Sonetos : 

SONETOS FEITOS EM 01/08/2010

 
001


Esse caminho é tão diverso e posso
Mesmo acreditar em discordâncias
Aonde se apresentem discrepâncias
E nelas imagino o quanto é nosso
Errático sinal aonde endosso
Com toda virulência as inconstâncias
Do encanto que procura por estâncias
Se tanto me renego ou mesmo adoço
Meu mundo em variante sincronia
Talvez já não pudesse ou mai teria
Um canto em tom suave ou mesmo atroz
Expresso a solidão porquanto pude
Vencer com sortilégios magnitude
Mantendo mais distante a minha voz.

002

Dos tantos roseirais que este canteiro
Traduz em cores raras e espinhentas
Assim também a vida que apresentas
Num rito tão disperso e costumeiro
E quando deste sonho em vão me esgueiro
E sigo as mais dispersas e sangrentas
Noções por onde tento ou mesmo atentas
Singrar além do encanto derradeiro
Ausculto algum delírio onde eu tente
Vencer o meu tormento inconseqüente
Sagrando qualquer canto aonde eu tenha
Somente este desejo e nele viva
Minha alma na verdade esta cativa
Mantém desta esperança a frágil lenha.

003

Augustas flores trago em primavera
Embora muitas vezes seja assim
A vida se transforma e em meu jardim
A morte tão somente o que inda espera
Espreito atocaiado; a velha fera
E sei que no final; pobre de mim,
A sorte desdenhosa chega ao fim
E o nada a cada instante destempera
Resisto embora saiba inutilmente
O quanto do passado ainda mente
E trama outra mortalha neste instante,
Apenas o final já se garante
E bebo deste fel duro inclemente
Até que num momento deslumbrante
Eu sorva cada gota alucinante.


004


Acantos onde quis lírios e rosa
Assim o meu canteiro em formas várias
Ao mesmo tempo cores necessárias
Traçando uma ilusão mais belicosa,

Num sempiterno lume, esta jocosa
Realidade diz das temerárias
Loucuras entre dores, luminárias
A vida se desnuda caprichosa

E tento desvairada e tenramente
Beber cada veneno que apresente
Gerando após a curva outra e fatal,

Esparsos dias tento após a queda
E sei quando o caminho em vão se enreda
Traçando este delírio terminal.


005


Encontro em meu caminho as ânsias todas
E nelas ou por elas me entranhara
Gerando a cada passo nova escara
Ainda que procure loucas bodas

As sombras na verdade quando tramas
Expressam delicadas formas turvas
E quando a cada passo tu mais curvas
Os dedos entre fúrias, fráguas, chamas

Expondo a realidade aonde eu possa
Traçar o meu delírio imerso em fogo
Não adianta mais penúria ou rogo
A dor disto eu sei será só nossa

Repare nesta estrela a veja bem
O quanto do vazio a vida tem.


006


Da tua alma bebo cada gole
E sei o quanto posso acreditar
No todo aonde um dia ao navegar
O mar aos poucos toma e tudo engole
E sinto quando a vida mesmo bole
E transcorrendo assim mais devagar
O todo se anuncia e diz do mar
Que há tanto se revela e já me assole;
Expondo cada face do infinito
Aonde na verdade eu necessito
Apenas tão somente o ancoradouro
Bebendo deste néctar mais conciso
O quanto deste eu inda preciso
E nele em sol diverso teimo e douro.


007

Aonde na nascente deste rio
Encontro os meus anseios mais vorazes
E quando teus caminhos; também trazes
Condeno-me ao completo desvario

O quanto do desejo desafio
E bebo a solidão em várias fazes
Porquanto dos meus dias tu desfazes
Enfrento a cada passo o que desfio.

E sinto abandonado desde quando
Aos poucos noutro tanto me entranhando
Esboço reações; as mais diversas

E sei do quão inútil prosseguir
Embora ainda creia no porvir
Até se noutro rumo tu dispersas.


008


Ao sonho me avizinho quando tento
Vencer os mais comuns dos erros quando
Esboço reações e sonegando
O quanto poderia estar atento

Jogado sem destino encontro o vento
E nele em todo passo desolando
O rumo que pudera e o destroçando
Encontro finalmente o desalento,

Aonde mais pudera acreditar
Nas ânsias deste sonho a me levar
Por mares tão distantes e sombrios

Os erros cometidos e são tantos
E neles no final os desencantos
Somente são torturas e desvios.


009


Enquanto em néscio rumo vejo a dita
Perdendo a cada passo um razão
Meus olhos adentrando este senão
Traduzem o que esta alma necessita

Assim ao me entregar, mera desdita
O todo se transforma nesta opção
Gerando a mesma ausência desde então
Traçando a cada passo esta alma aflita

Pudesse acreditar noutro cenário,
Mas sei quanto é difícil e temerário
Acreditar nos ermos mais complexos

E sendo desta forma o dia a dia,
O nada no final se sorveria,
Mostrando desta vida os seus reflexos.


010


Pecados tão tacanhos; os cometo
E nada mais impede o quanto eu pude
Viver em todo engodo a plenitude
E neste desenhar eu me arremeto

Tentando discernir num só soneto
O quanto a própria vida nos ilude
E tendo no final em magnitude
Os erros onde tanto me prometo.

Esboços mal traçados de uma lida
Dispersa entre os terrores, nesta urdida
Loucura contumaz e tão freqüente,

No quanto possa ser bem mais diverso
Se tanto no vazio eu já disperso
Meu dia mesmo quando a paz se tente.


011


Adentra meu espírito a incerteza
De um novo caminhar; aonde eu sinta
A força tantas vezes quase extinta
E tente contornar a correnteza,

A vida tem em si tal natureza
E nela a realidade já se pinta
Moldando a fúria expressa e quando minta
Perfaz um novo engodo com destreza,

Expresso meu delírio quando tento
Vencer com alegria o alheamento
Que sei ser tão somente uma constante

Porquanto me defenda desta forma,
E quando a realidade me deforma
O sonho se apresente ao mesmo instante.


012


Do abismo deste mar aonde um dia
Pudesse ainda crer em soluções
Devera tantas vezes tu me expões
Além do que minha alma poderia,

E crendo nesta infausta fantasia
Eu verto em mais dispersas direções
E sinto as desejadas erupções
Aonde o meu caminho seguiria

Talvez a consonância possa até
Salvar ou dirimir por ser quem é
Quem tanto pode mesmo me ajudar

Num êxtase complexo se percebe
Este delírio intenso e dita a sebe
Domando esta inconstância feita em mar.



013


Por sobre as ondas vejo a face humana,
E nesta variável forma creio
O quanto se permite em devaneio
E ao mesmo tempo a vida nos engana,

Porquanto a realidade é tão profana
E nela cada passo mesmo anseio
Vagando aonde sei e tento alheio
Seguir por onde o nada tanto dana.

Esboços variados poderiam
Agir da mesma forma onde teriam
O sonho como um dito mais audaz,

Ferrenha e desmedida esta ilusão
Aonde se programa o mesmo não
E nele a fantasia satisfaz.


014

Encontrando o pensamento
Onde tanto mais pudera
Encontrar a mesma fera
Neste vasto sentimento
Se por vezes bebo o vento
E a tempesta não se espera
Outra vida degenera
O fatal alheamento,
Sem perder a direção
Os caminhos danarão
E o meu ego já se aflora,
Quem procura e sei quando acho
Na verdade mero facho
De esperança sem ter hora.


015


Coração; tento e liberto
Nos meus ermos mais profanos
E se tantos fossem danos
O caminho estando aberto
No final já me desperto
E desvendo vários anos
Onde beba os desenganos
E o silêncio ora por perto,
Restaurando o que pudesse
Na verdade sei da prece
Que desdenha o fim e anseio
Tão somente alguma luz
Do meu canto sigo alheio
Quando o vago reproduz.

016


A brisa que sonega
Algum alento a quem buscara
Resgatando a dor amara
Entre tantos segue cega,
E o vazio de uma entrega
Resumindo esta seara
No passado se escancara
Onde o tanto não trafega.
Sei medonho o meu futuro
E se tento sobre o muro
Esta queda a vida rege,
O meu peito sem sentido,
O meu canto desvalido,
O meu verso, quase herege.


017


No fundo dos meus olhos
Abrigarei tua alma...
E em sonhos viverei este amor
Que envolve-me em ternura e calma!
Anseio pelos teus carinhos a me arrepiar...
Por tuas palavras sussurradas ao ouvido
Inflamando a chama deste desejar.
Que a nós, só importe o agora
Este lindo e mágico momento...
Que este sonho de amor e desejo
Eternize-se nas asas do tempo!

HELENA GRECCO


O tempo que eterniza
O sonho em voz imensa,
Quando a vida recompensa
Transformando o vento em brisa,
Outro encanto aromatiza
E tomando em luz intensa
O caminho já compensa
A quem tanto em paz matiza
Um desenho antes grisalho
E se a voz além espalho
Consonante maravilha
Traduzindo em verso e glória
Revelando à nossa história
O delírio onde se trilha.


018


O meu canto bebe a lua
E se encharca em claridade
Do luar que agora invade
A minha alma até flutua
E vagando sobre a rua
Sabe inteira esta cidade,
No sertão felicidade,
Mas aqui também atua
E desnuda em céu imenso
Quanto mais na lua eu penso
Mais compensa a caminhada
Nesta noite em luz intensa
Coração sempre convença
Da alma sempre enluarada.

019


O vento missionário
Dos anseios mais vorazes
Entoando quando trazes
Novo tempo temerário
Bebo o canto imaginário
E se tento novas fases
Entre as tantas que desfazes
O caminho este corsário
Expressando a realidade
Onde o sonho ainda invade
Faz das tripas; coração
O meu verso se perdendo
Num caminho onde remendo
Cordas do meu violão.


020


Proponho um dialeto
Onde o verso se pudesse
Não traria qualquer prece
Nem meu canto onde o completo
E se tanto me repleto
Da vontade onde se tece
O meu peito já se esquece
Do seu rumo predileto,
Beijo o vento e sigo à vida
Procurando uma saída
Onde sei que não existe,
O passado pouco importa
A saudade bate à porta
E me encontra quieto e triste.



021


Nada mais eu poderia
E se tanto inda pudera
A vontade destempera
E gerando a fantasia
Novo tempo não traria
Nem sequer a primavera
Onde a morte ainda espera
Traiçoeira em agonia,
Gero após o mesmo não
E procuro a direção
Onde nada se apresenta
A verdade é sempre igual,
O caminho virtual
O que bebe esta tormenta.


022

O cenário mais macabro
A verdade não esconde,
Meu caminho eu não sei onde
Nem tal porta mais eu abro,
E se tento um descalabro
A saudade não responde
Tanto quanto corresponde
Noutra cena ao candelabro
Em tais fogos, jogos, medo
E no fim inda concedo
Qualquer luz mesmo sombria,
Quando outrora vi a face
Mais temível onde grasse
Esquecera a poesia.


023


Nos meus âmagos diversos
Nos meus antros mais profundos
Vagarei por velhos mundos
Ousarei em tantos versos
E se os faço mais perversos
Ou deveras vagabundos
Onde quis bem mais fecundos
Os meus dias vãos e imersos.
Resistindo ao quanto pude
E se tento outra atitude
Esta queda não se evita,
Onde quis a liberdade
Tão somente ainda invade
A verdade, esta desdita.

024

Não me deixe no abandono
Nem tampouco quero o riso,
Na verdade eu me batizo
Neste fogo onde me adono,
Do passado em desabono
E do dia mais preciso,
O caminho diz juízo
E o meu manto em ledo sono.
Aprendendo quando errático
O desejo nunca é prático
Tão somente caricato,
Quantas vezes me perdendo
Eu me vejo mais horrendo
E deveras me desato.


025


Expressões diversas; tento
Quando muito diz do pouco
E gritando feito um louco
Sigo em pleno alheamento,
A verdade diz provento
E o terror se faz de mouco
O meu canto eu já treslouco
E nisto o meu divertimento,
O passado diz presente
E o que tanto ainda sente
Não desmente o que vivi,
Se a saudade bate à porta,
Na verdade a semimorta
Vem falando então de ti.


026


O meu prazo determina
O final da minha lida,
Tantas vezes presumida
E se exima desta mina,
Onde o tanto não fascina
Precedendo uma saída
Outra tanta é construída
E deveras mais ladina
Expressão já dividida.
Restaurando o passo aonde
O meu mundo não responde
Nem tampouco poderia,
A poeira toma tudo
E se tanto ainda iludo,
Na verdade uma utopia.


027

Por amar mais do que pude
Ou talvez acreditar
Nas loucuras de um amar
Eu perdera a juventude.
E se ainda o sonho mude
Marca a pele a tatuar
Permitindo navegar
Neste mar que tanto ilude.
Expressões diversas têm
Quem procura por alguém
E não vê, senão se esvai,
A incerteza de outro passo,
Quando muito eu me desgraço,
Outro instante a vida trai.


028


Esbarrando neste engano
Novamente me perdi,
E se tento agora e aqui
Eu de novo já me dano,
Esboçando novo plano
O terror; não presumi,
Mas deveras eu sorvi
O que tanto foi profano,
Esquecendo o verso quando
O meu mundo se negando
Não permite qualquer luz
Carregando a vida em mim,
Bebo até chegar ao fim
O que ainda te propus.


029



Ao falar deste momento
Onde nada tenho ou quis
O meu sonho em chamariz
Bebe logo inteiro o vento,
E se tenho algum lamento
Reviver o que não fiz
Sigo além e se condiz
Minha vida em sofrimento,
Resgatando qualquer erro
Vejo além deste desterro
O retrato de quem ama,
A certeza toma o prumo
E se engano logo assumo,
Não fazendo qualquer drama.


30

Ouço a voz do vento quando
Meu amor já não veria
Nem sequer em fantasia
Noutra face se mostrando,
A saudade desvairando
Quem deveras só queria
Um momento de alegria
E o caminho se negando,
Inda busco algum alento
Mesmo sendo tão distante
Do caminho que adiante
E penetre o pensamento
Como fosse uma mortalha,
Mas que invade e logo espalha...


031


Não é sem fundamento a vida quando
Esbarra na inconstância de quem luta
E sabe desta sorte tão astuta
Noutra forma num momento desatando
Os nós que na verdade desolando
Pressentem o furor da força bruta,
E o passo quando muito se reluta
E tenta novo rumo em contrabando.
O peso de viver vergando quem
Tentara prosseguir e nada tem
Senão as velhas marcas do passado;
Errático delírio toma a cena
E quando a realidade se faz plena
O mundo se transforma; destroçado.


032


Pois foi o meu desejo o caminhar
Por entre as tantas dores e temendo
O dia após a queda neste horrendo
Desenho aonde nada a se encontrar
Somente me arremeto ao torpe mar
E tento novo dia me prendendo
Nos elos mais cruéis e concedendo
Caminho sem ter nada em seu lugar;
Acerto os meus ponteiros com a morte
E sei deste delírio que comporte
O passo muito além do quanto pude,
Assino o derradeiro e vão contrato
Enquanto com certeza ora constato
Ausência do que tento e sigo rude.

033

As setas mais suaves de um amor
Arrancam sem perguntas, consciência
E quando deste fato com ciência
A vida não permite mais a flor,
E esboço sem saída e sem rancor
O quanto do meu canto em afluência
Gerando dentro em mim a imprevidência
Matando pouco a pouco e vão rancor.
Estraçalhando esta alma mais atroz
Do quanto poderia haver em foz
Meu estuário agora sinto exausto,
E o resto que inda possa perceber
Tragando a cada instante todo o ser,
Prevendo como alento este holocausto.


034


O peito se ferindo enquanto luto
E vejo o meu retrato vez em quando
Num outro desenhar se desdenhando
E bebo cada passo, atroz e bruto,
Vestindo esta ilusão até reluto
E sei do meu delírio me tornando
Ausente do real, um mero infando
Ousando num caminho, nada escuto.
Ressaltos são comuns e disto eu sei,
Assim ao perceber nefasta grei
O pranto derramado não condiz
Com quem um dia fora mais leal
E agora num instante terminal,
Percebe ser ainda um aprendiz.


035

Ferindo o velho peito deste a quem
A vida trouxe em cãs realidades,
E quando noutra face tu me invades
Olhando para o espelho, nada vem,
Somente este desenho em tal desdém
Marcando com furor as ansiedades
A vida não teria as qualidades
E sigo da esperança muito aquém.
Fartando-me do sonho aonde eu possa
Traçar qualquer momento a vida endossa
Engodo costumeiro de quem tenta
Sentir a placidez de um novo dia,
Mas bebe tão somente esta heresia
Gerada pela tez vaga e sangrenta.


036


Quem ama e não consegue se livrar
Do sonho em desventura e mesmo assim
Procura algum instante e sabe o fim,
Depois de tanto tempo em vão lutar,
Aonde se bebesse este luar
E nele se trouxesse o carmesim
Dos lábios que sonhei e sei enfim
Jamais eu poderia imaginar.
Resulto deste enorme e vago solo,
E quando na ilusão tola me assolo,
Escassas noites trazem sonhos, pois
O mundo sem sentido nada dita
Senão a própria dor e se acredita
Na salvadora senda do depois.


037

Tivesse em minhas mãos este poder
E dele desenhar um novo fato
Aonde com certeza já resgato
O tanto que aprendera a conhecer
Assim a própria sorte toma o ser
E neste caminhar tanto desato
Enquanto noutro escasso eu me retrato
Um fruto pouco a pouco, apodrecer.
Esgoto qualquer chance de mudança
E o tempo sem descanso logo avança
E marca com as garras mais audazes
Adentra e não concebe qualquer luz
E quando na verdade ainda opus
Meu passo, com terrores nada fazes.


038


Aonde triunfara a sorte imensa
De quem se procurou e não soubera
A cada novo instante esta quimera
Vibrando com provável recompensa
E quando a solidão já me convença
Do duro caminhar em longa espera
A sorte se transforma e não pudera
Vencer qualquer temor ou desavença.
Respiro quando tento uma saída
A vida noutra face sendo urdida
Presume qualquer fim e nisto sigo
Vagando sem destino e sem proveito
A queda se aproxima e se eu a aceito
Ao menos no final, um ledo abrigo.

039


Da sua ingratidão já nada levo
Senão a mesma face desdenhosa
De quem se mostra irônica e já goza
De um tempo mais atroz, duro e longevo.
O passo quando muito ainda cevo
Guardando dentro em mim esta penosa
Loucura muitas vezes caprichosa
E tanto quanto posso ainda atrevo.
Quisera desvendar alguma luz
E nela o meu caminho reproduz
A mesma falsa e lúdica expressão,
Sonego este destino quando tento
Vencer em calmaria o forte vento,
Bebendo as tempestades que virão.

040


O quanto inda forjei de uma ilusão
Tentando acreditar ainda em vida,
A morte tantas vezes presumida
Transforma a cada passo a direção,
E bebo deste imenso e intenso não
A messe noutra face resumida
A parte que me cabe destruída
E o risco se apresenta desde então,
Nefasta face afasto dos meus dias
E quando mais procuro calmos ritos,
Os dias se transformam em malditos
Diversos dos que tanto em paz querias.



041


Jamais procuraria alguma fonte
Aonde se pudesse novamente
Voltar ao que passei; tanto inclemente
Delírio e nele o nada já se aponte,
O quanto desdenhosa a velha ponte
E todo este temor que esta alma sente
Jogado pelos cantos, na aparente
Loucura e nela ausente um horizonte,
Aprendo com a queda e nada além
Do mesmo caminhar e nele vem
O tempo desairoso em mocidade,
Prefiro o agrisalhar dos meus cabelos,
Ainda que isto molde os pesadelos
E este terror intenso que me invade.


042


O fim da minha pena se aproxima
E o manto em luto feito se desnuda,
A sorte tantas vezes tão miúda
Medonha e caricata toma o clima,
E nada que em verdade me redima,
Tampouco necessito desta ajuda,
A morte me conforte e já me acuda
E nela com certeza uma obra-prima.
Deixando para trás sequer um rastro
Há tanto navegando sem o lastro
As âncoras perdidas, o astrolábio
Já tanto se tornara quase inútil.
Perfaço o descaminho e, mesmo fútil
Da estúpida quimera sinto o lábio.



043


Na mesma proporção que a vida dita
A sorte desairosa e mais cruel,
Eu bebo em tua boca o farto fel
Além do que minha alma necessita,
Aonde se tentara e não palpita
Senão a própria vida em seu papel,
Adentro com temor, ledo tropel
Aonde se presume uma desdita.
Acenos tão diversos; rude passo
E nele cada dia eu me desfaço
Errático e medonho ser vazio,
O quanto poderia acreditar
E ter em minhas mãos mesmo o luar,
Condeno-me ao terror e ao desvario.


044


Enquanto crescem loucos os prazeres
A manta se desnuda em tez sombria
O quanto do meu canto poderia
E nele tantas vezes teus quereres,
Mas quando me percebe e sinto teres
Nos olhos expressão de uma agonia,
A face se espelhando, mais vazia
Explode no vazio de tais seres.
Repare cada estrela e veja bem
Apenas o passado me contém
E dele não me livro, leva à morte.
O quanto inda pudera ser feliz,
E o nada na verdade contradiz,
Negando qualquer sonho que o suporte.


045


A minha aflição reinando sobre o fato
E tanto quis apenas um caminho,
Mas quando me percebo mais sozinho,
Apenas a mortalha enfim constato,
E bebo do vazio onde resgato
O quanto imaginara ser um ninho,
Meu passo para o nada, tão mesquinho,
O risco de sonhar, ledo retrato,
E tento acreditar na fantasia
E nisto se percebe o que podia
Talvez me redimir, mas me sonegas,
E sigo desairoso sem destino,
Vagando pelo céu e determino
O passo sem caminho sempre às cegas.



046


O mesmo amor que tanto em paz quisera
Agora não se mostra em evidência
A vida se transforma; imprevidência
Gerando a cada passo a dura espera,
O meu delírio apressa o salto e a fera
Não tendo nem sequer qualquer clemência
Bebendo com terrível virulência
A sorte de quem tanto degenera.
O medo é meu parceiro e até me criva
Permite que deveras sobreviva
Às tantas intempéries do viver,
Pudesse acreditar, ah se eu pudesse,
Mas como se é tardia esta benesse
Matando em galhardia o meu querer.


047


Enchendo de prazer e de alegria
O sonho mais audaz que tanto quis
O risco de viver, a cicatriz
O tempo na verdade não adia
A morte consonante com sangria
O olhar deste fantoche, um aprendiz,
O quanto da esperança contradiz
E a sorte com certeza eu não veria.
Viceja dentro em mim algo diverso
E quando para o nada ainda verso
Complexos os meus danos, meus engodos,
Presumo tão somente esta mortalha
Aonde a ventania ora se espalha
Trazendo para mim os mangues, lodos.


048

Cobrindo de profunda e imensa chaga
Já nada mais comporta quem delira,
A vida se expressando em tal mentira
O tempo na verdade dita a adaga,
E o quanto do caminho já se traga
E nele cada passo que interfira
Gerando outro demônio, ora retira
O passo de seu rumo, e em dor alaga.
O medo de sonhar é costumeiro
Assim como aridez no meu canteiro
As urzes e o meu canto mais atroz,
Urdindo dentro em mim uma esperança
A vida na verdade ao nada lança
Calando desde sempre a minha voz.


049


Atroz melancolia toma o sonho
De quem se fez ausente da esperança
E quando o coração ao nada lança
O mundo na incerteza o decomponho,
E o risco se tornando mais medonho,
No olhar de quem desejo, fúria e lança
Apenas percebendo tal mudança
As rotas mais atrozes eu enfronho.
Acordo solitário e sendo assim
O dia persistindo até o fim
Sem nada que se possa acreditar,
Somente a mesma espúria realidade
E nela este terror agora invade
Não deixa quem anseia, caminhar.

050


Unindo e procurando então ficar
Após as variantes desta vida,
Ao ver nos teus olhares a saída
Encontro dentro em mim algum lugar,
O amor quando se vendo em patamar
Transforma a sorte outrora mal urdida
E vejo nova história construída
Nas tramas delicadas de um sonhar.
Mas tudo com certeza é sempre em vão
Ouvindo novamente este senão
Sedento caminheiro do vazio,
Aprendo com ternura e já me adono
Do mundo que inda vira em abandono
E o sonho, se inda existe, o desafio.


051

O meu peito violeiro
Não se esquece de quem tanto
Desejara e por enquanto
Mostra o risco verdadeiro
De quem tanto diz canteiro
E cevando o desencanto
Gera aquém a dor e o pranto,
Meu caminho derradeiro
Infortúnios desta lida
Onde a face destruída
Da verdade se deforma,
Caminhante do vazio
Vou vivendo em pleno estio,
Coração; vive em reforma.

052


Aprendendo ou mais tentando
Vou seguindo sem descanso
E se tento e não alcanço
O caminho desde quando
Outro tanto destroçando
Onde quis qualquer remanso
Na verdade já me canso,
Mas prossigo e vou lutando.
Entre dores e sorrisos
Os momentos indecisos
A saudade dita a regra,
Mas aos poucos eu sei bem
O que resta, e pouco tem,
Com o tempo desintegra.


053

Ao sentir o vento em mim
Na verdade, um vendaval
Antes fosse tão igual
Ao delírio que sem fim
Escumando eu sinto enfim
Um medonho e irracional
Desenhar em tom venal
O mergulho de onde vim,
Esgarçando em verso a voz
De quem tanto foi atroz
E hoje morre sem sentido,
Meus demônios apascento,
Mas o mundo virulento
Não permite um só gemido.


054

Ecológica vereda
Onde entranho o pensamento
E se tanto ainda tento
Sem ter nada que conceda
O meu mundo quis em seda,
Mas em pleno alheamento
Novo passo ainda invento
Onde a sorte não proceda
Resumindo o caso em si
O que tenho e já perdi
Traduzisse bem diverso
Caminhar por entre pedras
E se tanto agora medras
O meu passo ainda verso.

055


Lua nova condizente
Com o sonho que renovo,
E se tanto ainda aprovo
Meu delírio se apresente
Onde quer nada consente
O desejo quando o provo
Quando agora me renovo
Ou me mostro indiferente,
Caminhar enquanto pude
Sendo sempre tolo e rude,
Ilusões acumulando,
A mortalha se resume
No meu passo rumo ao cume,
Avalanche me tomando.


056


Acredito ser talvez
O que tanto quis um dia,
Mas a dor, leda agonia
Noutra face contrafez
O caminho aonde vês
E reinando uma utopia
O meu passo se esvazia
Numa tola insensatez,
Resultado disto tudo,
O delírio onde transmudo
O fascínio me amortalha
Mansamente ainda tento
Mesmo quando contra o vento
Já perdida esta batalha.

057


Quando caprichosamente
A verdade se fez farta
O caminho já se aparta
Do que busco, um indigente
Noutro passo se apresente
A saudade me descarta
E se tanto se reparta
O que enfim a gente sente,
No final seguindo só
Dos meus dias, nem o pó
Após quedas costumeiras,
Entre os dias mais cruéis
Vejo além em carrosséis
Destruídas, tais bandeiras.

058


Acredito embora seja
O meu canto mais audaz
No vazio que se faz
Quando esta alma é malfazeja
E se tanto se verdeja
Quem procura pela paz,
O meu canto morre atrás
Do caminho que deseja.
Nada tenho nem pudera
Extraindo em mim a fera
O que sobra? Indiferença;
Na verdade sendo assim,
O meu canto chega ao fim,
Sem sequer quem o convença.


059


Apresento estas desculpas
E no fundo que se dane
Sentimento vive em pane
Mesmo quando ainda esculpas
Noutras faces tantas culpas
E refaça o que profane
O meu canto não ufane
Até quando tu me culpas,
Sem escusas nem recuos
Percebendo velhos duos
Outros tantos; pude então,
Na verdade o que interessa
E se tenho tanta pressa
Meus caminhos não virão.

060

Aproveito então a dica
E não deixo sem respostas
Quando as sortes são expostas
E ninguém ainda explica
O meu passo contra-indica
E se gostas ou não gostas
Vou perdendo tais apostas,
A minha alma se complica,
No final já tanto faz
Sigo sempre o tempo atrás
Do que o tempo poderia,
Mas gastando o meu latim,
Se inda resto dentro em mim,
Eu sou mera fantasia.


061


Fui concebido para tão somente
Acreditar nos ermos de minha alma
Verdade que gerando dor e trauma
Também das alegrias a semente,
No quanto a minha vida se apresente
E nela qualquer fúria não se acalma,
O risco de sonhar adentra a palma
E o tempo se mostrara impertinente,
Recebo em discordância a voz de quem
Há tanto desejara e nunca vem,
Aquém do que pudesse em tal ventura,
Meus dias entre tantas tempestades
E quando com terror também degrades
A sorte noutro instante se procura.


062

Tentando olhar, sentir alguma luz
Aonde se pudesse desvendar
Beleza sem igual, raro luar
E nele novo fato reproduz
O quanto me entranhara em leda cruz,
Ousando na esperança algum altar
Depois de tanto tempo procurar,
Apenas a verdade me conduz,
Não quero nem saber de qualquer farsa
No quanto este cenário em vão disfarça
Dispersa qualquer messe que viria,
E tendo às minhas mãos a claridade
Somente este tormento agora invade,
A vida sem defesa atroz e fria.


063


Entranho no deserto sentimento
E nele qualquer fonte poderia
Trazer alguma luz, mesmo alegria
Quem sabe no final, qualquer alento,
E quando novo rumo em mim fomento
Bebendo a me fartar desta sangria
No corte a mais dorida hemorragia
No olhar apenas medo e sofrimento,
Resplandecente sonho já não vira
E o medo se aproxima da mentira
Sedento navegante em tom sombrio,
O quanto resta em mim de um tempo aonde
O mundo na verdade não responde
E a sorte tão somente já se adia.

064


A vida em cada rude caminhar
Expressa a solidão e nela eu vejo
Reflexos desdenhosos do desejo
E enfrento sem saber o imenso mar,
Quem dera nos teus braços naufragar
Seria um fim suave e benfazejo,
Mas quando mais distante deste ensejo
Só resta esta ironia a me tomar,
Esgoto cm meus versos o que pude
E vendo a tua face em atitude
Voraz já não concebo outra saída,
E a morte se aproxima sorrateira,
Ainda que deveras não a queira
Domina e toma toda a tênue vida.


065


Eu procuro através da noite insana
Um porto aonde possa estar seguro,
E quanto mais distante em vão perduro,
A vida noutra face já se dana.
Mergulho nesta luta vã, profana
E tento novo dia, mas eu juro
O fim se aproximando, em tom escuro,
O risco de viver já não me traz
Sequer algum momento em plena paz,
Mortalhas tão diversas; minha herança
E tento, mesmo inválido cometa
Aonde cada passo se prometa
E a vida sem sentido ao fim se lança.


066

Consolo entre os afetos; poderia
Trazer ao meu olhar quer ou não queira
Além da mera face onde a poeira
Espreita e me domina dia a dia,
Alheio ao quanto pude em fantasia
A morte se aproxima, mais ligeira
E o salto leva à fria corredeira
Na tez tão desolada quão sombria
Esparso caminhante do vazio,
O quanto a cada risco desafio
Gerando dentro em mim tal tempestade,
Neste enlutado passo rumo ao fim,
O mundo se transforma e sei que assim
Apenas o terror, temor, me invade.


067


Os olhos que se fecham quando há dor
Não merecendo ao fim um horizonte,
O quanto do meu mundo desaponte
E mostre esta inconstância em frio albor,
Pudesse adivinhar com tal pudor
O riso mesmo até traçando a fonte
E nela todo o canto que desponte
Tramando um novo dia em bel favor,
Ao enfrentar a fúria da tempesta
O pouco do meu sonho que inda resta
Não deixa qualquer marca no futuro,
E assim ao me entranhar na solidão,
Bebendo esta terrível emulsão
A cada novo gole, eu me amarguro.


068


Quedando quase inútil quando posso
Vencer os meus fantasmas com o sonho,
E quando a vida além eu recomponho
Tentando restaurar mero destroço,
O todo noutra face não endosso
E vejo o meu olhar tosco e medonho
E quantas vezes pude e até me oponho
Ao quanto imaginara ser só nosso
O dia mais feliz que nunca veio,
A sorte sem ter base nem esteio
Derruba qualquer messe desde quando,
Neste infernal caminho me percebo
E ali sem fantasias eu me embebo
Do tétrico delírio desabando.

069


Talvez dentro do ser possa sentir
Alívios entre dores tão nefastas
E quando dos meus dias tu te afastas
Permites qualquer sonho no porvir,
O mundo sem saber mais discernir
As horas entre tantas, loucas, gastas
E gestações dispersas quando emplastas
Trazendo a quem sonhara um presumir,
Ao denegrir errôneo caminhante,
O quanto se apresenta e me garante
Expondo o que inda resta em verso e luz,
Espalho a minha voz aos quatro ventos,
Tentando dirimir os sofrimentos
Que a própria desventura reproduz.


070

Jamais algum soluço aonde um dia
Pudesse acreditar em nova face
De um mundo tão cruel por onde passe
Além da mera dor e hipocrisia,
O tempo com certeza não seria
O mesmo quando a vida em tal impasse
Ao transcorrer dolosa ainda grasse
Marcando com terror esta ironia,
O manto se desnuda e mostra quem
Talvez ainda um dia venha e trague
Um mar onde esperança enfim deságüe
Depois da tempestade que inda vem,
Assim ao merecer pleno castigo,
O verso se desanda e em vão prossigo.


071

Caminhos tão diversos quando os vejo
E tento alguma chance pelo menos,
De dias mais suaves e serenos
E nada se aproxima deste ensejo,
O quanto do meu mundo não se dera
Senão em tanto medo, em agonia,
Presumo com ternura o que viria
E neste desenhar, mato a quimera,
Aonde o coração teimando esconde
No fundo a vida passa mais confusa,
O olhar inebriante da Medusa
E o mundo sem saber sequer nem onde,
Apresentando o fim a cada perca,
O mundo se transforma em fria cerca.


072


Diversos roseirais aonde um dia
Tentara tão somente algum momento
E quando a voz se torna em sacramento
Maior do que decerto eu poderia
O marco se transforma e a poesia
Morrendo sem saber de algum alento
Um verso mais tranqüilo eu teimo e tento;
Mas tudo quanto enfrento é sofrimento,
Repare no vazio deste fosso
E vendo o meu caminho em mero esboço
Restauro com terror o que pudesse,
E sei que no final não restará
Sequer onde meu passo tocará
Deixando no passado uma benesse.


073


As folhas outonais caindo ao chão,
Expressam a mais dura realidade
E a cada novo dia mais degrade
O mundo que julgara e sei que não.
Apenas outros tantos me trarão
O corte aonde o mundo ainda invade
E morto sem saber felicidade,
O corpo se apresenta em podridão,
Uma alma tresloucada investe em medo
E tanto quanto pude não concedo
Sequer um novo alento a quem porfia,
Inverno se aproxima rigoroso,
Meu mundo na verdade este andrajoso
Delírio se perdendo a cada dia.


074


Amigos? Leda voz que não se escuta
E a vida não promete solução
Meu passo segue alheio e sempre em vão,
Quem sabe possa até nesta cicuta
O privilégio em morte aonde a bruta
Realidade nega a provisão,
Meus dias se perdendo desde então,
Caminho e já não quero mais a luta,
Escombros de outros tempos, gládio farto
Do quanto fora outrora enfim me aparto
E bebo este veneno em grandes goles,
E quando me percebes desolado,
Apenas ironia segue ao lado,
Também ao ver-me assim, logo me engoles.


075


Por tantas vezes tento outra saída
E nada mais do todo que pensara
Apenas o vazio na seara
E o olhar se entregue à rude despedida,
Arcando com o corte, outra ferida,
O manto se puindo me escancara
A face tão escusa e se declara
A morte mesmo quando em tênue vida.
Resgato os meus cantares derradeiros
E bebo virulentos e certeiros
Caminhos entre pedras, farto espinho.
Depois de ter no olhar esta certeza,
Do quanto mais queria, mera presa,
Persisto e sei que eu sou tolo e daninho.


076

Nas aflições diversas, tanta vez
Olhando para antanho percebi
O olhar que na verdade estava aqui
E nele o quanto agora tu já vês,
O manto da esperança se desfez
E dele cada corte eu conheci,
Vagando sem destino rumo a ti,
E o passo se perdendo, insensatez,
Apenas a mortalha inda me resta,
A mão que na verdade ao mal se empresta
Esgarça com firmeza o quanto deve,
E sei desta agonia doravante,
E nela cada passo se adiante,
Mas sei também que a morte virá breve.


077


O quanto não salvaste quem tentara
Seguir um novo rumo mais tranqüilo
E quando entre as mortalhas eu desfilo,
A sorte se desnuda mais amara,
O corte a cada passo aprofundara
A morte me permite e assim destilo
O forte caminheiro, num vacilo
Penetra este vazio e nada ampara.
O marco desdenhoso diz do quando
O mundo noutro tanto deformando
Gerando esta medonha dor em mim,
O todo se aproxima do tão pouco
Um velho quase esquálido eu treslouco
E bebo a sordidez do amargo fim.

078


Vingará no futuro a queda aonde
O tempo não mais deixa quem quisesse
E mesmo quando o sonho se obedece
A sorte noutro rumo já se esconde,
O amor quando ao terror se corresponde
Impede qualquer força, nega a prece
E a queda insofismável vem e tece
Tampouco alguma voz, mansa responde,
E sinto este outonal caminho em fúria,
Bebendo sem saber a forte incúria
E nela se encerrando a minha história
Minando cada passo rumo ao quanto
Apenas o final que inda garanto
Traçando a face escusa desta escória.


079

A dura empresa faz com que se tente
Vencer o descaminho costumeiro
E sei o quanto posso em derradeiro
Delírio aonde o mundo se apresente,
Ainda que pudesse incontinente
Cerzir com mais denodo o verdadeiro
Cenário e se deveras eu me inteiro
No canto se mostrando impertinente.
E resolutamente nada tenho
Somente o medo atroz, duro e ferrenho,
Num átimo o viver se torna rude
E assim o meu caminho em dor e treva
Apenas ao vazio o canto leva,
E a sombra da ilusão tanto me ilude.


080

Quero agradar a quem também me queira,
Mas nada se permite além do sonho,
O meu olhar atroz, quase bisonho
Encontra a solidão tão corriqueira
E quando entre as entranhas já se esgueira
E neste caminhar eu não me oponho,
Sedento navegante eu te proponho
Erguendo da esperança esta bandeira.
O marco mais audaz de minha vida,
Expressa a cada passo a dividida
História entre totais dicotomias,
E cevo com terror o quanto pude
E mesmo a solidão ainda ilude
Quem tenta quanto mais tu desafias.


081

O sonho se é real tanto me alenta
E gera novo sonho mais suave
E quando a própria vida ora se agrave
Gestando dentro em si leda tormenta,
Sonhar tão meramente me apascenta
E impede que este passo a vida entrave
E o quanto em liberdade como uma ave
A vida se mostrasse em paz, sedenta.
Restando a quem deseja um pouco mais
Que os dias consonantes e banais
Alçando a libertária fantasia,
E o tanto que se possa ou se mereça
A sorte dominando esta cabeça
Um novo amanhecer em luzes cria.


82

E eu vivo deste raro provimento
E nele saciando qualquer medo,
Ainda quando além teimo e concedo
O todo dentro em mim eu alimento,
Exposto o coração ganhando o vento
Na face mais feliz, sem ter segredo
Desenho o meu porvir em claro enredo
E tomo com ternura o sentimento,
Invisto enquanto insisto na verdade
E marco com brandura o quanto agrade
A quem se faz comparsa e companheira,
Numa avidez sobeja me alegrando,
Embora se perceba desde quando
A vida noutra vida não se inteira.


83


Apronta-se o cenário e vendo a peça
Olhando das coxias, o que tento
Seguir sem ter sequer alheamento
Nem mesmo outro caminho que isto impeça
A vida noutra vida recomeça
E o beijo se traçando solto ao vento
Permite que se tenha num momento
O rumo aonde a glória se obedeça
O tempo não discute, apenas passa,
E o quanto da esperança é vã fumaça
Embota o meu olhar, sem horizonte
Não tendo mais a sorte que procuro,
O dia na verdade é tão escuro,
E nele nem a vida em paz se apronte.

84


O tempo em discordância gera infausto
E nele cada engodo prolifera
E sinto bem mais viva esta quimera,
E o corpo não tem forças, segue exausto,
O amor não mais seria um holocausto
Tampouco qualquer curva dita a espera
E quando no final se destempera
O sonho, mero sonho, vira um fausto.
Rescaldos de momentos mais ferozes,
E deles ouço ainda as várias vozes
Nesta confusa e sórdida loucura,
O medo de seguir regendo o passo,
E assim quando do nada um nada faço
Simples presença amarga me tortura.

85


No seu lugar vazio, na platéia,
O ritmo alucinante desta vida
Produz outro cenário e na partida
O olhar se torna apenas vaga idéia,
O quanto de minha alma fora atéia
E o tempo se transforma e sem saída
A morte a cada passo sendo urdida,
Como se fosse assim, a panacéia.
Reparo os meus enganos e no fundo,
O coração em mágoas eu inundo
Deságuo neste tétrico caminho,
E sórdido fantoche, meramente
A sorte na verdade não desmente
E sigo sempre alheio e mais sozinho.


86

Ansioso pela festa que não vem,
O coração esboça algum sorriso
E quanta fantasia foi preciso
No fundo me percebo sem ninguém,
A morte precedendo com desdém
O quanto se procura em Paraíso,
E sei do meu caminho e o prejuízo
Que a própria persistência tanto tem,
Negar algum momento em alegria
É mesmo que matar a fantasia
Deixando apodrecida a velha imagem
De quem se fez audaz, e agora em nada,
Presume a farsa logo demonstrada
Tentando converter em nova aragem.


87


Repimpa-se a alegria quando vê
O olhar tanto feliz quando sobejo,
Porém noutro sentido nada vejo
Na vida sem saber sequer por que,
O tanto que pudera e nada crê
Sequer na fantasia em um lampejo,
O mar que tanto quis em azulejo
Nem mesmo ardente praia o amor revê.
Escuto a voz em tons diversos quando
O mundo noutro instante desabando
Formando esta figura caricata
Amante sem destino, meu passado
Expondo o ser deveras maltratado
Que ainda sem paragem, desacata.


88

Arqueio as sobrancelhas quando vejo
O olhar de quem buscara e nunca veio
Meu canto se presume e neste alheio
Delírio morre aquém de um mero ensejo,
E quando noutra face já dardejo
E busco cada estrela que rodeio,
O manto em temido devaneio
O corte se aprofunda em tons de pejo.
Escombro de um escombro um mero pária
A sorte tantas vezes necessária
Resume em verso e dor o quanto trago,
E sei que na verdade eu já me esfumo,
E quando procurara enfim o prumo,
Apenas vislumbrando um mero estrago.


89

Tendenciosamente a vida traz
Momentos discordantes e por isto,
A cada nova queda não insisto
E sigo o meu caminho vão, mordaz,
O amor quando demais, ausente a paz,
O corte se aproxima e quando visto
Revela o mais dorido, mas persisto
E tento outra vertente e sou capaz,
Marcando em virulência cada verso,
Assim vagando à toa no universo
Criado pelo sonho em fantasias,
E nesta dor que trago dentro em mim,
A vida se aproxima já do fim,
E nada do que levo me darias.

90


Embasbacado vejo a minha face
Especular reflexo da alma fria
E neste pouco espaço colheria
O quanto do vazio me desgrace,
A sorte noutro rumo ainda grasse
E gere tão somente a hipocrisia,
Aonde quis um dia a poesia
E nada mais se mostre, mero impasse,
Resulto desta frágil noite em vão
E sei dos meus tormentos e virão
Apenas as manhãs em tais neblinas,
Vitrais já se embaçando dentro em mim,
Fechadas persianas ditam fim
E neste delirar, tudo exterminas.



91

Quisesse como fosse a luz do dia
O amor que tantas vezes sonegaste
Perdendo do viver a frágil haste
O manto se desnuda em tez sombria,
O quanto deste sonho eu poderia
Enquanto num momento me alentaste.
Mas quando a solidão, cruel contraste
Transforma o meu caminho e me agonia,
Amena noite suave e constelar
Jamais eu poderia imaginar
Se apenas o vazio ainda ronda,
Quem tenta acreditar e nada vendo
O mundo se transcorre e mais horrendo,
O mar já me sonega qualquer onda.


92

Invoco então teu nome, mas sequer
Um som ainda ouvindo diz do quando
O amor em nova face se mostrando
Talvez ainda trague o que se quer,
O rústico delírio diz qualquer
E nega outro caminho o deformando,
O beijo tão nefasto me arranhando
Ausente dos meus braços a mulher
Que tanto desejei e nunca veio,
Seguindo sem destino, em devaneio,
Apenas mergulhando neste mórbido
Delírio aonde um dia se fez sórdido
E quando se aproxima o fim da vida,
Não resta dentro em mim uma guarida.

93

O céu em sombras tantas nada traz
Senão a velha face em tal desvelo,
E bebo a cada sonho o pesadelo,
E um risco se mostrara mais tenaz,
Além do quanto quis; ausente paz,
Momento de alegria? Jamais vê-lo
E o canto se perdendo sem contê-lo,
Na frágil fantasia, o som mordaz,
O suicídio é sim, o meu remédio,
E quando o fim tocando em doce assédio
A força geratriz deste infinito
Após leda mortalha, o que me resta
Abrindo deste espaço a mera fresta
É tudo o que deveras necessito.

94

Minha alma se exaltando tanto chama
Quem foi e jamais volta. Desalento.
E quando alguma sorte; ainda tento
O velho caminhar reflete o drama,
A morte com certeza, nobre dama,
Expondo quem vivera em vão relento
Ao mais suave encanto; alheamento
De tudo o que deveras inda clama;
Restando muito pouco sei que nisto
Existe esta esperança e agora avisto
A face mais atroz em luto e treva,
O medo de seguir? Não mais contendo,
O manto da alegria, mero remendo,
Em solidão minha alma apenas neva.


95


O tempo me levando para além
Dos sonhos onde pude; incerto dia
Acreditar no quanto não viria,
Sabendo que o vazio me contém,
Restando muito pouco para alguém
Que tantas vezes sorte merecia,
Mas sabe desta dura hipocrisia
E nela se adentrando sem desdém,
Refém do passo enquanto nada tenho,
Somente da ilusão mero desenho
E vasto o meu temor, porquanto existe
Ainda algum resquício de esperança
Aonde o derradeiro verso lança
O coração embalde amargo e triste.

96

Tu foste para mim a estrela guia,
E agora em tantas nuvens te perdi,
Procuro e sei que nada existe aqui
Somente a noite em trevas, dura e fria,
Pudesse ainda crer nesta ardentia
Que um dia infelizmente eu conheci,
E quando em desvario eu percebi
O quanto na verdade não valia,
Mesquinho caminhante no abandono,
Da morte a cada dia mais me adono
E sei que no final, tal sortilégio
A sombra de quem vive, para mim,
Traçando o meu destino em manso fim,
Será somente enfim, um privilégio.

97


Tu eras na verdade a poesia
Que um dia acreditei ser mais plausível,
Mas quando o som do amor se fez terrível
O tempo novamente não traria
Sequer a mais temida melodia,
E o vento num terror quase invencível
Gerara dentro em mim a dor incrível
Marcando com a fúria, esta agonia.
Apresentando agora o quanto pude
Viver embora saiba ser tão rude
O mundo que me assiste em ledo fim,
Ascendo ao mais sofrível pesadelo,
E tanto regozijo por contê-lo,
Resquício de uma vida ainda, em mim.

98


Jamais pude igualar meu canto ao teu
E sei do quanto fora quase insano
O verso aonde eu sinto que me dano,
E o mundo no vazio se perdeu,
Apenas este risco, agora meu
Traduz a imensidão de um louco plano,
E o verso mais atroz, mesmo mundano,
No quanto de meu mundo pereceu,
Amargo esta saudade; mas sei bem
Que nada na verdade ainda tem
Quem ama e se entregando sabe disto.
E quanto mais reluto; mais me entrego
Apenas maltratando e em passo cego,
Durante a tempestade, não desisto.

99


O teu contentamento me atordoa,
E sinto em teu sorriso esta ironia
Gerando dentro em mim o que agonia
Minha alma segue alheia e quase à toa,
Meu canto sem respostas inda ecoa,
E bebe da terrível fantasia
Sabendo que deveras poderia
Morrer; felicidade onde se escoa
O mar que na verdade desconheço,
E a cada caminhada outro tropeço,
Resvalo no vazio de meu ser
Ascendo ao mais dorido dentro em mim,
E bebo cada gota até o fim
E sei que no final; melhor morrer...


100

Pudesse me envolver neste momento
Nos laços bem mais firmes deste anseio
E quando a tempestade; em mim rodeio
Persisto o caminhar em desalento
E solto a minha voz imerso em vento
Traçando com terror o quanto alheio
Ao mundo sem defesa e sem esteio
Ainda algum sorriso, mero, eu tento.
Prenunciando a queda no horizonte
De quem se transformara e já desponte
Tal como uma temida tempestade,
A furiosa noite me tocando,
O vento incontrolável desde quando
A sorte noutra face se degrade.
MARCOS LOURES
 
Autor
MARCOSLOURES
 
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Enviado por Tópico
AnaMariaOliveira
Publicado: 01/08/2010 09:16  Atualizado: 01/08/2010 09:16
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 Re: SONETOS FEITOS EM 01/08/2010
Foi com enorme emoção que li a sua poesia.
Por coincidência refere um tema que me toca profundamente. Um amor que se foi, o paradoxo de existir numa vida que aparentemente parece não fazer sentido.
Pensar na morte por desgosto de amor pode entrar em cada um de nós, tal é o desgaste de uma dor impossível de debelar.

A palavra "esperança" no entanto vai-se repetindo em cada momento mais sombrio, na vida real e também ao longo da sua poesia.

Quem sabe então se a palavra esperança não será o código de acesso ao conceito e à postura positiva apesar dos contratempos existenciais.

Chorei ao ler a sua poesia...sinceramente! Vem de encontro a um momento que estou a passar...

Com sincera admiração pela sua escrita,

Abraço

Ana oliveira