Textos : 

queria que me contasses de uma árvore… qualquer

 


não tirem o vento às gaivotas - sampaio rego sou eu


tenho o espectro de uma árvore num vaso do meu terraço. secou faz tanto tempo. era uma daquelas árvores de companhia. nunca seria uma árvore capaz de me fazer sombra. ou de poder albergar um qualquer ninho de pássaro a tricotar uma nova geração – mas gosto daquele tronco. fino. engelhado. seco – não tem uma única memória visível. nem uma única folha de um tempo verde. de um tempo onde a água era vida. onde a mão do homem era a esperança de uma eternidade que afinal o mundo nunca oferece – hoje. subsiste apenas aquele pau ressequido. preso por um punhado de terra. também esta já sem força para sustentar vida amarrada a si – a seu lado. a companhia de sempre. uma pedra que ainda nova acreditou que um dia faria parte de uma qualquer história de uma árvore gigante. gastou-se pela inutilidade. e acabou por esquecer a sua própria história – rebolou de uma montanha não muito longe dali. queria saber como era o mundo das árvores. estava cansada de viver sozinha – na montanha onde cresceu há já muito tempo que não haviam árvores. tinha ouvido dizer que na cidade que habitava no vale havia uma feiticeira capaz de dar vida ás pedras com ambição – neste pedaço de terra. minúsculo. a árvore sabia que era a diferença para a pedra. era a floresta que a pedra nunca chegou a ver – neste tronco sem vida. que nunca chegou ao céu. guardou tudo que o tempo ensinou – sempre gostou de aprender. saber coisas. muitas coisa. até coisas inúteis. ficou a saber que o cometa halley passa pela terra a cada setenta e seis anos – já não estará cá. ela. e eu – talvez a pedra resista.
 
Autor
sampaiorego
 
Texto
Data
Leituras
971
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
6 pontos
6
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Margarete
Publicado: 13/07/2010 15:12  Atualizado: 13/07/2010 15:12
Colaborador
Usuário desde: 10/02/2007
Localidade: braga.
Mensagens: 1199
 uma árvore qualquer ao s.
tinha por companhia uma árvore, uma pedra e seis palmos de terra seca. chamava-se água. às vezes, quando fugia de casa caía das nuvens, estilhaçava-se contra os ramos da árvore e ia, em mil gotas diferentes, cair na pedra, depois na terra. outras vezes passava veloz sobre a raiz, sobre a pedra, sobre a terra, empurrada por enormes vontades de ver outros lugares. ainda que nunca dali saísse por saber ser a única coisa que ligava a árvore, a pedra e a terra.




um beijo,
mar.


p.s. esperarei pela passagem do cometa halley para te pedir outra história de árvores.


Enviado por Tópico
AnaMartins
Publicado: 13/07/2010 15:53  Atualizado: 13/07/2010 15:53
Colaborador
Usuário desde: 25/05/2009
Localidade: Porto
Mensagens: 2220
 Re: queria que me contasses de uma árvore… qualquer
A árvore de betão branco que estão a plantar na minha rua é muito barulhenta. Está cravejada de macacos que pulam, berram e trepam pelas suas ramagens como se fossem os faraós aqui da floresta. Porque não se vão eles catar para outras bandas?
Odeio árvores de betão.Odeio esta árvore de betão.

Já as tuas histórias de árvores são outra flora.

Beijo.


Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 13/07/2010 17:23  Atualizado: 13/07/2010 17:23
Colaborador
Usuário desde: 29/10/2008
Localidade: guimarães
Mensagens: 7238
 Re: queria que me contasses de uma árvore… qualquer para sampaiorego
lembro-me por exemplo de um chorão que procurava o rio.de me balançar nas suas lágrimas.cresci na companhia triste,bela,alegre e abençoada das árvores.cresci com elas.como continuo a crescer hoje,por dentro,com as tuas/minhas/vossas/nossas palavras.
um beijo,sampaio.
alex