Beijo no cu(ração)

Há uma expressão muito em voga no luso que me intriga. Sei que os poetas metaforizam muito, que esticam às vezes essas metáforas ao limite do absurdo, sei também que às vezes a imaginação prodigiosa de uns quantos são a candeia que alumia o rebanho. Mas… Beijos no coração? Que é isso? Como se faz? Será que as pessoas que enviam esses beijos referem-se a abrir o peito com um bisturi e beijar esse músculo, assim sanguinolento a palpitar? E se sim o beijo deve ser dado no ventrículo esquerdo ou no direito? Ou é mesmo um daqueles beijos de amasso que nos leva a limpar a boca com as costas da mão e agitá-la no ar para sacudir os salpicos de cuspe? Bem, é que se for um beijo desses não é cuspe que vai sacudir, é sangue mesmo, se estiver vestido de branco vai parecer o açougueiro lá do sítio. Os seguidores de clichés devem ter cuidado com o que imitam, querem dar um ar muito lamechas e compreensivos e até serem o baluarte das relações amistosas que se criam aqui no burgo e caem assim no ridículo de andar a dar beijos no coração. E porque não no fígado? Ou até nos intestinos, pronto, já que essa adoração que se prodigalizam é quase intestinal. E se é intestinal porque não directamente no colo rectal ou até no vazadouro que fica logo ali ao pé do parque de diversões. Aproveitam em vez de um beijo dão uma lambidela que afinal é o que andam a fazer, a lamberem-se uns aos outros (ou umas ás outras, ou uns ás outras, ou umas aos outros), isto anda uma confusão!