Mãos de sal remam num último esforço até ao ancoradouro.
Corpos crespados pelo sol ferem na roupa enquanto os pescadores puxam a embarcação para terra firme. As mulheres que esperavam a chegada, com olhos postos no horizonte, aprestam-se a ajudar, recolhendo as redes, que terão de ser concertadas pelas mãos sábias dos homens do mar. O pescado é dividido logo ali, junto à praia, consoante o tamanho e a espécie em causa.
Depois de vendido o peixe para as lotas é hora de se repartir a colheita entre as mulheres, que põe algum a secar em cima de varas de madeira,
para preservar o peixe por muito mais tempo para que este dure o inverno sempre tão rigoroso. Crianças brincam na areia espantando as gaivotas que tentam alcançar o animal de guelras expostas ao sol. Enquanto este se põe ao largo entoam-se canções, para animar o trabalho, sempre moroso, entre agulhas de marfim e as cordas das redes, que amanhã voltam ao mar longínquo e perigoso, enfrentando altas vagas no meio do oceano. As mães chamam pelos seus filhos e avisam os homens, de que são horas da ceia, sendo partilhada em família.
Todos se juntam à mesa e depois de cear vão-se deitar. E assim se passou mais um dia de pesca, amanhã antes do sol raiar partem mar adentro uma outra vez.
Jorge Humberto
22/07/10