FAROFA AFRODISÍACA
Era um almoço daqueles chamados junta panelas, onde amigos comparecem levando cada um sua contribuição gastronômica. A mim cabia sempre um prato surpresa de minha própria criação ou apresentação. Já compareci com salada de manga, repolho e queijo minas padrão. De outra vez, levei gelatina de abacaxi com hortelã e gengibre. Meus pratos eram concorridos. E não era o único. Havia quem usasse batata inglesa para dar consistência cremosa ao sorvete, serviam macarrão goela de pato recheado com queijo e ervas ao molho de tomates frescos, quiche de milho verde e outras iguarias. A escolha do que comer e a disputa pela aprovação dos comensais era uma verdadeira batalha cruel de mãos ágeis armadas de talheres.
Numa dessas edições, resolvi levar farofa. Fui para cozinha, que é meio laboratório ateliê templo, juntei os ingredientes. Tinha farinha de mandioca flocada, cebola, alho, ervas diversas, queijo curado e manteiga. Preparei a farofa. Tudo muito branco. Precisava duma cor e dum sabor mais fortes. Reservei o prato. E por que não criar uma poção mágica em pó? Foi o que fiz. A farinha era ainda a flocada, o alho, a cebola e as ervas permaneceram. Acresci ao refogado coco ralado, gengibre, amendoim, castanha de caju entre outros secretos que não revelarei. A farinha vinha por último amalgamando. O cheiro era tentador.
No almoço, anunciei a existência de duas farofas: uma branca simples e outra afrodisíaca cor de canela. Não imaginava que a brincadeira fosse levada tão a sério. A segunda foi devorada sofregamente enquanto a primeira sobrava sem ninguém dela se servir. As pessoas comiam felizes. Crianças corriam de um lado para outro. Muita gente ria e repetia as porções. Casais saíam para casa. Leques improvisados surgiam do nada. O almoço terminou rapidamente.
Atualmente resolvemos elaborar um cardápio prévio e menos inventivo. As criações estão mais controladas. Mas da farofa todos se lembram e imaginam os efeitos. O cruel disso é que não a faço mais. Quem provou aproveitou para dividir felicidades. Quem não provou não sabe o que perdeu e o que fez perder. A receita não digo. Cada um tem a sua.
Gosto de arte e de viver com arte.