001
Que o horror quando o carregue purifique
Esta alma desolada entre as demais
E sendo desejados funerais
A morte pelo menos já me explique
O quanto cada passo modifique
E tente dentre tantos outros mais,
Erguendo o meu olhar entre os fatais
Delírios onde nada mais complique
O passo desairoso de quem sonha
E sabe desta vida que enfadonha
Repete os mesmos trâmites, porquanto
A cada novo engodo nova queda,
E ao fim qualquer saída já se veda
Cobrindo as ilusões com turvo manto.
002
Minha alma a cada engodo se aproxima
Do quanto mais de humano existe em mim,
Até se decompor traçando o fim
Negando qualquer forma vã de estima,
O passo que somente assim se prima
No errático delírio de onde vim
E trame na verdade o quanto enfim
Gerasse na tempesta que sublima
O canto mais feliz quando se visse
Além do corriqueiro e da mesmice
Por vezes companheira ou aliada
Depois de tantos erros, nada vejo
Somente este terror por mais sobejo
E dele no final, vislumbro o nada.
003
Os anjos deste Deus que tu criaste
Humana criatura em tez voraz,
No quanto tão somente satisfaz
A furiosa senda em vão contraste,
Roubando a cada passo alguma haste
E nisto a solidão tanto compraz
Enquanto na verdade se é capaz
Do que na realidade não notaste.
Espúrio passageiro do abandono,
Enquanto deste encanto eu já me adono
Presumo esta fatídica loucura
Aonde dessedento a minha vida
Na face decomposta e carcomida
E nela encontrarei a paz e a cura.
004
Levando-me ao que vejo como espelho
E tendo aproximado o meu retrato
Apenas o meu eu bebo e resgato
E nele com terror eu me aconselho,
O quanto deste tempo agora engelho
Trazendo uma aridez, ledo regato,
Impávido eu termino e me desato
Atravessando em mim um mar Vermelho,
Escondo-me das feras que alimento,
E quando exposto ao fim, vago tormento
A insanidade doura cada passo,
Aleatoriamente um sonhador
Entranha nos anseios, medo e dor
E a cada novo dia me desgraço.
005
Pai meu, que estás nos céus após as brumas
E vês com Teu furor a face escusa
Do ser que na verdade tanto abusa
Enquanto tu derramas tais escumas,
E logo noutra face tu já rumas
Sabendo da seara mais confusa
E nela com terror ousando abusa
E bebes sanguinárias, vis espumas.
Sedento de vingança, o ser humano
Forjara em Ti o quanto em podridão
Expõe a cada ausência e não verão
Meus olhos o perdão que propalaste
E assim num dia a dia mais atroz,
Ninguém entenderia a Tua voz
Ousando ter humana a base, esta haste.
006
O quanto inda sou teu e não mais queres
E nisto meu delírio se consome,
Ao perceber da glória ausência e fome,
Os dias não terão sequer talheres
Da sobeja iguaria entre as mulheres,
Realidade aos poucos; vejo e some
E o todo do final imagem tome
Até que no não ser tanto interferes.
E resolutamente sigo em frente
Ousando acreditar noutro momento,
Aonde se entregando ainda tento
Um dia que deveras me contente,
Resumo o meu delírio em novo fato
E quando a velha cena; aqui resgato
Futuro mai diverso ainda tente.
007
Ainda a perseguir cada pedaço
Do quanto poderia e não mais vendo,
O fato tão cruel, portanto horrendo
Aonde me retrato e me desfaço,
Condeno a caminhada em torpe passo
E a queda a cada instante estou prevendo,
Da parte que me cabe, sou remendo
E neste espúrio mar, já nada atendo.
Cansado de lutar contra a maré,
O quanto ainda tenho e sigo até
Vencer ou ser vencido, não me importa,
Apenas resta em mim a solução
De ver além da frágil amplidão
A porta após a porta, após a porta...
008
Nalgum lugar sagrado ao pensamento
O meu ego se presume em vento frio,
E quanta vez eu teimo e desafio
Embora me perceba desatento
Porquanto navegar; deveras tento
E sei que no final este ar sombrio
Tomado pela angústia e desvario
Audaciosamente em sofrimento.
Restauro os meus caminhos, sigo aquém
E vejo noutra face o que não tem
Nem mesmo a imprevisão de um passo quando
O tanto que pudera não mais creio,
E o mundo se perdendo em devaneio
Da vida pouco a pouco me afastando.
009
O quanto inda me quer a morte quando
Desnuda a sua face amortalhada,
Depois desta batalha resta o nada,
E o mar que agora adentro é mais nefando,
O manto desta forma desnudando,
A fonte já tanto mesmo desolada,
E o corte se anuncia e nega a estrada
Meu rumo sem destino, destroçando
Acasos entre erráticos sorrisos,
Acumulara apenas prejuízos
E a bala, a faca a adaga vejo aqui,
Resumo minha história no vazio
E quando qualquer sonho eu desafio,
Eu sei que desde o início eu já perdi.
010
Tentando levantar-me enquanto ousado
O cântico feroz de alguma sombra
Deveras no tormento mais assombra
E gera as velhas dores do passado,
Por vezes imagino alguma luz
E sei que na verdade pouco resta
Senão a mesma face mais funesta
Aonde o meu olhar se reproduz,
Do pouco ou quase nada que inda tenho
O medo de seguir não mais permite
E o todo se perdendo em vão limite
O quanto deste sonho mais ferrenho
Num ermo sem sentido se perdendo
Deixando este fantoche, agora horrendo.
011
O quanto se ergueria além do chão onde me vejo
Perdido em tais rancores sem saída,
A sorte muitas vezes sendo urdida
Adentra o coração e neste ensejo
Desenho dentro em mim; algum negrejo
E bebo sem saber a despedida,
O errático e medonho em despedida,
Apenas o vazio enfim prevejo
E sei do quanto pude e nada tenho
Aonde o caminhar fora ferrenho
Agora ensimesmado nada resta,
Senão a mesma audácia em desventura
E o quanto deste sonho inda perdura
Não deixa da esperança qualquer fresta.
012
Quem é que ao despedir já não me vê
E toma entre seus braços o destino
Que um dia imaginara cristalino
E agora se aproxima sem por que,
O quanto aprenderia e não mais crê
Uma alma aonde o medo determino,
E quando meus resumos; examino
Eximo-me da sorte onde se lê
Desdita tão comum a quem mais sonha,
A face dolorosa ou enfadonha
Expressa o que talvez ainda tente,
Vestindo esta inclemência aonde um dia
Pudesse imaginar e não teria
Sequer o que me faça mais contente.
013
Enquanto da impaciência a vida traça
Ao esvair em sonhos cada engodo
Mergulho no passado e sei do lodo
Aonde o meu caminho toma a praça
E o quanto se esvaindo em tal fumaça
Persiste deste pouco ver o todo
E quando nestes passos eu me enlodo
Apenas solidão, meu canto grassa.
Nefastos dias reinam desde quando
O tempo noutro tanto se inundando
Esgota o que inda fosse mais atroz,
Resulto no que finda e tangencia
Erguendo a minha mão com ironia
Negando o quanto houvera ainda em nós.
014
A manhã rasga a tarde e molda além
A mesma desventura e nisto sinto
Apenas o que rege cada instinto
E nisto o meu vazio me provém,
O quanto em discordância a vida tem
E trama outro cenário e quando minto
O que julgara apenas vago e extinto
Revela o meu caminho muito aquém.
Queixar-me dos meus erros e tentar
Ainda acreditar nalgum lugar
Diverso deste aonde nada resta
Senão a mesma face que enfadonha
Permite a cada ausência o que se exponha
Imagem tão confusa adentra a fresta.
015
No instante aonde escapo ou mesmo vejo
Ardentes sensações ou iras fartas
Enquanto na verdade tu descartas
Esboças com ternura este azulejo,
O dia se aproxima e benfazejo
A sorte dita além das meras cartas
Bem antes que talvez ao longe partas
O tanto se aproxima de um lampejo,
Esgoto uma esperança quando tento
E vejo alheio a mim o sentimento
E audaciosamente eu sinto a queda,
Pagar com desconforto e despreparo
O quanto do meu mundo ora deparo
E nisto outra saída além se veda
016
Em frases que o terror esboça quando
Expondo outra verdade não descerra
O olhar que ora se entranha sobre a terra
Na mesma e vã mirada desvendando
Errôneos os ditames e sedando
O prazo pouco a pouco enfim se encerra
Aonde perfilasse paz e guerra
Ainda dentro em mim sigo invernando.
Quando ocasionalmente a vida traz
Um risco mais audaz e impertinente
E quanto tento além o nada sente
E mostra a mesma face então mordaz,
Rescaldos de momentos do passado,
Vislumbro a multidão, sofrido gado.
017
Perdidos, se exaurindo a cada passo
No quanto pude mesmo acreditar
Na sorte desenhada em vão lugar
Por vezes enfadonho ou mesmo baço,
O tanto que inda resta e já não traço
O manto bem mais claro de um luar
Aonde pude mesmo mergulhar
Seguindo cada dia neste espaço,
Aprisionado verso desde então
Aguarda a mais querida solução
E nada se apresenta neste fato,
Medonha face exposta num espelho,
O quanto ainda tento e me aconselho
Traduz este desejo e enfim resgato.
018
Mensageiros nefastos de outras eras
Os pesadelos dizem desamores
E sem que inda consiga além propores
Os dias noutros tantos; degeneras
E sigo sem saber de tais esperas
E bebo a ingratidão em duras cores
Errático demônio sobre as flores
Matando as improváveis primaveras,
Canteiros da esperança, meu jardim
Que há tanto desconheço dentro em mim
Crisântemos, verbenas, violetas
E os sonhos são decerto de tal forma
Aonde a própria vida nos deforma
Diverge deste bem que inda prometas.
019
As duras e revoltas tempestades
Comuns a quem se fez além do sonho
Por vezes tão sofrível e enfadonho
E nele com terror tanto os degrades
A vida ao me mostrar diversidades
Esbarra neste canto onde proponho
Um claro amanhecer bem mais risonho
Deixando no passado adversidades
E sinto em teu canteiro o florescer
Do amor que tanto quis e ao perceber
A rara maravilha em multicor
Entendo as variantes da emoção
Bebendo sem temor à exaustão
A doce essência rara de um amor.
020
O casto em alvos sonhos se deslinda
Na bela criatura que foi minha,
E quando esta saudade desalinha
O encanto que deveras já se finda,
O amor quando no amor cevando brinda
Expressa a solução que jamais vinha
E assim se presumindo a mesma vinha
A safra mais perfeita vem; ainda,
Servir-vos e sentir em vossos dias
As raras e sobejas fantasias
Enveredando além dos mares quando
No encanto sem igual de amor sobejo
Encontro cada anseio e mais desejo
O tempo num delírio desnudando
021
Pálidas, ao luar as noites nossas
E nelas me enfronhando sem defesas
Os sonhos são supernas sobremesas
E delas pouco a pouco tu te apossas,
E quando os meus caminhos também roças
O amor com suas garras; mansas presas
Adentra sem perguntas correntezas
E nele nossos passos tu endossas
Vasculho cada ponto e sei em ti
O quanto deste encanto eu descobri
Ou mesmo adivinhei quando queria
Apenas e somente qualquer marca
E nisto o meu desejo já se em barca
Promete até quem sabe um novo dia.
22
A vida em gargalhadas zomba quando
Olhando para mim percebe a face
Aonde este sarcasmo ainda grasse
E o todo noutro instante me tomando,
De amores e de medos, contrabando
Ainda quando a sorte me desgrace
Quem sabe noutro dia ainda trace
Um céu bem mais suave adivinhando
Representando enfim o quanto pude
E tendo além sobeja magnitude
Vencendo os meus temores costumeiros,
Alçando muito mais do quanto eu quis,
Podendo ser talvez inda feliz
Cuidando com denodo meus canteiros.
23
Lábios onde o sonho verdejara
Trazendo em carmesim nova esperança
A vida quando a ti, querida avança
Trançando com ternura esta seara
O passo novamente já me ampara
E nele se firmando esta aliança
Gerando onde se quis tal confiança
O encanto que esta vida desenhara,
Restauro de um passado mais sofrido
O amor onde o mesmo é consumido
Como iguaria rara em farta mesa,
E sinto após a queda em tenebrosa
Seara; o florescer em lírios e rosa
Qual fosse ao fim da vida uma surpresa.
24
Carícias sensuais da vida enquanto
Realidade turva toma tudo
E quando neste tanto enfim me iludo,
Sorvendo da esperança um doce canto,
O meu amor que um dia fora espanto
Entoa dentro em nós e se inda ajudo
No todo quando fora até miúdo
Imenso delirar que ora agiganto.
Invisto o pensamento e sei que neste
Delírio o quanto posso concedeste
Gerando num esplêndido fulgor
Ansioso entardecer onde em clarões,
O tanto que te quero e já me expões
Traduz o mais sublime e raro amor.
25
As rosas mais sanguíneas em desejos
Ardores e paixões refletem isso
E quanto além do todo já cobiço
A vida em seus sublimes, bons ensejos,
Encontro nos meus céus os azulejos
E neles refletindo cada viço
Do tempo mais feliz e não mortiço
Traduzem meus momentos benfazejos.
Realço com os versos e palavras
Os dias onde as sortes também lavras
Colhendo no futuro a mais sublime
Colheita onde se traça algum futuro
Aonde na verdade o que procuro
De todos os meus erros me redime.
26
Amarelando em mim as amarguras
Estanco o meu caminho onde pudesse
Talvez imaginar qualquer benesse
Embora novos tempos já procuras
E sei das nossas noites mais escuras
Enquanto o coração o sonho tece
Esbarro no que a vida reconhece
E gero após as guerras, tais canduras;
Existo e tão somente por saber
Dos tantos vis meandros do prazer
Entoando em meu peito esta alegria
Na qual e pela qual ainda possa
Viver a fantasia toda nossa
A dor ao longe e agônica morria.
27
Arroxeados dias em torturas
E neles os meus passos não mais vendo
Sequer o que pensara algum adendo,
Expressam dentre tantos tais loucuras,
E quando noutro rumo tu perduras,
O todo se apresenta mais horrendo
Do amor que imaginara não retendo
Senão mesmos retalhos, vil remendo.
E enquanto dos farrapos tento a sorte
Diversa que talvez inda comporte
A rara plenitude de um anseio,
Estúpido porquanto sonhador,
Encontro em discordância o bem do amor
E neste amanhecer nada rodeio.
28
Meus olhos fogueados quando a vê
E sabem quanto em ti podem sonhar
Ausente dos meus dias o luar
A vida já não tem qualquer por que,
Cansado de lutar sem nada e crê
Na sorte que jamais há de voltar,
Marcando a minha vida a cada olhar
Distante deste aonde nada revê
Quem fora sonhador e nada leve
Senão esta alegria, frágil, breve
De uma esperança feita em tom mais claro,
Amante inconsolável nada tendo
Apenas o vazio; em mim desvendo
E em versos solidão que ao fim declaro.
29
Amando os roseirais encontro espinhos
E tanto pude ver apenas cores,
Mas quando desenhando aonde fores
Dicotomias tantas nos caminhos,
Por vezes os meus passos são daninhos
E neles se percebem tais horrores
Acumulando medos, dissabores
Tentando em tua boca raros vinhos,
Aprendo a discernir os meus destinos,
E quando no dobrar dos velhos sinos
A morte anunciada dita enfim
O sonhador que agora já partindo
Procura mesmo além do tempo findo
O quanto levo em paz dentro de mim;
30
Por serem tão tristonhos, mas tão belos
Os sonhos onde encontro quem queria,
A noite se presume em alegria
Gerando tantas vezes seus castelos,
Porém na impavidez de vãos anelos
Os rumos onde a paz se cerziria
Encontram a total melancolia
Ousando com até velhos rastelos.
Arando esta aridez um solo agreste
No quanto a realidade não reveste
O meu caminho em tons diversos quando
O marco se desenha em tom sombrio,
O sonho desde então somente adio,
Enquanto vejo o céu além nublando.
31
Por ser a flor somente e nada além
Já bastaria para esta nobreza
Aonde uma alma entregue sem surpresa
Encontra o quanto quer e rumos tem,
O manto multicor trazendo o bem
No olhar envolto em rara sutileza
Desejo sem igual servido à mesa
Traduz tanta beleza que contém,
Meu canto enamorado em primavera
Exala este perfume que recebe
E quando adentra em paz a flórea sebe
Retém o quanto quer e mais espera,
Assim ao me entregar ao teu jardim,
Floresce um novo tempo dentro em mim.
32
Na angústia enquanto enfermo procurava
O olhar de quem bem sei já não veria,
A morte se transborda em agonia
E o coração adentra a fria trava,
O passo onde deveras, pois se lava
Trazendo com ternura um claro dia,
E nele este cenário poderia
Tramar além do quanto se esperava,
Após a cura vejo esta doença
De uma paixão superna enquanto imensa
Gerando até quem sabe a redenção,
Mas quando me percebo e não estás
O quanto desejara enfim em paz,
Somente mera chuva de verão.
33
Gorjeia dentro em mim esta esperança
E nela se refaz uma alvorada,
A sorte noutra senda desenhada
Agora sem defesas já me alcança
O amor quando demais gera a aliança
E nela se percebe a mesma estrada
Porquanto tanto tempo desejada
Trazendo a noite agora bem mais mansa.
Ao assumir meus erros, pude então
Sentir em tons sutis diapasão
Harmonizando o quanto ainda existe
De vida aonde outrora nada havia
E assim em mais sobeja sincronia
A sinfonia ainda ora persiste.
34
Numa noite em lua desenhada
A sorte se transcende à própria prata
Dourando com ternura me arrebata
Tomando com furor a bela estrada
Promessa há tantos anos; desejada
E sei o quanto a luz invade a mata
Deixando-se antever esta cascata
Guardada nesta senda então cerrada,
Ao perceber assim esta beleza,
O coração adentra a Natureza
E segue sem defesas até quando
O sol com sua força magistral
Tomando este arrebol trama afinal
O dia sobre tudo dominando.
35
Tão delicada e triste uma alma tenta
Ao menos um descanso após a guerra
E quando na verdade só descerra
Após a tempestade outra tormenta,
A vida muitas vezes virulenta
Esboça o caminhar e ali se encerra
A sutileza imensa em tosca terra
Na qual toda a beleza se apresenta,
Vestir a fantasia de quem sonha
E vendo a face atroz, mesmo medonha
De quem se fez além de mero traço,
O tanto que a desejo e não me quer,
O risco de sonhar, hoje sequer
Expressa um bom caminho e o nada eu traço.
36
Aroma em castidade e em tez profana
A dama se vestindo em meretriz,
Assim como se fosse alguma atriz
Enquanto a minha vida além se dana,
A imagem tantas vezes soberana
E nela a própria cena contradiz
E ser feliz é tudo o quanto eu quis,
Mas sei que a sorte amarga desengana.
Restando muito pouco em minha história
A sorte que destarte é merencória
Expondo este retrato envelhecido
Das rugas, minhas cãs tão prematuras
O quanto do vazio me asseguras
Não faz e não fará qualquer sentido.
37
A tua boca expressa em rubro tom
O quanto de um desejo já florescia
Adentro a cada instante esta alegria
E sei que amor detém o raro dom
Do encanto mais que um simples, vão neon
E é muito além do quanto eu merecia,
Assim ao se espalhar a poesia
O canto mais augusto traz num som
Suave e delicado, o meu desejo,
Embora na verdade não prevejo
Senão a própria queda incontrolável,
Meu mundo se insensato já se fez
No fundo resta apenas timidez
E o manto noutro espaço, impenetrável.
38
O rosto que me faz sonhar e traz
A plena maravilha deste anseio
Enquanto constelar em devaneio
Permite ao sonhador um canto em paz,
O quanto nesta vida fui mordaz
E tantas quedas dizem de um alheio
Cenário aonde a sorte ora permeio
Gerando o que à verdade satisfaz,
Escassos dias quando pude então
Viver a imensidade e sei que não
Encontraria a sorte após a queda
O mergulhar no vago de teus braços
Expõe os dias mesmo quando baços
E a sorte noutro rumo já se enreda.
39
As pétalas da rosa em meu canteiro
Trazendo algum alento a quem sombria
Verdade noutra face mostraria
O mundo num cenário costumeiro,
E quando no teu canto já me inteiro
Prenunciando a glória de outro dia
Imerso na mais clara fantasia
O amor bebendo em paz deste tinteiro.
Primaveris delírios são constantes
E neles cada passo que adiantes
Forrando com matizes meus caminhos,
Embora saiba bem dos roseirais
E neles entre tantos magistrais
Delírios também haja seus espinhos.
40
Quem sabe nesta neve de um inverno
Feroz se prenuncie um calmo dia,
Mas quando a primavera surgiria
Tomando com ternura o duro inferno,
O amor que ainda trago, mas o interno
Numa eclosão fantástica traria
A bela e tão sonhada melodia,
Enquanto em solidão, agora hiberno,
Vestindo esta promessa nada além
Dos dias que virão e neles têm
A glória presumida deste fato,
Aonde com firmeza mergulhara
Tornando sempre flórea esta seara
E nela toda a dor; hoje eu resgato.
41
Um astro que vagueia sem destino
Espaços consonantes e diversos
Galgando por tamanhos universos
E neles; meu caminho eu determino
Aonde fui deveras um menino
E bebo os meus venenos mais perversos,
Encontro os meus temores e os dispersos
E neste mergulhar eu me alucino,
Agrisalhado céu onde pudera
Apenas discernir a dura espera
De quem se fez poeta e quis além
Do pouco que inda resta no seu peito,
E mesmo quando em pedras eu me deito,
A poesia invade e a paz contém.
42
Repouso nestas trevas onde um dia
Quisera tão somente algum descanso,
E quando o meu caminho sem remanso
Buscara tão somente a fantasia
Fortuna novamente eu não veria
Apenas no vazio enfim me lanço
E assim às teimo e me esperanço
Rondando o que inda resta de alegria.
O peso de viver já não concebe
E a escuridão domina inteira a sebe
Cerzindo este abandono dentro em mim,
Meu verso sem defesas; segue alheio
Satélite sem rumo o vão rodeio
Alimentando o inferno de onde vim.
43
O quanto o mundo é frio e nada posso
Após tentar alguma luz e sinto
O coração entregue ao vento extinto
E neste caminhar sou qual destroço,
Desejo que pensara ser tão nosso
Agora noutra face enfim o tinto,
Vergando este terror que agora eu sinto
Enquanto busco sorte, eu me remoço,
Mas sei do fato sórdido vindouro
E quando imaginara algum tesouro
Ouro de tolo; apenas adivinho,
E bebo cada gole do vinagre
Qual fosse a redenção que me consagre
Espúrio em acidez horrendo vinho.
44
Apenas lividez aonde um dia
Quisera o brilho imenso e constelar,
Aonde se moldara algum luar
Brumosa noite enfim me apetecia,
Restando tão somente a poesia
E nela ainda cismo num vagar
Distante do que pude imaginar
Morrendo pouco a pouco, dia a dia,
Esgoto os meus domínios no vazio
E quando algum momento eu desafio
Ousando para tal ter a esperança
E resta dentro em mim apenas isto,
E o fim se aproximando enquanto insisto
E o olhar sem horizonte ao longe avança.
45
Inunda-se esta noite em solidão,
E aprendo com meus erros tão somente
O quanto do vazio já se sente
Transforma num inverno o meu verão,
A morte talvez seja a solução
De quem se fez decerto impertinente
E quando outro caminho mesmo tente
Os dias se repetem. Tudo em vão,
Mesquinharias ditam o que há tanto
Pudera acreditar e não garanto
Somente este vazio dentro em mim,
Ausenta-se do olhar o brilho raro
E quando novo mundo eu escancaro
Encontro o meu delírio e o sei sem fim.
46
Da fria noite em névoas sinto ainda
Apenas a temida turbulência
A vida se perdera em sua essência
E o nada além do nada se deslinda,
Enquanto a sorte em dor, a vida brinda
E nisto se percebe uma ingerência
Do marco mais atroz a imprevidência
Que tanto se desnuda enquanto finda
A sorte não pudera ser assim,
O fátuo caminhar persiste em mim
E o manto já puído da esperança
Apenas levemente se revendo
Traduz este cenário agora horrendo
Aonde o meu caminho em vão se lança;
47
O gume desta adaga penetrando
O corpo mais atroz e nada veio
Somente o mesmo passo em devaneio
E o manto noutro tom se destroçando
O véu das esperanças desnudando
Meu canto deste todo segue alheio
E quanto mais a sorte em vão anseio
O mundo se mostrara quase infando,
Resumo no vazio o que inda trago
E bebo em grandes goles este estrago
Recomeçando a vida aonde um dia
O tempo não pudera ser assim,
Marcando toda a dor dentro de mim,
O encanto sem resposta o tempo adia.
48
Sinistra esta montanha em tez brumosa
Aonde na verdade nada tendo
Senão este desenho vago e horrendo
Invés da mais sublime e majestosa,
O olhar sem mais sentido ainda glosa
A face que pudesse me envolvendo
E o todo se perdera já descrendo
Da sorte muitas vezes caprichosa.
Aprendo com meus erros, mas enquanto
A vida se transforma e desencanto
Meu verso sem sentido e sem razão,
O mundo imaginário não existe,
Retrato este delírio agora triste
Tramando dias frios que virão.
49
Um sonho sem igual ainda tento
E vejo a discordância em tom venal
Meu rumo tantas vezes desigual
Prepara para o medo e o desalento,
Aonde se pudesse em provimento
Beber este delírio sensual,
O risco de sonhar expondo o mal
E nele só presumo o alheamento.
O quanto tantas vezes teimo e busco
Embora o meu caminho em lusco fusco
Já não permitiria qualquer brilho,
E quando alguma luz; ainda vejo
Apenas um delírio do desejo
E a morte sem saber tanto estribilho.
50
Luar se banha em sonhos prateados,
E o canto em tantas noites mais dorido
Agora se mostrando num sentido
Diverso dos meus dias desolados,
Expresso em fantasia meus herdados
Caminhos variados; mas sofrido
Um trovador entoa neste olvido
Momentos sem iguais, abandonados.
Resumo em poucos ditos; o que quero
E sendo sem defesas, mais sincero
O amor já não condiz com o meu sonho,
Velhusco caminheiro em desatino,
Tentara num segundo ser menino,
Porém especular rosto é bisonho.
51
As lavas da montanha em erupção
Traduzem a paixão que me domina
E quando da emoção percebo a mina
Momentos em total fúria virão
Nessa alucinação vejo a paixão
Aonde o próprio passo determina
Vulcânica loucura que alucina
Desenha neste céu tanta amplidão
E sei dos meus delírios onde eu possa
Trazer a sensação que a quero nossa
Num fumegar intenso rara frágua
No amor quando no amor teima e deságua
Fomentos sem igual; resumo a vida
E nela nova face desenhada
A messe dominando a minha estada
Impede que se beije a despedida.
52
Na lividez atroz onde se expressa
A vasta e tão temida incoerência
A sorte ao se mostrar nesta ingerência
O risco a cada passo se confessa
O amor que imaginara vã promessa
Transcende ao que seria prepotência
E vejo neste fato uma indulgência
De quem se fez amante e assim começa
A vida após a morte em dor e tédio,
O amar é com certeza um bom remédio
E extraio nestes versos meu futuro
O quanto pude mesmo acreditar
No encanto dentre tantos; desenhar
Cenário aonde a paz teimo e procuro.
53
Nesta paixão tamanha aonde eu creio
O mar adentra em mim e em paz me alaga
Curando do passado qualquer chaga
Enquanto dos temores vou alheio,
O tanto quanto posso e até rodeio
Da lua imaginária que se traga
Deixando no passado alguma adaga
Esconde-se ao luar que em paz anseio
Estendo o meu olhar noutro horizonte
E vejo quanto em paz o canto aponte
Transcende-se ao mais claro que há em mim,
O beijo delicado de quem ama
E a noite se estendendo em rara clama
Acende da esperança este estopim.
54
Vestido de ideais caminhos; tento
Seguir sem mais temores vida afora,
O amor quando demais decerto aflora
E bebe este delírio onde o freqüento,
E sei que mata até o alheamento
Enquanto em luzes claras me decora
O tanto quanto quero e desde agora
Expressa o mais sublime pensamento,
Depois de tanta luta e do fastio,
O canto onde deveras eu desfio
Meu único desejo, o ser em ti
Apresentando a luz como destino,
Assim a cada instante determino
O quanto mais sublime conheci.
55
Jamais na indiferença em gelidez
Eu pude discernir esta vontade
E quando uma ternura em paz invade
O amor tanto se envolve enquanto vês
Reinando sobre a tola insensatez
Moldando com brandura a realidade
E assim neste momento além se brade
O canto em mais sobeja lucidez.
Supera as desventuras costumeiras
E traz todo o desejo aonde queiras
Seguir com toda a pompa em rara gala,
Amar e ter nos olhos a certeza
Da vida em mais sutil, rara nobreza
Na voz que ninguém mais teimando, cala.
56
Escondem-se as paixões num dia manso
Aonde a tempestade diz bonança
E assim o meu olhar além alcança
O quanto desejara sem descanso,
O manto mais sublime, este remanso,
O dia em fúria e doce temperança
A sorte desvendada já se lança
E quando me percebo a ti avanço,
Resplandecente lume e nele tenho
O encanto mais voraz, mesmo ferrenho
E tento acalentar com minha luz
O quanto em discrepância dor e gozo
O amor se mostra então mais caprichoso
Enquanto sem defesas nos seduz.
57
No frio destas altas cordilheiras
Cenário sem igual em azulejo,
Assim também o amor quando te vejo
E dele sem notares tu te esgueiras
Ousando na esperança por bandeiras
E tendo a cada passo um novo ensejo
Resumo o meu caminho em teu desejo
E sonho que também tanto me queiras,
Embora paralelos os caminhos
E neles se percebam os mesquinhos
Desvios de quem; tanto quer e teme
Repare nas estrelas, são eternas,
E nelas a certeza das lanternas
Que a eternidade em luz, domine e algeme.
58
No cume das montanhas tanta vez
Uma águia faz seu ninho e assim protege
A vida que deveras gere e rege
Com todo este denodo que tu vês
Assim também neste ápice, talvez
O que pareça a ti um mero herege
Permita o caminhar onde se almeje
Além do quanto pode a sensatez,
Restando do meu canto solitário
Um sonho e decerto é necessário
Saber que mesmo quase que impossível,
O medo não impeça este caminho,
Porquanto nos pareça mais daninho
Tornando então palpável, mesmo incrível.
59
A lava que se oculta dentro da alma
Não deixa que se veja a déia diva
E quanto em ilusões o mundo criva
Transforma qualquer medo e nos acalma,
Repare quando a vida é feita em calma
E nisto a mansidão, imperativa
Gerando outra ternura que cativa
Negá-la é produzir inútil trauma,
A fúria de um anseio pode ser
Ou não um raro anseio de um prazer,
Mas quando em bases firmes, sentimento
Até se parecer um mero sonho,
E nele a derradeira força eu ponho,
Perdê-lo tão somente assim, ao vento?
60
Adentro estes vulcões aonde um dia
Apenas mera cinza se previra
E quando a lua imensa ora interfira
Traduz a mais perfeita poesia,
O tempo na verdade não seria
Somente lastimável quando a pira
Expressa a mansidão se a luz se atira
Trazendo à plena noite a fantasia.
O outono nada pede à primavera,
Mas quando a vê decerto regenera
Dos tons sombrios; rara florescência
Sorvendo este matiz inigualável,
Sonhar é necessário e o imaginável
Reduz da dura bruma esta inclemência.
61
Pudesse te falar do quanto sinto
E crer ser mais possível o que sei
Diverso do que possa em tosca lei
Dizendo muito mais que mero instinto,
Vulcão um dia morto ou semi-extinto
Agora noutra face o desenhei
Traçando num fulgor o quanto errei
E vejo novamente e assim desminto
A morte companheira de poema,
E nela tão somente não se algema
O rumo mais ditoso e nele eu vejo
Um dia após tempestas e temores,
Sabendo que buscando novas cores,
Entranho estes matizes do desejo.
62
Esconde friamente no passado
A imagem das geleiras onde um dia
Tentando transtornar a poesia
O mundo que imagino, desolado,
Agora ao perceber bem ao meu lado
O canto mais suave em alegria
Saudando muito além do que podia
Esboço reações; mudo o traçado,
Mas tanto quis o amor e nada importa
Somente o arrombar da velha porta
E nem a recompensa ao fim espero,
Aplaco o que pensara mais feroz,
E quando ainda escuto de ti a voz,
Transformo ora magnânimo o que é mero.
63
Sem que se trema a voz de quem delira
Jamais eu pude crer noutro cenário,
E sei do quanto é mesmo necessário
Ainda que isto seja uma mentira
O gosto de um poeta pela lira
Tornando o canto até mais temerário
Gerando este delírio, algo corsário
Aos mares mais diversos já se atira.
O risco eu sei deveras inerente
A quem noutro caminho sempre tente
Vencer os seus demônios, com astúcia,
Na doce maciez desta pelúcia
O riso de um amor mesmo que falso
Impede a solidão, vil cadafalso.
64
Mal sabes do desejo que me move,
E sei que nada disto mais te importa,
O sonho abrindo enfim a dura porta
No fundo tanta pedra se remove,
Não quero sequer mais prova dos nove
Sangria desatada não aborta
O velho caminheiro agora exporta
O verso noutro tanto e disto prove
Somente em ilusões, mas já me basta
Ainda se a resposta for nefasta
Um mero devaneio me alimenta,
Não quero uma certeza meramente,
O todo noutra face se apresente
E aplaca a solidão, cruel tormenta.
65
Paixão tanto palpita desde quando
O mundo na verdade se soubera
Depois de qualquer luz em primavera
Até mesmo se em mim está nevando,
O corpo com certeza se enrugando
A sorte na verdade é dura fera,
Mas quando em fantasias se tempera
O que fora feroz agora é brando.
Restauro com ternura a juventude
E até quando este fato falso ilude
Permito qualquer luz que inda desvendo,
E sei que neste espelho há em verdade
Um ser que a vida já degrade
Mostrando este cenário quase horrendo.
66
Quando louca e fremente a noite invade
Meus sonhos mais audazes; nada vindo
O quanto imaginara outrora lindo
Agora noutra face é tempestade,
Viver e acreditar felicidade
Aonde cada verso eu não deslindo
E bebo deste fel, no quanto findo
Caminho feito em vã temeridade.
Senzalas que inda trago dentro em mim,
Amortalhada sorte diz do fim
E dele nada vejo além desta ilusão
Vertendo a cada passo em tal delírio,
Apenas se presume no martírio
Os dias que decerto inda virão.
67
O sol quando se apruma no horizonte
Trazendo a imensa e rara claridade
Ao mesmo tempo enquanto nos invade
Deveras outro rumo ainda aponte
Deslinda-se sobejo sobre a fonte
E bebo deste encanto à saciedade,
Tentando discernir tranqüilidade
Aonde nada além veja e desponte.
Resumo o meu caminho em tais veredas
E sei que na verdade não concedas
Sequer algum alento a quem pudera
Durante tanto tempo ainda ver
Distante dos meus olhos o prazer
Deixando sepultada a primavera.
68
Aonde nos trigais desta emoção
Cevara com ternura e nada colho,
O quanto imaginara hoje é restolho,
Os dias são terríveis desde então,
E sei dos meus tormentos e verão
A fúria desenhada e neste molho
A morte tão somente; inda recolho
Traçada pela dor de cada dia,
E quando ainda busco quem traria
Somente um raio manso de luar,
A cena se repete e envelhecido
Cenário revolvendo o vago olvido
Deveras mata invés de me alentar.
69
O fulvo dos teus pelos sob o sol
Dourando a tua pele me transtorna,
E a vida outrora fria ou mesmo morna
Agora se transforma em tal farol,
E dominando tudo no arrebol,
A sorte desvairada já se entorna
E o quanto se perdera enfim retorna,
A vida segue mansa e sempre em prol,
Alheio as mais cruéis vicissitudes
Ainda que deveras; tanto iludes
Esgoto-me na fonte mais sublime,
E ao ver farta beleza em rara praia,
Por mais que tal miragem sempre traia,
Apenas por sabê-la eu me redime.
70
As horas mais sangrentas do passado
Aonde não pudera acreditar
Nem mesmo na vontade de tocar
O sonho tantas vezes delicado,
O risco de beber e inebriado
De anseios outro tanto mergulhar
Sem nada que pudesse me ancorar
O mundo dentro em mim já naufragado,
Respiro tão somente este desejo
E sei que quanto mais a ti almejo
Maior esta distância que separa
Meu sonho do real discernimento
E mesmo assim decerto ainda invento
A mais sublime luz nesta seara.
71
Vagando pelos ares, pensamento
Não tendo mais paragem nem sossego
Aonde se queria algum apego
Apenas novamente o desalento
E quando na verdade fora pego
Por quem noutro momento ainda tento
Tocar ao aplacar meu sofrimento
Não teve para tal menor emprego.
E peço arrego quando vejo assim
O amor que tanto quis longe de mim
Neste infindável sonho dito vida,
Enquanto nada levo dentro da alma
A solidão decerto, um duro trauma
A cada nova ausência mais urdida.
72
Flores que tanto eu quis desabrochadas
Agora num aborto nada vejo
E quanto mais audaz o meu desejo
Maiores os terrores, tantos nadas,
Percebo tão distantes alvoradas
E quando um velho tempo; inda revejo
Nas mãos o mesmo velho realejo
E as facas cada vez mais afiadas
Não tendo solução, meu ermo mundo
E nele como um mero vagabundo
Inundo-me de sonhos, mas prossigo
E sei que este vazio é o que inda resta
À morte o meu delírio em vão se empresta
Jogado pelo canto em desabrigo.
73
Douradas as espigas desde quando
O manto transcorrera em meus trigais
Agora noutros dias, vendavais
O tempo novamente descorando,
O quanto se perdera transformando
Os dias em momentos mais banais,
Pudesse acreditar e querer mais,
Jogado pelos cantos, nauseando.
Exposto aos doloridos dias; sigo
Refém do que talvez seja um abrigo
E tantas vezes; mostra a face escura
De quem emoldurando a sua sina
No quanto este vazio determina
A vida aonde o nada se procura.
74
Entre os perfis suaves onde um dia
Pudesse acreditar felicidade
Apenas a verdade que degrade
Matando o que minha alma fantasia
Gerando noutro tanto a hipocrisia
Jorrando em teu olhar a falsidade
Aonde procurei sinceridade
O nada com certeza; esperaria,
Marcando com a fúria do desdém
O amor quando jamais algo contém
Não deixa que se veja logo após
As fartas corredeiras do passado,
Um estuário enorme e tão sonhado,
Morrendo o rio sem sequer a foz.
75
Tudo é tranqüilo aonde pude ter
Nos olhos a esperança, mas sei bem
Que tanta fantasia não convém
A quem já se cansara de sofrer,
O quanto do meu mundo passo a ver
Dos sonhos e promessas muito aquém,
Resulto do passado e sem ninguém,
Colheita em solidão a se fazer.
Jogado pelos cantos desta casa
Apenas o vazio ainda embasa
O que inda resta vivo deste sonho,
Jocosa face dita com sarcasmo,
E a vida se repete num marasmo,
Deveras sem sentido e até medonho.
76
Olhando para trás e esta paisagem
Repete-se decerto quando eu tento
Vencer o meu terrível sofrimento
E ter após o medo nova aragem,
O amor quando se fez, leda miragem
Traçando tão somente o alheamento
E neste já não ser sem ter alento
A vida perde o prumo na engrenagem,
Seviciado sonho em tom cruel,
O amor quando se fez; perdido ao léu
Nem mera sombra existe do que um dia
Pudesse ser bem mais do que este vago
Caminho ande o mundo em dor alago
E o sonho sem seu cais, naufragaria.
77
Não vejo mais sequer o quanto em Deus
Ainda poderia ter a messe
Do sonho que em verdade já se esquece
Deixando tão somente um vago adeus,
Os dias onde outrora quis só meus
E neles o vazio ora se tece,
O risco de sonhar vida padece
E volta sem pensar, seus apogeus,
Na face desdenhosa da verdade,
Ausente dos meus olhos claridade
A liberdade escorre pelos dedos
E quando me imagino mais tranqüilo,
Apenas este fel venal destilo,
Em dias tão terríveis quanto ledos.
78
Quem possa imaginar alguma cena
Aonde já vencido o temporal
Apenas outro dia e sempre igual,
Minha alma tão sozinha quão serena,
Ainda que a quisesse ao menos plena
No fundo se prepara o funeral
De um sonhador escuso e tão banal,
Sem ter neste final o que o envenena.
Acordo e nada tendo, nem ninguém
Somente a solidão decerto vem
E neste infausto exposto ao vil marasmo,
Irônica verdade se desvenda
O sonho que alentara; mera lenda
Ou mesmo do viver, triste sarcasmo.
79
A delicada forma alabastrina
Gerada pelo sonho de um poeta
Agora no vazio se completa
E o fardo a cada passo determina,
Enquanto a realidade sempre mina
E a sorte na verdade não repleta
Esta alma dolorida e quase asceta
Nem mesmo algum nuance me fascina.
Vestindo esta dorida hipocrisia,
O quanto do meu canto é fantasia
Explode nesta ausência de futuro,
E quando me proponho uma mudança
Apenas vagamente o que me alcança
Reflete o caminhar em céu escuro.
80
No quanto se levara ao infinito
O sonho audacioso, mas vazio
De quem a cada passo desafio
E tento novo dia mais bonito,
E todo grande amor onde acredito
Gerando novamente em mim o estio,
Expressa o que se faz e em desvario
O risco se transforma em tolo rito.
É claro que sonhar é permitido,
Mas sei também do fato consumido
Amortalhando em mim qualquer detalhe
Por onde quis apenas uma luz
Sombria realidade se produz
E o sonho em mil pedaços se retalhe.
81
Perpasso sobre os dias mais atrozes
E vago tão somente por tentar
Ainda nova face desenhar
Aonde se percebem tão ferozes
Os dias entre os fartos, velhas vozes
Tomando cada fato em seu lugar
E sinto a minha imagem mergulhar
Aquém do que permitam tais algozes,
Velozes; vastos, vis, vagos; percorro
E quando na verdade sem socorro
Esqueço que talvez pudesse crer
Num tempo onde se visse a remissão
Dos erros costumeiros e do não
Eu posso novamente me rever.
82
Sombria alma grisalha diz da sorte
Terrivelmente exposta às mais doridas
Noções entre tormentas, tolas vidas
Sem nada que deveras me comporte,
O quanto imaginara e não suporte
As horas entre tantas já perdidas,
E até que noutro instante tu me agridas
Não mais trará decerto velhos nortes.
Estranhas noites; vago sem descanso
E o pouco que inda resta e não alcanço
Expõe a minha face caricata
O risco de sonhar? Apenas isto
E neste caminhar já não desisto
E tento embora frágil um remanso.
83
Procuro qualquer par, de tanto que uno
Cansei de vasculhar um devaneio
E quando a estrela rara hoje rodeio,
O passo sem sentir não coaduno,
E o mero caminhar onde desuno
Meu mundo sem saber do mundo alheio
Expressa a realidade e de permeio
Ao ver-me solitário, enfim me puno.
Esgoto cada verso em meu delírio
E tantas vezes; vejo este martírio
Qual fosse bendizer quem noutros tempos
Vestira uma ilusão e não sabia
Da vida como imensa fantasia
Imersa entre terríveis contratempos.
84
Namorados dos sonhos, dois amantes
Procuram ao luar um brilho além
E quando a realidade agora vem
E toma seus delírios por instantes
O quanto pareciam diamantes
No fundo se desenha este desdém
Amor quando do amor é muito aquém
Os erros na verdade são constantes,
Respaldos para as messes prometidas
Expressam ilusões e tomam vidas
Gerando no vazio outro cenário,
Porquanto para amar a farta entrega
Aonde em mar imenso se navega
É mais do que pensaste, necessário.
85
As frases deste amor imaginário
Talvez dissessem fases mais diversas
E quando sobre tudo ainda versas
Pensando num caminho temerário
Escuto muito além do necessário
E tento preservar velhas conversas,
E quando num instante desconversas
O manto se puindo em tom mais vário.
Esgoto o meu caminho noutro rumo
E sei que na verdade assim me esfumo
E sinto a discrepância desta sorte,
Gerando novamente a dor imensa,
No amor quando se quer ou mesmo pensa
O fim prenunciando a dura morte.
86
Uma criança apenas, nada mais
E sei do quanto pude crer no fato
Do amor onde meu mundo não resgato
Mergulho nos momentos terminais,
E quando se apresenta ainda um cais,
O peso de viver; eu desacato
E tento novamente o mesmo trato
Aonde os dias fossem mais iguais,
Resulto desta turva primavera
E dela tão somente o vão se espera,
Singrando estes vazios dentro em mim,
Medonha face escusa e caricata
A sorte na verdade não resgata
Matando última flor do meu jardim.
87
Um trecho do caminho aonde um dia
Pudesse desenhar novo destino
E quando este vazio eu determino
Realidade apenas isto adia,
Maior sendo decerto a fantasia
O nada vezes nada; toma o tino
E enquanto solitário eu me alucino,
Menino do passado morto agora
O barco sem o cais jamais ancora
E o medo de sonhar ainda doma
O quanto poderia haver em mim
Traduz o que deveras sei no fim,
Causando este torpor, um quase coma.
88
A tela mais suave aonde eu teça
O coração audaz de quem se tenta
Vencer com mansidão qualquer tormenta
E nisto esta verdade se obedeça,
Quem ama e deste fato não se esqueça
Já sabe como a vida é virulenta,
E o tanto que se mostra bem mais lenta
A vida no final jamais se aqueça;
Esgoto a realidade em tons venais
E tanto me entregara aos vendavais
Tentando pelo menos um lugar
Aonde poderia ser assim,
Florindo em alegrias o jardim
Que um dia quis exposto ao teu luar.
89
Um pedaço de terra aonde eu tente
Apenas o descanso após a luta
E quando a realidade se reluta
E nada mais se torne tão clemente
Olhando o meu passado este impotente
Cenário aonde vence a força bruta
A porta se fechando e nada escuta
Quem novo caminhar ainda invente.
Especular delírio aonde eu veja
A minha dura estada malfazeja
Resumo em tanta dor o que pudera
Talvez ser necessário mesmo quando
O mundo noutro infausto se formando
Adestra inevitável, vil pantera.
90
Abrindo o seio enorme aonde um dia
O coração batera sem juízo,
O amor acumulando em prejuízo
O quanto noutro tempo não sabia
Esgota a cada passo esta ironia
E vejo o meu delírio em impreciso
Desejo quando em sonhos me matizo
E morro pouco a pouco, em agonia.
Utópica manhã já não se acena
E o tanto que me resta diz da plena
Tormenta costumeira e sem saída,
Negando qualquer passo rumo ao sonho,
O todo noutra face decomponho
Marcando com furor a torpe vida.
91
O coração ditoso caminheiro
Das trevas e dos céus iridescentes
No quanto farto amor deveras; sentes
Ou mesmo solitário companheiro
De errático delírio costumeiro
Entranho vez por outra em envolventes
Delírios onde também tu pressentes
A bela florescência de um canteiro,
Regendo cada verso em tom aonde
Nem sempre a própria vida corresponde,
Mas gera em fantasias muito além
Do quanto poderia ou mesmo até
Vivendo cada instante em rara fé
Dicotomias várias, pois contêm.
92
Ao conceber a vida desta forma
Em tantos e sublimes bons matizes
Além do que talvez queiras e dizes
A vida noutra vida se transforma
Numa incessante e nobre, bela norma
Mutáveis tons gerando outros matizes
E quando se percebem grandes crises
O que era costumeiro se deforma,
Assim do caricato surge o nobre
E do mais variado se descobre
Uníssono caminho ou mesmo vário,
A morte é redenção e dela a sorte
Diversa da que tanto dizem morte
Refaz outro desenho, necessário.
93
Podes contar comigo, sabes disto
Estarei sempre ao lado mesmo quando
O tempo se perceba então nublando
Jamais esqueça e até mesmo por isto,
Repito e na verdade eu quero e insisto
No quanto sigo e teimo revelando
Que o mundo traz em si a dor e o brando,
Mas libertário mesmo apenas Cristo.
O amar não tem medidas, incontido
Tua presença nele faz sentido
E gera a paz que tanto quero e deve
Mesmo na eternidade de um momento
Permite este desejo onde alimento
A vida mesmo quando eu sei-a breve.
94
Para olhar e tentar outro segredo
Enquanto muitas vezes fora assim,
O mundo se transforma e diz ao fim
O quanto deste sonho eu me concedo,
Amar é consumir-se num segredo
E dele ter certezas, mas enfim
Expresso venturoso este jardim
Porquanto em minha vida eu fora ledo.
Encontro os meus sinais a cada passo
E quando novo rumo ainda traço
Envolto nas escumas deste mar,
À praia volvo e sigo por entre as ondas
E mesmo quando além ainda escondas,
Um dia hei de talvez, pois te encontrar.
95
Ao adoçar a vida em mero canto
Quem sabe poderia acreditar
Nas tramas mais diversas de um luar
Erguendo sobre nós seu claro manto
E quando me proponho e sei do encanto
Aonde um timoneiro enfrenta o mar,
Disperso caminhante hei de voltar
Embora a vida ceve algum quebranto,
Envelhecido e nunca envilecido
O canto mais suave toca o ouvido
Qual fosse uma sirena e assim se escuta
A doce melodia e nela sinto
Bem mais que a sordidez de um mero instinto
O amor já lapidado em árdua luta.
96
A vida se depara a cada instante
Com tantos descaminhos, mas prossegue
E mesmo quando a sorte nos renegue
O passo se desenha doravante
E quando navegasse e se não sossegue
O mundo noutra face jamais negue
Desenho aonde a sorte se adiante
Mostrando a realidade mais audaz
E sinto o quanto amor deveras traz
A quem se fez bem mais que meramente
Num átimo o superno caminheiro
E quando da verdade não me esgueiro
O mundo num esgar jamais desmente.
97
Num oceano rude em ondas tantas
Expressa o quanto ainda aqui resiste
E o coração mostrado agora em riste
Explode enquanto em sorte me garantas
E nada do que tento me adiantas
Porquanto em cada passo a paz persiste
Na audácia demonstrando o quanto insiste
E traz momentos duros onde espantas
Mesmo na sorte amarga e quase ultriz
O tanto se perdendo a cada dia
Talvez um novo tempo; se ergueria
Traçando o que em verdades sempre quis.
E volto a caminhar entre espinheiros
Meus dias, com certeza, os derradeiros.
98
Arrojo-me entre os braços desta a que
A vida permitira mais que um sonho
E quando ao teu delírio eu me proponho
No todo desejado ora se crê.
E o quanto pude mesmo e sei até
Seguindo cada rastro onde passaste
De todo o meu desejo tu és a haste
E vivo na certeza por quem é
O canto mais audaz e delicado,
Desenhos em mosaicos, multicores
Seguindo sem sequer ainda opores
Presumo o meu destino sempre ao lado
De quem se tanto quero e já me quer,
Traduz bem mais que um simples, mero affaire.
99
Em toda a imensidade de um momento
Amplificando o passo rumo ao farto,
Desenho cada sonho e se o comparto
A vida segue em paz, raro incremento,
O todo dentro em nós quero e fomento
E quando me percebo e já não parto,
Apenas mergulhando não descarto
O dia que virá; raro alimento
Desta alma tantas vezes sonhadora
E quando se percebe ou mesmo fora
Somente um ledo encanto, sei que enfim
O quanto desejei e sinto ausente
Num átimo decerto se apresente
Traduza todo o bem que incide em mim.
100
Tábua de salvação? Não necessito,
Apenas um carinho bastaria,
Mas sei do quanto amor rege a agonia
Trazendo a gelidez deste granito,
E quanto mesmo creio mais bonito
O tempo se transforma em agonia
E o tanto quanto pude me daria
Além do mero sonho mais aflito,
Medonha face exposta de quem sabe
O quanto cada passo já desabe
E sinto-o desaguar em mar imenso,
Mas tudo que de antanho inda pudera
Agora me espreitando, torpe fera,
Já não traduz somente o que inda penso.
MARCOS LOURES FILHO