eu quero escrever um poema
que deforme a tua lua
e que tua alma seminua
desfaleça ao percebê-lo
eu quero escrever um poema
com restos do meu soluço
que meus olhos dissolutos
se entorpeçam de desejo
o desejo de desvê-lo
eu quero escrever um poema
que resvale na ironia
e revele em simetrias
o desuso da saudade
eu quero um poema torto
escrito em linhas retas
que despoemise o amor
que destrua a minha crença
e me faça desigual
eu quero escrever um poema
que desdiga o que foi dito
que desfaça o que se fez
que desnude o desgosto
desbotado em cada gesto
e ao desanoitecer da noite
na desordem indiscreta
do desbeijo dos teus beijos
se estabeleça em teu regaço
o reverso dos meus versos
e no desabraço dos teus braços
eu me sinta um despoeta.
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