Sonetos : 

MOTO CONTÍNUO

 
1

Aprendo a cada dia
Buscando meus atalhos
Coração em frangalhos
Divina poesia
Espero a fantasia
Fadado aos tantos falhos
Gritares dos retalhos
Houvesse o que eu queria
Iludo-me deveras
Jogado nalgum canto
Lutando eu me garanto
Mergulho entre estas feras
No fim nada me resta
Ocaso, em fim de festa.

2

Bebesse alguma luz
Cerzida com carinho
Depois de qualquer ninho
Expresso o que conduz
Fadando à mesma cruz
Gestando o amargo vinho
Hedônico; adivinho
Idólatra eu me pus
Jogado nalgum sonho
Levado pela ausência
Marcada impertinência
Negando o que componho
Ouvindo a voz do nada
Perdido em leda estrada.

3


Crivando a fantasia
Destinos tão diversos
Encontro nos meus versos
Fé dita em poesia
Gerânios; poderia
Hortências onde imersos
Incursos universos
Jamais em noite fria,
Lavrando com cuidado
Mereço algum legado
Não mesmo o que me deste
Ouvindo o vento além
Percalços; já contêm
Querência mais agreste.


4


Domínio da expressão
Esgota por si quando
Fagulhas me tocando
Gerando uma explosão
Horrível solução
Incômodo reinando
Jazigo se tornando
Legado em salvação.
Mesquinhos dias trago
Navego em falso afago
Oscilo entre o não ser
Presumo um ermo apenas
Querendo; me serenas
Renegas: faz morrer.

5


Esbarro nos meus erros
Fragilizada vida
Gritando a cada ermida
Heréticos desterros,
Inepto sonhador
Justiça seja feita
Levando ao que se deita
Marcado espinho e dor,
No quanto quis e pude
Ouvir a voz do vento
Perdido em vão fomento
Quotas de sonho rude
Restando no momento
Sombras da juventude.



6



Frenético lutar
Gritando dentro da alma
Havendo o que me acalma
Invento algum lugar
Jorrado em mim luar
Levado palma a palma
Mereço além do trauma
Num duro navegar
O quanto quis e nada
Pudesse ser assim
Quebrando o que sem fim,
Resumo em vã lufada
Somando o que não tenho,
Tomando este ar ferrenho.

7

Guardadas proporções
Helênica batalha
Infausto que se espalha
Já nada recompões
Livrando as direções
Macabro tom se atalha
No quanto digo em falha
Ourives de ilusões
Presumo onde não há
Querendo aqui ou lá
Restar em paz, enquanto
Senzalas abandono
Tranqüilo, tento o sono,
Urdido em desencanto.

8

Hoje ao me perceber
Incorporando o sonho
Jamais além proponho
Levado ao desprazer,
Mas quando a mais sofrer
Num ar turvo e medonho
Ouvindo o mar me ponho
Perdido e sem saber
Quanto me restaria
Resumo em novo dia
Somando ao que se fora
Tentando uma canção
Uníssona expressão
Venal e sonhadora.

9

Inapelavelmente
Jazendo em algum canto
Levado ao desencanto
Marcado friamente
No todo em que se mente
O pouco que garanto
Presumo a dor e o pranto
Queimando plenamente.
Restauro uma esperança
Seleta enquanto avança
Tentacular a dor,
Um sol já tão distante
Vestindo num instante
Xales em turva cor.

10

Jograis que a vida trama
Logrando esta esperança
Medonho mar avança
Negando o sonho e a chama
Ocasionando o drama
Pressinto a fúria e a lança
Querendo uma mudança
Resvalo no que clama
Servil, meu coração
Terrível ilusão
Um carma em voz dorida,
Vacância presumida
Xerez que me inebria
Zarpando em noite fria.


11


Zéfiros tão diversos
Xavante porfiando
Velórios, ar infando
Unindo velhos versos,
Tremulo entre universos
Se às vezes entranhando
Revejo o quanto e quando
Quedasse em tais perversos
Partícipe do sonho,
Ouvindo o mar medonho
Negando qualquer messe,
Manada em explosão
Levada ao rumo vão
Jamais algo obedece...


12

Aonde quis a paz
E nada mais pudera
Senão mesma pantera
Temível ar audaz,
E neste vão tenaz
Já pouco inda se espera
Do quanto destempera
E vida enquanto traz
No olhar mais dolorido
A falta de sentido,
O manto onde se cobre
Vestindo hipocrisia
O mundo não teria
Um ar galante e nobre.


13

Um ar galante e nobre
É tudo o que talvez
Pudesse a cada vez
Aonde o não descobre
Além do que o recobre
E enfim tu já não vês
Total insensatez
Decerto enfim nos sobre.
Levado pelo sonho
Ouvindo a voz do vento
Imenso sentimento
Agora mais bisonho,
No preço que se paga
A sorte molda a adaga.

14


A sorte molda a adaga
E traz em traição
O mesmo salto em vão
E nisto aumenta a chaga,
O risco nos alaga
E nega a direção
Meu passo desde então
A vida não mais traga
Arisco sonhador
Imerso em farta cor,
No fundo sem o brilho
Do quanto quis estrela,
Porém como contê-la?
Dos versos, andarilho.

15


Dos versos, andarilho
Sem ter sequer descanso
O quanto ainda avanço
No fundo, nada trilho
Somente assim polvilho
A sorte em velho ranço
E quando além me lanço,
Apenas empecilho.
Restando do que tanto
Desejo e já garanto
Não mais posso sentir
O corte em tom profano
E quanto mais me dano,
Menor; vejo o porvir.


16


Menor; vejo o porvir.
Após a queda quando
O mundo desabando
E nele presumir
O quanto do existir
Aos poucos se negando,
O corpo vai pesando,
A morte é o que há por vir.
No quanto em vão disfarce
A vida já me esgarce
E negue uma clemência,
Do todo que pensara
Ausência na seara
A vida em vã demência.

17

A vida em vã demência.
O olhar procura alguém
E nada nunca vem
Somente a impertinência
Da sorte esta ingerência
Deveras traça aquém
Moldando no desdém
O quanto quis querência.
O prazo se findando
O tempo mais infando
O caos matando o cais.
E tanto quis apenas
As sortes mais amenas,
Ao longe; nunca mais.

18


Ao longe; nunca mais
Nem mesmo um passo em paz,
Do quanto fui capaz
E agora em vendavais
A vida em desiguais
Caminhos, mas tenaz
Procura o que se traz
Além destes punhais.
Resumos de outros tantos
E sei dos desencantos
Porquanto imaginara
A lua em resplendor
Amor um desertor
Ausente em tal seara.

19


Ausente em tal seara
O canto mais tranqüilo
E quando em vão destilo
A sorte não prepara
Senão fortuna amara
E nela já desfilo,
Vazio; eu vejo o silo
E nada se estocara,
O estio dentro em mim,
Decerto não tem fim,
Também sem solução
Meu canto se esvaíra
Nos ermos da mentira,
Antros da traição.


20

Antros da traição
Olhares noite afora,
E a morte desancora
E trama esta estação,
Os dias não virão
Tampouco qualquer hora
E sei que sem demora,
Apenas perdição.
Escusas; já te peço,
E quando além tropeço
Meu rumo se destroça,
Quem dera se esta lua,
Gigante rara e nua
Pudesse inda ser nossa.


21


Pudesse inda ser nossa
A noite que jamais
Trouxesse em desiguais
Desenhos onde apossa
Do canto e gera a fossa
Imersa em vendavais
Ausentando do cais
O quanto o sonho endossa.
Não tive e nem teria
Sequer a fantasia
Que tanto alimentara,
Vagando sem destino
No quanto me alucino,
A sorte; eu sei que é rara.


22

A sorte; eu sei que é rara
E quando se encontrar
Pudesse este lugar
Aonde se ancorara
A lua em noite clara
Por onde imaginar
E tendo este vagar
A vida se escancara;
O corte em cicatriz
Além do que mais quis
E tento outro caminho
Por onde a vida trace
A mais que o velho impasse
No sonho onde me aninho.


23


No sonho onde me aninho
A vida não pudera
Cerzir além da espera
O campo mais daninho,
Restando tão sozinho
Arcando com a fera
No pranto a dor à vera
O parto em medo e espinho.
Aprendo com enganos
E sei puídos panos
À sombra do que tenho,
E neste vão remendo
O pouco quando entendo
Gerando um torpe empenho.

24


Gerando um torpe empenho
Meu mundo não pudesse
Traçar como benesse
O quanto ainda tenho
Do olhar se nele eu venho
Vencer a dor e tece
Somente a vã quermesse
Em ar turvo e ferrenho.
No prazo que me deste
O sonho mais agreste
O risco além do tudo,
O manto na verdade
O tempo já degrade,
Porém não mais me iludo.


25


Porém não mais me iludo
Com falsas sintonias
E sei quanto querias
No canto quase mudo
Vestir a paz, contudo
São tais hipocrisias
Nos medos, noutros dias
À queda não acudo.
Esqueço dos meus falhos
Delírios em atalhos
Nos quais pudesse ter
A messe iridescente
Diversa da que sente
Quem tenta algum prazer.

26

Quem tenta algum prazer
E nada mais consigo
Senão tal desabrigo
E nele posso ver
Resumos de um querer
Demais arcaico e antigo,
Revelo o que não digo
E tento me esquecer.
Tecesse além da queda
A vida não mais seda
Quem sabe do final,
E o beijo traiçoeiro
Retrata o jardineiro
Marcando o meu quintal.


27

Marcando o meu quintal
Com tais daninhas ervas
E quando além conservas
Os dias, ritual
No peso sempre igual,
Sem esperanças servas
No quanto não reservas
O mundo é tão venal.
Assumo engodos quando
Percebo desabando
O todo atrás de mim,
Não pude nem sonhar,
Quem dera cultivar
Em paz o meu jardim.


28


Em paz o meu jardim
Deixando para trás
O quanto fora audaz
E agora vejo assim
Distando do que vim
E nada mais me traz
Somente o mais fugaz
Delírio em beijo e gim.
O amor não mais pudera
Cerzir além da espera
E o canto não condiz
Com quem sonhara além
E o canto não contém
De dores, cicatriz.

29

De dores, cicatriz
Apenas não carrego
O mundo segue cego
E nele por um triz
Divido o que não quis,
E quando além me entrego
O pouco onde navego
Não quero ou peço bis.
O verso imerso em sonho
E quando mais proponho
Viola não se cansa,
O rude desenhar
Da noite sem luar
Revive esta lembrança.

30


Revive esta lembrança
Do dia em que a morena
Ao longe ainda acena
Prometo uma mudança,
Porém o sonho alcança
E tudo se envenena
Aonde quis serena
A vida nunca é mansa.
Acordes dissonantes
E neles me adiantes
O fim desta canção
O barco adentra o mar
Cansado de tentar
Alguma atracação.

31

Alguma atracação
Pudesse nesta vida
Quem busca uma saída
E escuta sempre o não
O tempo agora em vão
A sorte em dor urdida
Estrada tão comprida
Cumprida em solidão.
Chegando nalgum cais
Quem sabe os temporais
Ausentes deste olhar
Cansado de batalhas
Aonde a paz espalhas
Talvez possa ancorar.

32


Talvez possa ancorar
No porto da saudade
Aonde a vida agrade
E eu possa mergulhar
Sabendo do luar
E nele esta verdade
Viver felicidade
E tanto me entregar
Sem medo e sem estio
Meu canto um desafio
Nos fios da viola
O amor se traduzindo
Num dia claro e lindo
Minha alma além decola.


33

Minha alma além decola
E sabe muito bem
O amor quando ele vem
Deveras nos assola,
A sorte não imola
O coração também
Vivendo sem desdém
O sonho entra de sola,
E o riso se aproxima
Mudando todo o clima
Gerando a primavera,
Depois do quanto pude
Viver em tempo rude,
Fortuna é o que se espera.

34


Fortuna é o que se espera
Cansado de sofrer
Ausência de querer
A vida sempre fera,
O corte destempera
O mundo passo a ver
Nas ânsias do viver
O todo degenera.
Meu canto mais suave
A vida não agrave
E deixe que sorria
Vencer a tempestade
E ter o quanto agrade
Vivendo dia a dia.

35

Vivendo dia a dia
Depois de tanta luta
A vida sem permuta
O sonho se recria
E bebo esta alegria
Na sorte mais astuta
E quando não reluta
Transcorre em harmonia.
O canto sem fastio,
O amor que desafio
Afãs diversos têm,
Mas quando solitário
O passo é temerário
Buscando um novo alguém.

36

Buscando um novo alguém
Depois que tu partiste
A vida aqui tão triste
Somente o medo contém
O passo e nele tem
Ausência e se consiste
No pouco que resiste
Da vida em tal desdém,
Açoda-me saudade
E tudo se degrade
No fato dolorido
Do tempo mais cruel
O tempo rompe o véu
E nega algum sentido.


37

E nega algum sentido
Quem tenta desvendar
As ânsias de um amar
No nada presumido
O corte dolorido
A faca a se afiar
O gozo a destroçar
O sonho mal erguido
Nos transes e promessas
Por onde tu tropeças
E nada mais se vendo,
Do canto sem respaldo,
A vida que desfraldo
Não passa de um remendo.


38

Não passa de um remendo
O mundo aonde outrora
A sorte que se ancora
Já não consigo, vendo
E o pouco que desvendo
Decerto me devora
E o tempo sem ter hora
Aos poucos vai morrendo.
Arguto caminhante
Sabendo a cada instante
Do nada que inda resta,
A morte após a queda
Caminho ora se veda
Sem ter sequer a fresta.


39


Sem ter sequer a fresta
Por onde poderia
Haver a fantasia
E nada mais se atesta
O mundo me detesta
E gera esta agonia
Pura melancolia
Aonde quis a festa,
Restando dentro em mim
O manto desbotado
O tempo desolado
A dor que não tem fim,
Promessas de um futuro?
Mas, nada eu asseguro.

40


Mas, nada eu asseguro.
E tento acreditar
No quanto pude amar
Em tempo amargo e duro,
O quanto em vão procuro
Cansado de lutar
Tentando desvendar
Além do vago e escuro
Noctívago sonhara
Com nova bela e rara
Manhã em pleno sol,
Mas quando mal notara
A vida semeara
Terrores no arrebol.

41

Terrores no arrebol
Depois de tanto crer
Num claro amanhecer
E ser o girassol,
Ao menos o farol
Pudesse conhecer
E nele o bom prazer
Amor agora em prol,
Mas nada disto veio,
Apenas o receio
E nele me traduzo,
O passo sigo aquém
Do quanto ainda vem,
Porém vago confuso.


42


Porém vago confuso
Em noite interminável
O solo desejável
Agora já nem uso,
A vida dita abuso
E o sonho não potável,
O corpo que incansável
Entrega-se ao desuso,
E quando quis sorriso
Apenas impreciso
Esgar de quem não ama,
O manto desvendando,
O risco alimentado
O sonho é mera chama.


43


O sonho é mera chama
E nada satisfaz
Somente mais mordaz
O tempo mata a trama
O quanto em vão reclama
E deixa para trás
Realidade e faz
Do encanto um mero drama,
Vestindo esta promessa
O nada recomeça
E dita a realidade,
Sonhar e ter apenas
As horas tão pequenas,
A dor já nos degrade.

44


A dor já nos degrade
E mate o que pudesse
Ainda em farsa e prece
Cevando tal saudade
E nela a realidade
Deveras já tropece
E o quanto se obedece
No fundo gera a grade
O marco mais atroz
E nele somos nós
Somente e nada mais,
Do medo de seguir
A fúria sem porvir
Momentos ancestrais.

45


Momentos ancestrais
Traçando o quanto eu quis
E sei ser infeliz
Ausentes os cristais
Resumo em vendavais
O mundo, este aprendiz
E nego o quanto eu fiz,
Pudesse muito mais.
O carma que carrego
O passo em rumo cego
O vandalismo e a dor,
O canto em desvario
O medo ora desfio,
Teimando em dissabor.

46


Teimando em dissabor
Não pude mais sentir
Sequer o que há de vir
Em farto desamor,
Restando além da dor
O canto a presumir
A morte e nela ouvir
O mesmo e vão rancor.
Pudera apascentar
E mesmo desenhar
Um novo amanhecer,
Mas quando em discordância
A vida em discrepância
Só dita o desprazer.


47

Só dita o desprazer
Quem tenta acreditar
Nos ermos do luar
E nada pode ver,
Senão tanto querer
Distando a divagar,
Morrendo sem lugar
Onde pudesse crer.
Cerzindo este vazio
E nele o ledo rio
Ausente desta foz,
O canto sem promessa
A vida já tropeça
No sonho, duro algoz.

48


No sonho, duro algoz,
Disperso caminheiro
E sei deste espinheiro
Reavivado em nós,
O manto mais atroz
O canto em corriqueiro
Delírio é mensageiro
Da fonte e marca a foz
Em poluídas águas
Assim além deságuas
Os medos que alimentas,
Os tantos dissabores
E neles perdes cores,
Aumentas as tormentas.

49

Aumentas as tormentas
Enquanto dizes não
Ao quanto o coração
Em correção sangrentas
E tanto dessedentas
Vontades de emoção
E nesta noite vão
Paixões mais virulentas
Resumos de outras tantas
E nelas tu garantas
Apenas os vazios
Resumos de outros dias
Por onde poderias
Singrar meus velhos rios.


50


Singrar meus velhos rios
E crer no quanto pude
Embora mesmo rude
Em ares tão sombrios
Olhando os desafios
O passo não se ilude
E quando em atitude
Ocasos entre os fios
Alheio ao que inda possa
Ou mesmo sendo a fossa
Meu ermo mais constante,
No todo que pudera
Sentir a dura fera
Por onde se agigante.

51


Por onde se agigante
Meu ermo costumeiro
E quando além esgueiro
E tento radiante
Caminho a cada instante
Sabendo o derradeiro
E nele garimpeiro
Não vendo o diamante
Cerzido e lapidado
Nos ermos do passado
Porquanto fora assim
A vida sem tropeço
Aonde me endereço
E volto ao mesmo fim.

52


E volto ao mesmo fim
Deveras onde outrora
A sede desancora
E trama outro carmim,
No vândalo que há em mim,
O manto desarvora
E beijo sem ter hora
O corte e tento assim
Sagrar cada palavra
Na qual a vida lavra
E trama transparência
A larva que tentara
Crisálida seara
Morrendo em penitência.

53

Morrendo em penitência
Depois de presumir
A vida no elixir
E mera coincidência
O ranço a imprevidência
O tanto que ao sentir
Não pude prevenir
Na queda em eloqüência,
Assim cada momento
Trazendo o que alimento
Na paz mais dolorida,
Assumo cada engano
E aos poucos eu me dano
Perdendo a minha vida.


54

Perdendo a minha vida
No quanto imaginava
A sorte menos brava
A vida em despedida,
A sorte sendo urdida
E nela se espelhava
A morte onde se lava
E cura esta ferida
Há tanto em tal cansaço
Porquanto ainda traço
Meu verso impunemente
O marco destruído
No canto em que envolvido
O encanto se desmente.

55

O encanto se desmente
Na paz que não redime
E sei do mais sublime
Delírio onde um demente
Pudesse mais freqüente
Sentir este ar que estime
E nunca mais se prime
A voz incontinente.
Ourives do sombrio
Nefasto desafio
Por onde tento além
Do nada que recebo
O amor mero placebo
Nas ânsias do desdém.

56

Nas ânsias do desdém
Os erros corriqueiros
E além dos espinheiros
A vida me provém
Do medo e quando vem
Meus olhos derradeiros
Vivendo em vãos ligeiros
Nas tramas do que tem
O canto mais agudo
E sei quanto me iludo,
Mas não me canso e tento
Vencer embora saiba
Do quanto não mais caiba
Senão meu sofrimento.


57


Senão meu sofrimento
O quanto poderia
Se nada em alegria
Ainda diz provento
No vago me alimento
E sei da noite fria
E nela se ergueria
Este atroz monumento
Expresso em verso e medo
Enquanto em vão procedo
Vestindo esta quimera,
Que tanto quis e nada
Somente a sonegada
E morta primavera.

58

E morta primavera
Já não resumo em sonho
O quanto me componho
Aquém do que me espera,
A morte degenera
O passo em tom medonho
E o risco onde eu proponho
Meu rumo destempera,
A sórdida presença
De quem não me convença
E traz além do mar
Apenas o vazio
E neste desafio
Quem dera enfim amar.


59


Quem dera enfim amar
Depois de tantos ledos
Caminhos em segredos
No canto a desenhar
A sorte a divagar
Desvenda em vãos enredos
Os dias e os degredos
Cansado de lutar,
Luar distante e agora
O manto não decora
A pele tatuada
No medo e deste nada
O risco mais audaz,
Já nada enfim apraz.



60

Já nada enfim apraz
Quem tanto quis um dia
Viver em alegria
E a vida mata a paz
Deixando para trás
O quanto quis e urgia,
Porém melancolia
É tudo o quanto traz
A marca da ilusão
E nela se verão
Somente os dias vagos,
Resvalo no meu passo
Tropeço quando o traço
Secando rios, lagos.


61


Secando rios, lagos,
Nascentes dolorosas
E sem saber das rosas
Os mortos sonhos, bagos,
Os olhos sem afagos
As sortes desejosas
Em noites olorosas
Apenas sonhos magos.
Acasos entre os ermos,
Os dias ditam termos
E matam esperança.
O manto já puído,
O canto destruído
A vida não alcança.

62


A vida não alcança
Senão o que vê nisto
E quando já desisto
Apenas sinto a lança
E nela a dor avança
Matando o quanto insisto
E sinto e até resisto
Tentando e não descansa,
A sorte se traduz
Na falta desta luz
Que possa me guiar,
Fazendo do meu verso
Um canto e se disperso
Jamais posso luar.

63


Jamais posso luar
E sei do reticente
Caminho que apresente
As tramas de um lutar
Deveras caminhar
E nisto a dor se sente
No corte impertinente
Cansado de sonhar,
Já não consigo o cais
E sei que nunca mais
Eu posso ter a paz
Que tanto desejei
E morta a sorte e a grei,
O dia não se faz.


64

O dia não se faz
Depois da madrugada
Deveras tão nublada
Em tempo mais mordaz,
Crepuscular e audaz
O passo rumo ao nada
Alçando outra calçada
Descalça a mera paz,
E risco desta agenda
O nome que se entenda
Marcando em tez sombria.
O vândalo destroça
O quanto fora nossa
A vida e não seria.

65

A vida e não seria
Somente assim em nós
O canto perde a voz
Atroz desarmonia,
O peso onde pendia
O corte mais atroz,
O risco rompe os nós
E nada mais se via
Senão este medonho
Delírio onde proponho
Apenas outro passo,
Depois de tanto tempo,
Imerso em contratempo
O meu olhar; desfaço.


66


O meu olhar; desfaço
Em meio à treva imensa
E quando não compensa
Sequer o mero espaço
O dia noutro traço
Tentando o que se pensa
E gera a dor intensa
No quanto me embaraço,
Restando quase nada
Da sorte desenhada
Nas tramas de um vazio,
O manto lacerado
O olhar já desolado
Canteiro em pleno estio.


67


Canteiro em pleno estio
Escusa ceva dita
A sorte necessita
De um tempo menos frio,
Mas quando desafio
E sinto esta infinita
Vontade que inda grita
E mata fio a fio,
O riso de ironia,
A paz já não teria
Sequer outro caminho,
Vagando sem descanso,
A morte quando alcanço
Um sonho mais mesquinho.



68


Um sonho mais mesquinho
Resume a minha vida,
E nesta sem saída,
Espero um novo ninho.
Mas sei que tão sozinho,
À parte, desvalida
A sorte merecida
Esbarra em cada espinho,
Das urzes costumeiras
Palavras onde inteiras
Delírios mais audazes,
No fundo nada tenho,
Apenas o desenho
Atroz que tu me trazes.


69

Atroz que tu me trazes
Caminho rumo ao farto,
E nada mais descarto
Sequer as várias fases
Em dias mais tenazes,
A lua nega o quarto
Aborta em mim o parto
E sei dos mais audazes
Delírios de um poeta
Aonde se repleta
A sorte em tom mais gris,
Vagando pela ausência
Sem ter qualquer clemência
Alheio ao que mais quis.


70


Alheio ao que mais quis
Durante a vida, agora
O todo desarvora
E gera este infeliz
Desenho em tosco giz
E quando me devora
A sorte não ancora
E deixa por um triz
O cais ausente quando
O dia transbordando
Em dor e solidão,
Alçando o duro inverno,
Aquém do quando interno
Em mim qualquer verão.


71

Em mim qualquer verão
Já não me bastaria
A noite sendo fria
Caminhos não virão
E sei que desde então
A sorte em heresia
Tampouco poderia
Saber desta lição
O mundo não se faz
Nos ermos desta paz
Nem mesmo traça um rumo
Diverso norte tem
Quem gosta de outro alguém
Ao fim já não me aprumo.


72


Ao fim já não me aprumo
E mesmo que tentasse
Moldar em nova face
O quanto tento o sumo
Do amor onde consumo
O passo a cada impasse
E nada além se grasse
Do todo onde me esfumo,
Sedento caminhante
Que sabe doravante
O peso da existência,
Não quero penitência
Nem mesmo falsa luz
À qual tanto me opus.

73

À qual tanto me opus
Gerando esta mentira
Que quando me retira
Do foco feito em cruz,
Gestara e contrapus
O todo onde retira
O gosto perde a mira
E o fato não seduz,
Restando muito aquém
Do amor quando convém
E gera outro caminho,
Quem fora mais audaz,
Agora já não traz
Senão sonho mesquinho.


74

Senão sonho mesquinho
Do pouco que me deste,
O tempo o medo e a peste,
A pedra, a dor e o espinho,
No quando me avizinho
Do tanto e se vieste
No nada se reveste
Ausência de carinho.
Pecado é não amar
E ter noutro luar
A redenção do sonho,
Meu verso te procura
Em noite mesmo escura,
Mas nada além componho.


75


Mas nada além componho
Senão esta mesmice
Aonde contradisse
O passo mais bisonho,
E quando além me enfronho
Percebo esta tolice
No amor que não pedisse
Senão risco medonho,
Acordo e quando vejo
Aquém do meu desejo
O manto já puído,
A noite em desatino,
Apenas determino,
Em mim torpe ruído.


76

Em mim torpe ruído
Invés da sinfonia
Aonde mais queria
O passo já perdido,
O rumo distraído
Nos ermos de outro dia
Total melancolia
O corte dolorido,
Meu canto em precipício
A vida desde o início
Já fora desta forma,
O risco de sonhar,
O canto sem lugar
A vida nos deforma.


77


A vida nos deforma
E traz sem rumo ou nexo
O olhar onde complexo
O mundo dita a norma
E quando já se informa
Do corpo sem reflexo
Do sonho, mero anexo
Do medo que transforma,
A noite já se entorna
E sinto quanto é morna
A face mais sutil
Do amor que eu tanto quis
E agora por um triz
Jamais alguém reviu.


78


Jamais alguém reviu
Tratados convergentes
E neles tu te ausentes
Do quanto mais é vil,
O passo se sentiu
Por tempos penitentes
E quando em inclementes
Delírios nada viu,
Marcando com cinzéis
Os dias mais cruéis
Alabastrino sonho,
O riso após a queda
A sorte se envereda
Em rumo mais medonho.

79


Em rumo mais medonho
Moto continuado
Depois do meu passado
O nada recomponho,
Galgando este bisonho
Caminho desolado
Deixando por legado
O fardo que proponho,
Cerzindo do vazio
Apenas este estio
Ausência de colheita,
O amor não mais seria
Sequer a fantasia
Aonde em vão se deita.


80

Aonde em vão se deita
O riso o medo e a prece
O nada mais se esquece
Além do quanto aceita
Uma alma insatisfeita
Não tendo este benesse
Somente estabelece
Enquanto se deleita,
Depois já tão cansada
Buscando noutra alçada
A paz que me redime,
O amor não pode ser
Nem mesmo merecer
A solidão; vão crime.


81


A solidão; vão crime
Desnuda a realidade
Aonde já degrade
O quanto mais estime,
O mundo onde sublime
Queria a liberdade
E o sonho em claridade,
Deveras já substime
O passo mais atroz
E sei do quanto em nós
Pudesse ser assim,
Mas quando tu te vais
E nada dita o cais,
Apenas vejo o fim.


82

Apenas vejo o fim
Aonde quis começo
A vida tem seu preço
E nela dita assim
Porquanto ao nada vim
E tanto até me esqueço
Do amor qual adereço
Dos medos, o estopim.
Galgar felicidade
E ter a liberdade
De crer em novo dia,
O manto se destroça
Gerando o medo e a fossa
Aonde o sonho havia.


83

Aonde o sonho havia
Somente existe o nada,
A sorte desejada
Agora é mais sombria,
O corte não veria
Sequer esta florada,
Porém quando podada
A vida renascia
E vendo noutro rumo
O passo aonde esfumo
E tento acreditar
Semente em duro solo,
Deveras se me assolo
Encontro este luar.

84

Encontro este luar
Nas fráguas que poéticas
E mesmo sendo heréticas
As posso caminhar
Desejo desvendar
Além das mais ecléticas
Vontades quase herméticas
Traçando um novo mar,
Perpetuando o sonho
Que agora te proponho
E sei quando tu queres,
Os dias mais felizes,
E neles não desdizes,
A mais do que inda esperes.

85


A mais do que inda esperes
Talvez ainda tenhas,
Se sabes logo as senhas
E nelas destemperes
Tu és entre as mulheres
A que sempre desdenhas
As messes negas lenhas
Enquanto fráguas queres,
Não pude e nem queria
Saber da fantasia
Porquanto sou assim,
Apenas sonhador
E canto o novo amor
Enquanto não tem fim...


86

Enquanto não tem fim
O amor que tanto quis
Dos sonhos aprendiz
Procuro ter em mim,
Ou tanto sendo assim
Disperso, mas feliz,
Até num céu mais gris
Azulejando enfim.
Café de manhã cedo,
A broa, o pão e o sonho
Aonde recomponho
O mundo onde concedo
Em poesia e paz
O vento agora traz...

87


O vento agora traz
A voz de quem outrora
Partira e desde agora
De novo e deixa atrás
O sonho mais audaz
Que ainda me devora,
Também tanto apavora
E sabe enfim me apraz,
O todo se perdendo
A vida num remendo
Retalhos ajuntando
E o corte mais profundo
No sonho onde me inundo
Sem ter sequer nem quando.

88

Sem ter sequer nem quando
O tempo não perdoa
Uma alma segue à toa
E aos poucos derramando,
O quanto imaginando
Apenas mal revoa
E o canto inda ressoa
No peito decorando
Medalha da esperança
Que tanto ao nada lança
E trama este buquê
Aonde o meu caminho
Por vezes tão daninho,
Agora em luz se vê.

89

Agora em luz se vê
As sombras do apogeu
Aonde se perdeu
O amor e sem por que,
A gente não mais crê
No tanto que foi meu
E agora se escondeu
Num mundo e se revê
Pedaços do que um dia
Pudesse em alegria
E nada mais se fez,
O tanto já sabido
Agora diz olvido
E tola insensatez.


90

E tola insensatez
Ditando o quanto pude
E mesmo sendo rude
O mundo onde não vês
Sequer esta altivez
Já morta a juventude
O sonho não ilude
E nele não mais crês,
Cenário discordante
Aonde doravante
Somente o nada dita,
E assim onde pudesse
Quem sabe ter benesse
A dor reina infinita.


91

A dor reina infinita
E toma a poesia
Aonde o bem queria
E a sorte necessita
Jamais outra desdita
Em dor ou agonia,
Meu passo então traria
Além do que acredita,
Resumo em dor e pranto
O quanto quero e espanto
O medo com sorrisos,
Os dias mais audazes,
E neles tu me trazes
Os passos mais precisos.


92


Os passos mais precisos
Procuram solução
E nada desde então
Senão tais prejuízos
Em desiguais juízos
Os ritos não verão
Sequer a dimensão
Dos erros entre os sisos,
Capazes de sanar
Ou mesmo de enganar
Quem tanto quis remédio,
O amor quando não vem
E dita o seu desdém
Morrendo em dor e tédio.


93


Morrendo em dor e tédio
O quanto quis em paz,
O dia mais falaz
A morte em raro assédio,
Derruba qualquer prédio
E traz o olhar mordaz,
E nele o que se faz
Jamais dita o remédio.
Não pude e não pudera
Conter enfim a fera
Que vira numa espreita,
O bote sendo certo,
Caminho em paz deserto
E a morte aqui se deita.


94

E a morte aqui se deita
Enquanto busco alento
E quando além eu tento
A vida não aceita
Assim insatisfeita
A sorte nega o vento
E mata algum provento
Aborta esta colheita,
E o passo rumo ao vago
Aonde o sonho trago
Desfaz esta ilusão,
Meu canto sem sentido
O mundo resumido
Em medo e negação.

95

Em medo e negação
Não pude e sigo alheio
Aonde inda rodeio
As tramas, viração,
Ao menos não terão
Olhares com receio
Perdendo agora o veio
Por onde a direção
Cerzida no passado
Renega o meu futuro,
O passo sempre duro,
Olhar alienado,
O tempo se esgotara
Marcando esta seara.


96


Marcando esta seara
Com toda indiferença
Amor já não convença
Quem tanto semeara,
Colheita não prepara
E tendo a desavença
A morte então compensa
Quem nunca busca a clara
Manhã de uma esperança
E ao nada ora se lança
Semente nega a messe,
Enquanto se desdisse
Amor, mera tolice,
Jamais algo obedece.

97


Jamais algo obedece
Quem tanto quis além
Do pouco que contém
Senão resumo em prece
O todo que parece
E nele este desdém
Dos sonhos, quando vem
A noite se escurece,
O prazo determina
A sorte cristalina
Agora não mais vejo,
E tendo esta incerteza
Dos medos, mera presa,
Aquém de algum ensejo.

98

Aquém de algum ensejo
No qual eu possa ver
O sol enaltecer
O amor que ora prevejo
Nas ânsias do azulejo
O sonho perceber
E nele poder crer,
É tudo o que eu almejo,
Risonho caminhante
Eu sei que doravante
A vida não seria
Da forma que pensava,
Minha alma sendo escrava
Procura uma alforria.


99


Procura uma alforria
Quem tanto quis no olhar
Apenas desenhar
A sorte de outro dia,
E tanto poderia
Deveras caminhar
Em luz rara e solar,
Mas tanto escurecia
O mundo e nada tendo
Somente um mero adendo
Dos sonhos tão somente,
O quanto mais eu quero,
O olhar dorido e fero
Negando quem fomente.

100


Negando quem fomente
Num mote que não pára
A vida se escancara
E deixa mais ausente
O medo onde freqüente
E alheie tal seara
A noite não declara
O amor impertinente,
Marcando com terror
As tramas deste andor
Calores; já não vejo
Apenas sei que o canto,
Sem ter sobejo manto,
Destroça algum desejo.


MARCOS LOURES FILHO
 
Autor
MARCOSLOURES
 
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