Capítulo II
Retorno
"Célia volta para Portugal"
No aeroporto, a tristeza era evidente, nos olhos daquela mãe, grossas lágrimas de separação, afinal era a primeira vez que se separara da sua menina, mas, Célia, não compreendia o porquê ao invés de ficarem tristes os seus pais não a seguiam e retornavam ao seu país; era tão fácil, mais seguro, pelo menos não se ouvia falar em raptos de crianças, não tinha que andar sempre de meias e sapatos,... de vez em quando de pés nus , podia ir ao pomar e ali ao alcance das mãos colher frutos da época. Naquele pomar onde tinha vivido desde que nascera, haviam os mais variados frutos: - laranjeiras, pereiras, ameixoeiras, (várias qualidades) macieiras, tangerineiras, nespereira, figueira e até um castanheiro lá havia, sem falar numa romãzeira onde Célia adorava escalar seu tronco e com enorme satisfação, lá do alto deliciar o saboroso fruto.
_ Naquela época, comprar doçaria aos meninos era desperdício e não era bom para a saúde... Talvez por isso, os frutos, tinham um sabor especial, ávidas de doçuras , as crianças, deliciavam-se saboreando-os. Célia não era excepção, vivenciou essa infância com enorme alegria. (Não fora, o facto de ter que estar longe de seus pais). Talvez voltem logo (pensava ela), tal não aconteceu, e foram longos os três anos em que esteve separada deles.
_ Tudo parecia normal, nos primeiros tempos, Célia convivia com sua prima Ana, sua tia Lucília, e sua avó Maria. os dias foram passando, e a convivência com sua prima Ana não era das melhores. Mais nova uns anos, e sendo filha única, era portanto muito mimada, e aos poucos tornou-se perversa, tendo Célia como alvo, os seus dias não foram muito felizes nesses três anos. Assistindo a queixas infundadas de Ana, o que provocava certa fúria em Lucília, que por sua vez batia em Célia, factos que ocorriam quase que diariamente, mesmo preferindo estar em seu país Célia já não via a hora de conviver com seus pais novamente. (sem amarras).
_ Fica-lhe na memória, a imagem da avó Maria, sempre intercedera em seu favor, o que suscitava em sua filha Lucília alterações a ponte de lhe falar em tons de voz graves, agressivos. Por sua vez Maria, limitava-se a calar não fora piorar as coisas...aconchegava Célia, num carinho cúmplice e olhar ténue, aquela velhinha cheia de sabedoria, pronunciava provérbios, tinha sempre um, apropriado para cada momento, mantinha a calma da bonança, avó e neta, abraçadas numa cumplicidade mútua que a ajudava a atenuar seus conturbados dias nos seus já onze anos de idade.
_ Célia tornou-se uma menina rebelde, sentia-se injustiçada, naquela época parecia estar vivendo um pesadelo, tinha que apanhar uma coça todos os dias por causa daquela prima egoísta e mentirosa (era tão convincente nas suas acusações, que sua mãe sempre acreditava), seus dias tornara-se cinzentos... a única forma que encontrou na sua sede de vingança, era contrariar todas as ordens vindas de sua tia. Mesmo sabendo que logo a seguir, ia levar uma sova de cinto. Sabia que mais cedo ou mais tarde, iria ter com seus pais e o pesadelo terminava. Foram assim três anos vividos, entre regalias e infernos, restava-lhe uma pérola no meio de tantos desencantos: - Maria sua avó... Suas estórias, seu cantar...adorava cantar (eram quadras populares algumas espontâneas). Contava, que no seu tempo de juventude, não havia tecnologias, o divertimento dos jovens, era criado por eles, tocavam e dançavam, em bailaricos, cantavam ao desafio, horas sem parar. Célia arregalava os olhos cheios de admiração que sua avó lhe transmitia, uma inteligência magnânima, ainda hoje, nos dias que correm seus ensinamentos, guiam os passos de Célia, exemplo vivo, através de sua indelével imagem. Aquela que com toda a sabedoria, compreendia de Célia toda a rebeldia...
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Hoje, Célia sente-se muito feliz, por ter uma avó maravilhosa para recordar, e repassar aos seus filhos algumas de suas parábolas. Verdadeiros ensinamentos, deixando de lado as más recordações.
Cecília Rodrigues