Quando todos os rios navegarem sem mar
Por horizonte
Perdidos em leitos fantasmas e pedras soltas
Rasgados de gritos e murmúrios indefinidos
Os corações adormecerão o sono dos olivais
Os mares escandalizarão as veias famintas
De certezas
As mãos abrirão sulcos no chão e não brotarão
sementes
O Amor Universal
Murchará nas pétalas sedentas
Como uma mãe acaricia o rosto
Ao filho que já morreu!
Entre blasfémias e ecos de choros
Projectados no infinito
As folhas das árvores revelarão
Ancestrais sabedorias
À noite
Murmurarão filosofias de vida
Aos corações
Alheios ao passado
Imporão a precária necessidade
De serem úteis
NO FUNDO TODAS SÃO INÚTEIS!
São apenas folhas outonais à espera da chuva
ou do vento
Desejosas de rodopiarem pelo éter
Marcarem no tempo um movimento
Insano
No banco dos suicidados
Onde os suplicios são arrancados às entranhas
As aves imploram misericórdia
No cimo dos galhos nus
A um deus
Que a existir
Não as escutaria
Furaria os tímpanos
Cegaria a íris...
E continuaria a existir!
2 Março 2004
António Casado