu te pareço enfim um lobo mau?
Não sei se na verdade és chapeuzinho,
O quanto te desejo e te adivinho
Permite um novo sonho, um ritual
Que há tanto não sabia de outro igual,
Depois de caminhar sempre sozinho,
Voltando acompanhado para o ninho,
Qual fosse um novo tempo magistral?
Agora vens com essa de papai?
O olhar mais penetrante já te trai,
Porém hoje não posso nem sonhar,
O mundo rodopia e num segundo,
Da velha mocidade ora me inundo
E volto a ser menino? Nem pensar...
74
Das praias e do sol, sequer saudade.
Apenas do que um dia em madrugada
Andando sem destino na calçada
Escura da mais dura e vil cidade.
O risco se produz aonde invade
O sonho nesta face desolada,
E bebo novamente a tão sonhada
Mesmo sendo sutil, felicidade;
Num copo de cerveja um novo gole,
Passado num momento ora me engole
E tento desvairado mergulhar
Nas ondas deste ausente e torpe mar,
Porém o que me resta é só montanha
Vontade de pular, o peito assanha...
75
Um dia fui herói e vencedor,
Já tive meus dezoito, meu amigo
Agora se de novo isto persigo,
Futuro é; com certeza, enganador
Aonde quer e mesmo se eu não for
O telefone toque e lá me abrigo,
Num verso mais feroz enquanto antigo
Dançando a noite inteira em sonho e festa,
A moça já velhusca não me empresta
Sequer algum sorriso nem recorda
Daquela bela noite em discoteca
O amor perdeu seu tempo e na hipoteca
O sonho sem juízo inda dá corda...
76
Os dias mais sutis pudessem vir
E transcender ao tempo este farsante,
Mas nada do que venha me garante
Apenas reviver ou presumir,
Vontade tenho mesmo é de sumir,
E sei o que me espera doravante
A morte com seu belo e vão semblante
Velhota caricata a me trair.
Idade traduzindo o que sem hora
Não tento e nem pudesse, pois demora
O riso se aproxima do meu verso,
Aonde quis o risco, agora arisco
Quem sabe na verdade no Petisco
A Vila me trouxesse outro universo?
77
O tempo corre mais do que eu pensava
Eu tento segurar, mas não tem jeito
Depois de certos dias, quando deito
A coisa se apresenta bem mais brava,
O quanto do meu pouco inda restava
Traduz o meu olhar insatisfeito,
Calar a voz estúpida do peito,
Aonde um diamante eu lapidava?
Chegando à conclusão triste e sombria
Percebo que de nada mais valia
O sonho se a verdade diz contrário,
Guardar alguma fonte de esperança
E ver o quanto o tempo corre e avança
Deixando a fantasia num armário...
78
Bebendo em fartos goles o que tanto
Desejo ainda após a queda e sei
O verso se transborda e nesta lei
O nada após o nada, o que eu garanto.
Resumo o meu caminho em desencanto
E bebo muito mais e beberei
Vazio após vazio, nesta grei
Restando tão somente medo e pranto.
Acordo quatro e meia da manhã
Olhando para trás, a vida é vã
E o quase se tornou meu estribilho
Pilhado de pijamas nesta rua
O velho toma um banho e bebe a lua
Enquanto meu passado inda palmilho.
79
Jocosa face exposta num jogral,
É necessária; eu sei, a dentadura,
Porém faltando o siso, nada cura,
E sei quanto é dorido em mim tal mal.
Já tive até demais cara-de-pau
Agora na verdade o que perdura,
Chuteira sonhadora se pendura
A ventarola doma o vendaval.
Depois de naufragados, os meus barcos,
Juízo é necessário, ouviu, “seu” Marcos,
A idade já chegou e não tem tempo,
Apenas qualquer voz que se discorde
Minha alma de outra forma ainda aborde,
E se der certo, amigo, é contratempo...
80
Já nada mais carrego do que um dia
Pudesse adivinhar este futuro,
Olhando para mim, o que procuro
Decerto não se encontra nem veria,
O risco de sonhar, vira heresia,
O gosto da saudade é mesmo impuro,
O tempo não dá tréguas e eu te juro
Pulasse desta tola escadaria...
Tropeço após tropeço, sigo em frente
E quando me percebo e ainda tente
Vencer os meus grisalhos; nada disso.
Ainda esta morena, ora cobiço
Mas sei que na verdade eu sou remendo;
Pior. Se ela topar. Saio correndo...
81
Ao me encontrar neste espelhar tormento
Já não consigo imaginar a face
Mais verdadeira e por ela passe
Além do quanto caberia ao vento
E nego o rumo e se pudesse atento
Talvez vencesse este cruel impasse,
Mas nada sinto e quando a vida trace
Jamais verá o que em saudades tento.
Risonhamente o meu caminho em dor
Traduz o agora e se deveras for
A cada lance se verá tropeço,
Vivendo além do quanto mesmo eu posso,
O meu reflexo num fatal destroço
Explicará o que afinal, mereço.
82
Como não tem igual delírio tanto
E procurando enfim algum lugar
Aonde eu possa no final sonhar
Sabendo agora o inevitável pranto,
Do todo imenso quando ao mar garanto
A morte entranha e deverá tomar
O que inda resta e neste vago andar
Mergulho enfim neste total quebranto.
Os dias traçam finalmente a treva
E mesmo quando na verdade neva
Sonhando fúteis dias claros vejo
O passo atroz de um caminhante atroz
E ninguém sabe ou ouvirá tal voz
Representando o meu maior desejo.
83
Não tem competidor que me permita
Traçar outro caminho aonde um dia
O sonho sem pensar me levaria
E neste delirar a alma palpita,
Quem dera ao menos lapidar pepita
Sabendo sempre que jamais teria
No meu olhar senão tal heresia
Aonde o nada o delirar repita.
Esboço em versos o não ser e sou
Somente assim, e neste não eu vou
Trilhando escasso e fascinante espaço
E quanto mais eu me procure em vão
Os olhos se perdendo na amplidão
Traduzirão somente o que não faço.
84
Enquanto houver alguma luz aonde
O mundo não soubera responder
Se ainda nas entranhas do querer
Reflexo de razão inda responde
Ao quanto em desamor já corresponde
Quem tenta novamente se perder
E neste radiante amanhecer
Um mar em si o coração esconde.
Jamais teria o que procuro então
E o verso dita o mergulhar no vão
Delírio e nele me desnudo inteiro
Atrocidades são comuns à vida
Porquanto a sorte eu encontrei vencida
Amor que sonegaste, o derradeiro.
85
Nas rebeldes e atrevidas
Persistentes caminhadas
Entre ruas e calçadas
Alamedas e avenidas,
Procurando e não duvidas
As certezas desdenhadas
Entre as fúrias demarcadas
Onde as sortes; nunca olvidas;
Esperando qualquer luz
E somente reproduz
O silêncio invés do canto
Na verdade sendo assim,
Do princípio bebo o fim,
E a mortalha eu me garanto.
86
Os abortos que tu temas
Nada são senão verdades
E se tanto já degrades
Os teus olhos em problemas
Corações ditando lemas
Transformados em saudades
Se; portanto, ainda brades
Não verás as piracemas
De esperanças mais felizes
Quando o risco; contradizes
E mergulhas no vazio,
Aprendendo a cada instante
O final já se garante
Atravessa, inteiro, o rio.
87
Ao partires tu levaste
O que resta enfim de quem
Na procura sempre tem
Demarcado algum desgaste
No final, mero contraste
Da verdade, sigo aquém
E não tendo o que provém
Queda farta em frágil haste,
Resumindo o fato nisto
Na verdade não assisto
Ao tropeço terminal,
Venço o medo ou compartilho,
Procurando qualquer brilho
De uma estrela matinal.
88
Tantas vezes conseguisse
Repartir o que não tens,
E se vejo teus desdéns
Ao mostrar esta mesmice
Encontrar o quanto disse
Na procura de outros bens
No final, meros vinténs,
Mas farturas em tolice.
Já não sinto qualquer luz
E se tem não me conduz
Levo a vida desta forma,
O presente repetindo
O passado que eu quis findo
E de novo me deforma.
89
Já não quero bem ou mal
Quem se fez cruel de fato,
Quando a vida enfim resgato
Procurando noutra nau,
Um momento capital
E se nele eu me retrato
Não me importa mais maltrato
Ou conversa tão banal.
Resumindo a minha história
Apagando da memória
O que um dia me disseste,
Caminhar em solo agreste
E tentar colheita aonde
Puro estio corresponde?
90
Se eu saísse deste jeito
Nada mais eu poderia,
Tendo o olhar em ironia
Quando além ainda deito,
No final ao ser desfeito
O meu riso morreria
Noutra cena, noutro dia,
Rumo antigo, ainda aceito.
A mortalha me apetece
E o passado ainda tece
As rendilhas do futuro
Entre firmes cordoalhas,
Se decerto tu batalhas,
Nada encontro nem procuro.
91
Ordenando desde então
Cada passo que eu tentei
O teu sonho regra a lei
Desintegra o coração,
E se tanto sou e vão
Noutro encanto eu mergulhei
E procuro nesta grei
Outro rumo e direção,
Vagamente sei da sorte
Onde tudo se comporte
Da maneira mais comum,
Dos meus sonhos, nada levo
E o caminho onde me atrevo
Com certeza traz nenhum.
92
Quando apenas acabado
O que um dia começara
Na procura desta rara
Delirante e disfarçado
No desejo perolado
Esbarrando em tanto amara
Madrugada se escancara,
Mal disfarço o meu passado.
Vislumbrando qualquer tombo,
Outro dia mesmo eu zombo
E marcando com sinais
Marmorizo esta emoção
E caminho neste não
Onde estrelas; entornais.
93
Nos palácios e castelos
Onde o sonho fora audaz
O caminho se desfaz
Entre foices e rastelos,
Dias calmos, leves, belos
O momento tanto faz,
Na verdade quero a paz
Expressando nossos elos.
Quantas vezes precisar
Vou tentar outro lugar
E deveras encontrando,
Deixo tudo para quem
Sabe quanto o nada tem;
Só não sabe como e quando.
94
Resultado que procuro
Depois desta queda quando
O meu canto se formando
Num cenário mais escuro,
Na verdade se amarguro
Rumo torpe transtornando
O delírio em farto bando
Noutro tanto me asseguro,
Riscos vários e enfrentava
Onda atroz, perene e brava
Neste mar sem compaixão
Arco mesmo com enganos
E somando tantos danos
Nem delírios sobrarão.
95
Nada julgo nem; portanto
Poderia acreditar
No poder de me entornar
No vazio e no quebranto
Ao vestir da sorte o manto
E beber inteiro o mar,
Coração; quero salgar
E se posso; não me espanto.
Versejando sobre o fato
Onde tanto me retrato
Resgatando alguma voz
Quando sensibilizasse
Sem ter medo deste impasse
Nada trago senão nós.
96
Deixará de qualquer jeito
O meu mundo após a queda
E pagar nesta moeda,
Na verdade eu não aceito,
Dando-me por satisfeito
Quando a sorte já se enreda
Deslumbradamente seda
O caminho ora desfeito.
Resumindo este universo
Onde tento e desconverso
Sendo inverso ao quanto quis,
Num complexo delirar
Muito tenho que apanhar
Para ser, enfim, feliz.
97
Ao cumprir qualquer vontade
De quem tanto quero o bem,
No final nada convém
A quem morre de saudade
Para ter felicidade
É preciso de outro alguém
Que conhece e quando vem
Sem saber o quanto invade
Reina sobre o pensamento
E se ainda teimo e tento
Tomo tento e nada falo,
Na verdade se te quero
Este sentimento esmero
Com esta alma de vassalo.
98
Nem metade da alegria
Onde um dia quis inteira
A verdade já se esgueira
Deixando esta noite fria
A minha alma saberia
Outro espinho, outra roseira
Se em verdade ainda queira
Mesmo a vida mais sombria,
Restaurando o passo quando
O jardim; vou cultivando
Com ternura e com denodo,
Desta forma pouco importa
O que existe atrás da porta,
Ouro, prata, bronze ou lodo...
99
A fortuna diz que não,
Mas teimando busco o sim
Vou levando sempre assim
Procurando a direção
Dos momentos que serão
Na incerteza quando vim
A florada de um jardim,
Primavera em coração.
Mas inverno desta forma
E se tanto se deforma
Quem promete novo dia,
O meu canto não se faz
Onde procurara a paz
E o delírio encontraria.
100
Tudo neste instante muda
O cenário é mesmo igual,
Mas diverso ritual
A minha alma não se acuda,
Segue pálida e até muda
Procurando um magistral
Caminhar fenomenal,
Onde nada mais a ajuda.
O cuidado que se tem
Quando amor diz deste alguém
Que jamais pudesse minha,
No calor desta batalha
Fogaréu na palha espalha,
Mas juízo não continha.
MARCOS LOURES FILHO
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
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