ao sampaiorego.
. façam de conta que eu não estive cá .
o dantas entrou-me agora pela janela da sacada com uma garrafa de vinho tinto debaixo do braço, biscoitos no bolso e na mão esquerda o "manifesto anti-dantas". uma velha espreita da janela um casal de namorados que se passeia de mãos dadas rua abaixo. dantas encosta o ouvido à parede do quarto e fala-me da mulher que tem ilhas nos cabelos. ilhas de cores sem nome ou lugar de acontecerem. eu estou deitada, corpo semi-morto, boca semi-aberta, mãos como semi-ilhas a nascer-me para poente. quer dizer-me do futuro que se anuncia breve aos olhos da velha, que agora balouça o corpo na grade. estamos em julho está calor e o dantas fuma com o ouvido ainda lá, na parede do quarto. uma passa mais funda e um sorriso no lado colado da face. enuncia-me agora as maratonas que o coração da mulher que tem ilhas nos cabelos tem percorrido. olha-me com as mãos voltadas para ela. diz-me: sabes, não sei se já te disse mas esta mulher, que tem ilhas nos cabelos, casou-se comigo no ano de de mil novecentos e dezasseis quando o almada me escreveu.