Meu amor se foi, levado talvez pelo vento,
Carregou em sua garupa, talvez na mochila,
Todos os sonhos que desenhamos em pergaminho,
Para sobreviver ao tempo e às tempestades,
Mas não resistiu aos dias e se fez assim em nada.
Os mesmos ventos que balançavam seus cabelos,
Nas noites que ficávamos ao relento, à luz da lua,
Contando as estrelas e nos banhando em seu brilho,
Certamente eles é que a levaram de mim, sorrateiramente,
Sem aviso, sem reclame, sem piedade que fosse.
Eu não sabia de tudo que estava impregnado a ela,
Nem imaginava esse vazio infindo que se faria,
Vácuo dos sonhos então ricos em cores e acordes,
Lacuna tosca de esperanças nos dias que se seguem,
Nem acreditava que tamanha tristeza existia.
Fiquei assim, pálido de ânimo e de vontades,
Vida inerte, sem velas, nem ventos, nem rumo,
Ausência de expectativas, que dói, arde e corrói,
E nem mesmo o tino e o senso me fazem revigorar,
Nem as lembranças tantas logram qualquer recomeço.
Quero ficar assim, caladinho encurralado nesse canto,
Esperando talvez novos ventos, que tragam boas novas,
Remoendo as lembranças ainda vivas em todos os espaços,
Rebuscando o outro caminho, que deixei na última encruzilhada,
Retomá-lo e reescrever meu novo destino,
Agora gravado em mármore bruto e frio.