Quis iludir-me de que existiria sempre algo que ao cruzar o meu caminho me protegesse cegamente de todo o medo e dor.. mas no fundo o medo não se extingue por si só, não se vê obrigado a deixar-me só porque tenho medo dele.
Prometo-me sempre conformar-me com o que tenho ao mesmo tempo que temo de mansinho perder o poder sobre o medo de perder.
Tenho listas infindáveis de medos que jamais hei-de superar, mas obrigo-me a sorrir para todas elas porque não quero acabar desfeita com medo de chorar.. Não sei o que existe para além daquilo que vejo e que sinto. Vivo de palavras, hei-de morrer com elas, e mesmo assim ainda as temo. As palavras fazem doer, chorar.. as palavras julgam, pesam, condenam. E eu ainda não aprendi a viver.
*Tenho medo de cair no óbvio, de me habituar ao habitual, de 'rotinar' uma rotina, de normalizar o que é normal.. Tenho medo de perder a anormalidade.
..Mas também tenho medo de cair no ridículo, na ignorância e demência.
*Tenho medo de me acobardar, de me sujeitar àquilo que os outros querem para mim, tenho medo de deixar sonhos, desejos e anseios de parte. Tenho medo de ser pequenina em toda a minha miudeza. Tenho medo de perder a força de remar contra a maré.
*Tenho medo da morte, mas também tenho medo de viver.. Tenho medo de não poder acordar amanhã para desfazer tudo aquilo que disse hoje. Tenho medo de viver rápido demais e não conseguir sentir nada durante esse tempo.
*Tenho medo de perder o sentido.. tenho medo de perder o meu dom. Tenho medo de perder a sensibilidade, a coragem e o bom senso.
Tenho medo de me perder em palavras que talvez já foram ditas e certamente já foram pensadas. Tenho medo do medo..