O que é o amor?
Dou-me o direito de questionar. Dou-me à prepotência de querer responder. É algo que não tem forma, cor, sabor, cheiro ou textura. É imaterial. Mas provoca reações; pode até ser visível; contudo só os olhos da alma o enxergam. O amor voa, flutua, e se esconde por trás de sorrisos singelos, de pura doçura; ele nos espreita, roubando-nos o olhar, de soslaio, por trás das lentes do mundo; vagueia em nosso tato, quando os dedos se tocam; habita o sexo, quando um ínfimo roçar de pele nos excita. O amor é andarilho, mas possui moradia fixa. Ele viaja para além das águas, através das matas, entre pedras e areia, baixios e elevados, e nos observa; ele se mostra para além do mar infinito... O amor é essa dor suave quase saborosa, e vai e vem, em pequenas lufadas, trazidas pela brisa da aurora; ele é ternura, juntando os corpos pelas mãos quando tudo já são trevas; é a atração natural, no último segundo, quando as vozes em tom de sussurro já se preparam para o adeus, e se afligem à espera do próximo encontro. O amor é essa ligação forte que causa êxtase através das linhas redigidas em uma carta; ele é calmo e tenso, é belo; mas é o belo de uma beleza única, aflorando em lagos de caramelo, em formas fornidas. Ele canta sem cantar; habita o timbre: o mais melodioso que existe. Creio mesmo que o amor possua uma voz próprio, meio agitada, mas correta; contida a muito esforço, e suave como uma canção da natureza. O amor é companheiro da gente; ele nos segue, vai desde o recolher-se em nosso leito, pajeia-nos no mundo onírico, e nos aguarda fielmente, à beira da cama, para nos sorrir ao nosso despertar. Ele é compreensivo, resigna-se sem exigências; arde-nos em brasa, espicaça-nos o peito, mas aceita que, mesmo os vizinhos, por prudência respeitem os oceanos da ignorância. O amor é o encontro de duas metades, é a junção perfeita das parcialidades num todo uno e indivisível; ele é o novo do que é para sempre, é o que acaba de acontecer do que sempre existiu e do que perenemente existirá; é uma lágrima minúscula de infinitas misturas: dor, prazer, felicidade, tristeza, saudade, lembrança, carinho, desejo, querer, pensar, sentir; é a dor de sermos finitos diante do nosso bem-querer infinito. Tudo irá se esgotar ao nosso derredor, e o cheiro permanecerá, os olhos permanecerão, a textura da pele manter-se-á, o sabor e o toque dos lábios continuarão, a doçura e a eloquência do timbre ainda existirá... (Eu te eternizo em meu peito) O amor é essa tatuagem indelével da figura mais linda que a providência já pôde criar, grafada na fibra mais íntima e vital do nosso “cárdio-espírito” ser. O amor é tudo, em uma fração de segundo, quando estamos próximos, e é nada, quando vejo o dia partir, olhando tudo do alto da solidão de quem vive a um abismo do outro. O amor é e não é o bom, é e não é o correto. Logo, o que é o amor?...
Não sei...
Só sei que, do meu jeito, gosto muito do meu amor...