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in par.

 


. façam de conta que eu não estive cá .





quando o chamei tinha arrancado os braços do corpo, queria dar-lhos, num abraço que durasse trezentas e sessenta e cinco noites. dois braços a um pescoço dados, abrir a boca, tocar-lhe na parte mais escura, onde dói mais o frio e as horas não faltam. talvez depois me ouvisse dizer espera. quando o chamei trazia o mundo às costas do corpo, morto. depois do mundo podia ver-se um horizonte imóvel. ao fundo, lá estava ele, na melhor memória que dele tinha. delgado e fino, a roupa chegada ao corpo, a boca aberta, o riso em espanto, o ar sereno. um palmo de terra nos olhos secos. dentro, uma varanda com vista para o mar. tenho a certeza que o habitam os peixes, como no céu os pássaros voam. e são de corais feitos os seus gestos, as suas mãos pedaços de algas, o seu amor uma medusa. quando o chamei de cego não me ouviu e o coração doeu-me até aos pés.



 
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Margarete
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 01/08/2010 00:58  Atualizado: 01/08/2010 00:58
 Re: in par.
Belas metaforas que o seu texto contem! Parabens e um abraco poetico!

Enviado por Tópico
sampaiorego
Publicado: 01/08/2010 13:16  Atualizado: 01/08/2010 13:16
Membro de honra
Usuário desde: 31/03/2010
Localidade: algures virado para o mar com gaivotas
Mensagens: 1147
 Re: in par.
já não sei onde me leva a tua leitura. as mãos suam. o corpo fica trémulo. o pensamento cria milhares de imagens em paralelo com a tua vida escrita – esta é tua ceifa de vida que trazes até mim – fico paralisado. talvez morto. envenenado – as tuas palavras são agora veneno. igual aquele que usam os feiticeiros do haiti – agora. apenas penso. vejo. sinto. choro. mas o corpo está envenenado. paralisado – e as palavras presas entre os dedos. distribuídas por sentimentos sem forma. sem nexo – jamais poderia escrever. agora vou continuar envenenado – só outro texto teu poderá anular o efeito deste veneno

beijo mar

sampaio(r)ego