Poemas -> Sombrios : 

Quando o sol se põe

 
O lado poente vai de gatas
Perdido na noção de morrer,
À medida que a lua o possui,
Desafiando o sol que tarda
Em nascer...

Diz que vai para longe
Só por mentir,
Amedrontando os mais tremidos.
Esconde-se atrás da oliveira,
Na certeza certeira
Que virá para surpreender
Aqueles que se cortaram na sua ausência.
Não vai reclamar o sangue,
Apenas vai chamar a Lua
Maior nesse dia que em outras noites,
Para recolher o saque da expectativa.

Depois, deixa o arranjo diário
Para nascer violento,
Obstruindo as retinas mais doentes.
Tingem-se de vermelho para o receber,
Imaginando cores mais neutras
Para não sofrer com ele
Os maiores horrores esperados.

No fim, repete-se para repetir
Os seus prazeres de se deixar cair,
Deixa-se fraccionar para reinar
Os saques nocturnos,
Ruma de gatas mais uma vez
Para sair de pé.

É o único eterno vencedor
Com amizades sombrias,
O único exemplo de vida
Que incentiva a morte.

É o único
No fim dos dias.


 
Autor
AntonioCarvalho
 
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