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Amaldiçoo os Silêncios (Versão YouTube)

 


Amaldiçoo os silêncios

Cercam-me os corvos, em círculos, cobertos de poeiras de oiro alado,
recobrem-me as desventuras nas cavernas rochosas dos sussurros,
apaixono-me pelo nada, pelo beijo vazio e pelo toque que me não dás,
reservo-me, guardo-me, sou pastor de mim mesmo.
Recuso-me à morte, quisera ser Requiem fúnebre, alimento dos chacais,
recuso-me à vida, quisera ser pérola negra na profundeza marítima,
navio sem amarras, costas soturnas, ondulantes pelas marés.
Farto-me e consinto na dor, murmuro-me no desassossego,
amaldiçoo os silêncios, quebrados, mortos, abafados,
soterrados nas areias molhadas das praias do desconhecido.
Fiz-me profundidade hermética, encruzilhada de feitiços,
caminhos errantes, onde deambulam os peregrinos.
Fiz-me carreiro aziago, trilho nas montanhas, cascata nas encostas.
Fiz-me traço negro nos campos floridos, ceifa agreste na colheita,
Tempestade de verão, indomável, santificada por muitos nascimentos.
Cercam-se os corvos, abrem-se os céus,
ouço trompetas e sinos para os funerais.
Entrei. Dei mais um passo. Começaram os ritos das exéquias.
O luto iniciou-se. Sou mais um dos que morre entre os mortais.

 
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jomasipe
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