Cercam-me os corvos, em círculos, cobertos de poeiras de oiro alado, recobrem-me as desventuras nas cavernas rochosas dos sussurros, apaixono-me pelo nada, pelo beijo vazio e pelo toque que me não dás, reservo-me, guardo-me, sou pastor de mim mesmo. Recuso-me à morte, quisera ser Requiem fúnebre, alimento dos chacais, recuso-me à vida, quisera ser pérola negra na profundeza marítima, navio sem amarras, costas soturnas, ondulantes pelas marés. Farto-me e consinto na dor, murmuro-me no desassossego, amaldiçoo os silêncios, quebrados, mortos, abafados, soterrados nas areias molhadas das praias do desconhecido. Fiz-me profundidade hermética, encruzilhada de feitiços, caminhos errantes, onde deambulam os peregrinos. Fiz-me carreiro aziago, trilho nas montanhas, cascata nas encostas. Fiz-me traço negro nos campos floridos, ceifa agreste na colheita, Tempestade de verão, indomável, santificada por muitos nascimentos. Cercam-se os corvos, abrem-se os céus, ouço trompetas e sinos para os funerais. Entrei. Dei mais um passo. Começaram os ritos das exéquias. O luto iniciou-se. Sou mais um dos que morre entre os mortais.