Quero encontrar meu bem querer,
De quem me distanciei no caminho,
Se retroceder o tempo é improvável,
Provavelmente o tempo me alcance,
E a traga em sua bagagem.
E sempre que o vento sobra forte,
Vindo do lado de lá do mundo,
Espreito disfarçadamente às nuvens,
Até a vejo descer numa delas,
Só para me acolher em seu colo
Quando chega a noite mansa e sorrateira,
Lá se vão minhas lembranças tão vivas,
Resta só a saudade que embala a madrugada,
Até que o sol se faça e reaviva o tempo,
E me encaminhe para correr ao seu redor.
Tomo a rua, no cotidiano da vida,
E vou costurando saudade e sonho,
Formando panos de linho em retalhos,
Juntados dos pedaços do que vivemos,
E dos delírios febris da noite passada.
Em cada esquina solavancos e sobressaltos,
Sinto seu cheiro em cada pedaço de calçada,
Confundo o tempo e a vejo em cada rosto,
Emoldurado daqueles cabelos tão negros,
Caídos sobre os ombros, espalhados pelo vento.
Quero encontrar meu bem querer,
Quiçá ela estiver na esquina seguinte,
Vou apagar os dias passados sem ela,
Para começar tudo de novo, nova vida,
Sem descaminhos nem distâncias,
Só quietude, afago e bem querer.