Sonetos : 

SONETOS FEITOS EM SANTA MARTA 3

 

201


cimitarras na cintura
a esperança logo em frente
cada verso que apresente
a verdade se assegura
noite clara ou mesmo escura
coração tolo demente
onde quer que se apresente
na verdade não perdura
e se tanto se propõe
o meu mundo recompõe
verso e canto aonde pude
persistir após a queda
e a saudade inda se enreda
no que resta em juventude.

202

a destreza em que porfia
quem deveras não se cansa
traz no olhar esta esperança
e deveras poderia
traduzir em agonia
a batalha em dura lança
o meu canto em confiança
não se trama em novo dia
esgarçando o corte enquanto
noutro passo eu te garanto
traz bem mais que a liberdade
alço o sonho mais voraz
quando a noite enfim me traz
muito mais que a mera grade.

203

nesta praça em barricada
balas, facas, canivetes
e deveras me prometes
noutra face esta alvorada
a mortalha desenhada
e tampouco me arremetes
onde tanto já refletes
a verdade delicada
outra voz se poderia
onde nada em fantasia
diz do muito que me resta
o meu canto em voz funesta
ou meu ermo caminhar
onde tanto quis luar.

204

aplacando em festa e riso
os temores que me trazes
dias duros e mordazes
em momento mais preciso
passo enquanto tão conciso
lua deita em tantas fases
a verdade que me trazes
já não traça em prejuízo
o caminho onde se busca
a verdade mesmo brusca
e deveras traz consigo
a palavra abençoada
e se tento outra jornada
encontrando o que persigo.

205


na batalha dia a dia
as certezas são diversas
e se tanto queres versas
entre luz cor e folia
o meu canto em harmonia
galopando já dispersas
esquecendo desconversas
o que tanto eu poderia
Ter comigo e já não trago
Muito mais que mero afago
A certeza de um imenso
Sonho aonde a cada fato
Noutro tanto ora constato
O caminho onde compenso.

206

um galante camarada
em momento mais suave
onde tanto já se agrave
a emoção que desdenhada
muitas vezes dita nada
e se tenho em sonhos a ave
superando qualquer trave
desenhando uma alvorada
mantas crio do passado
e se tento este legado
sonegando o que era dor,
ao verdugo este holocausto
a quem amo um raro fausto
neste verso em sonho e flor.

207

males tantos que confisco
do meu mundo em voz venal
invadindo o vago astral
cada passo enfim arrisco
e se tanto não petisco
outro dia sempre igual
num sobejo ritual
arranhando o velho disco,
sendo assim o quanto pude
e deveras magnitude
divergente desta estrela
que em noturna companhia
tantas vezes poderia
no final, somente vê-la.

208

ornamentos festas guizos
e cenários incompletos
onde cantos prediletos
espalhassem prejuízos
entre dias imprecisos
abortando os sonhos fetos
e se tanto sigo em retos
caminhares, paraísos.
Outros erros cometidos
E se tento em vãos olvidos
Regressar por onde vim ,
No final de cada queda
A saudada não se veda
Dominando tudo em mim…

209

das trombetas o sinal
a mortalha se fizera
solidão ditando a fera
num momento terminal,
ouço bem e invado astral
onde a noite não espera
da saudade torpe esfera
um caminho desigual,
dessedento o quanto pude
e se tento esta atitude
noutro rumo ou mesmo engodo
do vazio que sou eu
o que tanto se perdeu
já não dita mais o todo.

210

como um sol em manhã clara
a certeza de outro dia
ao traçar em poesia
o que a vida não prepara,
novamente se antepara
o meu canto em poesia,
e o meu mundo poderia
ser diverso em tal seara,
certidões diversas trago
e se tanto o sonho afago
alagando em voz suave,
o meu manto já puído
da esperança algum ruído
coração libertando a ave.

211


ao buscar o regozijo
de que tanto quero bem
eu procuro meu também
nesta troca que eu exijo
e os meus erros se corrijo
no caminho do desdém
tanto amor, amor detém
neste sonho onde eu erijo
o lugar abençoado
pelas ânsias do passado
na verdade mais sutil,
o desenho se mostrando
muito mais do que ora quando
noutra face ressurgiu.

212

tiras tantas destes panos
onde tanto quis buscar
as estrelas e o luar
coletando velhos danos
e se tanto em desenganos
novo tempo a se aflorar
beijo a boca devagar
em momentos soberanos.
Quando muito quis quem tenta
Perceber qualquer tormenta
Que atormente o dia a dia,
Levo em mim esta esperança
Onde olhar a sorte amansa
E traduzo em poesia.

213

nos campos deste inimigo
a seara compartilho
com quem tanto em estribilho
caminhara ora comigo,
e se o beijo em ti persigo
na verdade tento e trilho
coração velho andarilho
não entende mais perigo,
resolvendo o meu cantar
onde pude no luar
desvendar a rara prata,
a saudade quando vem
na verdade diz do bem
que decerto me maltrata.


214

ao responder na presença
quem deveras procurava
a saudade já se lava
e deveras me convença
da palavra em recompensa
mesmo quando em dura trava
a certeza mera escrava
não comporta a desavença
esperança não sacia
quem deveras faz do dia
muito mais do que pudera
ao vencer os meus temores
seguirei aonde fores
com certeza a mansa fera.

215


tu te alavas com o sonho
onde tanto se faz mais
enfrentando vendavais
o meu mundo recomponho
na verdade em tom medonho
ou nos transes informais
gero tons originais
e deveras me proponho
caminhante do futuro
no passado ora procuro
estas trilhas convergentes
e se tanto quis o brilho
coração deste andarilho
noutra face me apresentes.


216


onde tanto te defendes
em armadas ilusões
muitas vezes tu me expões
mesmo quanto não te ofendes,
e se entranho o que desvendes
busco novas direções
procurando soluções
não emprestas sequer vendes,
ouço o canto em concordância
já não posso em tal ganância
perceber outra verdade
senão esta que me deste
mesmo sendo mais agreste
coração com fúria brade.


217

não ousando sair quem
vence os dias com sorrisos
entre tantos prejuízos
já não posso mais desdém
da verdade se retém
os caminhos imprecisos
e desenho em tais concisos
desenhares de onde vem
quanto muito quero a messe
de quem tanto ora obedece
os anseios da paixão
ouço a voz em magnitude
e se o canto ainda ilude
novos tempos moldarão.

218

o meu tempo já te aguarda
depois deste que percebes
e se adentro tuas sebes
a certeza toma a guarda
e deveras não resguarda
cada gota que te embebes
e se nada mais concebes
já não vejo pose ou farda,
quero apenas o caminho
onde tanto eu adivinho
a beleza que se vê
noutro rumo desenhada
mesmo quando em erma estrada
a razão não sei por que.

219

os amigos sei somente
os que um dia conheci
noutro tempo em frenesi
coração já não atente
e deveras não invente
o que vejo agora aqui
ardiloso me senti
ou decerto impertinente.
O medonho caminhar
Diz do tanto procurar
E sem Ter razão sequer,
No que tange ao mais sutil
Novo tempo se cerziu
Bem diverso do que quer.

220


para os que te ajudem tanto
a certeza de outro dia
onde reina a poesia
e se quero ainda canto
no caminho me adianto
e a certeza poderia
traduzir a fantasia
que deveras não espanto,
rege em mim a luz que quero
e se agora sou sincero
fero fui e não sou mais,
enfrentando furacões
em diversas dimensões
bebo os fartos vendavais.

221

boníssimos cavalheiros
a princesa desejara
noutra face da seara
raros belos bons canteiros
e os seus dias costumeiros
onde a sorte se prepara
novo canto que escancara
riscos velhos, corriqueiros
os desenhos se perdendo
da verdade este remendo
nada traz senão um risco
mal traçado e maltrapilho
onde em sonhos não palmilho
coração demais arisco.

222

nem palácios nem as damas
a verdade traduzira
novo sonho outra mentira
onde tanto queres clamas
e deveras sem as chamas
já não vale mesmo a pira,
o meu mundo em vão se atira
nos vazios destes dramas,
resta em mim apenas isto
o que tanto inda resisto
e não posso conduzir
deste arquétipo bisonho
o meu mundo em ledo sonho
já sonega algum porvir.

223

no meu verso eu aproveito
e desenho outro momento
onde teimo enquanto tento
dia claro e satisfeito
a saudade toma o leito
e não deixa o sofrimento
mergulhar em ar atento
e se eu posso e me deleito
resoluto caminhante
do que tanto a cada instante
pude mesmo ou não queria
restaurar o meu caminho
se do nada me avizinho
noite imensa sempre fria.

224

minhas mãos já não procuro
e se tanto quis sossego
a verdade em desapego
dita o rumo quase escuro
o meu chão deveras duro
onde tento algum apego
a saudade onde trafego
traduzindo mais que o muro
nele vejo outro cenário
mesmo quando temerário
transcendendo ao meu querer,
na verdade posso ou não
em dispersa direção
traduzir dor e prazer.

225


tu percebes quando falas
os olhares mais sutis
de quem tanto já te quis
almas tolas e vassalas
entre tantas avassalas
e reinando por um triz
dos prazeres tendo o bis
noites claras, belas galas
esquecendo o que perdido
encontrara em raro olvido
desvendando outra promessa
a saudade dita o rumo
e se tanto assim me esfumo
o cenário recomeça.

226

nos reinados do passado
os castelos que erigi
este amor revivo em ti
e se bebo este legado
novo mundo desenhado
onde tanto percebi
o maior que sei aqui
noutro fado encaminhado,
riscos tantos, erro farto
cada passo que reparto
a partilha se fazendo,
mas no fundo o que percebo
nosso amor, mero placebo
minha herdade, vão remendo.

227

encolerizado peito
de quem tanto se pudera
perceber em bote a fera
e decerto insatisfeito
quando salto e me deleito
ouço a voz desta quimera
que se tanto já me espera
no caminho dita o leito
e resume e mal redime
o cenário deste crime
climatiza em verso e luz
o meu canto iridescente
no passado se apresente
e ao futuro me conduz.

228

o delgado caminhar
entre rusgas, riscos, ventos
olhos fixos quando atentos
desvendando a luz solar,
resumindo a cada olhar
os meus erros sofrimentos
entre tais discernimentos
mal pudesse caminhar,
ascendo ao mais diverso
desenhar em canto e verso
bebo a sorte que inda possa
traduzir delicadeza
e trazer rara certeza
renegando qualquer fossa.

229

a saudade diz da carta
onde outrora me escreveste
e se tanto sei como este
caminhar já se descarta
o meu passo não se aparta
do delírio que reveste
quando o passo ora se investe
e a saudade não reparta
resoluto este andarilho
que entre sonhos eu palmilho
e polvilho luz enquanto
o que eu possa ou mesmo tento
ao sentir o envolvimento
tanta dor agora espanto.

230

ao dizer o quanto espero
deste sonho mais audaz
a ilusão na qual se faz
um caminho mais sincero
no resumo deste fero
desenhar em medo e paz
o que tanto quis tenaz
e falaz já destempero,
quando resolutamente
a verdade se apresente
e moldara novo rumo,
o meu canto sem sentido
o desenho percebido
pouco a pouco em vão escumo.


231

o sonho se descobre
e nisto se mostrando
no olhar que quis mais brando
ou mesmo manso e nobre
o mundo se recobre
e nele em contrabando
o corte desde quando
cuidado se redobre
no dobre de algum sino
o fim que determino
nos ermos de minha alma,
o manso caminhar
e nele desenhar
o quanto não me acalma.


232


a noite que se atrasa
o medo quando alheio
caminho onde rodeio
tocando a velha casa
e nisto tanto abrasa
enquanto o vão rodeio
escuto em devaneio
liberto o sonho em asa,
alçando este domínio
tomado por fascínio
e neste ponto então
acerto os meus ponteiros
e sei dos derradeiros
momentos/ solidão.

233

como olhar tristonho e vago
navegando sem destino
no meu canto determino
passo aonde o risco afago
e se tanto quero e trago
outro tempo onde domino
o meu passo e me fascino
num momento manso e mago.
O caminho mais audaz
O desejo sempre faz
Novo rumo para quando
Percebesse a maravilha
Onde o sonho em paz se trilha
Meu cenário desenhando.

234

um diverso sonhador
entre tantos vida afora
o que posso e nos decora
traduzindo imensa dor,
o meu canto em furta cor
o momento sei de outrora
e no quanto desancora
morto o risco sem louvor,
esquecendo o quanto pude
e se tanto ou amiúde
nada levo desta vida,
o meu sonho se traçando
noutro olhar suave e brando
a verdade não duvida.

235

esta torre em fortaleza
outro rumo se traduz
no caminho em contraluz
esboçando uma beleza
na diversa natureza
e no verso reproduz
cada cena onde seduz
o que sei com tal destreza,
não me nego ao que pudera
definir em mansa espera
numa esfera bem diversa,
o meu mundo se liberta
a verdade sendo incerta
noutro rumo já não versa,


236

ao entrar tão mansamente
nos meus ermos mais profundos
encontrando vários mundos
onde tudo se desmente
o que tanto se pressente
corações mais vagabundos
entre dias mais fecundos
o vazio se apresente.
O meu rito revoltoso
O caminho pedregoso
Caprichoso desenhar
Entre tantos caminhares
Em meus braços mal notares
A vontade de te amar.

237

um agravo tão enorme
traduzindo medo enquanto
na verdade se me espanto
coração morto ou disforme
noutra face se transforme
e bebendo o desencanto
resumindo em prece e canto
onde o sonho já não dorme,
não mergulho neste errático
delirar e sei temático
cada verso que hoje faço
esbarrando no vazio
onde o todo desafio
percorrendo passo a passo.

238

as palavras sendo vagas
já não dizem da verdade
onde o todo não invade
e decerto não afagas
outros tantos sei que apagas
e negar realidade
noutra ermida a falsidade
com terror prediz as pagas.
Esboçando reações
Entre tantas dimensões
Nada tenho perco o rumo
E se tento algo diverso
Com certeza eu me disperso
E no vão enfim esfumo.

239

a verdade não se esconde
nem tampouco poderia
traduzir na fantasia
este amor sem eira ou onde
já perdera o velho bonde
e cerzindo alegoria
nesta farta hipocrisia
nem o sonho me responde,
esquecera qualquer fato
e se tanto em vão retrato
meu olhar sem direção
esvaindo pouco a pouco
na verdade quase louco,
busco alguma provisão.

240

este mar onde navego
sem paragem nem redoma
onde o coração se doma
num caminho quase cego
alimento assim meu ego
e o delírio já não toma
a certeza que se soma
no terror aonde emprego
verso aquém do que pudera
e se teimo em tal quimera
morte cevo a cada dia,
no marcante delirar
onde possa navegar,
eu jamais atracaria.


241

a verdade inexorável
não permite mais perguntas
almas sempre andando juntas
num caminho mais amável
outro tempo demonstrável
e se tanto assim ajuntas
as verdades em que assuntas
ditam noite desejável.
O risonho desenhar
Onde outrora desdenhar
Fosse apenas a verdade
O ferrenho mar que trago
E deveras noutro afago
Toda a dor agora invade.

242

nas entranhas deste monte
outras tantas percebi
e se tenho desde aqui
meu olhar neste horizonte
onde a sorte já se aponte
e descrevo em frenesi
o que tanto vi em ti
gero amor em rara fonte,
mas vazios corações
onde tanto recompões
os teus erros costumeiros
não produzo nem daninhas
nestas sendas que são minhas
nos inúteis vãos canteiros.

243


permitindo este cruel
caminhar em espinheiros
ledos dias, derradeiros
busco ao menos este céu
onde tanto em carrossel
procurasse verdadeiros
caminhares lisonjeiros
desvendando o meu papel,
um ilhéu sem mais proveito
o que tanto agora aceito
não se mostra quando tento
vestir sonhos mais audazes
e se tanto nada trazes
bebo apenas mero vento.

244

refazendo estes favores
entre tantas heresias
tu bem mesmo poderias
nos caminhos onde fores
entranhar diversas cores
e quem sabe claros dias
entregando em poesias
os sorrisos, dissabores,
olhos tanto em tez suave
coração diversa nave
não sossega enquanto voa,
a saudade dominando
o meu ar agora brando
a minha alma adentra a proa.

245

a minha alma em tantas prendas
satisfeita na verdade
quando o sonho já me invade
aos delírios tu te rendas
e se tanto aos meus atendas
no caminho em liberdade
bebo imensa claridade
e sei quanto mais estendas
minhas mãos procuram cais
e cenários magistrais
desenhados nos teus olhos ,
no canteiro da esperança
minha voz em temperança
já não quer ver mais abrolhos.


246

mão alheia que se adorne
em poemas, meu anseio
tanto amor em devaneio
a certeza nos transtorne
e deveras já se entorne
sem temer qualquer rodeio,
dos delírios sigo alheio
sem desdém que inda retorne,
vago em noite caprichosa
e deveras sorte goza
da beleza incomparável
de quem tanto fora minha
e decerto se avizinha
deste rumo imaginável…

247

no caminho onde te abrace
companheira de ilusões
na verdade tu me expões
muito mais do que se trace
ao mostrar suave face
e deveras dimensões
geras novas emoções
e o cenário em paz se grasse
resoluto este andarilho
quando os sonhos teimo e trilho
adentrando paraísos,
os meus ermos escondidos
noutros tantos resumidos
dias claros e precisos.

248

nos teus arvoredos tantos
as veredas mais tranqüilas
e se agora tu desfilas
bem diversa dos quebrantos
os meus dias, meros cantos
e decerto em paz destilas
os cenários que perfilas
entre mansos, bons encantos,
resvalando esta deidade
na sublime divindade
o meu sonho se aproxima
e bebendo tua pele
ao delírio me compele
aprazível, novo clima.

249

entre flores, belo fruto
deste amor que se fez raro
o caminho onde declaro
tanto gozo que desfruto
na verdade não reluto
e mergulho em tom mais claro
o meu mundo eu escancaro
com olhar manso ou astuto,
resoluto não me canso
e se tanto em ti remanso
procura a vida inteira
na verdade me seduzes
e traçando novas luzes
deste sonho uma bandeira.

250

dando as mãos a quem pudera
ajudar na caminhada
vendo a sorte desenhada
muito mais que mera espera
o reinado desta fera
noutra face dando em nada,
a verdade desenhada
no caminho se tempera
e resolvo com palavras
o que tanto em sonho lavras
e permites muito mais
do que outrora se veria
já não fosse a poesia
em tons claros, magistrais.

251

quando em almas antepões
os caminhos discordantes
muitas vezes me garantes
outras faces dimensões
e se bebes os verões
e terás as degradantes
esperanças delirantes
onde nada recompões
resumindo em verso o quanto
poderia e não garanto
outro rumo em paz ou guerra
a verdade não descerra
o cenário onde eu me espanto
e a certeza nunca encerra.

252

o que tanto reconheces
na verdade não mais diz
do que tanto em cicatriz
muitas vezes já não teces
outros dias em benesses
o caminho este aprendiz
ao gerar a cicatriz
não respeita medo ou preces,
esquivando enquanto pude
conhecer a plenitude
da esperança mais audaz
o meu manto já puído
o meu mundo destruído
e ninguém me satisfaz.

253

empobrece o coração
cirandeira madrugada
na varanda desenhada
noutra velha dimensão
ouço a voz desta emoção
e se tento ou vejo o nada
a certeza desolada
outros tempos mostrarão
não presumo qualquer fato
e se tanto me retrato
no caminho aonde tento
vestir sorte mais feliz
o que um dia o mundo quis
já perdera em torpe vento.


254

o que o tempo não escolhe
a verdade não sacia
ouço a voz da poesia
e o caminho se recolhe
no que tanto a vida encolhe
e transcende ao que eu queria
ergo o olhar onde podia
e a saudade em dores molhe,
o meu canto não transmite
o que segue sem limite
ou palpita no meu ser
o marcante caminhar
adentrando este sonhar
desvendando o meu prazer.

255

do teu corpo sei riquezas
que jamais esqueceria
e se tanto poderia
dos teus olhos, meras presas
as palavras e incertezas
traduzindo em fantasia
gera nova alegoria
e promete sobremesas,
resto aquém do que pudera
ao saber em ti a fera
na tocaia a cada instante
o meu beijo em tom suave
o teu canto não agrave
este amor que se adiante.

256


anteposto entre os caminhos
divergentes, mas alheio
ao que tanto quero e veio
coração entre os daninhos
delirares tão mesquinhos
no resumo em que rodeio
outro tanto me incendeio
e de ti procuro vinhos,
alço o sonho mais fecundo
e se tento e já me inundo
da verdade que me deste
o meu canto agora visto
e persisto sabendo isto
neste mundo mais agreste.

257

aborreces e me adoras
e se tento desvendar
onde e como caminhar
sem saber por onde ancoras
nem tampouco destas horas
já cansado de lutar
ao buscar em ti luar
nele em luzes me decoras,
resolvido a perceber
no teu corpo no teu ser
o que um dia fora meu
o desejo se ascendendo
outro tempo sem remendo
atingindo este apogeu.

258

nos teus cantos se suspiras
e acreditas no futuro
noutro intento mais escuro
riscos tantos em mentiras
da verdade que retiras
o desejo onde amarguro
o meu solo amargo e duro
coração exposto em tiras,
reino assim sobre o vazio
e se tanto desafio
encontrara em ti meu canto
o risonho delirar
traça em mim novo luar
onde o vejo enfim me encanto.

259

nesta ausência não mais chores
nem tampouco já sorrias
entre noites e agonias
os caminhos que decores
e perceba quando aflores
as diversas heresias
bebo as noites mesmo frias
se deveras comemores
marcas tantas deste tempo
adentrando o contratempo
apresento soluções
e nos ermos de quem sonha
a verdade já se enfronha
onde em risos tu me expões.

260


já não sonhas quando dormes
e nem buscas qualquer fuga
a minha alma se refuga
no caminho onde conformes
e deveras mais transformes
coração exposto em ruga
a saudade não se aluga
nem os dias que deformes,
são enormes os cenários
entre tantos temerários
os que sei que tu desenhas
dos meus ermos nada trago
nem sequer menor afago
e não sabes velhas senhas.

261

não repousas nem descansas
quando tentas outra sorte
coração já não comporte
muito mais que as horas mansas
e se tanto em esperanças
procurara algum suporte
minha vida sem o norte
neste olhar, diversas lanças
e o mergulho no vazio
traduzindo o que procrio
quando em verso me adentrara
a incerteza dita o sumo
e o meu passo em ti resumo
a sobeja e vã seara.

262

nos festins aonde outrora
a certeza não viera
a saudade dita a fera
que deveras nos devora,
o meu corpo agora ancora
na saudade desta espera
solidão velha pantera
cada passo novo aflora
e resume em dor e pranto
o que quero e me adianto
noutro rumo verdejante,
o meu cerne se desnuda
e se tanto a paz acuda
nela vejo um novo instante.

263

os olhares anciões
entre medos e mortalhas
quando tanto tu espalhas
em diversas direções
bebes fartas ilusões
e deveras tu batalhas
nestes fios de navalhas
outras mortes tu compões
vago em noite sem escusa
e se tanto a sorte cruza
com confusa realidade
o meu prazo determina
a verdade em dura sina
e o meu mundo se degrade.


264


neste juvenil furor
a vontade dominando
cada passo desde quando
expressara em medo e dor
o caminho a se propor
noutro rumo deformando
o meu passo dominando
a seara em farta cor,
ouço a voz mais discordante
do que tanto se garante
e deveras nada traz
ao me ver desnudo assim
a certeza dita o fim
neste olhar turvo e mordaz.


265

não são boas faces estas
onde tanto me moldaste
o caminho em tal contraste
na verdade tu me atestas
e se tanto já detestas
coração imenso traste
carcomida face gaste
entre cenas mais funestas
e se tanto poderia
na verdade em agonia
perecer em sofrimento
o que busco e não mais vejo
traduzindo o vão desejo
entre tantos inda tento.


266

neste olhar em dor e fenda
o caminho não concebo
coração velho placebo
onde o nada enfim se estenda
o caminho dita a lenda
e se tanto quero e bebo
o mergulho não percebo
onde a sorte não entenda
o meu canto em sintonia
outro tanto poderia
transcender em paz ou luta
ao sentir a imensa dor
de quem tanto sonhador
inda tenta ou mais reluta.

267

olhar fixo no passado
adivinho o que se tem
e se bebo o teu desdém
ao delírio acostumado
risco o tempo desenhado
e no barco quando vem
tempestade sigo aquém
poderia imaginado
resta em mim outro desenho
no caminho onde me empenho
curvas tantas entre quedas
e os vergões que me legaste
no futuro em tal desgaste
com certeza não mais vedas.

268

com a fúria costumeira
de quem tanto quis sorriso
o meu passo mais preciso
não encontra esta bandeira
a verdade corriqueira
no caminho que conciso
traduzira em prejuízo
quer ou não jamais requeira
alcançando a voz sombria
de quem tanto poderia
decidir o meu destino
se em verdade eu sou assim
o primórdio dita o fim
e já nem mais me alucino.

269

aprendera desde cedo
o meu rumo imerso em treva
e se a sorte ainda ceva
o caminho onde procedo
o meu canto em novo enredo
na verdade sempre neva
a saudade se longeva
já nem mesmo mais concedo,
resoluto caminhante
deste fato doravante
nada mais contendo o passo
sigo assim e nada tento
a não ser meu pensamento
onde o mundo em mim eu traço.

270

esgarçando o quanto pude
do meu canto em dor e luta
a saudade sendo astuta
renovando a juventude
muito mais do quanto ilude
entregando a face bruta
de quem quer e não reluta
marca em dor cada atitude
e se eu posso ou mesmo devo
caminhar em cada trevo
onde vejo novo rumo,
pouco a pouco nada havia
nem sequer a sintonia
mesmo os erros que eu assumo.

271

na certeza deste fato
o meu canto não pudera
desenhar a dura fera
que em meus ermos eu resgato
e se tanto do regato
a saudade destempera
o meu canto não mais gera
senão este em que destrato
o passado reproduzo
e deveras mais confuso
nada tenho de mim quando
vejo o olhar de quem podia
noutro fardo ou fantasia
todo o canto transformando.


272


esquecendo o que me basta
ou talvez reconduzindo
o meu mundo já deslindo
nesta face agora gasta
o que tento e se desbasta
outro canto mesmo brindo
e se o mundo eu vejo findo
no vazio se desgasta
risco o nome de quem tanto
desejei e se adianto
o meu passo em descaminho
do que pude e não sabia
muito pouco em alegria
a quem sabe ser mesquinho


273


Ah, amor

Permeias meu sonho,

Passeias em meu desejo,

Ser contigo é tudo que mais almejo.

REGINA COSTA

Estar contigo em todos os momentos
E ser além de cais, o companheiro
Aonde o amor se mostra o mensageiro
Que vence sem temor quaisquer tormentos,
E nestes bons delírios, os alentos
Trazendo paz e flor ao meu canteiro
Nas tramas mais audazes que enfileiro
Em ti terei decerto os meus proventos,
Revejo cada passo rumo a ti
Decerto na verdade percebi
O quanto abençoado amor se fez,
Não tendo nem sequer algum desvio,
A mansidão na fúria deste rio,
Gerando com ternura a insensatez.

274



Ah, o olhar...

Olhar tua alma e desnudá-la
Fez me apaixonar por ti,
Belo canto de colibri
Que meu sonho embala.
REGINA COSTA

Olhando-te de perto vejo aqui
Reflexo dos meus sonhos mais audazes
E quando mais delírios tu me trazes
Decerto deste amor me convenci,
E nele ao me embrenhar eu descobri
As sendas tão felizes que refazes
Tramando ao meu viver em novas fases
Delírios que pensara já perdi.
E assim ao encontrar o quanto quis
Deveras hoje sou tanto feliz
No quanto imaginara ser possível,
Bebendo em tua boca esta saliva
Minha alma de tua alma ora criva
Em luzes num cenário indivisível.

275

O quanto em minha dita se mostrara
Tão bela maravilha em tom suave
Meu passo agora teima e segue a nave
Por onde caminhasse em tal seara,
Vagando muito além, pois se prepara
E não tendo mais nada que isto entrave
Supera com certeza a dura trave
E segue seu destino em paz e toma
O amor abençoado, uma redoma
Que nos isole mesmo dos desmandos
Do mundo em que se vê o sortilégio,
No sonho aonde tenho o privilégio
De dias tão suaves, claros, brandos.


276


No imaginário rio aonde passo
Vencendo as corredeiras, chego à foz
E o amor que na verdade dita a voz
Enquanto uma esperança além eu traço
O tempo se perdendo em novo espaço
O risco de viver, duro e veloz
O manto se desmancha sobre nós
O meu olhar agora em vão cansaço.
Depois de tanta luta; o que me resta
É crer nesta esperança em leda fresta
Festejos do passado? Nunca mais.
A fonte num estio interminável,
Meu mundo em cenário confortável
Agora exposto aos ritos terminais.


277

Um dia cavaleiro da esperança
Agora mero e tolo viajante
Do amor que na verdade se adiante
Enquanto no vazio a voz se lança
O risco condenado em ordenança
O passo que deveras agigante
Cenário tão terrível, degradante
Aonde aponte a fúria com pujança
Realço o meu caminho com tal sombra
Do amor que se perdera e agora assombra
Domando o meu disperso pensamento
E tanto quanto pude acreditar
Nas tramas sem saber onde encontrar
Sequer alguma paz, ledo momento.

278

Numa tarde de outonal caminho em trevas
Os olhos procurando algum alento,
O vago desenhar em sofrimento
Aonde estas tristezas também cevas,
As almas entre os medos, tanto atrevas
Enquanto noutro rumo um passo eu tento,
E sei do quanto é duro o alheamento
Da sorte feita em duras, frias levas.
O corte aprofundando dentro em mim,
O tempo se aproxima bebo o fim
Negando o quanto pude acreditar
No todo já perdido, meu passado,
O dia noutro tempo desenhado
Matando esta alegria, devagar.

279


Tu foste qual enigma para mim
Indecifrável mesmo e tento após
O risco mais audaz, turvo e feroz
Sedento do que busco e sei no fim,
O amar e desenhar este estopim
E nele desdenhando a mera foz
De um rio tão dorido quanto atroz
Tornando quase inóspito o jardim,
Essencialmente o verso se transforma
E bebe da ilusão a frágil forma
Tomando para sempre este vazio,
Por onde ao caminhar quis um momento
Em paz diverso deste que ora invento
Provento onde algum sonho em paz eu crio.


280

Cavalgo além dos céus e neste tanto
Desejo te encontrando a cada passo,
O quanto deste amor querida eu traço
No sonho onde quero e sei me encanto,
O verso se mostrara como um manto
E ocupa da esperança o seu espaço
Enquanto novo rumo em ti eu faço,
Resulto deste farto cavalgar
Fazendo deste sonho o meu corcel
Adentro o mais incrível fogaréu
Nas fráguas delicadas do luar
E tento em concordância novamente
Um canto aonde o amor já me alimente.


281

Prazer sobrevivendo à própria dor
Que tanto conheci decerto outrora
E agora quando o sonho em ti ancora
Presumo novo rumo encantador,
Seguindo cada passo, tento a flor
E nela minha vida se decora
Ausente deste encanto o que apavora,
A solidão já não ditando a cor.
O vasto desenhar em claridade
Deixando transparente esta verdade
Por onde caminhar se fez tranqüilo,
Nas ânsias mais audazes deste sonho
O mundo que deveras recomponho
Em luas tão sobejas eu desfilo.

282

Desnudando minha alma a cada verso
Transcendo à própria dor e reinvento
Um mundo aonde possa em pleno vento
Vencer o descaminho aonde imerso
Pudesse transformar meu universo
E ter além do cais este momento
Audaz sem ter sequer no pensamento
O manto noutro rumo em vão submerso.
Egresso dos desmandos da ilusão
Meu canto toma nova direção
E segue sem destino rumo ao farto,
Os erros; não mais quero e quando os vejo,
Assíduo caminheiro em tal desejo
Apenas os esqueço e já descarto.

283

Num turbilhão de escumas, mares tantos
E neles entranhara o meu sentido
O canto noutro rumo já perdido
Em meio aos mais diversos desencantos
Traçando o dia a dia em tais quebrantos
Meu passo noutro passo resumido
O manto da esperança já puído
Encontro os meros dias, meus espantos.
Alheio caminhante do passado,
O quanto inda me resta relegado
Ao ermo de minha alma mais sombria,
O tempo se transcorre indiferente
Porquanto dos meus sonhos sempre ausente
O que inda fosse em mim, uma alegria.


284

O espírito se perde deste que
Pensara tão somente em luz e sabe
Que todo este vazio não mais cabe
E nem sequer num novo mundo crê
O passo se perdendo sem por que
Enquanto a fantasia assim desabe
Desarvorada mente não mais gabe
Do mundo onde deveras nada vê
O centro de equilíbrio se perdendo
Do todo que pudera, algum remendo,
O medo se aproxima e em tal desdita
A cena sobreposta vida e morte
Na turbulência enorme que me resta
Sequer vejo esperança pela fresta
Nem mesmo alguma messe que conforte.


285

Uma aflição enorme dita o rumo
De quem se fez alheio aos dissabores
E tenta prosseguir imerso em flores,
Porém a cada passo já me escumo,
Resumo de um momento em desaprumo
O tanto quanto posso e sem pudores
Vestindo esta tormenta sem te opores
O medo me alimenta e me acostumo,
Ao fardo que vergando minhas costas
Demonstra as dores fartas sendo expostas
E em farsas minha vida já desfeita,
Somente o caminhar por entre espinhos
Traduz os meus delírios mais mesquinhos
Enquanto no vazio a alma se deita.


286

Um termo que pudesse ser fatal
Deixando para trás o sofrimento
E quando neste sonho me alimento
O dia sobrepõe-se ao natural
E vejo com ardor o sideral
Caminho para o tal alheamento
E bebo com ternura o sentimento
Que possa ser deveras terminal.
Amortalhada face? Nada disto,
Apenas no final, eu já desisto
E não quero outro enredo, estou cansado.
O mundo desenhado no meu sonho
Diverso deste atroz, duro e medonho
No qual eu tenho tanto caminhado.


287


No amor que tanto pode redimir
Ou mesmo nos poupar das dores quando
Num ato mais tranqüilo nos tomando
Transcende ao próprio tempo, este elixir.
No quanto tantas vezes quis sentir
O coração deveras se entregando
E o mundo noutra face deformando
Matando o que tentara presumir,
Negar alguma luz, leda fortuna
Na dor quando voraz e nos desuna
Resumos de um momento mais cruel,
Aonde a sorte traz em traição
O passo rumo ao farto, agora em vão
Negando qualquer brilho em turvo céu.

288

Angustiadamente o tempo passa
E gera outra quimera a cada ausência
Aonde tanto quis tua anuência
O sonho na verdade nada traça,
Somente o coração, leda fumaça
E nele esta vereda, incongruência
Gerando em mim somente a decadência
Na sorte tanto dura quanto escassa,
Vagar em tom sombrio, noite escusa,
O término do sonho já se acusa
Na farsa perpetrada pelo encanto
De quem se fez um dia a redenção
E agora noutra voz e dimensão
Traçando o meu futuro em tal quebranto.

289


Esgoto o meu caminho em tom sombrio
E marco com terror o passo enquanto
Buscara na verdade o que garanto
Vencesse com ternura o duro frio,
O marco desvendado em desvario
O farto e tão temido desencanto,
O medo se aproxima e neste tanto
O quanto permaneço em vago estio.
Restauro vez em quando uma esperança,
Mas quando no terror ela se lança
As sombras de uma vida ressuscitam
E os dias que decerto necessitam
Da paz aonde possa descansar,
Somente mera noite sem luar.

290

Abrando com meu canto alguma treva
Que tanto permanece embora eu lute
E quanto mais atroz, tanto relute
O passo no vazio já me leva.
Impeço a sombra audaz que me atropele,
Mas sei quanto é sutil os seus enredos,
E tento desvendar velhos segredos
Sentindo a dor intensa em minha pele,
O mar que poderia me trazer
Um cais aonde um dia em paz sublime
Deveras na verdade se suprime
E sinto esta vontade esmorecer.
Esgoto cada chance e no final,
O quanto resta em mim sonega a nau.

291


O dia em dor imensa se aprofunda
E gera a face escusa da verdade
No quanto o meu caminho se degrade
A sorte mera e torpe vagabunda,
Refaço meu destino em nauseabunda
Vereda aonde o nada sempre invade
E o risco de sonhar felicidade
Traduz realidade tosca e imunda.
Esgares da esperança, mero cardo,
O sonho se transforma em duro fardo
E nada mais suporto a cada passo,
Somente o meu final que se aproxima
Tão mórbida ilusão tomando o clima
Aonde sem defesas me desfaço.

292

Esbarro nos meus ermos quando tento
Vencer as minhas dores costumeiras
E tanto pude além das corredeiras
No quanto agora sorvo sofrimento,
O corvo se aproxima e num lamento
Expressa ao crocitar as derradeiras
Verdades, mesmo quando traiçoeiras
E nelas sem defesas, me atormento.
O risco de viver e ter apenas
As horas mais terríveis; envenenas
E geras do vazio outro delírio.
O quanto acreditava em luz, calor
Agora ao me encontrar em desamor
Encontro em consonância o vil martírio.


293

Alegro-me ao sonhar com quem um dia
Pudesse atravessar o meu caminho
E sei o quanto sou tolo ou mesquinho
Ao mergulhar meu sonho em poesia,
A vida na verdade não traria
Senão a solidão em farto espinho
E quando me percebo mais sozinho
A noite sem ninguém somente esfria.
Resumo de uma vida inútil trago
Buscando qualquer fonte, mero afago,
O rito se transcorre em dor e pranto,
Por vezes acredito noutra senda,
Mas quando a realidade já se estenda
Somente resta em mim medo e quebranto.


294

Onírico caminho desenhara
Quem tanto quis um dia, pelo menos
Em ares mais suaves ou amenos,
Crisálida de um sonho em vã seara.
O passo que a verdade desampara
Os olhos impregnados de venenos
Aonde quis momentos raros, plenos
Somente a noite amarga, nunca clara.
O pântano que adentro dita a sorte
E nele se desvenda apenas morte
E o corte se transcorre em tal sangria
Gerando no final, a sordidez,
E o passo que decerto se desfez
Marcando com terror, medo e ironia.

295

Em solilóquio busco uma resposta
E nada se atendendo ao que procuro,
O dia se aproxima mais escuro
E a sorte noutra face decomposta,
O quanto do passado não aposta
No farto desenhar de outro futuro,
O medo de viver; onde perduro
O carma numa morte nua exposta
Esgarço em novo verso esta esperança
E perco pouco a pouco a confiança
Fianças destes dias mais doridos,
E os tantos caminhares, sem destino,
A cada novo engano determino
O sórdido desenho em vis olvidos.

296

A sorte em surpresa
A presa do sonho
Aonde proponho
E nada em destreza
A vida a beleza
O canto enfadonho
O risco componho
E nele a leveza
Do verso sutil
Que tanto surtiu
Efeito diverso
E assim neste verso
Amor se reviu
E nele, eu imerso.

297

Quem tanto acendeu
Farol da esperança
Enquanto se cansa
Do mundo que é seu
Buscando outro breu
Gerando a fiança
Deitando descansa
Quem tanto esqueceu
Do rumo que outrora
Deveras aflora
E gera o vazio,
Depois deste intento
O quanto inda tento
No fundo é sombrio.

298

A luz que se abaixa
O risco onde tento
Vencer sofrimento
Sorte não se encaixa
E tendo outra faixa
Na qual me alimento
Ou mesmo em provento
Maré sempre baixa
Percebo o teu rosto
E nele composto
O sonho; quem dera
Soubesse no fim
Do quanto o jardim
Reina em primavera.

299

O chão fosse nosso
O tempo também
Amor quando vem
E dele me aposso
No quanto eu endosso
E risco outro bem
Vencendo o desdém
De quem não mais posso
Sentir o perfume
Enquanto além rume
Meu barco sem cais,
Saber da tormenta
Que amor apascenta,
Alçar siderais.

300

Deserto este quarto
Aonde somente
Vivera descrente
Do quanto reparto
Ou nada, mais farto
Do todo em semente
Ainda que tente
De ti não aparto
O sonho em promessa
A voz recomeça
E gera outra voz,
Num eco divino
Assim me alucino
No amor que há em nós.

MARCOS LOURES FILHO
 
Autor
MARCOSLOURES
 
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