Depois de alguma espera, chega-me às mãos Bolsa de Valores e Outros Poemas, de Domingos da Mota (Temas Originais, Coimbra, Portugal). Tanto tempo, Deus!, eu já o julgava perdido no Correio ou devolvido ao seu autor, uma vez que por distração esqueci de colocar os três zeros do código de endereçamento postal.
Pois é, todas as manhãs, eu chegava à portaria do prédio e indagava ao porteiro. Nada do livro. Uma certeza eu tinha: não fora roubado. E explico: aqui no Brasil não há o hábito de roubar livros, principalmente de poemas. Não, não é excesso de honestidade. Nada disso. É que o brasileiro não tem o hábito da leitura. E quando lê, escolhe as piores coisas que o mercado editorial daqui e de fora oferece. Daqui os lixos são muitos, a começar pelo mundialmente conhecido Paulo Coelho. Encontrei uma obra dele, no aeroporto, traduzida para o alfabeto cirílico. Mas quem disse que vender significa qualidade?! Coca-Cola vende mais do que champanhe francês. Zibia Gasparetto, que diz escrever por intermédio de espíritos, também está milionária, graças à farsa.
Bem, mas estas linhas são para falar do meu amigo, o poeta Domingos da Mota. Muitos dos poemas que integram o livro eu já conhecia, de sítios e blogues. Alguns, creio, foram reescritos. Digo isso porque sei do cuidado que o poeta tem com o que oferece aos leitores.
Da Mota, como o chamo, é um perfeccionista. No que está certo. Poesia é uma arte ingrata: não existe poema mais ou menos; ou é bom ou é ruim.
O universo poético de Domingos é vasto. Transita pelo humor, pela ironia e pelo lirismo com a mesma mestria e intimidade de quem trata o verso com carinho. Claro que do conjunto de poemas de Bolsa de Valores, tenho os meus prediletos. Prediletos, que eu digo, são aqueles com os quais a gente se identifica mais. Dois em especial me fascinam: Tripalium e Elegia para um lugar vazio - este em especial me diz muito, porque lembro-me bem como e por que foi escrito. Partiu de um deslize praticado por um péssimo poeta que aqui escreve e que plagiou descaradamente Vinícius de Moraes. A antiga administração veio em defesa do ladrão de versos com argumentos cretinos. Da Mota e eu nos afastamos daqui por um tempo. Antes, o poeta escreveu Elegia para um lugar vazio.
Encheria páginas falando deste grande poeta e grande caráter que se chama Domingos Machado da Mota e aqui no Luso atende também por fogomaduro. Mas é melhor que os leitores o descubram. E bebam da sua poesia. Coisa boa não dá ressaca. Num sítio ou num blogue é uma coisa, em papel impresso outra. A gente pode sentir, pegar e conversar com os poemas. Um brinde ao poeta Domingos da Mota.
_____________________
júlio
Júlio Saraiva