Esta crónica é a crónica mais bem-educada do mundo. Dela não ouvirá um caralho sequer nem tão-pouco um filho da puta de um palavrão como muitos cronistas gostam de exibir perante os seus amados leitores.
Esta crónica, pelo contrário, tem classe, tem charme, tem a distinta lata de não falar mal de ninguém, nem daquele urso que foi fazer queixa de mim ao senhor da adega, nem daquele outro que anda a dizer que fui eu quem inventou a lâmpada.
Porque esta crónica é diplomada em boas maneiras, à inglesa, não é como o meu primo António que só diz merda da boca para fora nem como o camelo do Luís que é um atrasado mental.
Não, de jeito nenhum, aqui não encontrará nada de imoral nem prática de maus costumes. Cada frase é pensada ao milímetro, tem um quê de poesia vindo dos canos.
O estimado leitor merece o melhor do melhor, pois é para si que dedico a minha vida inteira. Esta crónica antes de ser editada, fez um curso de etiqueta, andou pelo jet7 a aprender como se come à mesa, tomou café com ministros, viu filmes do Noddy e do Rucca.
Portanto, não haverá defeito nenhum a apontar. Mas aviso já, o primeiro que levantar um dedo, um dedinho só para fazer queixinhas aqui e acolá, está automaticamente fodido comigo, e saibam desde já que tenho amigos ciganos e alguns são maricões com vontades intrínsecas.
Não me levem a mal esta minha diplomacia, é que, sabem, custou muito aqui chegar, passei as passas do Algarve a pensar que era coisa de se fumar. Mas fodi-me, perdão, lixei-me. Esta crónica é feita com muito vinho mas não chega a dar bebedeira. É uma espécie de amiga dos pobres. Praticou meditação, esteve longas horas à conversa com a madre Teresa de Calcutá a aprender a ser solidária, evitou ouvir discursos políticos para não se deixar influenciar. Logo, por aqui tudo é claro como o vinho, leve como as pedras que carregamos para o monte da felicidade. Nada aqui é contraditório, pode-se arrancar daqui toda a verdade que ainda ficará alguma de sobra para uma boa dúzia de mentirosos.
Com certeza que já reparou desde o início que esta crónica tem uma leveza tal que é capaz de fazer o mesmo efeito que o Viagra.
Sim, foi educada à nascença, a ter boas companhias, a evitar drogas pesadas, as leves é só em festivais e ressacas só de quinze em quinze dias e vésperas de feriados e aniversários de amigos e bodas. De resto, sempre branquinha como o aço, virgem como eu, como tu.
Esta crónica irá entrar no Guinesse, já que, é a única no mundo que, de princípio até ao fim, não diz um foda-se, sequer. Isto é obra! Pois o respeito é bonito e eu gosto. Além de que, o director do jornal mandava-me já para o sindicato se acaso me pusesse aqui a disparar palavrões a torto e a direito.
Também, porque tem de ser atenção às criancinhas, haver ética, disciplina, e não andar cá com palermices. Aliás, é por isso que o país não anda para a frente, muito devido a esses escritores de meia tigela que aproveitam o espaço de um jornal para mandar umas caralhadas, armados em entendidos, quando, no fundo, não percebem é um boi. Sou totalmente contra.
Abnego qualquer tipo de discurso difamatório. Aliás, eu próprio seria o primeiro a atirar a primeira pedra. Sou dado ao respeito e, por questões que agora não interessam, jamais deixaria que as minhas filhas lessem uma coisa assim.
Esta crónica sim, podem ler, pois toda ela é elegante, não de silhueta, mas na forma com que veste saia e não mostra o rabo. Por que tem educação, tem um pai que impõe regras duras, tem catequese de manhã à tarde e à noite.
Que é isso, vagadundagem, não!, crónica minha jamais dormirá fora de casa. Nada de mensagens de telemóvel a partir das 21, ela é aqui, junto à televisão, a bordar, a fazeres os deveres e bolos de chocolate.
As minhas crónicas estão proibidas de sair com as crónicas do José torres que só falam em poligamias e stroganoff, gostam de pintar as unhas e têm a língua afiada para o que der e vier. O Zé que me desculpe mas, amigos amigos, crónicas à parte.
As minhas crónicas nunca na vida irão alugar filmes de maiores de dezoito, nunca! Por que as minhas meninas crónicas, felizmente são de todas as mais bem-educadas, não andam no coro mas é como se andassem, não frequentam associações recreativas mas isso é por ordens minhas. Por ter estas crónicas assim, educativas, romanescas, estudadas, há gente que daria o cu por elas. Foi preciso muito para chegar a este ponto, tirar-lhe a pele e o caroço e só aproveitar o bom, portanto, despeço-me com um obrigado e até hoje a oito dias, isto é, se até lá não me apontarem uma crónica de 9 mm à cabeça.