Acendo um cigarro
A manhã é uma questão de tempo
O corujão já está acabando
Acendo outro cigarro
Na janela uma lua embaçada por finas nuvens
Ou serão meus olhos?
Eles já não conseguem enxergar de forma correta
Não tenho sono
Não tenho fome
Não tenho nada
O dourado deflora a noite
Passam miseráveis esmolando o que sobrou da noite
Passam velhos aposentados voltando da batalha
Passam crianças exploradas pela noite estúpida
Passa o gordo barbudo com sua marmita azeda
O sol já arde meus olhos
Os miseráveis estão dormindo
Outros velhos, estão jogando cartas
Crianças voltam da escola sem aulas
O cigarro acabou
Só você não passa com seu mistério
Mistério que traz nas palavras
Nos seus pensamentos cobertos por coroa leonina
Nas suas mãos com o toque certo
No seu peito que me conforta
Tudo é mistério e tristeza
E tudo acabou como começou