. façam de conta que eu não estive cá .
o homem estava, como de costume, sentado na nuvem. os ombros caídos, a cabeça recta, mãos enterradas nela. mais abaixo havia um nevoeiro cerrado onde cabeças e mãos apareciam às vezes.o nome do homem vem com as vozes, de dentro do nevoeiro, num sopro que afasta a nuvem. quanto mais alta vai a nuvem mais caídos ficam os ombros do homem que agora chora. uma corrente de vento, pequena, vem ao seu encontro, das nuvens mais a sul, onde se houve, de tempos em tempos, a voz de uma mulher, fina como um trovão que acolhe a tempestade. conta-lhe das outras nuvens, de como não as habitam homens. está só, com as mãos enterradas na cabeça, lembra-se da noite, de como a noite dali lhe parece mais bonita, tão perto estão as estrelas que querendo podia tocá-las com a pele dos lábios. leva agora uma mão à boca. já não sabe falar, quando ali chegou ainda contava histórias aos pássaros que por ali se atreviam a voar, mas a nuvem foi subindo, subindo, e nenhum voo de pássaro alcança agora a sua voz.