O caixão é caro
E vai apodrecer sob a terra
Mais caro que o fraque
E o vestido de seda
Que o terno de microfibra
E na terra esmaecida
O homem não é mais freguês
De uma butique ou de um shoping.
Ele não pode ser reusado
Tem uma existência efêmera
Perpetua o ocupante
A que não proporcione
Uma cômoda acolhida
Como o fraque e o vestido.
Cabem no terno e no vestido
Os mesmos que cabem no caixão
Às vezes requer reajuste
Mas é apenas uma questão
Os insanos e arrogantes
Malfeitores e ignorantes
Vestem-se de púrpura e escumilha
Mas também vestem o caixão.
Do caixão jorra necrochorume
Do puro olor do fraque e do terno
Maldades, censuras e denúncias
Do fétido caixão não jorra
O caixão leva ao chão frio
O fraque leva ao inferno.
JOEL DE SÁ