Calo-me, silencio-me, purifico-me, endeuso-me, sou arquivo morto, esquecido nas bibliotecas do tempo inerte. Esquivo, alerta, podre, âmbar, mel e fel, torpe e rápido, sou cansaço e obscuridade, clara manhã e noite apagada, indolente, insano, enlouquecido com as primeiras chuvas. Pela carência cansada, na infantilidade do meu amor, sou fértil, virgem e estéril no nascimento, dou constantemente à luz. Sou Filho Oculto do altíssimo, uma dualidade de sentimento, uma vez louco e doente, outra vez sano e sadio. Se um uma dor passageira viesse trazer em mim o esquecimento, derrubaria fronteiras, elevar-me-ia nos céus. Se uma candura no toque depositada em mim, despertasse ecos suaves na cadência do meu coração, se um bater mais lento, me matasse a ansiedade, seria o encarnado no teu sangue e dormiria com ele. Desejo um regaço onde ter palavras mansas e orgias entre mil amantes. Quero-me assim, lascivo, carente de luxúria na minha pele, mãos no meu corpo, corpos dentro do meu, o meu dentro de outros. Quero-me assim, despido, sem pudor, preparado para o prazer.