Estava eu sentado na beira da baia,
Tantas pedras na grama, na relva,
Eu numa delas, a mais formosa.
Olhar correndo as águas tranqüilas,
Serras ao longe, do outro lado,
Gaivotas brincando no céu,
Mergulhos vezes em quando.
Meu olhar buscando o barquinho,
Ao longe, cruzando as águas, indo.
E lá se ia outro, preguiçoso, vagaroso.
E olhos de preguiça, deixando o tempo passar.
Vento vinha e soprava meu rosto, delicadamente,
E junto vinha o cheiro forte das águas, do manguezal,
Aroma de mar, de lodo, de sal, da natureza crua,
E minha tristeza nua calava e se deixava na inércia,
Sossegada como as águas da baía.
E o vento assim continuava, suave, brando,
Como a querer me fazer carinhos,
Dizer que do que tinha atrás lá dos montes,
Do outro lado, além dos meus pensamentos,
Bem pra cá donde estava meu amor.
E ele me dizia, que ela lembrava de mim,
Todos os dias, todas as tardes, sempre que olhava o mar.
E me trazia imagens do seu rosto também triste,
Dos seus cabelos soprados, caídos no ombro,
E dos seus olhos que me buscam além do mar.
O vento então já nem me dizia mais nada,
Nem precisava, os barcos sumiram na baia,
Também o monte do outro se foi, nem as gaivotas eu via,
As lágrimas que se faziam ofuscavam tudo.