Vai - à noite -, escura!
E lá distante... Na imensidão do mar!
Um barquinho... Na amargura!
Vai tristonho, a deslizar...
Na praia, a vista turva...
À solidão afeita se compraz...
E avança - sobre mim -, à fina chuva!
Que a lembrança dela me traz...
O barquinho que ela se fez,
Pelas ondas do mar, foi engolido!
Foi engolido pela tempestade, talvez!
Pelo meu coração dolorido...
A areia é só frialdade...
E tão fria, escorre pelas minhas mãos!
E escorre solta, na saudade!
Que tanto me transpassa o coração...
E o barquinho prossegue...
E segue ela, na noite negra, brumosa!
E segue tudo o que persegue!
No cimo dessas ondas tenebrosas...
Em brunas cores, cheia...
De Van Gogh, à vista dela se afigura!
E afigurada, à fina areia!
Tanto - em mim -, se transfigura...
Na tela, final pintura...
Fulgem-me na idéia, lembranças dela!
Fulgem no meio da amargura!
Em que o meu coração se esfacela...
Na parede, o quadro sozinho...
E demudado o mar, tamanha lassidão!
E ela... Feita um barquinho!
Desliza tão triste, na minha solidão...
(® tanatus - 07/07/2010)