Poemas : 

Só Gosto

 
D’escrever em folhas de papel

Debulhar as palavras

Como quem

Desnuda o corpo de uma mulher!

Capricho um sulco

Sigo o rasto de um veio

E as canetas e os lápis com qu’escrevo

São clítoris de esperança

Paixão abnegada de oleiro

Sobre um dorso recatado,

- Às vezes em pousio;

Cio

De palavras raivosas

Que se intrometem entre linhas já peneiradas

E que provocam

Retrocessos, regressos, excessos

Pelo seio

(De) riscos, ‘sarrabiscos’, ‘pontiscos’;

Circuncisões obrigatórias

Em prepúcios obstinados

Mas

Por vezes precipitados;

Nem sempre a pena obedece à mão,

A mão ao giz,

Que é como quem diz,

À cinestesia do juízo.

Mas no final

Do ponto, reticências ou exclamação

O prazer no desfalecimento

Do desejo retemperado

Ao ver do papiro assentimento

Como um filho desejado.

 
Autor
FrancisCorreia
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 24/07/2010 17:12  Atualizado: 24/07/2010 17:12
 Re: Só Gosto
Gostei muito do poema Francisco.
Do interseccionismo que existe no acto de escrever, amor como aquele que se tem por uma mulher. E que faz nascer filhos amados, como livros.
Boas Férias a todos.
Um abraço