Eu sempre quis deste modo te falar
Mas sufocava-me no travesseiro para não dizer
As palavras que insistiam em retratar
O meu delírio, quando em ti buscava o prazer...
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Talvez essa vergonha me calasse
Fechando-me no império de minha mudez
Sem deixar que um gemido só ecoasse
A deparar-me apaixonado diante a tua nudez...
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Então deixava meu corpo falar por mim
Deixando um resmonear escapar pelos lábios
Na busca desesperada de um orgasmo sem fim
Quando me reservava apenas em teus atavios...
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Mas eu esperei muito para lhe dizer
O que nem em sonho ousaria lhe comentar
Que eu precisava de você no meu viver
E o teu corpo no meu a se salientar...
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Então gastei contigo toda minha saliva
Dizendo-lhe o que estava além de minha compreensão
Ao sentir-me dentro de você, como imagem viva
O corpo encaixado, o fato consumado, a divina paixão...
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Então eu via nosso reflexo no espelho quebrado
Como um caleidoscópio de espectros multicores
Como se concretizasse o meu sonho de pecado
Em um paraíso onde só existem flores...
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Foi nesse momento que comecei descriminar
As minhas taras, sem medo de retaliação
Eram as coisas que eu não ousei falar
E que iam direto para o seu coração...
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Porque no nosso beijo tem o sabor da vida
E na tua sexualidade eu vou me fragmentando
Sobrando de mim, uma parte que fora de ti dividida
Das coisas que agora eu ousei lhe falando...