Sonetos : 

VERSOS VÁRIOS

 
001

Chegando ao quanto pude mesmo em sonho
Traçando alguma curva antes da queda
Aonde o meu caminho ali se enreda
Quem sabe qualquer curva recomponho?
O tanto quanto quis ou me proponho
No fundo o meu delírio se envereda
Nos antros do passado e me degreda
Num ermo desejar quase bisonho,
Auspiciosamente a vida traz
Uma ilusão por vezes mais tenaz
E tanto se entranhando noutra senda
Quem sabe no final mereça a luz?
Ao farto desejar jamais me opus
Sem nada, na verdade que inda atenda.

002


Tempestuosamente até quem sabe
Eu pude acreditar em tal promessa
Quem ama na verdade tendo pressa
Bem antes que ilusão em vão se acabe
Desenha outro cometa e até se gabe
Da falsa sensação e se endereça
Ao vago começar, mais que depressa
Depois percebe a casa onde desabe,
Assim ao perecer esta emoção
Momentos mais diversos se farão
E neles o vazio perpetua,
A sorte desdenhosa e passageira
No fundo quer deveras ou não queira,
Após qualquer tempesta vem a lua.


003


No mesmo caminhar aonde outrora
Pudesse adivinhar quem me quisesse
E sendo o coração em tal benesse
Apenas o vazio me decora,
O risco de sonhar, não tendo agora
No fundo deste mar, não recomece
O sonho aonde o nada se obedece
E o sentimento atroz somente ancora.
O passo rumo ao farto não mais dera
E o manto se transgride em primavera
Na espera alucinada, nada vejo,
Somente a mera sombra do que um dia
Pensasse ser só minha a fantasia
E nela desenhado o vão desejo.


004


Falar de amor com quem jamais me escuta
É como se pregasse num deserto
E quando o sentimento ali desperto
A ausência se tornando mais astuta,
O passo se encaminha, mas reluta
Este alvo nunca vejo aqui por perto
O rumo que pensara estar aberto
Somente no vazio e sem permuta.
O ranço desenhado no teu rosto,
O amor noutro momento em contragosto
O riso anunciando o fim da peça,
O sonho desmedido? Mera fraude
O quanto na verdade fora embalde
Ao sofrimento enfim já me endereça.

005


Premissas de outros dias tão iguais
Os olhos esvaziam o horizonte
Sem lua nem momento que se aponte
Os ritos se repetem, tão banais,
E quando nestes antros siderais
O amor já presumira qualquer ponte
Ainda quando muito desaponte
E traça riscos tolos e venais.
Ocaso de um poeta em solilóquio
A vida não permite outro colóquio
E a minha insensatez ora me isola,
O quanto quis deveras e não tive,
O mundo aonde o passo enfim detive
O sonho insatisfeito em dor imola.

006

Já não contenho mais algum jardim,
A morte se aproxima e se vendo
O olhar em duro corte, mal retendo
O que inda resta em luz dentro de mim,
Cenário na verdade ledo e enfim
O meu caminho apenas um remendo
Do quanto imaginara e fui perdendo
Nas tramas deste canto até o fim.
O manto destruído da esperança
E nele tão somente a vaga alcança
Naufraga qualquer messe que inda houvera,
Assim ao me sentir mais isolado,
O tempo noutro tempo sonegado
Jamais refletiria a primavera.


007


Não quero esta promessa vã de fato
Apenas prosseguir e sem descanso
Buscando dentro em mim qualquer remanso
Ou mera providência de um regato,
No todo aonde às vezes me retrato
O nada com certeza; vejo e alcanço
O prazo terminando e não avanço
Somente a solidão em tom ingrato.
Escapo da mortalha que me deste
E o canto ainda mesmo mais agreste
Não deixa que se creia num verão,
O marco desnudado mostra a face
Da morte que deveras cedo grasse
Tomando em suas rédeas o timão.

008


No prazo que termina desde agora
Acasos se repetem, pois no fundo
Do todo aonde um pouco ou não me inundo
O olhar ao ver vazios se apavora,
O quanto a fome esboça e não aflora
Sequer algum momento e neste imundo
Delírio procurando nalgum mundo
O canto aonde o prazo não demora.
Restituindo em tom diverso o quanto
Perdera noutro rumo, eu te garanto
Jamais imaginei qualquer resgate,
No tanto que pudesse e me maltrate
A vida se transforma em vil quebranto
E nesta dor intensa me desate.

009

Orgásticos caminhos do passado,
Apenas meras sombras vejo e tento
Ainda que se mostre o sentimento
O mundo há tanto tempo derrocado,
O vasto caminhar em farto prado
O coração jamais se fez detento,
E quando um novo amor, procuro e invento
Somente o meu temor mal disfarçado,
A morte se aproxima e dita o rumo
E quando na verdade me acostumo
Querendo vez em quando alguma luz,
O resto dos meus dias leda paz,
A sorte a cada ausência já desfaz
O que meu mero sonho inda produz.

010


Já não mais caberia solução
A quem se fez ausente da esperança
E o passo sem destino bem mais cansa,
Sedenta noite dita este verão,
O amor sem ter remédio, em provisão
Diversa da que tanto em confiança
Exprime tolamente esta mudança
E novos tempos tento desde então.
Se caprichosamente a vida omite
E o tanto ultrapassando este limite,
O rastro que persigo se perdeu,
Ainda vivo aquém do quanto quis,
E sei do meu delírio de aprendiz,
Num mundo onde julgasse fosse meu.

011

Jamais eu poderia imaginar
Qualquer caminho aonde se escondesse
Estrela que meu mundo merecesse
E nesta maravilha qual luar
Seguindo cada rastro até achar
Quem tanto imaginei e assim se tece
O coração afoito em tal benesse
Deveras não se cansa de sonhar.
Viver cada momento que se visse
O amor além do caos, tanta mesmice
Refaço cada passo noite afora,
E quando sinto em ti farta beleza
Minha alma se sentindo à tua presa,
No cais mais desejado, pois se ancora.

012


Meu verso se fazendo de ilusão
Ganhando qualquer passo rumo a ti,
No quanto ao desejar te mereci
Qual fosse meu caminho em teu timão,
Vagando noite adentro, a sensação
De quanto imaginara encontro aqui
E sei que te encontrando eu me perdi
Abençoada e rara perdição.
Altares que erigi ao nosso amor,
Num ato tão suave e encantador
Geraste novo altar dentro de mim
Qual fosse algum templário, nele eu vejo
O sonho discernindo benfazejo
E tramo babilônico jardim.


013


Ecléticos caminhos perfilados
Transcendem ao que pude desejar,
Quisera qualquer gota do luar
E nele meus anseios desenhados,
Os rumos na verdade demonstrados
Nas ânsias mais gostosas de encontrar,
Resumo cada passo a te buscar
Em dias tão somente iluminados,
Raiando dentro em nós cada momento
Aonde na certeza me alimento
Do sonho aonde tramo a poesia,
Qual fosse cristalina fonte eu creio
No todo que me dás e sem receio
O amor ao ver amor, amor recria.

014


Somáticos anseios; minha luta
Traduz em verso e luz o que ora almejo
Marcando com delírio mais sobejo
Vencendo calmamente a força bruta,
A noite do teu lado, o mar se escuta
E nele saciando este desejo
Sereia entoa cantos e te vejo
Desnuda nesta praia, lua e gruta.
Resulto deste tanto caminhar
Por ânsias tão diversas de um luar
Expresso em teu olhar e em tua voz,
Resumo de uma vida que pensara
Atroz e agora vejo bem mais rara,
Atando esta esperança viva em nós.


015


Já não podia mais com a incerteza,
Cansado de lutar inutilmente
O fim do nosso caso se pressente
E digo sem temor e sem surpresa,
No quanto a minha alma andara presa
E neste caminhar impertinente,
O farto do delírio já se sente
Seguindo mansamente a correnteza,
Andando em meio às tais constelações
Aonde com carinho tu me expões
A redenção divina que eu tentava,
Assíduo passageiro em verso e canto,
Deitando do teu lado eu me agiganto
E enfrento qualquer onda atroz ou brava.


016


Essencialmente eu busco a paz e tento
Sentir a providência em cada verso
No quanto nos teus braços sigo imerso
E tenho com certeza ali o alento
Que tanto procurara em pleno vento
Ansiosamente crio este universo
Ousando no caminho mais disperso
Resumo de meu mero pensamento,
Alheio aos dissabores; vejo em ti
O quanto desejei e descobri
Que um dia poderia ser só meu.
O amor desafiando qualquer sorte
No todo e no momento em que conforte
Atinge sem perguntas o apogeu.


017


Ainda que tu fosses além mar
Eu não me cansaria nem sequer
De ter nos meus delírios a mulher
Que tanto desejei um dia amar,
E a cada amanhecer, a luz solar
E nela toda a força que aprouver
Trazendo farto amor e se puder
No coração deveras aportar,
Permanecendo assim, enamorado,
O tempo transcorrendo lado a lado
Alado passageiro da esperança,
Meu canto não lamenta, comemora
E a vida que pensara atroz, agora
Ao vasto do infinito em paz me lança.


018


Acendo outro cigarro e na fumaça
Eu vejo esta presença de quem tanto
Desejo e na verdade em desencanto
Agora noutra senda além já passa,
O verso ora se cansa e sei que é baça
A vida de quem busca o claro manto
Vestindo esta ilusão, mas eu garanto
A sorte anunciada o rumo traça.
E tento após a queda a redenção
E sei que nos teus braços poderão
As luzes mais suaves conhecer.
Assim ao me entregar sem ter receios
Sentindo a maciez dos fartos seios,
Desenho no teu corpo o meu prazer.


019

Esboço uma canção aonde eu possa
Grassar sem ter o medo de uma ausência
E tendo nos teus braços a anuência
Sabendo que esta vida agora é nossa,
Ultrapassando em paz, o poço e a fossa,
O risco se mostrara em inclemência
E agora já não vejo uma imprudência
No passo rumo ao tanto que se endossa.
O amor não deixa mais qualquer detalhe
Espúrio, e se caminha enquanto talhe
No céu a redenção em luz sublime,
O quanto se percebe o nosso caso,
E nele a maravilha onde aprazo
O sonho que deveras nos redime.


020


Marcando em voz sombria o meu passado,
Agora não teria outro caminho
Senão este do qual eu me avizinho
Vivendo o dia a dia do teu lado,
O rumo com certeza já traçado
E nele o meu delírio gera o ninho
Aonde o coração qual passarinho
Encontra o seu destino enamorado.
Elaborando assim um novo tempo
Aonde não se vendo contratempo
Perpetuando a paz que se buscara,
A sorte abençoando quem se dera
Gerando dentro em nós tal primavera
Dourando com ternura esta seara.



021

.Censura teus amigos particularmente, e louva-os
em público..

Públio Siro

O quanto erraste eu sei e não me omito
O dia necessita deste sol,
Assim nossa amizade qual farol
Traçando não somente o que é bonito,
E quando se perdendo no infinito
Gerando tão somente um girassol
Assídua tempestade no arrebol,
Deveras neste ardor não acredito.
Eu louvo quando tu mereces, mas
O tanto que se mostre quando faz
Também a ti censuro na calada,
Ao ver nossa amizade desta forma,
O quanto abençoada se transforma,
Traçando em consonância a bela estrada.


022

.Meu Deus protegei-me de meus amigos! Dos meus
inimigos eu me encarregarei..
Voltaire

Bem sei que me traíste, companheiro,
E sinto por não ter em teu olhar
Beleza tão sobeja a se mostrar
E deste turvo rumo eu já me esgueiro,
O mundo tantas vezes traiçoeiro
Cansado de sentir e de lutar,
Porém em ti jamais imaginar
O bote com terror, bem mais certeiro.
Dos inimigos sei e os reconheço,
Se dos amigos perco este endereço,
Tropeço a cada passo em vão degrau,
O quanto me mostraste em fria face
E o tempo na verdade agora grasse
Moldando este cenário turvo e mau.

023


.Enquanto fores feliz contarás muitos amigos;
quando o tempo se tornar nublado estarás só..

Ovídio



Tua amizade eu sei que na verdade
Não tem qualquer sentido ou consistência
No quanto se gerara em inclemência
Na fúria quando a mesma nos invade,

Assim ao se mostrar a realidade
E nela a mais difícil convivência
O tanto que se quer, sem indulgência
Matando o que pensara e se não agrade.

O risco de tentar um novo passo
Enquanto estou feliz, já não condiz
Com toda esta beleza e a cicatriz

Traduz cada momento que ora traço,
Insólita presença deste “amigo”
Melhor é não trazê-la aqui, comigo.


024


.Ama teu vizinho, mas não derrubes tua cerca..
G. Herbert

Respeito cada passo que tu dás
E sei desta vital necessidade
Embora insuportável qualquer grade,
Limite com certeza nos compraz,
O risco de se pôr bem mais audaz
E não saber lidar com liberdade
É torpe e com certeza nos degrade
Deixando no passado qualquer paz.
Por isto meu amigo, se presume
Por mais que atinja logo imenso cume,
Nossa amizade é feita em tal respeito,
O quanto de teu canto quero e aceito
Não diz totalidade nem pudera,
Senão acordaria a tosca fera.

025


.Quanto mais cedo você fizer novos amigos, mais
cedo terá velhos amigos..
Eric Berne

Manter uma amizade é necessário
E saber discernir cada caminho
Deveras a certeza dita o ninho,
E nele todo encanto é temerário,
Mas quando o amor se faz mais solidário
E dita em mansidão eu me avizinho
Do quanto pude em sonho e já me alinho
Da paz agora manso este emissário.
No tanto que desejo este novel
Caminho que me leve ao raro céu
Eu sempre acreditei mantendo o antigo
A força com certeza multiplica
E assim bem mais que uma alma nobre e rica
Carrego o mundo inteiro, pois comigo.


026

.Não escolhas para amigo um homem de mau cará-
ter..
Talmud


Reflexo deste espelho se mostrando
No olhar de teu amigo, esteja certo,
O quanto do demônio em mim desperto
Num ar que seja turvo e até nefando,
Mas tudo se transforma desde quando
Mantendo o meu olhar bem mais aberto
O rumo com certeza agora acerto
E nele o bom caminho acompanhando.
Não temo mais as dores costumeiras
E sei também do bem que tu me queiras
E traduzindo em nós esta aliança
A vida se transcorre em paz sublime,
E todo descaminho se redime
Enquanto em nós houver tal confiança.

027



.Amigo é quem o é no infortúnio..
Do Panchatantra

Não quero esta amizade tão venal
Que apenas desfrutar e não cevar,
Assim ao aprender a caminhar
Num rumo que se faz consensual,
O risco de negar o próprio astral
E ter bem mais disperso algum luar,
Gerando o duvidoso desdenhar
Quando a verdade dita um ar fatal.
Arisco, sei que sou e na verdade,
Ao crer somente quando uma amizade
Enfrenta as tempestades corriqueiras,
Ascendo ao mais sublime quando vejo
O desenhar em mar turvo ou sobejo
De luzes tão sinceras, verdadeiras.


028


.O inimigo mais terrível é aquele que já foi nosso
amigo, pois conhece as nossas fraquezas..
Fernando Guimarães

Eu sei que tu conheces cada passo
Por onde caminhei em minha vida,
E sei desta armadilha presumida
No quanto com terror já não mais grasso
O rumo que desenhas, ledo traço,
Preparo enfim a dura despedida
E sei do quanto atroz a leda lida
E o tempo se perdendo em vago espaço.
Do laço com firmeza, nada sobra
Apenas vejo ali a fria cobra
Que atocaiada espera algum momento
Aonde o bote certo se escancara
E assim ao destruir toda a seara
Mortalha que com paz, eu alimento.


029


.O maior herói é aquele que faz do inimigo um amigo..

Talmud


Fazer de quem outrora se fez mal
Um companheiro agora é privilégio
Que vence com certeza um sortilégio
E neste caminhar, é triunfal,
Diversa realidade em tal colégio
Traduz a convivência, isto é normal,
Porém quando o temor é abissal,
O medo se transforma em tom mais régio.
A discordância gera a imprevidência
E nisto é necessária a paciência,
Mas; sobretudo além da concessão
Saber o dividir e respeitar
Permite um novo e claro caminhar
Ousando até na mesma direção.

030


.Todas as glórias deste mundo não valem um amigo
fiel..
Voltaire

É glorioso sim quem conseguira
Num mundo tão atroz, esta verdade
De ter compartilhado uma amizade
Aonde o que vigora, atroz mentira,
Olhar e mansamente ter na mira
O quanto deste canto nos agrade,
Vencendo o que deveras já degrade
E nisto uma lição sempre se tira.
Fidelidade é chave para o tanto,
E neste passo afim eu me garanto
Sobrepujando a dor do dia a dia,
E quanto estou contigo, companheiro,
O mundo que se fora um espinheiro
Transborda em rara paz bela harmonia.

031

.Na prosperidade nossos amigos no conhecem; na
adversidade nós conhecemos nossos amigos..
Collins

Enquanto a minha vida fora farta
A mesa se mostrara sempre cheia,
E agora tão somente o vão rodeia
E a solidão ninguém de mim aparta,
Porquanto enquanto a vida se reparta
Na plenitude em voz atroz e alheia,
Assim quando o vazio nos permeia
Qualquer sinal de luz, eu sei, já parta.
E tanto conhecera as duas faces
Enquanto na verdade agora grasses
Caminho bem diverso do que é meu,
O quanto no apogeu tu foste amigo,
Agora condenado ao desabrigo,
O rumo desta casa se perdeu.


032

.Aquilo que nos agrada em nossos amigos é a atenção
que eles nos dedicam..
Tristan Bernard

Jamais em ti eu vi uma atenção
Enquanto eu precisava de um afeto,
O meu caminho eu sei ser incompleto
Ausente neste fato a direção
E mesmo noutros tempos que virão,
O quanto vejo em ti eu já deleto,
O passo contrafeito nega o feto,
O aborto traduzindo ingratidão.
Desagradando sempre desta forma,
Uma amizade aos poucos se deforma
E vira mera sombra do passado,
No tanto que pensei compartilhado
Agora dividido em tez sombria,
O próprio caminhar já não se via.

033


.A amizade multiplica as coisas boas e divide as
más..

Gracián


Na exata divisão do bem e mal,
O farto caminhar em tons dispersos
Traçando na verdade os universos
Num tom que nunca foi consensual,
Assim ao me encontrar neste degrau
Os olhos noutro rumo vão imersos,
E tanto poderia, mas diversos
Destinos desfazendo o magistral.
O quase ser feliz numa amizade
Deveras cada dia se degrade
Enquanto não divide o maremoto,
Mas quando soma apenas a ventura,
Já não condiz com tudo o que procura
Quem sabe num amigo um ser remoto.


034



.Desconfio do respeito de um homem para com seu
amigo ou sua bandeira quando não o vejo respeitar
o inimigo ou a bandeira deste..
José Ortega Y Gasset

Assim como na justa divisão
O olhar não sobrepõe sequer ao quanto
Divirjo do teu rumo e te garanto,
Respeito a tua própria decisão,
Mas quando se percebe algum senão
E nele se apresenta em desencanto,
Ao denegrir imagem erro tanto
Que ao fim já não mereço compaixão.
Defendo o teu direito tal qual fora
Imagem mais diversa e refletora
Do eterno caminhar por sobre a Terra,
E tendo esta completa convergência
No quanto entre nós dois há divergência
A liberdade plena assim descerra.


035

.O amor é cego; a amizade fecha os olhos..
B. Pascal

Saber do que não vejo em farto amor,
E crer ser diverso do que eu sinto,
Assim ao se mostrar a voz do instinto
Perdão se transformando em árdua cor.
Porém quando a amizade traz no ardor
A senda mais sublime aonde eu pinto
O rumo que pensara outrora extinto
Num passo sem pensar a se propor.
Enquanto não enxergo mesmo olhando
O passo se gestando bem mais brando
Permite no futuro o solidário
Caminho da amizade, mas também
No amor tanta cegueira se contém
Que qualquer passo além é temerário.


036

.Os amigos são parentes que a gente mesmo arranja.
.
Eustache Dechamps

Durante a minha vida, a solidão
Batendo em minha porta vez em quando,
Mas ao se perceber nos transformando
Uma amizade diz desta união,
E nela o parentesco desde então
É mais do que decerto o se tomando
Numa coincidência dominando
Da vida qualquer rumo e decisão.
Meu passo eu compartilho com o amigo
E sei que na verdade assim consigo
Bem mais do que se fez ora aparente,
No fundo a gente tendo esta certeza
Vencemos com furor a correnteza
É da alma, com nobreza tal parente.

037

.A Bíblia nos ensina a amar o próximo e também a
amar nossos inimigos provavelmente porque eles
em geral são as mesmas pessoas..
Mark Twain

O próximo que a ti pode bem ser
O mais distante até do que pensavas,
E nele as ondas duras, firmes, bravas,
Fazendo qualquer messe padecer.
A dita se transforma em desprazer
E gera na verdade duras travas,
E quando noutro rumo tu te lavas,
A sorte talvez possa conhecer.
Assim ao se mostrar ao lado teu
O quanto deste encanto se perdeu
Trazendo num olhar ódio e terror,
Aonde se pudesse ser diverso,
Vagando para além meu olhar verso
Quem sabe na distância eu veja o amor?


038


.A amizade é a afeição divina..
Rose Bonheur

Bem mais do que uma bíblica promessa
De remissão e cura, ou mesmo o eterno,
Nas mãos de uma amizade o bem mais terno
Enquanto a vida além já recomeça,
Assim ao mesmo rumo se endereça
E neste desenhar, jamais inverno,
O quanto em meu amigo ora me interno
O bem que nos redima se professa.
O risco de viver em solidão
Transcorre da difícil solução
Que damos ao tentar em desalinho
Aquilo que em conjunto se consegue,
E o solitário apenas mal navegue
Já perde este timão errôneo ninho.

039


.Entre pais e filhos não há maior abismo que o silêncio..

Roger Rosemblatt


Já não suporto mais este vazio
Gerado pela voz que agora ausenta,
Assim a vida dita esta tormenta
Aonde o meu futuro é mais sombrio,
O solitário errático em tal fio
Trazendo em sua face virulenta
A dor que na verdade se apresenta
E nisto gesta apenas ledo frio.
Abismos entre nós, eu não mais quero,
Prefiro mesmo o golpe mais sincero
Ao nada que se trama quando alheio
Ao passo ou quem desenha o pensamento
E gesta com terror o sofrimento
Matando em tal quietude o que eu anseio.


040


.É na educação dos filhos que se revelam as virtudes
dos pais..
Coelho Neto

Ao ver em ti reflexo do que um dia
O ensinamento ousara ou sonegasse
Demonstrar sem saber na tua face
O que quando menino recebia,
Assusta-me viver a hipocrisia
E neste caminhar em turvo impasse
A solidão deveras não mais grasse
E trace novo canto em alegria,
O fato mais constante que se sente
Na mesma realidade tão freqüente
Retratos tão iguais de pais e filhos,
Desvendo este mistério ao conhecer
Na parte o mais completo a se tecer
Tramando caminhar em iguais trilhos.




041


.Só damos valor ao amor de nossos pais quando
também somos filhos..
Henry Ward Beecher

Quando a vida traz noutro momento
A face tão diversa e convergente
Do quanto na verdade se apresente
E nisto vejo assim, estando atento
O olhar aonde o todo eu incremento
E teimo mesmo sendo impertinente
Vencer os meus anseios, plenamente
Mudando a direção de cada vento.
Ao ser pai percebi o quanto é rude
O descaminho aonde tudo ilude
E trago noutro olhar mesmo horizonte,
Assim ao se mostrar num novo lado,
O rumo desta feita desenhado
Talvez para um consenso logo aponte.


042

.É, em grande parte, no seio das família que se
prepara o destino das nações..
Papa Leão XIII

O mundo se converge enquanto traz
No olhar a plenitude feita em brilho,
E quando a realidade eu tento e trilho
O olhar por vezes trama um rumo audaz,
Mas quando num só traço a vida faz
Gerando a realidade em estribilho
O tanto do meu mundo onde palmilho
Persiste até na vida mais voraz.
Assim ao se fazer com precisão
O certo caminhar em direção
Ao claro amanhecer em bela senda,
Unindo nossos braços, tão somente
Enquanto a vida dita esta semente
Colheita com fartura já se entenda.


043


.Se queres que seus filhos tenham os pés assentes
no chão, coloque-lhes algumas responsabilidades
nos ombros..
Abigail Van Buren


Ao dividir assim a direção
Também é necessário o quanto creio
Na vida mesmo quando em devaneio
Gerando com ternura e precisão,
O fato de viver em comunhão
Expressa a realidade deste meio
E nele ao convergir onde rodeio
Transmite em segurança este timão.
A história continua quer não queira
E quando se mostrando verdadeira
Responsabilidade transmitida
Na força que se traz e nos reúna
A sorte com juízo coaduna
E gesta com firmeza inteira a vida.

044


.Não é a carne e o sangue, e sim o coração, que
nos faz pais e filhos..
Schiller

Amar é poder ter no mesmo rumo
O olhar ditando assim este horizonte
E quando um bom caminho já se aponte
O quanto de teu passo sempre assumo,
E neste partilhar também me aprumo
Gerando entre nós dois a firme ponte
Na qual com mais firmeza se confronte
A vida em tez diversa, ou ledo sumo.
Presumo o parentesco de quem ama
E redundando assim na mesma chama
Fortalecendo então a claridade
Da qual a sorte tanto necessita
E gesta uma beleza que infinita
Com toda a mansidão agora invade.


045



.Junto dos teus pais, procede do mesmo modo que
desejarias procedessem os teus filhos..
Fiacomo Leopardi

Repito em atitude com quem amo
A mesma forma aonde eu mais queria
Ser revelada em rara sintonia
Quais fossem deste arbol, o mesmo ramo.
E quando este caminho em ti reclamo
Ousando na amizade por bandeira
Além da mais comum e corriqueira,
Um novo amanhecer contigo eu tramo.
Ascendo passo a passo ao mais completo
Cenário aonde eu vivo o pleno afeto
Traçando em consonância um passo audaz,
Qual fosse refletido num espelho
O quanto te desejo eu me aconselho
E nisto o mesmo passo, a vida traz.


046


.De uma pequena tolice e uma enorme curiosidade
resultam muitos casamentos..
Bernand Shaw


Por vezes neste enredo se percebe
A dissonante história em comunhão,
E quando se renega a floração
Matando em nascedouro a bela sebe,
O quanto no vazio não se embebe
Quem tenta neste prumo a conversão
Ousando mesmo quando dado em vão,
Um passo em prejuízo ora concebe.
O amor seja bendito enquanto unindo
Trazendo este cenário claro e lindo
Além de simples tola penitência
Curiosidade apenas, nada disto.
Eu vivo tão somente o que persisto
E nisto não concedo mais clemência.


047


.Casa-te cedo demais, e irás arrepender-se tarde
demais..
Randolph

Uma atitude assim desarvorada
Transtorna em realidade tudo em volta
E o tempo com o tempo se revolta
E gera a face atroz e desolada,
Precoce deslindar de audaz estrada
Enquanto desarmando toda a escolta
O quanto foste além deveras volta
E traz a realidade em dura alçada.
Neste arrependimento mais tardio
Certeza de viver em pleno estio
Ausente uma colheita em profusão,
Assim ao se fazer precipitado
O mundo noutro dia é condenado
E cinde com certeza esta fusão.

048


.O problema com as boas idéias é que elas acabam
dando muito trabalho..
Peter F. Drucker

Somente imaginar já não mais basta
É necessário sempre ter nas mãos
Certeza de cevar com ardor grãos
Senão a própria vida nos afasta
E quando a realidade assim contrasta
Gerando no caminho fartos vãos,
Inúteis pensamentos, artesãos
Demonstram sua vida em luta gasta.
Idéias com certeza não traduzem
Nem mesmo ao bom cenário nos conduzem
Somente por si só já se perdendo,
O quanto se batalha e enfim porfia
Num ato repetido dia a dia
É que nos dará sempre um dividendo.


049


.Não é triste mudar de idéias; triste é não ter idéias
para mudar..
Barão de Itararé

No quanto sou volúvel, mas eu penso
O risco de ficar mudo e calado
Há tanto do meu mundo não notado
E nisto a cada passo um novo, imenso,
Errático cometa? Eu me convenço
E tento caminhar mesmo negado
O rumo para além imaginado
Quem sabe no final me recompenso?
Ausente de mudança tão somente
Quem nega no caminho esta semente
E farto do vazio nada cria,
Assisto aos meus anseios e percebo
O quanto de alegria ora me embebo
Por poder albergar a fantasia.


050


.Nada é mais perigoso que uma idéia quando ela é
a única que você tem..
Émile Chartier

O fato de se crer num só estigma
Presume a derrocada no final,
E vendo a variante deste astral
Aonde na verdade vivo enigma
Não quero e não consigo um paradigma
Que seja mesmo até consensual,
No risco de perder a minha nau
Comporto alfa e também ômega e sigma.
Aberto o pensamento à novidade
O quanto do velhusco não degrade
Talvez seja melhor a comunhão,
E ter na força plena o bom futuro
Melhor do que vagar em pleno escuro,
E nisto se perder a dimensão.



51

Contemplo este tesouro
Em jóias mais diversas
E quando além tu versas
Do quanto em nascedouro
No sol aonde eu douro
O coração; imersas
Vontades que dispersas
Num raro ancoradouro,
Vestir esta beleza
E ter na fortaleza
De quem se fez bem mais,
Certeza de vencer
Com raro e bom prazer
Os tantos vendavais.


52


Ondulações da vida
Em altos entre abismos
E quando os cataclismos
Ditando a voz perdida,
Além da mais dorida
Encontro novos sismos
E destes vandalismos
A sorte é construída.
Assim ao me tecer
Nas tramas do querer
Pudesse imaginar
Um bem tão variável
E nada controlável
Expresso em vão luar.


53


A força em elegância
O passo mais audaz,
O quanto me compraz
E gera a discrepância
Aonde a concordância
Já não se fez capaz,
O mundo busca a paz
E nela uma constância.
Mas tanto quanto pude
Viver em cena rude
Ou mesmo transformá-la,
Quem sabe noutro fato
Deveras me retrato
Ou mudo toda a sala?


54


Mulher cada milagre
Que vejo em ti desnudo
Transforma mais; contudo
Além do que se sagre,
O vinho em tal vinagre
No fundo mais miúdo
O gesto onde me iludo
Também não me consagre,
Resvalo em falso prisma
Enquanto uma alma cisma
Vestir a fantasia,
Se tanto não me quis
O quanto por um triz
Quem sabe, quereria?


55


Robusta face aonde
O amor dita a seu rumo,
E quando me resumo
No fato onde se esconde
O nada me responde
E bebo enfim o sumo
Do fogo onde me esfumo
E perco a senda e o bonde.
Restauro o passo enquanto
O fardo não garanto
Nem tendo serventia,
O certo dissabor
Não diz do claro amor
Que tanto poderia...


56


Reinando sem destino
O olhar neste horizonte
Aonde quer que aponte
É lá já determino
O rumo descortino
E traço nova ponte
Matando a velha fonte
Do sonho de menino,
Agora em tez cruel
O risco toma o céu
Lampejo tão somente,
E o quanto quis um dia
Somente em voz sombria
Deveras também mente.

57


Os ócios deste rei
E as tramas do reinado
O gozo desejado
Aonde me esbarrei
E sei do quanto errei
Ou mesmo sigo errado
Caminho lado a lado
Com quem tanto sonhei,
Sorvendo o mesmo fel
Atando em tom cruel
O passo ao fim mordaz,
Mas tanto quis assim
Que até saber do fim
Deveras satisfaz.

58


Contemplo este sorriso
No olhar de quem amava
E sei que em fúria e lava
Vivi tal paraíso,
O rumo mais conciso
Aonde se tramava
A sorte desdenhava
Em tom mais impreciso.
Vasculho dentro em mim
E chego sempre ao fim
Depois de muita luta,
A noite sem estrela
Difícil percebê-la
No quanto é mais astuta.

59


Na fátua companhia
De quem se fez fugaz
O amor já não compraz
Nem mesmo mudaria
Cenário deste dia
Agora mais mordaz
Até quando tenaz
A sorte não veria
Quem tanto quis um sol,
E tendo em arrebol
A bruma costumeira,
No fundo não se vendo
Morrendo em tal remendo
Sonhando com bandeira.


60


Um prolongado olhar
Vasculha sem sentido
O quanto da libido
Ainda irei notar,
E tanto procurar
Já não mais diz do olvido
O rumo preterido
Não deixa outro chegar,
O resto ora concebes
E sabes destas sebes
Aonde no passado
Vagara sem destino
E quando me alucino,
Somente o mesmo enfado.


61


O rosto delicado
Da fêmea mais voraz
Enquanto dita a paz
O tempo sem enfado
Momento decifrado
E nele já se faz
Além do quanto audaz
O todo desenhado,
Resumos de outros dias
Aonde poderias
E mesmo não mais vices,
Os quantos ermos trago
E neste ledo afago
Amor já diz mesmices.

62


Em cada rasgo da alma
A voz que não se escuta
Traçando a face bruta
Aonde nada acalma
E sei do ledo trauma
Na fúria aonde a luta
Por vezes não recruta
Quem tanto quis a calma,
Aprendo com abismo
E quando ali eu cismo
Prismática verdade
Em tanta claridade
O amor mesmo que arcaico
Traduz qualquer mosaico.

63

Na voluptuosidade
Com fúria em tom tenaz
O amor quando compraz
Deveras se degrade
E nada mais enfade
Que o tempo inda mordaz
Alheio ao que se faz
Em crua realidade.
Sonhar não é preciso?
Eu sei do prejuízo
Em cada novo sonho,
Mas tento esta saída
Enquanto a despedida
Aos poucos eu componho.


64


Dotada em majestade
A deusa em tom profano
Aonde quis engano
Augura em tempestade,
O rosto em ansiedade
O verso onde me dano
E quando é soberano
O rumo não agrade.
Assino com meu sangue
Em pântano este mangue
Aonde me entranhara
E sirvo de alimária
Além da temerária
Faceta dura e amara.


65


Encanto quando excitas
E tramas novas regras,
Também mal desintegras
As horas infinitas
E quando necessitas
E logo não integras
Decerto já te alegras
Com horas mais aflitas.
E tento acreditar
No quanto este luar
Pudesse ainda ter
Quem sabe no futuro
Em céu turvo ou escuro
Eu tenha o teu querer?


66

Enquanto me aproximo
Do fim que desenhara
E nele a sorte aclara
O quanto não estimo,
O amor ditado em limo
Prepara nova escara
E a queda desampara
Quem tenta além do cimo.
E o vasto deste vale
Aonde quer que cale
Já não mais me conquista,
Assim ao perecer
Nas tramas do querer
Não sou mero cambista.


67



Amor quando em blasfêmia
Gerando outra vertente
Aonde se apresente
Uma alma que eu quis gêmea.
No topo deste monte
O olhar já não traduz
Sequer a mera luz
E mata este horizonte,
Resumo em verso e prosa
O vento aonde um dia
Pudesse em alegria
A senda pavorosa,
Negando qualquer sorte
A quem jamais comporte.


68


Divino corpo teu
Aonde desnudada
A vida diz do nada
Ou toma este apogeu,
O quanto se perdeu
Assim em mera estrada
A sorte desejada
Ou tudo se escondeu
Nos vértices do sonho
Aonde me proponho
Apenas mera sombra,
O risco se alentasse
E nada em dura face,
O medo toma e assombra.


69


Uma ventura dita
O rumo de quem quis
Um dia ser feliz
E disto necessita
A paz onde é finita
Seara esconde o triz
E bebe cada atriz
A prece em tal desdita,
Assisto ao fim do fardo
E quando ali retardo
O passo não me atende,
O medo se transcende
E gera em tom tetânico
O imenso e torpe pânico.

70

Mascaro com meu verso
A dor que me carrega
A sorte sendo cega
E nela vou imerso
Procuro e desconverso
Enquanto em mim se entrega
A parte que sonega
O rumo do universo.
Restauro o passo enquanto
O todo mais garanto
Na queda em que o final
Exprime a minha vida
Há tanto já perdida
Em dor fria e venal.

71

Não chorem, pois a morte
Apenas um detalhe
Aonde a vida talhe
O fim que nos conforte,
Depois da dura sorte
O vago deste entalhe
Traduz o mero encalhe
Do barco sem um norte.
Assim ao prosseguir
O rumo em meu porvir
Integro a plenitude
Da qual já não condigo
Enquanto em desabrigo
A vida tanto ilude.

72


Um anjo simplesmente
Mergulho no vazio
E tento enquanto esfrio
O passo me desmente,
O amor de mim se ausente
E neste vago estio
O quanto desafio
Do todo impertinente,
Resumos de passados
Em dias destroçados
Restauro com meu sonho,
Mas sei que no final
O velho ritual
É sempre igual: medonho!


73


Um anjo reclamava
Presença de um comparsa
Aonde a vida é farsa
E o medo gera a trava
O corte não atava
O passo não disfarça
Quem segue e já se esgarça
Na trama feita em lava,
Sorvendo cada gole
Do quanto ora se atole
O passo em lamaçal,
O amor não mais bendiz
E sigo em cicatriz
Anseio a paz final.

74


A peregrina sorte
Não tendo mais paragem
Ousando outra visagem
Na qual já se conforte,
Traduz o ledo aporte
E cerzi esta barragem
Aonde uma ancoragem
Jamais alguém comporte.
O passo sem destino
Meu ermo determino
Nos antros que freqüento
Em hordas costumeiras
As ditas são bandeiras,
Desfraldam neste vento.


75


Divina constelar
A bela se afastara
Do olhar que se prepara
Deveras a rumar
Vagando sem lugar
E nesta vã seara
A vida não é clara
E nega algum luar,
Assisto ao fim enquanto
O passo eu mal garanto
E a queda me condena,
Aonde quis promessa
A vida se professa
Em dura e leda cena.


76


Ao firmamento sigo
Buscando qualquer rastro
E quando além me alastro
Vislumbro este perigo
Estando já contigo
O mundo dita o lastro
Amor um alabastro
Cinzel? Não mais consigo.
Aprendo com a fúria
E nela esta penúria
Gestando a realidade,
O quanto fora fútil
O mundo agora inútil
Aos poucos se degrade.


76


Dormindo esta criança
Que tanto quis um dia
E agora morreria
Na paz que não alcança
O tempo diz mudança
E gera a fantasia,
Mas mera alegoria
O todo já se cansa,
E rondo esta mortalha
Enquanto além se espalha
O rumo que tentei,
Infante delirar
Aos poucos ao notar
Vazia a minha grei.


77

Reluz farta beleza
No olhar de quem anseio
E sinto em cada seio
A doce gentileza
De quem nesta surpresa
Em pleno devaneio
Vencendo algum receio
De mim fez sua presa.
Mas quando eu acordasse
E nada além da face
Venal em vago espelho,
O rito em solidão
Invade e em profusão
Meu cenho enfim engelho.

78


Carmim em lábios; trazes
E moldas a esperança
De quem a ti se lança
Em passos mais audazes,
Amor em tantas fases
Promete outra mudança
E nele esta fiança
Que agora já desfazes
No risco de sonhar
A queda a se mostrar
Maior do que eu pensava,
As frágeis ondas mortas
Batendo em toscas portas
A imensa dura e brava.

79


Os olhos dizem pranto
E o canto não me agrada
A sorte desarmada
O amor dita o quebranto
O quanto não garanto
E perco cada estada
Marcando em desolada
A vida em duro canto,
Assisto ao descaminho
E sigo mais sozinho
Enquanto nada vejo,
E morto desde então
O rumo sigo em vão
Aquém do meu desejo.


80

O riso encantador
Exposto em belo rosto,
O mundo assim proposto
Nas ânsias de um amor
Reflete o redentor
Caminho sem imposto
E o tanto do desgosto
Atroz a decompor.
O marco mais sombrio
Já tanto vejo e esfrio
Com fúria em cada olhar,
Apascentando o medo
Ao tanto me concedo
Sem nada a procurar.

81


Eu sei quanto era bela
A dama do meu sonho,
Valete que proponho
Enquanto se revela
A vida não mais sela
O rumo onde componho
E logo em enfadonho
Desenho vejo a cela.
O risco de saber
Aonde o meu prazer
Agora já se esconde
Procuro e não alcanço
Sequer qualquer remanso
Pergunto e quem responde?


82


Azuis olhares; tinha
Quem tanto fora algoz
E quando ouvisse a voz
Julgando seres minha
A sorte mais daninha
O canto mais atroz
No sonho que é feroz
A morte se adivinha,
Eu sei e não me calo
Do quanto sou vassalo
E tento a liberdade
Enquanto assim me privo
Do amor ainda vivo
A dor que tanto brade.


83

Vestida em plena luz
A dança se perfila
Em ânsia mais tranquila
Enquanto me conduz
E nisto se reluz
A sorte que desfila
E nada mais destila
Senão quanto propus.
Resumo em verso e canto
O passo que adianto
Rumando para ti,
Mas quando me percebes
Vagando noutras sebes
Eu sei que te perdi.

84

As ondas quais arranjos
De deuses do passado,
Aonde este legado
Transcende aos próprios anjos
E sinto em descompasso
O risco de sonhar,
E tento outro lugar
E nada mais eu traço
Somente o velho esgoto
E nele já mergulho
Resulto em pedregulho
Um corpo semi-roto
E todo o meu futuro
Alheio é frio e duro.

85


Dormindo neste mar
Quem tanto quis sereia
E quando me incendeia
Nas fráguas do luar,
Pudesse acreditar
Na lua sempre cheia
E quando devaneia
Uma alma se tocar
Nos ermos do meu fado
O dia relegado
O tempo não condiz
Com tudo o que eu buscara
A noite não mais clara
E sei não sou feliz.


86

Profética ermida
Da qual não escapo
E quando em farrapo
Retratos da vida
A sorte puída
O olhar antes guapo
Agora este trapo
Procura guarida
Legado da dita
E nada acredita
Senão no seu fim,
O marco que trago
Da falta de afago
Do amor morto em mim.

87


Dilato as pupilas
Nas ânsias de amores
Que nunca em pudores
Diversos desfilas
E quando destilas
Venenos e flores
Ciganos pendores
Nos sonhos que grilas,
Herética luz
Em dores produz
Reflexo em retina
Que busca e não vendo
O olhar se perdendo
Aonde alucina.

88

Em marcha me pus
Na busca do fato
Aonde em retrato
Diverso reluz
Ao medo faz jus
Quem ata ou desato
Em tal desacato
O quadro, outra cruz,
Amanso o meu peito
E não mais me deito
Alfombras granito,
E quando te quero
O corte mais fero
Sonhar; necessito?

89


Carrego os pequenos
Anseios poéticos
E tento proféticos
Olhares venenos
E neles serenos
Aonde se herméticos
Talvez mais heréticos
Ou mesmo tão plenos.
Refaço o que outrora
Ainda se ancora
No peito em tal cã.
A vida em verdade
No quanto se brade
Perdida, foi vã.

90


Os ombros feridos,
O peso da vida
A sorte cumprida
Em ermos sentidos
Olhares sofridos
A lua perdida,
Sorte presumida
Em tempos puídos
Os olhos, o anseio
E quando rodeio
As sombras restantes
Além dos meus ledos
Caminhos, enredos
Talvez adiantes.

91



São feros desejos
Os medos que tenho
Do olhar mais ferrenho
Dos dias sobejos
Assim em lampejos
O nada contenho
E de onde provenho
Dispersos ensejos,
E sendo tal forma
A vida deforma
Sem norma ou paragem,
No fundo sou nada,
A voz disfarçada
Contendo em barragem.

92

Tesouros diversos
Em olhos sombrios
As curvas e os rios
Assim universos
E neles imersos
Os meus desvarios
Os corpos vazios
Vadios meus versos,
Versando ao que possa
Além desta troça
Comum a quem passa
E vendo este verme
Aquém, quase inerme
Somente carcaça.


93


Aos pés de quem pude
Singrar noutro sonho
O manto componho
Mato a juventude
E bebo o que ilude
Ou tanto bisonho
Redundo ou me ponho
No pasto transmude.
O vasto que tento
O olhar desatento
Não vê nem sinais,
Enquanto tivera
Aquém primavera
Cantos outonais.


94

As armas luzentes
Os dias são meus
E nele apogeus
Também já não sentes,
Os olhos, os dentes
Os medos e os breus,
Os passos no adeus
Em versos, repentes.
Reflito o que tento
No olhar desatento
Atrevo em canções
Diversas das quais
Pudesse em fatais
Sutis ilusões.


95


Ao largo em carroças
Diversas; o andejo
Procura este ensejo
Aonde tu possas
Vencer o que endossas
E nada revejo
Senão meu desejo
Imerso nas troças.
As cordas que afino
O medo de então
Sem diapasão
O velho menino
Agora em sobrados
Refaz seus legados.

96


Os pés seguem sujos
Das lamas que piso
A vida em aviso
Trazendo sabujos
Diversos em cujos
Caminhos eu biso
O erro e matizo
Vitais caramujos
Aonde me escondo
E tanto repondo
Espúrias vontades
E nelas perplexo
De ti um reflexo
Enquanto me enfades.

97


Jogado em currais
Diverso caminho
No fundo este espinho
Traduz os florais
E quando bem mais
Do quanto mesquinho
Seguindo eu me alinho
Em erros fatais,
Fadado ao final
E neste sinal
Apenas tropeço,
O quanto recebo
Em gozo ou placebo
No fim, eu mereço.

98


Passeio em teus céus
Vagando um cometa
Que tanto arremeta
Em vis fogaréus
Nos olhos meus véus
E neles prometa
O quanto em faceta
Diversa os incréus
Delírios de quem
Vivera e não tem
Sequer solução.
Açodo os frangalhos
E neles os talhos
Decerto virão.

99


Os olhos pesados
De quem horizontes
Buscara quais fontes
De antigos traçados,
E nestes traslados
Os erros que apontes
E quando despontes
Os dias malgrados.
Os cantos erráticos
Os tempos temáticos
Em termos vulgares
Olhar para trás
Por vezes me traz
O que mal notares.

100


Nostálgico passo
Num álgico rumo
E neste me esfumo
Ou nada refaço,
E quando me enlaço
No corte que assumo,
Apenas sou fumo
E sigo além, lasso,
Carcaça de um sonho
Aonde bisonho
Beijando o vazio,
Ao menos pudera
Conter qualquer era,
Num sazonal rio.



MARCOS LOURES FILHO
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
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